Pajuçara, banhos, cultura e a avenida oceânica (Final)

Rua Epaminondas Gracindo na Pajuçara

Futura Praça Manoel Duarte com a Escola de Aprendizes Marinheiros ao fundo

No final do século XIX, Pajuçara dava os primeiros sinais de mudança, deixando de ser cenário somente de atividades portuárias ou de moradia para pescadores e iniciando o processo de sua ocupação por construções residenciais das famílias mais abastadas de Maceió.

O bairro se estendia até encontrar a Ponta Verde (atualmente vai até os Sete Coqueiros), e começava no antigo Forte de São Pedro, local em que foi erguida a Escola de Aprendizes Marinheiros.

Esta instituição entrou em funcionamento no dia 16 de abril de 1896 e sua antiga área atualmente está ocupada pelos edifícios da Administração do Porto de Maceió, no final da Rua Sá e Albuquerque em Jaraguá.

Antes, nesse mesmo local, já havia funcionado a Capitania dos Portos, que foi deslocada quando o prédio precisou alojar o 26º Batalhão de Caçadores.

O primeiro investimento que revelou a intervenção do poder público no bairro para melhorar sua habitabilidade foi inaugurado em 14 de abril de 1899. O espaço até então conhecido como Praça da Pajussara, teve sua urbanização entregue aos moradores e passou a ser denominado como Praça Dr. Manoel Duarte.

Nos primeiros anos do século XX, mesmo com estes indicativos de mudança, ainda não tinha sido iniciada a valorização imobiliária do bairro. Era considerado um lugar “longe de Maceió”

Para se ter uma ideia do quanto era longe em 1906, pode-se ver a tabela de cobrança do médico Pedro Monteiro, o pai dos Góis Monteiro e morador da Praça D. Pedro II. Durante o dia a consulta era 3$000. Para as visitas, os preços eram os seguintes: “Centro da cidade 4$000, Levada 5$000. Jaraguá e Poço 6$000. Bebedouro e Pajussara 8$000”.

Nesse mesmo ano, quem quisesse comprar terrenos em Jaraguá ou na Pajuçara iria encontrar ofertas nos jornais “por preços módicos”.

Nos anos seguintes, os vendedores de imóveis da Pajuçara começaram a utilizar um argumento que até então não era considerado como capaz de agregar valor a estes bens: ofereciam a praia do bairro como opção para banhos, não mais somente para fins medicinais, como predominou durante todo o século XIX no litoral brasileiro, principalmente no Rio de Janeiro.

Em 1907, por exemplo, um anúncio para a venda de uma casa na Rua do Araça, nº 58 (atual Rua Epaminondas Gracindo), valorizava o imóvel informando que ele era muito próximo da “praia de banhos”.

No final deste mesmo ano, um jornal comunicava que estava veraneando na Pajuçara o Dr. M. Lopes Ferreira, agricultor em Murici. Próximo a ele o comendador Teixeira Basto e família também usufruíam dos banhos daquela praia.

Casarão na Pajuçara em 1932

O Gutenberg de 11 de novembro de 1908 anunciou que o coronel Américo de Almeida e sua família estavam regressando para sua confortável casa em Bebedouro após passarem uma temporada na Pajuçara “fazendo uso de banhos salgados”.

Com o crescimento dos banhistas, surgiram alguns problemas que foram rapidamente enfrentados, não se sabe se com êxito. Ainda em novembro de 1908, o Gutenberg informou que o comissário de Polícia, coronel Liberato Mitchell, havia tomado medidas para não permitir “o abuso de certos indivíduos se banharem despidos na praia da Pajussara”.

Inegavelmente, o vetor inicial de crescimento da Pajuçara foi a Rua do Araça, considerada como “a mais larga de quantas existem na capital”. Havia um certo orgulho entre os moradores divulgar aquele endereço. Até 1909, a rua larga não tinha recebido arborização, uma qualidade cobrada para vias importantes..

No final da primeira década do século XX, a antiga zona de pesca habitada por pescadores se consolidava como “praia de banhos muito aceitável, residência de luxo em certas estações” (Gazeta de Notícias de 13 de junho de 1909).

Essa mudança de uso do bairro não impediu que em dezembro de 1909 uma vacaria anunciasse que “à rua do Araça, em Pajussara, nº 22 vende-se leite pela manhã e de 2 horas da tarde em diante, tirado na presença dos fregueses, sendo cada garrafa, até 6 horas da tarde pelo preço do mercado e dessa hora em diante por ajuste”.

No ano seguinte, em setembro, a Rua do Araça e a Rua São Pedro (atual Rua Jangadeiros Alagoanos) receberam os trilhos para os bondes que interligavam a estação da Trilhos Urbanos em Jaraguá (em frente à Escola de Aprendizes Marinheiros) à capela da Conceição.

Por determinação da Lei nº 159 de 28 de janeiro de 1911, a Rua do Araçá passou a ser denominada Rua Epaminondas Gracindo. A proposta partiu do conselheiro municipal Roberto Machado e foi apresentada e aprovada no dia 20 de janeiro como homenagem a um dos seus moradores mais famosos, falecido sete dias antes.

Escola Diegues Júnior na Rua Epaminondas Gracindo, antiga Rua do Araça

Foi também a antiga Rua do Araça que recebeu o primeiro grande investimento escolar do bairro. Em abril de 1917, o secretário dos Negócios do Interior, Manoel Moreira e Silva, do governo de Baptista Accioly, com a concordância do diretor de Instrução Pública, comprou na Rua Epaminondas Gracindo por 4:000$000 um terreno para a construção do Grupo Escolar de Pajussara. As obras tiveram início no mês seguinte e foram concluídas em julho de 1918, quando ocorreu sua  inauguração.

Ainda em construção, já era conhecido como Grupo Escolar Diegues Junior, mas esta denominação somente foi oficializada após a morte do seu fundador e primeiro diretor, professor Manuel Balthazar Pereira Diegues Júnior, o pai, no dia 1º de setembro de 1922.

Os registros indicam que antes da inauguração deste Grupo Escolar, já existiam no bairro a Escola Paroquial e a Escola Pública da Pajussara, esta última na Rua Agostinho Guimarães.

Quatro anos depois de inaugurado o G. E. Diegues Júnior, o “venerando preceptor sr. Domingos Bento da Moeda e Silva anunciou que inauguraria às 13 horas daquele mesmo dia (7 de agosto de 1919) um orfanato para meninos, que “funcionará em sua própria casa de residência, à rua Araça, na Pajuçara”.

Cultura

Nau Catarineta em Maceió no início do século XX

O primeiro grande espaço para manifestações culturais na Pajuçara foi o largo existente defronte à Capitania dos Portos, depois Escola de Aprendizes Marinheiros.

São inúmeros os registros de eventos festivos realizados no final do século XIX no local da futura Praça Manoel Duarte. Eram festas populares e a mais famosa delas foi a que originou o conflito sangrento de 14 de janeiro de 1894, que se estendeu até a Igreja Matriz de Nossa Senhora Mãe do Povo, em frente à Praça Dois Leões, com seis mortos e vários feridos.

No século XX, os moradores das imediações deste largo continuaram a realizar festas, a exemplo da organizada para o Natal de 1909 por um grupo de senhoras. Foi montado um coreto na “pracinha da Capitania do Porto em Pajussara” para receber a Banda de Música da Escola de Aprendizes Marinheiros, que ficava ao lado. Neste mesmo coreto se apresentaram também pastorinhas e quilombos.

Os homens, em outra comissão, realizaram nos primeiros dias de janeiro do ano seguinte “imponentes cavalhadas na rua do Araça”.

A ocupação da praça por estas festas não impediu que na Rua São Pedro, continuação da Rua Epaminondas Gracindo e futura Rua Jangadeiros Alagoanos, surgisse outro polo cultural, mais próximo dos pescadores que foram deslocados para a área que depois se consolidou como Ponta da Terra.

Assim, em 15 de dezembro de 1916, a Marujada Pajussarense anunciou que estava concluindo a construção “do seu navio, à rua de S. Pedro”. Tinha 80 palmos de comprimento por 22 de largura, calado de 10 pés, com dois mastros.

Essa manifestação da cultura popular existiu por muitos anos na Pajuçara. No Natal de 1933 era conhecida como o Fandango Pajussarense. O organizador das festas natalinas da Pajuçara nesse período era Luiz de Macedo.

A primeira grande casa de espetáculos no bairro foi o Cine Glória. Não se sabe quando entrou em funcionamento, mas em 1931 já exibia suas películas como está anotado no Almanak Lammert do Rio de Janeiro. Não foi possível estabelecer a sua localização.

Esta casa não exibia somente filmes. O Diário de Pernambuco de 28 de outubro de 1933 divulgou que “Terá lugar hoje no Cinema Glória, no arrabalde de Pajussara, um match de box entre o pugilista alagoano Roosevelt Ferreira, cognominado Gato Selvagem, e o boxeur carioca Luiz Santa, conhecido como O Tigre”.

Cine Rex foi inaugurado em novembro de 1940

Em novembro de 1940, o Cine Rex entrou em funcionamento e permaneceu neste local até 1978. Ficava na Rua do Cravo (atual Rua Dr. Antônio Pedro de Mendonça), defronte a uma pracinha que rapidamente ficou conhecida como Praça do Rex. Com a morte do ex-governador Euclides Malta em 16 de julho de 1944, a Lei nº 73, de 8 de agosto de 1949 alterou sua denominação para Praça Euclides Malta.

Em 29 de outubro de 1991, a Lei nº 4.076 de autoria do vereador Enio Lins revogou a Lei de 1949 e restabeleceu a denominação que foi naturalmente definida pela população: Praça do Rex.

Não há muitos registros sobre o envolvimento do bairro com as festividades carnavalescas na primeira metade do século XX. Sabe-se que no carnaval de 1938 desfilou pela primeira vez o “club carnavalesco Moreninhas da Pajussara”. Seu diretor era o “célebre folião Coqueiro”.

Atualmente, tem sede no bairro o Grêmio Recreativo Escola de Samba Jangadeiros Alagoanos, fundada em 1972 por pescadores da Colônia de Pesca Z1, instituição instalada em 16 de outubro de 1921. Em 2000 foi criado o Grêmio Recreativo Escola de Samba Gaviões da Pajuçara.

Em 1986, o Bloco Meninos da Albânia inaugurou a Av. Antônio Gouveia como área de desfiles carnavalescos, que a partir de 1991 recebeu o maior evento de rua já realizado em Alagoas, o Maceió Fest. Atualmente, o percurso Pajuçara/Ponta Verde continua a receber prévias carnavalescas.

Avenida Oceânica

Vista aérea de Jaraguá e Pajuçara em 1931. Foto do capitão Alfred G. Buckham de um avião da Panair

Com o crescimento da frota de automóveis em Maceió nos primeiros anos da década de 1910, naturalmente surgiu a cobrança por estradas e ruas que facilitassem a utilização destes veículos.

A partir de 1914, o governador Clodoaldo da Fonseca deu início a execução de política de expansão viária no Estado, com prioridade para alguns bairros da capital e municípios vizinhos, a exemplo da Estrada do Jacutinga (atual Av. Fernandes Lima) e a “estrada de automóveis ligando a cidade de Maceió à Fernão Velho” por Bebedouro.

“Iniciamos a construção de grandes avenidas — anunciou Clodoaldo da Fonseca —, uma ligando Maceió ao Farol, outra ligando a Praça do Hospital ao Trapiche da Barra e à Beira-Mar, contornando todo litoral e construiu-se mais um trecho do Riacho Maceió”.

O governador João Baptista Accioly, que sucedeu a Clodoaldo da Fonseca, não poupou esforços para continuar a construção da “estrada de rodagem convenientemente preparada para o trânsito dos modernos veículos”.

Essa política de transportes urbanos também chegou à Pajuçara, principalmente modificando a sua orla marítima, até então destinada somente “aos banhos”, sem nenhuma via entre as casas e o mar.

Início da Pajuçara nos anos 60

Foi o jornal Semeador de 4 de setembro de 1916 que informou sobre o primeiro grande projeto urbanístico para a Pajuçara. Era de autoria do engenheiro municipal Affonso Lyra e foi apresentado ao jornalista “numa carta artisticamente trabalhada”.

O projeto previa a construção da “avenida oceânica, que começa numa tangente de 35 metros e se prolonga numa curva de raio igual a 750 metros acompanhando a curva natural das águas. Vai ser, segundo a planta, uma bela avenida de prolongando ao longo da costa e tendo uma largura de 50 metros”. Hoje é a Av. Dr. Antônio Gouveia e sua continuação é a Av. Silvio Carlos Viana.

A segunda avenida planejada por Affonso Lyra foi tratada no projeto como a Meridional. Segundo o repórter a denominação se devia “a sua posição topográfica ficando aproximadamente na direção da meridiana do lugar e indo até o Gulandim que, segundo nos informou o ilustre dr. Lyra, é um dos pontos mais pitorescos da cidade”.

Por estas indicações é provável que esta via foi a que ficou conhecida como Estrada do Gulandim e atualmente é a Rua Zeferino Rodrigues.

O Gulandim é um riacho afluente do Reginaldo, antigo Maceió, cujos alagadiços se estendia por uma área hoje ocupada pelo Conjunto Pajuçara e Santo Eduardo.

Ainda segundo o jornal, estas avenidas eram as principais do projeto, mas existiam outras modificações a serem implementadas na Pajuçara. No final de outubro esta proposição foi apresentada ao Conselho Municipal.

Começo da Pajuçara no início do século XX

A proposta foi aprovada e as primeiras iniciativas tomadas foram as desapropriações de alguns imóveis, principalmente as casas de pescadores construídas na área de marinha. Como os recursos municipais não eram suficientes, este processo se arrastou até 1919.

Em 28 de agosto de 1919, o Jornal de Recife, reproduzindo matéria divulgada no Jornal de Alagoas, revelou que o intendente Firmino de Vasconcelos foi cobrado pelos “ilustres capitalistas barão Félix Wandesmet, Coroneis Agrario Almeida, Arsenio Fortes, srs. Paterson, da casa Von Shosten e outros que se propõem a edificar na projetada avenida Beira-Mar belos palacetes”.

Queriam estes interessados que a “planta cadastral da Pajussara”, aprovada pelo Conselho Municipal, fosse implantada, com “o alargamento de diversas ruas daquele bairro, alargamento que muito concorre para o embelezamento daquela parte da nossa capital”.

O interesse era tanto destes “capitalistas” que eles se propuseram a contribuir com recursos particulares para viabilizar aquela obra pública, como noticiou o jornal, explicando que “os proprietários dos atuais casebres em ruína” e dos terrenos não teriam nenhum prejuízo, “pois os interessados no remodelamento da bela praia de Pajussara, se prontificam fazer as respectivas indenizações”.

Justificava ainda o jornal que Maceió precisava de “uma praia balnear mais atraente e possui, talvez, a melhor de todo o Brasil”. Ressaltava também que haveria mais encanto ao se transformar radicalmente o “gosto arquitetônico”: “onde há, atualmente, uma velha casa de taipa coberta de palha, se erguerá amanhã um lindo palacete”.

Enquanto as desapropriações ocorriam, agora a passos largos, o Jornal de Recife de 2 de novembro de 1919 comentava que “O dr. Leonino Correia tem sido muito visitado na sua casa de verão — Vila Leonina, na Pajussara”.

Com as modificações em andamento na orla da Pajuçara, novos olhares se debruçaram sobre “a mais bela praia do Brasil”. O Diário de Pernambuco de 18 de dezembro de 1919 especulou que havia a possibilidade de “um conhecido capitalista venha a levantar [ali] um hotel provido do maior conforto”.

Cantada em verso e prosa

Pajuçara em 1927

Na manhã do domingo, 27 de agosto de 1922, quatro pescadores alagoanos deixaram Jaraguá com destino ao Rio de Janeiro, numa viagem comemorativa do centenário da Independência do Brasil. A iniciativa em Alagoas coube a Homero Galvão, presidente da Colônia Cooperativa dos Pescadores “Almirante Jaceguay”, da Pajuçara.

Ingressaram na Baía da Guanabara somente no dia 2 de dezembro, após percorreram em linha reta mais de 1.100 milhas, o equivalente a aproximadamente 10.000 milhas, e serem atingidos por nove tempestades nos 98 dias de viagem.

O feito foi reconhecido nacionalmente e em Alagoas várias homenagens forma prestadas a estes intrépidos navegantes. Um monumento foi erguido na Praia da Pajuçara, inaugurado no dia 11 de junho de 1923 e a rua São Pedro passou a ser denominada Rua Jangadeiros Alagoanos.

Nos anos seguintes, a praia da Pajuçara se consolidou como destino dos veranistas de Maceió e quanto mais ela era vista, mais era admirada e tinha sua beleza divulgada.

Um banho de mar na Pajuçara passou a ser tão importante, que levou, em 1924, os moradores de Bebedouro a cobrarem da empresa Trilhos Urbanos a circulação de um bonde diário saindo daquele bairro às 5h30, com destino àquela praia (A Província de 18 de dezembro de 1924).

No final da década de 1920, os bondes ainda eram os principais meios de transportes urbanos. Em 1929, Maceió tinha uma frota de um pouco mais de 300 automóveis, além dos bondes e diversos “auto-caminhões”.

Nesse período, a Pajuçara era considerada por Moreno Brandão como a melhor praia de banhos do Estado, “muitíssimo procurada pelos que desejam se tonificar com a hidroterapia marítima”. Naquela época, o bairro tomava “atitudes aristocráticas de castelã medieval”, revelou também o ilustre historiador.

Antiga Gameleira na Pajuçara

No Jornal de Recife de 5 de agosto de 1928, Terezinha Caldas, de Maceió, escreveu assim sobre a Praia da Pajussara:

“Pajussara é um mar azul suave, de ondas calmas em cochichos, sitiada, completamente cercada de coqueiros
E lá longe, no fim, perdida sob as plumagens verdes, entre o coqueiral, — uma capelinha alvejando, como uma pérola muito branca que numa noite, enquanto dormiam as sereias, houvesse fugido do mar…
… Pela praia, entre as folhagens miúda, rasteira, das gitiranas, dormem as jangadas secando ao sol; umas ainda todas franjadas de folhas de coqueiros — armadilha especial que usam os pescadores para iludir as agulhas prateadas, longas que correm ligeiras pelas águas…”.

Mas nem tudo era beleza na Pajuçara. Em abril de 1929, os habitantes do bairro juntaram-se aos do Poço para cobrarem do governador Álvaro Paes a solução do antigo problema de abastecimento d’água.

A partir dos anos da década de 1930, Pajuçara passou a ser elogiada em verso e prosa como uma das mais belas praias do Brasil.

O hábito de procurar as praias aos domingos também estava disseminado no país. Em 1932, o Diário de Pernambuco constatou que na capital alagoana “vem se revestindo de grande animação a temporada balneária nas principais praias da cidade. Pajussara e Aterro [atual Praia da Avenida da Paz], principalmente aos domingos, são as mais concorridas”.

Em meados dos anos da década de 1940 surgiu nos impressos Pajussara grafada como Pajuçara, em obediência ao Acordo Ortográfico oficializado pela Academia Brasileira de Letras. É a forma adotada até hoje.

Foi essa Pajuçara, com ç, que Aldemar Paiva cantou para o Brasil inteiro pela primeira vez no dia 16 de setembro de 1948, na inauguração da Rádio Difusora. Segundo o historiador Geraldo de Majella, “Pajuçara” deveria se tornar o hino oficial de Maceió.

“A música Pajuçara tem para Maceió a mesma importância que Copacabana, música de João de Barros, tem para a cidade do Rio de Janeiro. O amor devotado à sua terra é uma marca na sua obra de compositor, humorista, radialista, escritor. Em vários momentos da sua vida cantou Maceió e suas belezas naturais”, exaltou Majella.

Conheça ou lembre da Pajuçara de Aldemar Paiva:

Eu que conheço o meu Brasil, sei muito bem
Das lindas praias, coqueirais que ele tem,
Por isso afirmo, nestes versos que compus:
Em Pajuçara há mais encanto, há mais luz…

Pajuçara, onde o mar beija as areias
Com mais alma e mais amor,
Pajuçara, lindo berço de sereias
Que nos deu o criador!
Pajuçara, que reflete no sorriso,
O teu coqueiral em flor,
Tens uma beleza rara,
Pajuçara…

OUÇA AQUI a histórica interpretação que Leureny Barbosa deu à música:

 

 

A partir da década de 1970, Pajuçara passou a receber investimentos significativos, principalmente os voltados para o turismo.

A orla foi a mais beneficiada pelo Plano de Urbanização concluído em maio de 1974. Foram investidos seis milhões de cruzeiros durante a administração do prefeito João Sampaio e do governo Afrânio Lages.

Pajuçara nos anos 70

Nesse mesmo período a Jatiúca também estava concluindo os conjuntos habitacionais e a Ponta Verde recebia os primeiros hotéis de luxo da capital.

Pajuçara continuava a ter sua beleza cantada pelo mundo afora, agora tendo como parceiras a Ponta Verde e a Jatiúca: estava formada a orla urbana mais bonita do mundo.

Em 1979, durante o governo de Guilherme Palmeira, a Companhia de Abastecimento d’Água e Saneamento de Alagoas (Casal)  iniciou as obras do sistema de esgotos sanitários da Bacia da Pajuçara. Um investimento de Cr$ 194 milhões.

Entretanto, todo esse progresso apagou a “Pajussara” dos pescadores, das suas ruas empoeiradas e com nomes poéticos como do Araça, do Cravo, da Gameleira, do Jasmim e das Quixabas.

Perdemos tudo isso, mas Pajuçara continua sendo uma beleza rara.

5 Comments on Pajuçara, banhos, cultura e a avenida oceânica (Final)

  1. Floriano Alves // 19 de agosto de 2019 em 21:29 //

    Uma bela história, contada com muita maestria, parabéns mais uma vez Edberto!

  2. Carlos Alemdia // 20 de agosto de 2019 em 11:54 //

    Belíssimo texto, leitura obrigatória – e enriquecedora – para qualquer um Maceioense. Parabéns Ticianeli.

  3. Essas histórias são show.

  4. Sonnia Costa // 10 de agosto de 2020 em 23:48 //

    Nossa! Mergulhei na história do bairro em que nasci, morei muitos anos, fiquei fora de Maceió uns 10 anos e voltei a morar mais 18 anos.
    Como amo e conheço cada espaço dessa linda praia e bairro , Pajussara, onde meus filhos passaram de crianca, adolescentes e adultos. Pajussara eu te rendo minha homenagem! Tenho orgulho da minha origem. Obrigada aos meus antepassados, dindinha, minha mãe, pai, avós maternos. Minha gratidão!

  5. Li cada linha, casa palavra e ouvi o hino de Pajussara,…. Olha que Eu não sou nativo, sou um turista que descobriu tardiamente Maceió em 1990. Parabéns,… Amo suas praias,…seu povo,… Sua cultura,.. seu modo de viver, suas jangadas, sua história. Deus queira que eu adquire um cantinho p morar e viver a aposentadoria neste jardim Éden. Parabéns…. Aos redatores,…. Tô lendo, deliciando com os escritos

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