Primórdios da Medicina em Alagoas

Antiga Enfermaria Militar em Maceió

Cirurgiões na Idade Média

A presença de médicos no Brasil somente aconteceu a partir do século XIX. Antes, os poucos profissionais médicos que por aqui estiveram, os físicos, eram em sua maioria judeus fugindo da Inquisição.

Os cirurgiões vieram em maior número. Se distribuíam em três categorias: os “cirurgiões-barbeiros“, os “cirurgiões aprovados” e os “cirurgiões diplomados“. Os primeiros, em maior número, monopolizavam a prática da Medicina nos séculos XVI e XVII.

Muitos nativos aprenderam o ofício e milhares de “cirurgiões-barbeiros” se espalharam pelo país. Sem maiores preparo, eram habilitados ao exercício da profissão, podendo tratar fraturas e luxações, feridas, faziam sangria, aplicavam ventosas e sanguessugas e extraíam dentes.

Com a chegada, em 1808, ao Brasil de D. João VI, foram criadas duas escolas médico-cirúrgicas, uma na Bahia e outra no Rio de Janeiro. Entretanto, somente a partir de 1832 começaram a formar os médicos brasileiros, quando as duas escolas foram transformadas em Faculdades de Medicina.

Alagoas

Em seu estudo Contribuição para a história da Medicina em Alagoas, publicado na Revista do Arquivo Público de Alagoas em 1962, o dr. Renan Falcão apresenta uma das mais detalhadas pesquisas sobre o início da prática da Medicina em Alagoas.

Segundo este autor, foi em Porto Calvo onde ocorreu a primeira intervenção cirúrgica em solo alagoano. Isso aconteceu durante o ataque comandado pelo Conde de Nassau em 18 de fevereiro de 1637 àquela povoação. Na peleja, Henrique Dias foi atingido em sua mão por um projétil.

Sabendo que os holandeses utilizavam “balas ervadas com toucinho” com a intenção de provocar graves infecções nos ferimentos, o comandante negro ordenou ao cirurgião da tropa que lhe cortasse a mão na altura do pulso.

Somente a partir de 1800 surgiram os primeiros cirurgiões nesta então ainda comarca da capitania de Pernambuco. No começo, “faziam apenas pouso ligeiro, como aves de arribação”, e por isso não há registros dos seus nomes. “Passaram, como ainda hoje o fazem os curandeiros do sertão, em rápidas buscas ao dinheiro ou na satisfação de seus espíritos de aventura”, esclarece Renan Falcão.

Em 1803, um cirurgião passou pela vila das Alagoas (atual Marechal Deodoro) e atendeu a uma “negra de nome Maria”. Quem o pagou pelos “remédios de curativos” foi Antonio Ignácio, que deteve seu recibo datado de 1º de maio daquele ano. Como a assinatura estava ilegível, não se pode identificá-lo.

O registro mais antigo sobre cirurgiões radicados em Alagoas está em um processo de inventário cujo termo de nomeação de peritos foi datado em 6 de agosto de 1806 na vila das Alagoas (Marechal Deodoro). José Antônio dos Santos e José Joaquim do Espírito Santo, “Cirurgiões Anatomicos e de Medicina”, são habilitados a funcionar como avaliadores.

Meses depois, em Penedo, Francisco José de Souza Machado, atendendo ao chamado do Capitão-Mor José Gregório da Cruz, medicou vários escravos do falecido Capitão Luís Simões Henriques. Essa informação está no certificado de 7 de novembro de 1806 e o médico é tratado como “Cyrurgião Annatomico”.

Amputação sem anestesia

Machado foi Cirurgião-Mor do Regimento de Infantaria dos Brancos da vila de Penedo. Em seu lugar assumiu, em 9 de fevereiro de 1822, o cirurgião Antônio José da Silva Lamego, também radicado em Penedo.

Em 1808, Vitorino José Cardoso usava “sua Arte de Cirurgia” nos moradores da vila das Alagoas. Não se sabe mais nada sobre este profissional fixo na então capital da comarca.

Por ordem cronológica, sabe-se da existência do terceiro profissional da Medicina em 4 de abril de 1813 na vila de Penedo. Sua assinatura está num Termo de Obediência da Irmandade de São Gonçalo Garcia dos Homens Pardos, que tentava regularizar seu hospital junto à Corte em Pernambuco. Trata-se do mesmo Antônio José da Silva Lamego.

Entre 1817 e 1818, José Antonio dos Santos permaneceu na vila das Alagoas, mas não se sabe se era cirurgião. Em um recibo ele é identificado ao receber pagamento por “assistência medicamentos”.

No tempo do Póvoas

Ao desembarcar na enseada de Jaraguá no dia 27 de dezembro de 1818, o tenente-coronel Sebastião Francisco de Melo Póvoas, governador da nova Capitania, descobriu que em Maceió, onde se estabeleceu, não havia médicos, remédios e boticários.

Essa situação se estendia também para outras capitanias, como reclamou o capitão-general Luís do Rego Barreto em 1819, quando governava a capitania de Pernambuco: “A Capitania de Pernambuco não tem médicos nem cirurgiões suficientes e as Capitanias das Alagoas, da Paraíba, do Rio Grande do Norte, assim como todo o sertão de Pernambuco, não os tem de modo algum; a causa imediata disto é a falta de instrução pública; e é preciso remediar este mal”.

Em 2 de novembro de 1819, após várias solicitações por um cirurgião para o Corpo de Tropa de Linha, Póvoas comunicou ao Conde de Palma, na Bahia, que havia recebido um “Cirurgião aprovado, e bastante inteligente, ao qual encarreguei de fazer interinamente as funções de Cirurgião Mor do mesmo Corpo…”. Em resposta, no dia 30 de novembro, o Conde de Palma explicou que ainda não tinha encontrado um “Cirurgião tal, como eu desejava mandar para essa Capitania…”.

Renan Falcão revela que na verdade Póvoas já tinha esse cirurgião em Maceió. Francisco Xavier Vieira fora nomeado Cirurgião-Mor do Regimento de Infantaria de Milícias de Alagoas em 21 de junho de 1819.

Era o primeiro provimento para aquele cargo não remunerado, que proporcionava ao indicado “todas as honras, graças, fraquezas, privilégios, isenções, e liberdades”.

Em 30 de setembro de 1819, Póvoas nomeou interinamente o cirurgião aprovado Tomás da Silva Correia para o cargo remunerado de Cirurgião Mor do Corpo de Linha. Era português, da cidade do Porto, casado, tinha uma filha e em 1822, quando deixou Alagoas, tinha 25 anos de idade.

Até meados do século XIX, vários outros profissionais da Medicina atuaram em Alagoas. Renan Falcão relacionou os seguintes:

João Nunes da Silva Barreiros — Era português e residiu em Maceió a partir de outubro de 1819. Em 1821, com 36 anos de idade estava morando na vila das Alagoas e era o Cirurgião Mor do Regimento de Milícias. Permaneceu lá até 1822.

João Antonio Casa Nova — Também português, chegou a Maceió em 1820 e intitulava-se professor de cirurgia. As poucas informações sobre ele indicam que não permaneceu muito tempo em Alagoas.

João Ferreira Barroso — Foi citado pela primeira vez em 10 de julho de 1822, quando foi indicado para Cirurgião Mor da Tropa de Lina da vila das Alagoas. Em 1828 foi transferido para o Exército e permaneceu em Alagoas até falecer no dia 28 de agosto de 1860.

A Clínica do Dr. Agnew, de 1889. Óleo pintado pelo artista americano Thomas Eakins (1844-1916)

Miguel Joaquim José Ramos — Foi nomeado, em 3 de agosto de 1822, Cirurgião Mor do Regimento de Milícias dos Homens Brancos da Vila das Alagoas. Em 1829, residia em Maceió.

Antônio Pereira Cardoso — Foi citado pela primeira, em 27 de outubro de 1822, em um ofício do Capelão Manuel Soares de Albuquerque solicitando à junta de Governo que não transferisse aquele profissional para a vila das Alagoas, deixando-o em Maceió, onde era tratado como “Professor de Medicina” e benquisto pela população. Permaneceu em Maceió e é provável que seja o mesmo cirurgião Cardoso que residiu em uma casa onde hoje está o prédio da Rede Ferroviária. O local ficou conhecido como o “Beco do Cardoso”.

Em 1850, no período da Febre Amarela, esse mesmo profissional foi criticado pelo médico Francisco José da Silva Porto, que em carta ao presidente da Província o classificou como empírico e inábil.

Manuel José de Lemos Cunha e Sousa — Em abril de 1825 era o Inspetor do Hospital Militar da cidade de Alagoas, capital da Província. Foi nomeado Cirurgião Mor do Batalhão nº 16, da Primeira Linha do Exército em 18 de outubro de 1829. Permaneceu até 1839 em Alagoas e, provavelmente, deve ter sido deslocado para Maceió, quando esta passou a ser a capital. Em 28 de agosto de 1843, foi promovido a capitão de Primeira linha do Exército em Maceió.

José Joaquim do Espírito Santo — Sobre ele há somente um recibo assinado em 10 de julho de 1826 na cidade de Alagoas, em que atesta que ter feito curativos em um paciente.

Silvestre Marcolino da Fonseca — Cirurgião pernambucano, seu nome aparece numa petição encaminha ao presidente da Província em 1º de maio de 1831. Morreu assassinado em Maceió no mês de agosto de 1835.

Manuel Gomes — Pouco tempo depois do povoado Riacho do Meio ter sido elevado a vila (13 de outubro de 1831), com a denominação de Vila Nova da Assembleia, atual Viçosa, apareceu no local “um licenciado português que residia em Matta Escura” (Viçosa de Alagoas, de Alfredo Brandão), de nome Manuel Gomes.

Segundo Alfredo Brandão, era do tronco da família Rebelo, avô do coronel Apolinário Rebelo, do coronel Epaminondas Gracindo e do tenente-coronel Firmino Maia. Foi Juiz de Paz na Vila Nova da Assembleia. Provavelmente tinha a carta de Cirurgião Aprovado.

Antônio Gomes de Araújo — O único documento em que surge o seu nome é um atestado assinado pelo “Doutor em Cirurgia pela Academia Médico-Cirúrgica do Rio, e pela Universidade de Paris”.

Identificava ele que o tenente João Nunes da Fonseca Calassa Galvão, comandante interino da Bateria de São Pedro do Registro do Porto de Jaraguá, “se achava afetado de uma inflamação no Peritônio”.

Henrique Birkett — De origem inglesa, se estabeleceu em Penedo. Foi citado em 1848 como proprietário do Engenho Araça. Foi médico do Hospital de Penedo e em alguns registros desta instituição ele surge como “o Cirurgião Inglês”. Deixou descendentes naquela cidade ribeirinha.

José Sezinando Avelino Pinho — Natural de Vila Nova em Sergipe, onde nasceu em 7 de janeiro de 1823, formou-se em Medicina na Bahia no ano de 1849. Nessa mesma Faculdade já tinha conseguido o diploma de farmacêutico em 1846.

Teve curta inserção política, sendo eleito deputado provincial para a 9ª legislatura (1852-1853).

Participou da campanha em Maceió que enfrentou a primeira epidemia de febre amarela, em 1850, e da mobilização para tratar os enfermos da epidemia de cólera entre 1855 e 1856.

Foi ainda professor de francês do Liceu Alagoano. Mudou-se para o Rio de Janeiro, onde foi deputado provincial por quatro legislatura. Faleceu em Cantagalo no dia 16 de junho de 1882.

Instrumentos cirúrgicos para amputações

Raimundo José de Sousa Neto — Em 1850 era o Cirurgião Mor do Hospital Regimental da Guarnição de Maceió.

Marius Porte — Homeopata francês, trouxe para Alagoas a terapêutica hanemaniana. Foi anotada sua presença em Maceió no ano de 1848, mas não se sabe se era médico.

Dr. Augusto Jernstedt — Também francês e defensor da homeopatia, atuava em parceria com Marius Porte, com quem tinha dividido também a divulgação desse método no Ceará e no Pará.

Primeiros médicos alagoanos

Segundo Renan Falcão o primeiro médico alagoano foi Manuel Joaquim Fernandes de Barros, diplomado em 1825. O seu detalhado estudo identifica este profissional como o mesmo citado pelo padre José Henrique de Amorim, em 22 de janeiro de 1830, durante uma sessão do Primeiro Conselho Geral da Província. Afirmava o religioso que existiam então “entre os naturais três pessoas formadas em leis e uma em Medicina”.

Os dez primeiros médicos alagoanos conseguiram diplomas até 1850. Foram eles:

Manuel Joaquim Fernandes de Barros — Nasceu em Penedo no dia 17 de março de 1802 e, em 1825, formou-se em Medicina na Faculdade de Estrasburgo com tese Dissertation sur la meteorologie.

Esteve em Paris, onde estudou química com Barruel e física com Gay-Lussac. Seus méritos foram reconhecidos pelo governo francês e foi nomeado membro de uma comissão de professores da universidade para analisar as minas de Gasconha e do Palatinado. Foi elogiado pelo ministro da França. Apresentou teses em 1821 e voltou a Estrasburgo para concluir o curso de Medicina.

Voltou ao Brasil em 1828, se estabelecendo em Sergipe, onde chegou a ser presidente da Província em 1836.

Representou Alagoas na Assembleia Geral do Império do Brasil entre 1834 e 1835. Nos dois anos seguintes foi substituído por Antônio Castro Viana.

Permaneceu trabalhando como médico na capital alagoana somente durante o ano de 1839.

Era filho de José Fernandes Chaves e Tereza de Jesus Barros Leite, que após ter ficado viúva casou-se em segunda núpcias com Antônio Bittencourt Belém, um rico proprietário em Maceió.

Teve um filho do seu casamento com Maria José Barros em Sergipe. Foi assassinado em Salvador, Bahia, no dia 2 de outubro de 1840 ou 1841.

Dr. Mello Moraes

Alexandre José de Mello Moraes — Diplomado pela Faculdade da Bahia em 1840, com a tese Considerações fisiológicas sobre o homem e sobre as paixões e afetos em geral; do interesse, amor, amizade e saudade em particular, Melo Moraes nasceu na cidade de Alagoas, na rua da Matriz, em 23 de junho de 1826. Era filho do capitão-mor Alexandre José de Mello e de D. Anna Barbosa de Araújo Moraes.

Perdeu sua mãe no dia 20 de novembro de 1826 e seu pai no dia 13 de maio do ano seguinte, quando tinha 11 anos. Órfão, foi levado para a Bahia e passou a ser cuidado por dois tios frades: José de Santa Thereza, carmelita, e Francisco do Senhor do Bomfim, franciscano.

Após a conclusão do curso, voltou a Marechal Deodoro. Não escondia o seu desejo de morar e trabalhar em Alagoas. Mas logo retornou a Salvador, onde nasceram seus filhos Alexandrina Maria de Mello Moraes, Alexandre José de Mello Moraes Filho, Norberta Maria de Mello Moraes, que faleceu no dia 17 de setembro de 1881, e Clorinda Maria de Mello Moraes.

Em Salvador, logo conseguiu uma vasta clientela, projetando seu nome entre os grandes profissionais daquela terra. Além da Medicina, também atuava no jornalismo político e dedicava-se a estudar a história do país.

Como historiador, também adquiriu renome e reconhecimento, principalmente após custear e lançar em 1864 o Brasil Histórico, de grande circulação na época.

Aderiu à homeopatia e abandonou sua clínica e a alopatia. Nesse mesmo período, adotou secretamente o espiritismo.

Fixou-se no Rio de Janeiro entre 1852 e 1853, onde passou a ser reconhecido por sua vasta produção intelectual. Como escritor, produziu uma vasta obra.

Foi eleito ainda deputado geral por Alagoas para o período de 1869 a 1872.

Em 1865, quando se montava o acervo para a inauguração da Biblioteca Pública de Alagoas, criada em 26 de junho daquele ano, Mello Moraes doou 2.000 livros da sua coleção.

Mello Moraes faleceu no Rio de Janeiro às 4 horas da tarde de 6 de setembro de 1882, vítima de pneumonia em sua casa à Rua Evaristo da Veiga, 41. Seu corpo foi enterrado 24 horas depois no Cemitério de São João Batista, na carneira nº 880.

Manuel Adriano do Nascimento Pontes — Médico pela Faculdade de Medicina da Bahia em 14 de dezembro de 1841 com a tese Proposições sobre queimaduras, era natural do Engenho Ponte Grande em Ipioca, onde nasceu em 9 de junho de 1819, filho de Manuel do Nascimento Pontes e Adriana Maria Pontes.

Não há informações sobre o seu exercício profissional e nem se isso aconteceu em Alagoas. Faleceu em Paris no dia 8 de dezembro de 1869.

Francisco José da Silva Porto — Nasceu em Penedo no dia 6 de outubro de 1817 e foi diplomado médico na Bahia em 1842. Ficou conhecido em Maceió, onde se estabeleceu em Bebedouro, como Dr. Porto.

Em 1850, quando surgiu a Febre Amarela em Alagoas, fez parte do Conselho de Salubridade criado pelo governo para combater a epidemia. Neste mesmo ano, em 27 de junho, foi nomeado pelo Imperador do Brasil para o cargo de Comissário Vacinador da Província de Alagoas.

Foi ainda deputado provincial entre 1846 e 1853.

Entre 1855 e 1856, quando Alagoas foi atingida pela epidemia de cólera-morbo, assumiu a presidência da Junta de Saúde criada pelo presidente da Província Sá e Albuquerque.

Dr. Porto faleceu em 13 de outubro de 1858.

José de Barros Acioli Pimentel — Foi diplomado médico no Rio de Janeiro em 1844. Natural da vila das Alagoas, onde nasceu na Massagueira em 1820, filho de Inácio Acioli de Vasconcelos e Margarida Correia Pimentel.

Pedro Paulino da Fonseca em apontamentos para a História de Alagoas se refere a ele como alguém “muito considerado e caritativo que prestou durante sua vida relevantes serviços principalmente à pobreza da cidade de Alagoas”.

Foi na atual Marechal Deodoro que residiu e atuou. Faleceu em Maceió, vítima de congestão cerebral em 19 de abril de 1879.

Manuel Rodrigues Leite e Oiticica — Com a tese Dissertação inaugural sobre o regimen alimentar do homem no estado de saúde, conquistou o diploma de médico no Rio de Janeiro em dezembro de 1844, onde permaneceu comissionado pelo governo da província alagoana para estudar “assuntos atinentes à agricultura, apresentando a propósito valioso relatório”.

Nasceu em Anadia no dia 8 de dezembro de 1822 e era filho de Manuel Rodrigues Costa e Rosa Maria Leite Sampaio.

O Comendador Oiticica, como ficou conhecido este médico conceituado era proprietário do Engenho Mundaú em Santa Luzia do Norte.

Casou-se no primeiro matrimônio com Francisca Hermínia do Rêgo, com quem teve vários filhos. Durante a epidemia do cólera que atingiu o Brasil em 1855-56 perdeu a esposa, três filhos e 15 escravos, como registraram os jornais da época. Voltou a casar mais duas vezes.

Foi deputado provincial entre 1858 e 1859. Faleceu no dia 18 de maio de 1884 em Alagoas.

José Fernandes Umbuseiro — Nasceu em Alagoas e estudou Medicina no Rio de Janeiro, mas não chegou a defender sua tese, Dissertação sobre a apoplexia cerebral (foi impressa em 1845).

Entretanto chegou a exercer a profissão no Rio de Janeiro, como comprova um anúncio no Diário do Rio de Janeiro de 21 de setembro de 1844: “O PROFESSOR José Fernandes Umbuseiro oferece o seu préstimo ao público, tanto em Medicina como em cirurgia; na rua de S. Clemente n. 26”.

O mesmo jornal, mas em 4 de abril do ano seguinte publicou uma DECLARAÇÃO em que o tenente general barão de Taquary, comandante das armas interino, determinava que o “Sr. cirurgião mor José Fernandes Umbuseiro compareça quanto antes neste quartel general para objeto de serviço”.

O Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro de 1845 o coloca como 1º tenente e cirurgião mor do 4º Batalhão de Artilharia a Pé aquartelado na Ilha das Cobras, Rio de Janeiro. Em setembro de 1846 foi efetivado neste cargo.

Ainda em 1845, o “Dr. Umbuseiro” foi relacionado como conselheiro suplente do Instituto Homeopático, que havia sido instalado no Rio de Janeiro em 10 de maio de 1844.

Em 10 de novembro de 1846, Umbuseiro voltou a ser citado em jornal, desta feita no Diário de Pernambuco, como cirurgião mor encarregado do Hospital Regimental da Soledade, em Recife.

A última informação sobre ele foi encontra na Gazeta Official do Império do Brasil (RJ) de 25 de maio de 1847, que publicou determinação do Ministério da Guerra instruindo o Inspetor da Pagadoria das Tropas da Corte para que pagasse “por mais três meses a consignação deixada pelo Cirurgião mor José Fernandes Umbuseiro a sua família”.

Essa nota deixa entender que ele havia falecido antes desta data. A pesquisa de Renan Falcão cita como tendo falecido em 1848.

Dr. Antônio Teixeira da Rocha, Barão de Maceió

Antônio Teixeira da Rocha — O futuro Barão de Maceió nasceu na cidade de Alagoas (atual Marechal Deodoro), em 4 de abril de 1824, e faleceu no Rio de Janeiro em 29 de julho de 1886.

Era filho de Manoel Casemiro da Rocha e de Joana Maria Conceição da Rocha. Casou-se com Felisdonaria Adelina Lopes da Rocha, que faleceu em 4 de agosto de 1858. Contraiu segunda núpcias com Maria Feliciana de Lima, que nasceu em 3 de setembro de 1831 e faleceu em 8 de maio de 1901, de sincope cardíaca. Era filha do comendador João da Costa Lima e de Mariana Elísia de Oliveira Lima.

Após os primeiros estudos em Alagoas, foi para Salvador, de onde voltou médico diplomado pela Faculdade de Medicina da Bahia. Apresentou a tese, Princípios da Filosofia Médica, em 27 de novembro de 1846.

Exerceu a medicina em Alagoas até 1855. Pelo menos por algum tempo praticou a homeopatia, como está documentado a seguir.

Um texto assinado pelo dr. Sabino Olegário Ludgero Pinho e publicada no Diário de Pernambuco de 22 de julho de 1848 informa que o autor tinha visitado Maceió, onde encontrou em funcionamento um consultório homeopático e que nele presenciou uma reunião entre os médicos dr. Jernstede, dr. Marius Porte, divulgadores daquele método, e “o sr. dr. Antônio Teixeira da Rocha, deputado à assembleia provincial das Alagoas, e um dos moços mais hábeis que têm frequentado a academia de medicina da Bahia”.

Dr. Sabino esclareceu que na tese defendida pelo médico alagoano havia “algumas palavras mal consideradas em desabono da homeopatia”. Mas, comemorou ao constatar que após conhecer o novo método, “com fervor de pura dedicação, e desejando nada ignorar da verdadeira prática da medicina, deixa sua clínica alopática, aceitando somente os doentes que quisessem tratar homeopaticamente! É assim que obram os homens de boa fé!!!”.

Antônio Teixeira da Rocha foi ainda deputado provincial em Alagoas entre 1848 e 1851.

Estabeleceu-se no Rio de Janeiro a partir de 1855, com consultório na Rua da Imperatriz, nº 183. Ainda em 1856, o “Dr. Antônio Teixeira da Rocha” foi citado pelo Diário do Rio de Janeiro de 15 de novembro como tendo 333 votos nas eleições primárias na Freguesia de Santa Rita, ficando entre os suplentes.

No mesmo mês de novembro foi nomeado cirurgião da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, adjunto às salas de serviço do Dr. Antônio da Costa.

Em 4 de maio de 1858 fez a prova escrita no concurso para o “lugar de opositor da secção cirúrgica da faculdade de medicina da corte”, competindo com somente mais um concorrente, Adolpho Bezerra de Menezes Cavalcanti (Diário do Rio de Janeiro de 5 de maio de 1858).

Quatro dias depois se submeteu a prova oral às 11 horas da manhã em presença do imperador D. Pedro II. Foi aprovado e sua nomeação decretada em 2 de junho daquele mesmo ano.

Voltou a enfrentar exames na mesma instituição no dia 20 de maio de 1859. Pleiteava a vaga de lente substituto na secção de cirurgia onde já estava trabalhando. Desta feita o seu concorrente foi o dr. Lucas Antônio de Oliveira Catta-Preta. Conquistou o 1º lugar em apresentação realizada novamente diante do imperador. Sua nomeação foi efetivada nos primeiros dias de julho.

Nesta instituição alcançou o cargo de lente da cadeira de Anatomia Geral e Patológica, em 23 de novembro de 1864.

Em 1868 morava na Rua Larga de São Joaquim, nº 134, Rio de Janeiro.

Representou Alagoas na Assembleia Geral Legislativa entre 1872 e 1878.

Por Decreto Imperial, foi titulado Barão de Maceió em 29 de julho de 1877. Era também comendador das Ordens da Rosa, de Cristo, de Portugal e de São Gregório Magno.

Foi médico da Imperial Câmara em 1873 e Conselheiro do Império em 1874.

Estava trabalhando no Paço de São Cristóvão, Rio de Janeiro, quando faleceu, em 29 de julho de 1886. Tinha 62 anos de idade.

A Gazeta Médica da Bahia assim noticiou o seu falecimento: “Repentinamente, na imperial quinta da Boa Vista, sem as tristezas pungentes da agonia e em casa do soberano aquém tinha por amigo, finou-se em consequência de uma lesão do coração o Dr. Antônio Teixeira da Rocha, que a munificência imperial distinguira com o título de Barão de Maceió. Achava-se de semana, como médico da imperial câmara”.

Cirurgião em 1888

Roberto Calheiros de Melo — Concluiu seu curso médico na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1848.

Nasceu em 26 de janeiro de 1821 no Engenho Riachão, pertencente aos seus avós maternos João Gomes Calheiros e Joaquina Paula Calheiros. Era filho de João Lins Calheiros e Ursula Maria de Melo. Seus avós paternos, Salvador Pereira da Rosa e Ursula de Melo Calheiros, foram fundadores do Engenho Utinga.

Casou-se e teve vários filhos com Joana Calheiros de Melo, sua tia, filha do segundo casamento do seu avô João Gomes Calheiros com Maria Manuela de Vasconcelos.

Foi deputado provincial entre 1850 e 1851, e depois de 1864 a 1865. Representou Alagoas na Assembleia Geral entre 1857 e 1860. Como vice-presidente da Província de várias chapas, assumiu o governo por diversas vezes. Entre os seus feitos estão a criação da comarca de Passo de Camaragibe e a elevação de São Miguel dos Campos a categoria de cidade.

Ocupou ainda o cargo de Inspetor da Alfândega em Maceió e foi um dos fundadores do Instituto Arqueológico e Geográfico de Alagoas, sendo seu presidente de 18 de novembro de 1872 a 3 de maio de 1895, data do seu falecimento.

Detentor da condecoração de Oficial da Ordem da Rosa por sua participação no combate a epidemia da cólera morbo entre 1855 e 1856. Dirigiu o Asilo de Órfãs de N. S. do Bom Conselho por muitos anos.

Jacinto Paes Pinto da Silva — Com a tese Reflexões sobre a humanidade do médico, conquistou, em 4 de dezembro de 1849, o título médico na Faculdade de Medicina da Bahia.

Nasceu em Porto Calvo, filho do recifense capitão Angelo José da Silva e de Joaquina Maria de Lira e Silva.

Foi Deputado provincial na legislatura 1864-65, secretário interino da Fazenda em 1897, no governo do Barão de Traipu e presidente do Montepio dos Servidores do Estado, em 1902 e em 1907.

Joaquim Emílio Aires — Não se sabe muito sobre esse alagoano que obteve o título de cirurgião aprovado na Academia médico-cirúrgica da Bahia.

Segundo está registrado no livro História da Medicina no Brasil, de Licurgo Santos Filho, seu nome de batismo era Joaquim Inácio Vanderlei. Foi deputado provincial no Ceará.

Seu nascimento se deu próximo à virada do século XVIII para o XIX. Foi morador de Aracatí, no Ceará, onde fundou o jornal O Clarim da Liberdade. Faleceu naquela província em 1850.

Profissão sem destaque social

Nesse mesmo período, primeira metade do século XIX, outros médicos brasileiros, mas não alagoanos, trabalharam em Alagoas: Silvestre Marcolino da Fonseca, João Ferreira Barroso, Raimundo José de Souza Neto, José Sezinando Avelino Pinho e Miguel Joaquim José Ramos.

Entre os alagoanos, quatro deles não exerceram a clínica em sua província de origem: A. J. de Melo Moraes, Manuel Adriano do Nascimento Pontes, José Fernandes Umbuseiro e Joaquim Emílio Alves.

Estrangeiros não portugueses foram três: o inglês Henrique Birkett e os franceses Marius Porte e Augusto Jernstedt.

Há registro ainda da passagem por Alagoas em 1831 de um cirurgião Alves.

Renan Falcão, em sua pesquisa, constata que a profissão médica, até o século XIX, “apesar da projeção alcançada por vários profissionais, não emprestava destaque social aos membros de tão nobre e útil classe”.

E prossegue: “como na Corte, os cirurgiões que viveram em Alagoas, sofreram as mesmas restrições. Jamais conseguiram fazer parte do selecionado meio social. Foram inexpressivas figuras de profissionais que a sociedade local julgava indispensável, mas não admitia a intromissão em seu círculo”.

O ilustre pesquisador revela ainda as razões para estes isolamentos: “Todos foram de pouca instrução. Os seus autógrafos que chegaram até nós, não deixam dúvidas sobre as poucas letras que possuíam”.

A exceção ficou para João Ferreira Barroso, cujos escritos revelavam que foi o mais culto. Há sobre ele também o testemunho de Pedro Paulino da Fonseca, que lhe fez boas referências.

Quando, a partir de 1840, Alagoas começou a receber os seus primeiros médicos formados em faculdades, filhos de famílias abastadas, a situação se alterou, mas “não foi a profissão que os guindou às posições privilegiadas na província, mas suas origens”, esclarece Falcão.

3 Comments on Primórdios da Medicina em Alagoas

  1. Marco Aurélio de Alencar Silva // 21 de outubro de 2019 em 12:26 //

    Boa tarde, queria saber como o nome Alencar chegou em Alagoas, não me convence em dizer que vem de Alencastro (Portugal) penso que deriva da Espanha/Holanda.

  2. henrique espirito santo // 29 de outubro de 2020 em 16:59 //

    Ola gostaria de saber onde encontro os documentos citados neste texto. pois meu trizavo talvez tenha sido citado aqui. e gostaria de saber mais sobre ele. Jose joaquim do espirito santo o nome dele.

  3. Pedro Teixeira // 9 de fevereiro de 2024 em 22:45 //

    Uma bonita história da Medicina nos primórdios. Valeu.So resta a continuação da vida médica até hoje.Aguardemos

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