Os primeiros anos da República em Alagoas

Quadro representando a Proclamação da Republica em 15 de novembro de 1889

Marechal Deodoro da Fonseca

Reproduzindo os choques entre os diversos grupos republicanos que ocorriam principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, Alagoas também foi palco de enfrentamentos no período imediatamente posterior à proclamação da República, que ocorreu em 15 de novembro de 1889.

No Rio de Janeiro, Manoel Deodoro da Fonseca, que havia dissolvido o ministério do Governo Provisório em 21 de janeiro de 1891, entregou o novo governo a um “gabinete” montado pelo Barão de Lucena, antigo chefe político do Partido Conservador do Império e representante dos interesses financeiros da elite imperial.

Os militares revolucionários se sentiram traídos. Os republicanos paulistas, porta-vozes da economia cafeeira, também foram para a oposição. Mantinha uma importante base de apoio nas forças armadas, mas enfrentava imensas dificuldades na relação com o Congresso.

Nesse período, Deodoro chegou a ser acusado, sem razão, de tentar restaurar a monarquia.

Conseguiu concluir o período inicial, o chamado Governo Provisório, com alguns avanços administrativos, mas com crescente impopularidade.

Foi escolhido presidente constitucional em 25 de fevereiro de 1891. Seu vice era outro alagoano, Floriano Peixoto. A Constituição que garantiu esta eleição indireta tinha sido promulgada no dia anterior.

Durante o Governo Constitucional, que durou somente nove meses, as crises se sucederam e o Congresso tentou inviabilizar o governo. Deodoro reagiu e em 3 de novembro de 1891 fechou o parlamento, prendeu opositores e decretou Estado de Sítio.

Alguns estudiosos denominam essa reação como o “Golpe da Bolsa” por ter beneficiado os interesses dos grupos financeiros e especuladores representados pelos ministros do governo. Não era, portanto, um golpe de um grupo de militares, mas a tomada de poder por parte de fração da antiga elite imperial, a “burguesia bancária do Rio de Janeiro”, como identificou o estudo de Guillaume Azevedo Marques de Saes (Militares e Desenvolvimento no Brasil).

O projeto de reforma constitucional defendido por este novo bloco político pretendia aumentar o poder da União sobre os Estados, proibir a participação nas eleições de militares da ativa e reduzir o número de deputados.

Era claramente uma tentativa de reduzir a participação dos militares na política e obrigá-los a retornarem aos quarteis. Como era de se esperar, houve reação.

Floriano Peixoto, José Simeão de Oliveira, Solón Ribeiro e Serzedelo Corrêa lideravam os insatisfeitos no Exército, mas foi da Marinha, sob o comando de Custódio de Melo e Eduardo Wandenkolk que partiu o movimento conspiratório para derrubar o governo de Deodoro.

Aproveitando uma greve dos ferroviários da Estrada de Ferro Central, o almirante Custódio de Melo, deflagrou a partir de 23 de novembro de 1891 a denominada primeira Revolta da Armada

Percebendo que não teria forças para enfrentar o golpe em andamento, Deodoro renunciou e entregou o governo ao seu vice Floriano Peixoto, que já assumiu sendo pressionado para convocar eleições.

Diferente de Deodoro, Floriano agiu com firmeza e conseguiu permanecer no governo e pacificar o país.

Primeiros momentos da República em Alagoas

Na sexta-feira, 15 de novembro de 1889, o jornal O Orbe chegou às ruas de Maceió anunciando que a Sociedade Euterpe Alagoana, com sede, na Rua General Hermes, iria realizar uma programação festiva em comemoração a passagem do seu primeiro ano de existência.

Não há, em suas quatro páginas, nenhuma menção à palavra República.

Na edição da quarta-feira seguinte, dia 20, o jornal já estava envolvido no clima revolucionário e externou sua posição de equilíbrio e de vigilância contra os adesistas de última hora:

Conde d’Eu com Marechal Deodoro da Fonseca durante exercícios militares na Praia Vermelha. Fotografia de Marc Ferrez em 1885

“Estamos pois em nossos lugares, sem nos confundir com os especuladores, abissínios, que adoram o sol que na véspera apedrejaram, com a turma de aventureiros que vai mercadejar sua adesão à causa triunfante com a mesma infâmia e cinismo com que na véspera calcavam o coração do povo, a quem mandavam espaldeirar nas ruas desta cidade, pela manifestação pacífica e honrosa a um dos distintos membros desta nobre classe que esmagou no peito dos tiranos o último impulso de cruéis cometimentos”.

E orientava: “Acautele-se o povo; previna-se o partido republicano contra a exploração dos aventureiros, e eles sobram. Vede-os ali nos principais signatários do manifesto distribuído na noite de 16”.

O mesmo jornal revela o ambiente confuso que viveu Maceió com as primeiras notícias da derrubada da monarquia no país:

“Quando no dia 15 o telégrafo anunciava o movimento, o dr. Pedro Nolasco vociferava diante da estação telegráfica dizendo [serem] as transmissões notícias falsas. O sr. Messias [deputado Manoel Messias de Gusmão Lyra, então presidente da Assembleia Provincial] apenas deixava a administração [e] pedia ao presidente recém-vindo [Pedro Ribeiro Ramos] providências contra o movimento republicano, por uma feliz coincidência dado no Passo de Camaragibe ao mesmo tempo que na corte!”.

Na verdade, esse movimento no Passo de Camaragibe era contra a Justiça monárquica por ter extinguido aquela Comarca.

“No dia 16 pela manhã, chegava ao telégrafo avisos em cifras para aquela localidade [Passo de Camaragibe], avisos cuja aceitação recusou o digno chefe da estação, — e ainda na incerteza da veracidade das notícias transmitidas da corte, insiste e consegue do presidente ordem ao juiz de direito de Camaragibe para a execução do monstruoso atentado ao poder judiciário, suprimindo aquela comarca, ordem que igualmente recusou a transmitir o honrado chefe da estação telegráfica sr. Pedro Soares, como vinda de uma autoridade deposta”.

“Pois bem, no mesmo dia 16 à tarde, após insistentes telegramas que anunciavam o advento da República, os srs. Messias e Nolasco esmolavam de porta em porta, de loja em loja, assinaturas para o manifesto que transcrevemos, conseguindo apenas oito junto às suas”.

O jornal não perdoou essa adesão. “Covardia e miséria! Especulação e cinismo! Em nome de que ideia, de que partido esteve o sr. Messias até o dia 15 do corrente na administração da província?”.

E prossegue se referindo ao dr. Messias como um “Delegado do governo imperial, gozando de confiança do ministério, e particularmente do conselheiro Lourenço, depostos no dia 15. O procedimento de tal gente assemelha-se ao da adúltera ciosa que atira-se nos braços do primeiro que lhe pode pagar os favores, na mesma cama em que permanece o corpo ainda quente do esposo amortalhado!”.

Floriano Peixoto em 1881

No dia 17, chegou a Maceió vindo de Recife em um vapor, o dr. Silvério. Trazia a falsa notícia que a crise tinha sido resolvida e que a monarquia permaneceria com a organização de um gabinete liderado pelo conselheiro Saraiva.

Sabendo disso, “o dr. Pedro Nolasco quis escrever e publicar um contra-manifesto retirando sua adesão ao governo provisório, afirmando tê-lo feito iludido e declarando-se novamente monarquista; para tal fim convidou, o impagável ex-deputado, aos srs. Monte [bacharel Manoel C. do Monte] e Messias que recusando recusar, publicaram um segundo manifesto, o qual não foi mais subscrito pelo sr. Nolasco, crente ainda na organização Saraiva!”.

Foram esses monarquistas que abandonaram no palácio o último presidente da província das Alagoas indicado por carta imperial, Pedro Ribeiro Ramos, que governou por três dias: 15 (dia em que chegou a Maceió e tomou posse), 16 e 17 de novembro.

Na noite do sábado, 16 de novembro, o clube republicano Centro Popular Maceioense, presidido pelo dr. Manoel Menezes, organizou uma passeata que teve início em sua residência e se dirigiu ao quartel do 26º Batalhão de Infantaria.

A manifestação contou com a música executada pela banda marcial do corpo de polícia e da filarmônica Artística. O objetivo era “cumprimentar” a oficialidade e principalmente ao major Augusto Pedra.

Discursou o dr. Manoel Menezes e, agradecendo em nome dos militares, falou o capitão Virgínio Ramos. Ainda usou da palavra o dr. João Gomes Ribeiro.

Entre os dias 18 e 21 de novembro, o governo republicano em Alagoas ficou provisoriamente sob o encargo de uma junta governativa formada pelo major Aureliano Augusto de Azevedo Pedra — comandante do 26º Batalhão de Infantaria —, Manoel Ribeiro Barreto de Menezes e Ricardo Brennand Monteiro. Este último também assumiu a intendência da capital.

Para garantir a ordem pública, este triunvirato convidou o dr. Leite e Oiticica para exercer interinamente o cargo de chefe de polícia.

Foi este governo provisório que no dia 18 fez circular uma nota em que garantia “o pagamento de toda dívida pública, geral e provincial”, reproduzindo posição adotada pelo governo federal.

No dia 21, por nomeação do governo federal, assumiu o governo de Alagoas, também provisoriamente, Tibúrcio Valeriano de Araújo, do Partido Republicano Democrático. Aguardava a chegada em Maceió de Pedro Paulino da Fonseca, nomeado dois dias antes e que somente tomou posse em 2 de dezembro. Tibúrcio Valeriano permaneceu no cargo por apenas 12 dias.

Pedro Paulino da Fonseca

Coronel Pedro Paulino da Fonseca, primeiro governador republicano de Alagoas

Como Deodoro, era filho de Manoel Mendes da Fonseca e de D. Rosa Maria Paulina Barros Cavalcanti da Fonseca. Nasceu no dia 6 de julho de 1829 na cidade de Alagoas, atual Marechal Deodoro. Foi casado com Francisca Catarina Francioni.

Um dos seus filhos, o general Clodoaldo da Fonseca, foi governador de Alagoas entre 1912 e 1915.

Orsina Francioni da Fonseca, sua filha, casou-se com seu sobrinho Hermes da Fonseca, que também teve projeção política quando foi ministro da Guerra de Afonso Pena (entre 1906 e 1909) e presidente da República de 1910 a 1914.

Pedro Paulino é o patrono da cadeira nº 54 do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas e da cadeira nº 2 da Academia Alagoana de Letras.

Faleceu no Rio de Janeiro em 16 de novembro de 1902.

Iniciou sua carreira militar no Rio de janeiro em julho de 1846, onde cursou a Escola Militar, mas a saúde limitada o impediu de prosseguir. Foi reformado como segundo-tenente em 1859. Tinha especialização em trabalhos estatísticos e foi inspetor (vedor) da Casa de Correção, no Rio de Janeiro, por 19 anos.

Assumiu o governo de Alagoas em 2 de dezembro de 1889, nomeado pelo decreto de 19 de novembro de 1889. Passou a ostentar a patente honorária de coronel.

Entre as suas ações destaca-se o empenho para a instalação em Alagoas da vara privativa dos casamentos, criada pelo Decreto Federal 320, de 11 de abril de 1890. Oito dias depois de baixado o decreto, o governo federal nomeou o dr. Manoel Fernandes de Araújo Jorge como Juiz de Direito e dos casamentos da capital.

Para acelerar os trabalhos nesta área, considerando que o casamento civil passaria a funcionar a partir do dia 24 de maio, Pedro Paulino nomeou, no dia 16 daquele mês, o cidadão Bernardo Mendonça de Cerqueira Valente para o cargo de oficial privativo do registro.

Também foi de sua iniciativa a viabilização do projeto que estendia a ferrovia de Imperatriz (União dos Palmares) até Palmeira dos Índios, e autorizou a implantação de outra que atenderia a região norte de Alagoas. Essa nunca saiu do papel.

Foi dele a primeira tentativa de criação do Banco do Estado de Alagoas e de uma agência do Banco Colonizador e Agrícola, mas não obteve êxito.

Para realizar as eleições de 15 de setembro de 1890 promoveu o realistamento dos eleitores em Alagoas. Neste pleito foram eleitos os representantes do Estado ao Congresso Nacional Constituinte e os constituintes estaduais.

Os três senadores escolhidos em Alagoas foram: Floriano Peixoto, Pedro Paulino e Cassiano Cândido Tavares Bastos.

Os deputados federais constituintes eleitos foram os seguintes: Bernardo de Mendonça, Theophilo dos Santos, Joaquim Pontes de Miranda, Francisco de Paula Leite e Oiticica, Ladislau Neto e Gabino Besouro.

A comissão encarregada de elaborar Constituição Estadual foi nomeada pelo governador em 13 de outubro de 1890.

Priorizando o mandato constituinte de senador, Pedro Paulino renunciou o mandato de governador no dia 25 de outubro de 1890 e tomou posse no Senado em 15 de novembro. Quem assumiu provisoriamente o governo de Alagoas foi seu vice, Roberto Calheiros de Melo, que comandou o Estado até 18 de dezembro, quando Manoel de Araújo Góes foi empossado por nomeação do governo federal.

Pedro Paulino, ainda senador, candidatou-se ao governo do Estado de Alagoas e em 11 de junho de 1891, um dia após ser promulgada a Constituição Estadual, foi eleito com 20 votos dos constituintes. Derrotou Gabino Besouro, que obteve 15 votos. Miguel Palmeira conseguiu apenas 1 voto.

O candidato a vice-governador de sua chapa, Manoel de Araújo Góes, obteve 19 votos, derrotando o Barão de Traipu, que recebeu 16 votos. Araújo Góes era até então o governador nomeado.

Quatro dias após ser eleito e tomar posse, Pedro Paulino viajou para o Rio de Janeiro onde voltou a exercer o mandato de senador.

Antes, no dia da sua posse, nomeou seu vice-governador Manoel de Araújo Góes, desembargador do Tribunal de Justiça de Alagoas.

Essas duas situações, um governador com mandato de senador e um vice no exercício do mandato sendo desembargador, iriam provocar uma crise política de graves consequências para Alagoas.

O primeiro imbróglio surgiu ainda no dia 15 de junho, quando Araújo Góes comunicou à Câmara e ao Senado de Alagoas que tinha assumido o poder executivo.

Imediatamente um deputado apresentou indicação solicitando o seu afastamento da condição de vice-governador no exercício do mandato, com base no artigo 68 da Constituição do Estado: “Os magistrados não podem aceitar ou exercer quaisquer outras funções, quer de nomeação do governador, quer de eleição”.

O governador respondeu dizendo que não se julgava incompatibilizado e que permaneceria no cargo. Permaneceu. E com ele no poder cresceram as críticas e a mobilização da oposição.

Manoel José de Araújo Góes

Senador Manoel de Araújo Góes

Araújo Góes nasceu no Recôncavo Baiano em 5 de março de 1839. Era um dos descendentes de Inocêncio Marques de Araújo Góes, o Barão de Araújo Góes.

Estudou no Colégio Pinheiro, em Salvador, e formou-se em Direito, em 1871, na Faculdade de Direito de Recife. Ainda em Recife, em outubro de 1871, casou-se com Constância Jacinta do Rego Lopes.

No ano seguinte, de volta à Bahia, foi nomeado em 26 de setembro promotor de Justiça na comarca de Inhambupe, abrangendo Purificação, Alagoinhas e Inhambupe.

De lá foi transferido para Santo Amaro, onde assumiu o cargo de juiz municipal em 6 de junho de 1874. Foi habilitado por decreto do Ministério da Justiça do Império ao cargo de Juiz de Direito em 19 de setembro de 1877. Obteve ainda o mandato de deputado provincial na Assembleia baiana nas legislaturas 1881/82 e 1883/84.

Por nomeação imperial assumiu a presidência da Província de Sergipe em 27 de outubro de 1885, permanecendo no governo até 19 de março de 1888. Era filiado ao Partido Conservador.

Em janeiro de 1888, quando ainda era presidente de Sergipe, foi nomeado Juiz de Direito da comarca de Imperatriz (União dos Palmares), em Alagoas. Assumiu no início de abril, logo após deixar Aracaju.

O Jornal de Sergipe assim avaliou o presidente afastado: “Se quiséssemos fazer um retrospecto dos atos praticados por S. Exc. no correr de sua ominosa administração teríamos de dar-nos a inglória tarefa de lançar sobre si o estigma que merece quem se afastou de todas as regras administrativas sem o mínimo respeito aos regulamentos que vigoram, sem a mais leve atenção para com as leis que nos regem”.

Em Alagoas, se estabeleceu com a família em Imperatriz e adquiriu várias propriedades entre este município e o de Murici, passando a ter influência econômica e política no Estado.

Mesmo com passado de militância política conservadora, aderiu ao governo republicano e governou Alagoas entre 18 de dezembro de 1890 a 12 de junho de 1891, nomeado pelo Governo Federal, e entre 14 de junho de 1891 a 23 de novembro de 1891, como substituto de Pedro Paulino.

No dia 11 de outubro de 1890 foi nomeado desembargador com assento no Tribunal de Justiça de Alagoas.

Mesmo sendo deposto do governo em novembro de 1891, Araújo Góes voltou a ter mandato em 1895, quando substituiu o deputado federal José de Barros de Albuquerque Lins, que havia renunciado ao mandato.

Renovou o mandato em 1897 e permaneceu na Câmara dos Deputados até dezembro de 1902. Em 1906 foi eleito senador por Alagoas, mandato que exerceu sucessivamente até 1923.

Em 1924, nas eleições realizadas em 17 de fevereiro, percebendo que não teria condições de vencer o pleito para o Senado, optou por disputar uma das vagas da Câmara dos Deputados. Assumiu sua cadeira em maio e foi ainda reeleito para as duas legislaturas seguintes.

Permaneceu no mandato até que a Revolução de 1930 extinguiu os mandatos e fechou as casas legislativas.

Seus três últimos mandatos como deputado federal foram conquistados como candidato avulso, representando a minoria e em oposição a Costa Rego.

Faleceu no dia 12 de setembro de 1939 em sua residência, na rua Visconde de Pirajá, 571, Ipanema, Rio de Janeiro.

Cenas sangrentas

Congresso Constituinte que elegeu o presidente Deodoro da Fonseca e seu vice Floriano Peixoto em 25 de fevereiro de 1891

Com as eleições marcadas para 11 de junho de 1891, Alagoas se dividiu entre as candidaturas de Gabino Besouro/Barão de Traipu e Pedro Paulino/Araújo Góes

No dia 9 de junho de 1891 ocorreu na Praça da Catedral a partir das 17 horas um comício organizado pelo senador estadual Manoel Ribeiro Barreto de Menezes. Tinha o objetivo de apoiar as candidaturas de Gabino Besouro e do Barão de Traipu.

Durante o discurso de Manoel Menezes, que utilizava a escadaria da Matriz, o cidadão Gequitá Peroba gritou que se deveria votar em Pedro Paulino e Araújo Góes. Houve tumulto e algumas agressões. Foram os primeiro entreveros entre os grupos republicanos.

No final da manifestação, circulou um abaixo-assinado conclamando Pedro Paulino a renunciar à sua candidatura, sob o argumento que seria mais útil ao Estado como senador da nascente República, que tinha seu irmão Deodoro como presidente.

Na noite de 11 de junho, após a eleição no Congresso alagoano do governador Pedro Paulino e do seu vice Araújo Góes, realizou-se uma manifestação de reconhecimento aos “independentes congressistas da oposição”, que mesmo derrotados, receberam este apoio dos seus partidários.

Segundo o jornal Cruzeiro do Norte, a concentração foi na Praça dos Martírios ao som das filarmônicas da Escola Central e do Montepio dos Artistas. De lá partiu o cortejo pelas ruas centrais de Maceió, passando pela residência “do ínclito democrata dr. Manoel Menezes”; do Barão de Traipu, do comendador Tibúrcio Valeriano; e do jornal A Pátria.

Quando se aproximaram da moradia de Tibúrcio Valeriano, ao lado do então Quartel de Polícia, fez-se ouvir o toque de sentido pelo corneteiro daquela unidade militar. Mas quando a multidão chegou muito perto do portão do quartel a postura foi outra: “a polícia bradou armas sem razão concludente, visto como os manifestantes eram todos de paz e entre eles existia a ordem”, registrou o Cruzeiro do Norte.

O jornal destacou ainda que durante o trajeto ouvia-se “vivas entusiasmados ao Dr. Gabino Besouro, ao general Floriano Peixoto, ao comandante do porto, Nobrega de Vasconcellos, ao Dr. Manoel Menezes e aos congressistas da oposição”.

Com Pedro Paulino no Rio de Janeiro, o clima de insatisfação com a escolha de Araújo Góes para substituí-lo foi aumentando, com muitas críticas publicadas nos jornais oposicionistas.

Do lado governista, vinha como resposta a perseguição aos republicanos deste grupo. Alguns perderam seus cargos.

O acirramento dos desentendimentos entre estas partes provocou, na noite de 26 para 27 de agosto de 1891, o primeiro grande incidente.

Aproximadamente 20 indivíduos, ligados ao governador Manoel de Araújo Góes, invadiram as oficinas gráficas do jornal A Pátria, órgão da oposição, e a golpes de machados e martelos quebraram os equipamentos. Depois “dispersaram-se os invasores, uns pela rua da Cambona e outros pelo Largo dos Martírios”.

Às duas horas da manhã, no local do empastelamento, já havia um expressivo grupo de oposicionistas exigindo vingança. Resolveram dar o troco e se dirigiram até a tipografia que imprimia o jornal governista Gutenberg. Lá destruíram os tipos e rasgaram os jornais impressos que seriam distribuídos horas depois.

Minutos depois, 30 soldados comandados pelo delegado José Gomes da Rocha e pelo capitão Augusto de Moraes chegaram às oficinas do Gutenberg e se postaram em sua defesa.

Pedro Paulino renuncia

Rua da Boa Vista, em Maceió, na década na década de 1880 ou 1890

No dia 26 de setembro, o Senado da República discutia o veto do presidente Deodoro da Fonseca à lei ali aprovada com a intenção de estabelecer as condições de incompatibilidades dos mandatos eletivos.

A norma tinha endereço certo: o mandato de Pedro Paulino, que era senador e governador de Alagoas ao mesmo tempo. Atingiria também Araújo Góes, governador interino e desembargador.

Pedro Paulino votou pela manutenção do veto. Imediatamente, a oposição argumentou que ele não poderia ter votado por ser parte interessada.

O presidente da sessão, Prudente de Moraes, que tinha o poder de decidir sobre a aceitação do voto, jogou a responsabilidade para o plenário. Houve votação e o voto do parlamentar alagoano foi cassado.

Pedro Paulino não aceitou a anulação do seu voto e, em protesto, anunciou que estava naquele momento renunciando ao mandato de senador e retirou-se do plenário. Eram os primeiros sinais de que a relação do Congresso com o presidente Deodoro da Fonseca chegava a um ponto crítico.

A repercussão não foi muito boa para o Poder Legislativo. Diante do desgaste político e temendo represálias do presidente da República, a secretaria do Senado comunicou ao alagoano, no dia 12 de outubro, que não aceitaria sua renúncia e o convidou a reassumir o mandato, “considerando terminado o incidente que determinou a renúncia”.

Pedro Paulino respondeu que mantinha sua decisão e argumentou: “Não cessou de modo algum a causa determinante da minha resolução, tomada ciente e conscientemente, tanto mais quanto é certo que permanece de modo bem pronunciado a exclusão do meu voto e conseguintemente o tolhimento do meu legítimo direito como parte que fui desta casa do parlamento; e pois corre-me o dever de declarar-vos que, diante de tal asserto, mantenho firme e irrevogável a deliberação por mim tomada…”.

O Senado aceitou a renúncia e comunicou ao governador de Alagoas essa resolução no dia 31 de outubro de 1891.

Em Alagoas, a repercussão da renúncia de Pedro Paulino animou a oposição, que imediatamente aumentou os protestos contra o governador, considerando que Araújo Góes estaria enfraquecido politicamente.

O principal evento, em comemoração à renúncia, foi marcado para a noite de 9 de outubro, uma sexta-feira.

Com a passeata percorrendo a Rua do Comércio no Centro de Maceió, a polícia, orientada pelo governador Araújo Góes, tentou dissolvê-la, mas não conseguiu.

Para encerrar o ato comemorativo, com clara intenção de provocar os governistas, seus participantes retornaram ao local do seu início, na casa do senador estadual Dr. Manoel Ribeiro Barreto de Menezes.

Manoel Menezes, que faleceu no dia 5 de março de 1895, foi um advogado e antigo republicano com muita influência política. Participou da junta governativa em Alagoas nos primeiros dias da República e era o presidente do Centro Popular Republicano em dezembro de 1889. A sede deste grêmio funcionava em seu escritório, na Rua Conselheiro Lourenço, nº 36, atual Rua Boa Vista.

Foi neste local que a manifestação encontrou numeroso contingente policial em posição de combate. Cumpriam ordens do delegado de polícia, o jovem acadêmico Raymundo Pontes de Miranda (filho do deputado federal Joaquim Pontes de Miranda), e sob a liderança do major comandante da polícia e de outros oficiais.

Próximo das 20h30, quase duas mil pessoas estavam aglomeradas na estreita Rua Boa Vista, quando foi dada a ordem de dispersão e imediatamente os policiais fizeram descarga de rifles, bacamartes e pistolas contra os manifestantes. Em seguida passaram a persegui-los empunhando sabres e estoques, um tipo de espada.

Segundo o Jornal do Recife de 13 de outubro daquele ano, houve reação por parte dos agredidos e alguns dos agressores tiveram que se abrigar em casas de particulares. “O delegado amparou-se na residência do sr. capitão Lima Rocha, onde já se achava moribundo um seu parente, que anteontem [dia 7 de outubro] mesmo faleceu”.

Após o conflito, a Força Policial se espalhou pela cidade, “dando-se fatos tão revoltantes que não temos expressões para exprimir”, resumiu o jornalista.

Assim o jornal descreveu os feridos:

“Um cidadão residente à Rua do Comércio, o sr. Félix Pereira da Cruz, chegando à porta foi cutilado na cabeça pelos soldados de polícia que passavam sequiosos de sangue”.

“Mulheres, crianças foram ofendidos por estes janízaros [soldados de elite do exército otomano] de nova espécie, que pretenderam entrar em casa de residência para verem se tinha ali se refugiado alguém”.

O jornal registrou o falecimento de Pedro de Barros Rocha, um cadete do 26º Batalhão de Infantaria do Exército. Tinha sido ferido em sua residência à Rua do Comércio. A outra vítima fatal foi José Anacleto do Nascimento, com ferimento penetrante no pulmão.

No dia em foi feita a reportagem, estavam feridos Manoel Fernandes de Souza, de Bebedouro, e Félix Pereira da Cruz. O primeiro em estado grave. Entre os outros feridos, em torno de 50 pessoas, estava ainda o italiano Alexandre Rossi, residente na Pajuçara. O jornal informou ainda que entre esses atingidos, quatro eram praças da polícia.

Nos dias seguintes ao conflito, mais de cem policiais bem armados passaram a percorrer as ruas prendendo quem permanecesse nelas após às 22 horas. Segundo o jornal, a ordem era a de “atirar nos peitos se o cidadão apresentar alguma à violentação de sua liberdade”.

Esta crise e outras espalhadas pelo Brasil aceleram a derrubada de Deodoro, que ainda tentou reagir fechando o Congresso em 3 de novembro de 1891. Não adiantou e no dia 23 do mesmo mês renunciou e passou o cargo para o vice-presidente Floriano Peixoto.

Em Alagoas, Manoel José de Araújo Góes foi deposto também no dia 23 de novembro por orientação do presidente Floriano Peixoto.

Em seu lugar assumiu uma junta governativa formada pelo tenente-coronel José Correia Teles, Manoel Ribeiro de Meneses, Jacinto de Assunção Paes de Mendonça Castelo Branco e o capitão Carlos Jorge Calheiros de Lima. Governou por apenas cinco dias, de 23 a 28 de novembro de 1891.

Entre 28 de dezembro de 1891 e 12 de junho de 1900, oito governantes dividiram os nove anos que preparavam o início da Era Malta, liderada por Euclides Malta. Esta durou até 13 de março de 1912, quando Euclides foi deposto.

Araújo Góes voltou a ocupar cargo elegível quatro anos depois e Pedro Paulino, no início de 1893, foi convidado pelo ministro da Indústria, Viação e Obras Públicas, seu amigo Antônio Paulino Limpo de Abreu, para ocupar um cargo no ministério e assim ter condições de manter a família.

Foram estes os principais personagens e os eventos mais importantes dos primeiros anos da República em Alagoas.

1 Comentário on Os primeiros anos da República em Alagoas

  1. Jorge Moura // 15 de agosto de 2020 em 04:03 //

    Muito bom. A história necessita ser escrita para conhecimento de nosso povo.

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