O poema da Moça de Trinta anos

Publicado na Revista Novidade de 25 de maio de 1931

Quituteiras na Praça do Montepio em 1905. Foto de Luiz Lavenère. Arquivo Nacional

Xilogravura de Lourenço Peixoto especial para Novidade

Por De Cavalcanti Freitas

No velho sobrado de taipa colonial, entre luzes morrentes,
A moça de trinta anos, magra, comprida, tuberculosa.
Toca, há mais de dois lustros dolorosos,
Um noturno agressivamente amargo de Chopin.

As mãos virginais da cor de tocos de cera de vela dos candelabros antigos
Que ficaram esquecidos por detrás dos altares humildes,
Dançam a rapsódia do desencantamento,
No teclado macerado da velha caixa de música…

E a moça de trinta anos, magra, comprida, tuberculosa,
Fica olhando parada, seduzida, as figuras garbosas dos varões da família,
Penduradas nas paredes, fúnebres da respeitosa sala de visitas
Cheia de solenidades burguesas.

Este poema é dedicado ao austero-ironista professor Freud, de Vienna…

Deixe um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*