O teatro de Wolney Leite

Wolney Leite na peça Massacre, de 1968

A família Cavalcanti Leite tem origem nos Cavalcantis italianos de Florença, Itália, e que chegaram ao Brasil em meados do século XVI, após passagem por Portugal. Quem desembarcou na capitania de Pernambuco, ainda no início da colonização do Brasil, foi Filippo Cavalcanti.

Em Bom Conselho, Pernambuco, se estabeleceu o ramo Cavalcanti Leite. Volney Cavalcanti Leite é um dos descendentes dessa histórica família. Nasceu naquele município em 19 de janeiro de 1930, filho de Carlos Cavalcanti Leite e Joana de Lima Cavalcante.

Volney Leite chegou a Maceió ainda muito jovem, onde casou-se, em 14 de março de 1953, com Marlene Alves da Silva Leite, maceioense nascida em 20 de novembro de 1935, filha de Alcides Alves da Silva e Nair Alves da Silva. Tiveram cinco filhos.

Volney Leite casa-se com Marlene Alves da Silva Leite em 14 de março de 1953

Tinha mais de 20 anos de idade quando começou a se interessar pelo teatro, participando ativamente do Círculo Operário de Maceió, movimento organizado pela Igreja Católica e que no bairro da Ponta Grossa, em Maceió, tinha o seu principal núcleo. Com sede na Rua 11 de Junho, atual Rua Dr. José Paulino de Albuquerque Sarmento, a poucos metros da Praça Santa Tereza (atual Praça Getúlio Vargas), organizava o Circulista Esporte Clube (criado em 1948), equipe de voleibol feminino, um conjunto “Regional”, corpo cênico e a Escola de Samba Circulista. Contava com a participação de mais de 40 jovens.

Foi no Círculo Operário que começou a escrever suas primeiras peças. O teatro tinha para aquele grupo o objetivo didático, promovia o debate sobre as questões dos operários e de suas aspirações. Nesta época, Volney morava com os pais na rua Dias Cabral, nº 190, no Centro da capital.

Wolney Leite no time de futebol do Círculo Operário de Maceió, núcleo da Ponta Grossa

Aprovado para a Faculdade de Direito de Alagoas, levou para a academia sua experiência nas artes cênicas e com a participação dos colegas funda o Teatro Universitário de Alagoas – TUA. Seu envolvimento com o teatro, a partir de então, foi completo, como autor, ator e diretor. Sua liderança entre os colegas o levou a ser eleito, em 1957, presidente do Diretório Acadêmico da Faculdade de Direito.

Se envolve também com o Teatro de Amadores de Maceió – TAM, Os Dionísios, Teatro Cultura do Nordeste – TCN, INAPIATRO e Grupo Teatral Educação e Cultura – GTEC. Nesse período, destaca-se com ator e diretor.

Seu irmão mais novo, José Carlos Cavalcanti Leite, em depoimento para o História de Alagoas, lembra que era espaçoso o sótão da casa onde a família morava na Rua Dias Cabral e era lá onde “o Volney reunia a equipe para ensaiar”.

José Carlos recorda ainda que acompanhou os vários ensaios para a apresentação do Auto da Compadecida e já sabia de cor algumas falas. A peça de Ariano Suassuna foi apresentada no Teatro Deodoro pelo TAM sob a direção de Wolney Leite, que ganhou prêmio de melhor diretor com essa encenação.

Foi quando estava no Teatro de Amadores de Maceió – TAM que conheceu e estabeleceu amizade com Gercino Souza, também de Pernambuco, nascido em Caruaru no dia 30 de abril de 1928. Estava em Maceió como gerente das Lojas Paulistas, mas tinha longa caminhada no teatro amador de sua cidade e depois, já profissional, atuou para a Companhia Teatral Buranhen – Olden Soares, do Circo Sharleide, percorrendo a maior parte do Nordeste.

Como dramaturgos, Wolney Leite, que havia trocado o V pelo W, e Gercino Souza emplacaram o primeiro sucesso em Maceió no palco do Teatro Deodoro em julho de 1966 com A História de João Rico.

O sucesso foi tão grande que a peça teve que permanecer em cartaz por várias semanas além do programado. Encenada pelo Teatro de Amadores de Maceió, teve a seguinte ficha técnica: Vendedor: Augusto da Maia; João Rico: Gercino Souza; Maria: Maria Elsa Amorim; Benedita: Geysa Costa; Euclides: Henrique Melo; Rapaz: Sidinyro Souza; Dr. Sérgio: Augusto da Maia; Benvindo: Carlos Geraldo Sampaio/Otávio Cabral; Moço: Sidinyro Souza; Deoclécio: Mendes Filho; Delegado: Estácio de Menezes; Direção: Wolney Leite.

No ano anterior, A História de João Rico já tinha sido premiada pelo Ministério da Educação e Cultura com a 3ª Menção Honrosa do Prêmio Serviço Nacional de Teatro, conquistando a sua publicação em livro no ano de sua estreia.

Capa do livro A História de João Rico

Segundo o irmão de Volney, José Carlos Cavalcanti Leite, João Rico foi inspirado em um personagem da infância deles em Bom Conselho. Capitão Mané Jorge prosperou no comércio como açougueiro, posição social que lhe rendeu o posto de oficial da Guarda Nacional, mesmo posto alcançado por Carlos Cavalcanti Leite, pai de Volney.

“Com a idade veio a cegueira. Fechou o açougue e botou uma mercearia. Volney e os outros meninos iam comprar doces com moedas falsas. Ele aceitava sem desconfiar que estava sendo enganado”, recorda José Carlos, descrevendo-o como um “negrão velho”.

A segunda peça da dupla somente subiu ao palco em 9 setembro de 1983. A História do Amarelinho e o Valente Secundino foi apresentada pelo Grupo Teatral Alfredo de Oliveira, vinculado à Fundação Teatro Deodoro. Teve o patrocínio do INACEN/SEC/MEC. Subiu ao palco por 20 vezes, com portas abertas. Reativava o Projeto Teatro para o Povo.

O Amarelinho e o Valente Secundino em 1983, representada pelo Grupo Alfredo de Oliveira

Atuaram: Cego: Florêncio Teixeira; Zezé: Marcílio Soutelinho; Secundino: Otávio Cabral; Militão: Luiz Henrique; Garcia (Amarelinho): Marcial Lima; Maria: Terezinha Barros (posteriormente substituída por Mara Leite, filha do autor); Totonha: Marinete Soutelinho; Félix: Estácio Menezes; Veloso: Valdir Martins; Genésio: José Carlos Magalhães; Sinfrônio: Wolney Leite; e mais Belmira Magalhães, Rosemary Silva, Daniel Cabral, Daniel Albuquerque e Trio Maceió. Direção: Wilson Maux.

Sua ficha técnica foi a seguinte: Cenário: Gustavo Guilherme; Guarda-roupa: Marinete Soutelinho e Carmem Lúcia; Iluminação: Gustavo Guilherme; Contrarregra: Daniel Albuquerque; Cartaz e Programa: Antônio Ezequiel; Equipe FUNTED: Luz — Edmilson e Pedro; Som — Edvaldo e Lucas; Carpintaria e Maquinaria: José Cabral, José Ronaldo e João Batista; Pintura: Cícero Cruz; e Camareira: Eunice Santos.

Capa do programa da peça O Amarelinho e o Valente Secundino, com arte de Antônio Ezequiel

A terceira peça, A história de São Gregório e o Fazedor de Santos, ainda não foi encenada, mas está eternizada no livro com o mesmo nome, editado pela Edufal em 1998.

Capa do livro A História de São Gregório e o Fazedor de Santos

Como ator, Wolney Leite participou com destaque da peça Massacre, do francês Emanuel Roblès, que foi apresentada pelos Dionísios no Rio de Janeiro em 5 de fevereiro de 1968, às 22h no Teatro Nacional de Comédias, durante o V Festival Nacional de Teatro de Estudantes.

Everaldo Moreira, que também atuou nessa montagem, lembra da participação de Bráulio Leite, Edna Leite, Carlos Jorge (sobrinho de Bráulio), Naná Vasconcelos, Rui Lessa (da cantina do Cepa), sob a direção foi Valter Oliveira.

Recorda ainda do enorme sucesso alcançado: “Um jornal do Rio, ao comparar a nossa apresentação com a de um grupo profissional de lá, que também estreara o mesmo espetáculo, publicou: ‘seria muito bom que eles fossem assistir ao espetáculo dos amadores de Alagoas, quem sabe aprenderiam alguma coisa sobre fazer teatro!’”.

O professor Otávio Cabral, que construiu uma longa e vitoriosa história com o teatro alagoano, estava no Rio de Janeiro e viu os Dionísios brilharem no TNC em 1968: “O desempenho dos nossos atores surpreendeu a crítica local. Bráulio Leite e a Edna Leite foram abordados por diretores de teatro propondo que ficassem no Rio com a garantia de contrato para várias apresentações. Optaram por voltar a Alagoas”.

Wolney Leite é o padre na peça Massacre, de 1968

Futebol e Maçonaria

Durante a gestão de Cleto Marques Luz na presidência da Federação Alagoana de Desportos, entre 1973 e 1978, Volney Leite foi seu secretário geral e diretor do Departamento de Árbitros. Foi nessa administração que a FAD adquiriu sede própria, na Rua do Imperador, nº 389, por Cr$ 50 mil.

O próprio Volney chegou a apitar algumas partidas de futebol. Iniciou como auxiliar, o “bandeirinha” em 1966.

Volney Leite foi Diretor do Departamento de Árbitros da FAD

Como advogado, teve participação importante na Ordem dos Advogados do Brasil, OAB, seccional de Alagoas, ocupando o cargo de tesoureiro na gestão de Humberto Martins e diretor na de José Areias Bulhões. Presidiu por duas vezes a Caixa de Assistência dos Advogados de Alagoas, quando criou o plano de saúde para os colegas advogados, o OAB SAÚDE.

Maçom, da Loja Virtude e Bondade, foi iniciado em 29 de junho de 1973. Chegou a presidir esta instituição e, como Grão Mestre Estadual, liderou por algum tempo todos os maçons de Alagoas. Participou ainda da fundação da Academia Maçônica de Letras de Alagoas.

Funcionário público federal, prestou serviços ao Ministério da Agricultura e posteriormente à Emater.

Faleceu em 18 de novembro de 2001. Seu corpo descansa no Cemitério Nossa Senhora da Piedade, no Prado.

3 Comments on O teatro de Wolney Leite

  1. Tulio Virgílio // 7 de março de 2023 em 10:19 //

    Show de bola história muito Rica para um cidadão que veio de outro Estado e se Ramificou em Alagoas.

  2. Claudio de Mendonça Ribeiro // 7 de março de 2023 em 14:34 //

    Muito grato, prezado Ticianeli, por mais esta reportagem envolvendo o nosso Estado de Alagoas.

  3. Marcilio Soutelinho // 10 de março de 2023 em 11:52 //

    Saudoso Dr. Wolney , minha segunda peça teatral e estava com 11 anos nesta época, incentivado pela também saudosa minha mãe Marinete Soutelinho, segui a carreira de ator por muito tempo. Experiência que nunca esquecerei dos bastidores, ensaios e apresentações!

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