Pajuçara da Conceição da Praia (II)

Famílias em uma regata na Pajuçara no início do século XX

Capela da Imaculada Conceição no início do século XX, Pajuçara, Maceió

Durante os cem anos de polêmica (do início do século XVIII ao início do século XX) sobre o futuro do ancoradouro da Pajuçara, os pescadores daquele tranquilo pedaço de praia acompanhavam de perto os estudos e propostas sobre como seria utilizada a enseada que propiciava o sustento de suas famílias.

Alguns proprietários de currais de pesca, pessoas com certo poder à época, também tinham interesse no destino dos arrecifes de Pajuçara. Esse grupo, de tempos em tempos, e dependendo do governante, tinha suas estruturas retiradas do mar por estarem atrapalhando a navegação.

Para se ter ideia dos interesses envolvidos com a pesca na Pajuçara, houve conflito em 1882 entre as autoridades portuárias e estes pequenos empresários, que levou ao afastamento do comandante da Capitania.

Além dos currais e seus proprietários, que nem sempre moravam nas proximidades das áreas de pesca, a Pajuçara abrigava dezenas de pescadores, que foram seus primeiros moradores. A maioria era muito pobre e morava precariamente em casas com cobertura de palhas.

Um relatório da Junta Central de Higiene Pública de abril de 1874 constatou que Alagoas tinha um estado sanitário “pouco favorável” e que em Maceió, entre junho e dezembro do ano anterior, nos distritos de Pajuçara e Poço, as epidemias de varíola e sarampo passaram “ceifando bastantes vidas, sobretudo entre as classes pobres”.

Em 1871, no livro Geographia Alagoana, Thomaz Espíndola registrou que a Pajuçara era “um agregado de mais de 250 cabanas de palha e telha habitadas em geral por pescadores: possui uma capelinha de N. Snra. da Conceição”.

Vinte anos depois, o Almanak do Estado de Alagoas informava que a Pajuçara tinha 400 fogos (residências) e “uma capela de Nossa Senhora da Conceição”, além de uma fábrica de sabão.

Segundo o historiador Félix Lima Júnior, esta capela seria uma das mais antigas de Maceió, já fazendo parte da planta copiada pelo engenheiro Carlos Mornay em 1841. A carta original foi traçada em 1820 por José da Silva Pinto atendendo solicitação do presidente da Província Melo e Póvoas.

Entre 1865 e 1867, teve início a reconstrução da capela por iniciativa do padre Manoel Amâncio das Dores Chaves, primeiro pároco da Paróquia Nossa Senhora Mãe do Povo. Nesta empreitada, contou com o apoio e contribuição de Fidélis Garcia Gomes, devoto da Imaculada Conceição.

Pajuçara e a esquina da Av. Dr. Antônio Gouveia com a Rua Júlio Plech Filho

Foi este devoto quem cedeu todo material de construção, pagou a mão de obra e ainda mandou trazer da França a imagem da Imaculada Conceição para o altar-mor da capela.

Essa reforma pode ser comprovada pela notícia divulgada no jornal Cearense de 18 de setembro de 1867: “Sobre a cidade de Jaraguá caiu na noite de 27 passado (agosto), um furacão tão forte que derrubou toda capela de N. S. da Conceição de Pajussara, ficando somente a sacristia que era muito nova e a frente que era de tijolo”.

Em 1875, o Almanak da Província das Alagoas informou que ainda estava sendo reedificada a “igrejinha da Pajussara”.

Segundo relato encaminhado ao bispo de Maceió em 13 de maio de 1914, o monsenhor Fernando Alves Lyra, que foi o sétimo pároco da Nossa Senhora Mãe do Povo, informa que “a capella sob a invocação da Imaculada Conceição edificada na Pajussara, bem asseada, está sob o encargo da Exma. Sra. D. Maria de Aguiar Barretto, não está ainda totalmente concluída, é muito antiga sua construção, ignoro a data do início das obras; sei, porém, que foi construída, no tempo em que, os Rvdos religiosos que em santas missões aqui passaram, os quais devem tê-la benzido, não tem patrimônio, (…) pode conter aproximadamente 100 pessoas para mais”.

A Capela da Conceição da Praia continuava em obras em 1926, segundo informou o Jornal de Recife de 20 de abril.

Capela Nossa Senhora da Conceição na Pajuçara

Em 1948, as Irmãs de Caridade de São Vicente de Paulo, que residiam em um prédio atrás da Capela, solicitaram à Igreja Católica a abertura de uma porta para permitir o acesso ao templo. Foi autorizado sob algumas condições estabelecidas em contrato.

Há um registro, de 18 de dezembro de 1921 no jornal A Província (PE), informando que “Há dias passados houve uma festa magnífica na capela de Pajussara em comemoração do encerramento das aulas daquele patronato. Pelas 3 horas, o cônego Lyra, vigário da paróquia, celebrou missa, comungando grande número de crianças”.

Essa informação revela que existia um Patronato oferecendo aulas para crianças. Não foi possível precisar onde eram estas salas de aula e qual Patronato as promovia. Em 1927, confirmando a existência deste equipamento, um jornal divulgou que foi concedido auxílio a uma escola paroquial na Pajuçara.

Outro patronato, o da Virgem Poderosa de Maceió, foi fundado em 1939. Era administrado pelas irmãs de Caridade de São Vicente de Paulo, as mesmas que moravam ao lado da Capela de Nossa Senhora da Conceição. Tinha também sua Capela e algumas salas de aula. Funcionou por período indeterminado no local onde atualmente existe o prédio do Cine Pajuçara.

Em 15 de março de 1955, ao lado da Capela de Nossa Senhora da Conceição, foi fundado o Ginásio Imaculada Conceição. Posteriormente passou a ser Colégio Imaculada Conceição, sob a orientação das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo e de Santa Luísa de Marillac.

Regatas

Competição de náutica na Praia da Pajuçara em 1917. Foto de Luiz Lavenère

Herança das suas atividades portuárias, Pajuçara recebeu vários equipamentos como se fosse uma continuação de Jaraguá, separada deste somente pela Capitania dos Portos, local onde depois foi erguida a Escola Aprendizes Marinheiros. Hoje é a Admistração do Porto de Maceió.

Entre as empresas ali instaladas, destacava-se o da Fábrica de Sabão Dois Irmãos, da firma Domingos & Torres, cujos sócios eram Domingos e Justino da Silva Torres. Foi inaugurada festivamente no dia 7 de junho de 1877. Movida a vapor, esta indústria produzia 49.000 caixas/ano (1.098,2 kg/ano) de sabão.

Outro uso destinado à Pajuçara foi determinado pela Resolução nº 880 de 27 de junho de 1882, baixada pelo vice-presidente da Província, Cândido Augusto Pereira Franco. Ele estabeleceu a proibição de depositar querosene e outros materiais explosivos dentro da cidade e bairros comerciais de Maceió. Para tal fim, designou um “lugar denominado Pajussara, nas imediações da fábrica de sabão…”. O desembarque destes produtos também deveria ocorrer lá.

Mesmo com a presença em seu trecho mais próximo de Jaraguá destes equipamentos, a Pajuçara passou a ser também procurada para as práticas esportivas das regatas e competições a remos. Não demorou, e alguns destes praticantes resolveram criar uma agremiação para promover estes esportes.

No dia 10 de dezembro de 1896, o Gutenberg anunciou que que alguns “rapazes jaraguaenses”, que remavam entre Jaraguá e Pajussara, pretendiam formar um “Club de Regatas”. Entre eles, o jornal citou Alípio Goulart, F. W Broad, Agostinho Gavazza, Alfredo Wucherer, Goulart Pimentel e Carlos Lins.

No ano seguinte, em 15 de novembro de 1897, o Club de Regatas Jaraguaense promoveu uma regata na Pajussara em comemoração à Proclamação da República.

Arquibancada do CRB em 1928

Outra agremiação a se estabelecer na Pajuçara foi o Club de Regatas Brasil (CRB), cuja assembleia de fundação aconteceu na Rua Jasmim, em 20 de setembro de 1912. O lema da nova agremiação era: Esporte pela Pátria Forte. A ata de fundação foi assinada por Lafayette Pacheco, Antônio Vianna, João Luiz Albuquerque, Waldomiro, Pedro Cláudio Duarte, Tenente Julião, Agostinho Monteiro, Francisco Azevedo Bahia e João Viana de Souza.

Quarenta anos depois surgiu o Iate Clube Pajuçara. A nova agremiação foi criada após desentendimentos entre diretores do CRB. A assembleia de fundação aconteceu no dia 21 de abril de 1952, às 15 horas, na residência de Expedito Farias, na Praça Lions na Pajuçara. Dos 50 convidados que posteriormente assinaram a ata de fundação, 19 estiveram presentes.

Eram eles: Luiz Costa Braga Netto, Luís Braga Neto, Alberto Mafra, Expedito Farias Costa, Plínio Aires, Antônio Bessa, Caio de Aguiar Porto, Antônio de Medeiros Costa, Paulo Nunes Costa, Elói Nunes Vieira, Arthur Valente Jucá, João Bernardino Costa, Uaracy Viveiros de Farias Costa, Luiz Dionísio Costa, Aristeu Xavier Silva, Plínio Buenos Aires, Nancy Salgado de Carvalho, Luiz Carlos Braga Netto Junior, José Mário Mafra, Paulo Duarte Quintela Cavalcante, Marcio Humberto Neto de Gouveia e Félix Lima Junior.

CONTINUA AQUI.

2 Comments on Pajuçara da Conceição da Praia (II)

  1. Alexandre Toledo // 16 de agosto de 2019 em 06:54 //

    Que maravilha essa história do bairro Pajussara!

  2. Lindas fotos. Bonito trabalho de resgate da memória de Maceió. Parabéns.

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