Uma Maceió diferente

Rua de Maceió em meados do século XX

José Maurício Brêda

Praça Deodoro em 1938

Se “marcos referenciais que ajudavam a contar histórias, agora, jazem enterrados”, no dizer de Larissa Barros, certa feita, em reportagem na Gazeta de Alagoas, outros que sucumbiram pela evolução e pelo ciclo normal da vida também nos deixaram órfãos.

Nascido e criado na antiga rua do Macena, jogando ximbra e soltando pião na praça Deodoro do Teatro, do Tribunal de Justiça e do Grupo D. Pedro ll – hoje Academia Alagoana de Letras – lembro do quem-me-quer das meninas aos domingos à noite, de um belo sorvete na Gut-Gut, do bar Suez em frente à Portuguesa, do Café Afa dos Antunes, sem esquecer o Bar e Restaurante do Mariano.

Tudo bem pertinho da Praça do Pirulito e suas festas natalinas, com o cachorro quente do Lira e arriscando uns trocados na roleta da banca do Hélio Taveiros, que também tinha uma loja de fogos vizinha ao Ponto Certo e suas bebidas, de Austerliano Souto Maior.

Dos fins de noites no Bar Graci; dos Cines Ideal e Royal, onde trocávamos figurinhas de álbum antes da sessão de seriado; dos bondes e dos bigus na plataforma subindo a rua do Livramento, hoje Senador Mendonça, passando pela nossa Brêda & Irmão, pela Casa Borborema e saltando para tomar um sorvete na Shangay, do china Fon. Do Salão Suez, onde fiz a barba pela primeira vez, da Casa N. S. dos Prazeres, todos no Edifício Maceió do dr. A. C. Simões.

Ainda na mesma rua, tomar umas no Bar do Chopp olhando a Helvética, Leite Bastos dos guarda-chuvas e sombrinhas, deixando o Fórum e o Hotel Luso Brasileiro pra trás. Dos carros de praça, embriões dos táxis, e seus pontos de parada: Ideal, Brêda e Palmares.

Praça D. Rosa da Fonseca, onde depois se instalou o Bar do Chopp, e Rua do Livramento em meados do século XX

Quando lembro a estátua de Mercúrio, ocorrem-me as maratonas, exatamente naquele local, durante os quinze dias pré-carnavalescos. E também o corso no Carnaval, pela rua do Comércio até a praça dos Martírios, onde as batalhas de lança-perfume, confete e serpentina inebriavam os contendores.

Na mesma rua, os bate-papos encostados nos carros dos frequentadores do Cinearte ou jogando uma partida de sinuca no Bilhar do Comércio. Ver a exposição anual de A Brasileira, de Magalhães & Cia, as máquinas de costura da Loja Singer e os quitutes do Bar Cristal. Quatro e Quatrocentos ou Lojas Brasileiras por Preço Limitado; Drogarias Globo e Minerva, os lustres da “britânica” Casa Leahy, do velho Mário Leahy e de Normande & Cia de Durval Coêlho Normande ou comprar alimentos importados no Bar Colombo. E lembrar as Lojas Seta Para Homens, a Manacá e a Casa Neno.

Nada disso também existe mais, a não ser na lembrança daqueles que viveram e gozaram de uma época inesquecível da nossa, hoje, bicentenária e diferente Maceió.

5 Comments on Uma Maceió diferente

  1. Roberto Brandão // 26 de novembro de 2019 em 07:00 //

    Lembro desta época com muita saudade. Eu garoto ainda era amigo do Mariano do bar. Lembro também do seu Agostinho que gerenciava o bar da Portuguesa. Bons tempos

  2. Não chego tão longe no tempo mas a Maceió que me recordo tinha além do Bar do Chop, o galeto da Toca e as empadinhas da Danúbio, do perfume do café moído no Afa na praça Deodoro. Me lembro do sucesso do primeiro self service, o Hong Kong na Senador Mendonça. A chegada do Iguatemi, dos ônibus invadindo a rua do Comércio decretaram o fim da Maceió que eu me lembro com saudades.

  3. André Luis Ramires Seabra // 1 de dezembro de 2019 em 09:46 //

    Devo fazer parte da última geração que ainda alcançou, em parte, essa Maceió tão poeticamente retratada. Pena que em nosso país não sabíamos evoluir sem destruir o passado e preservar nosso conjunto urbano. São muitos exemplos dessa insensatez.

  4. Maria teresa Araujo // 27 de novembro de 2020 em 14:38 //

    Saudades da macarronada do Bar Graci, jantei muito com meu pai Júlio Azevedo, da cartola da Helvetica, onde minha mãe Ana sempre me levava para lanchar. Maceió representa minha infância e adolescência. Muito obrigada pelas boas lembranças.

  5. Muita saudade deste tempo, meu tio funcionário da Drogaria Globo, sempre era visitado em seu local de trabalho quando minha saudosa mamãe me levava ao comércio. No inicio do ano íamos a livraria Ramalho comprar material escolar.

Deixe um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*