O governador ladrão de músico

Antiga banda de Música

Banda de música da força Policial do Estado de Alagoas, regida pelo 2º tenente Maurice Maissiat. O primeiro músico sentado à esquerda tinha 49 anos de serviço na banda e 72 de idade. Revista O Malho de 1923

Essa história reproduz o depoimento do deputado federal Teixeira da Rocha durante a sessão da Câmara Federal do dia 28 de abril de 1873.

Em seu pronunciamento, o parlamentar alagoano defendia o presidente da Província, Luiz Rômulo Perez de Moreno, que governou Alagoas de 22 de dezembro de 1872 a 15 de março de 1874, substituindo Silvino Elvídio Carneiro da Cunha, o Barão de Abiaí, que esteve dirigindo os destinos alagoanos de 28 de maio de 1871 a 22 de dezembro de 1872.

O episódio ocorreu no final da tarde de 24 de dezembro de 1872, véspera de Natal, quando Perez Moreno foi recebido por Silvino Carneiro na casa do tenente-coronel Francisco Lins de Meira Lima, no bairro de Bebedouro, onde ocorreu a confusão.

Como nesta época do ano aquele arrabalde da capital era o destino de muitas famílias por causa do seu clima ameno e banhos, muita gente foi chegando à casa do militar e logo havia um clima de festa com as senhoras querendo dançar, mas não havia música.

Numa residência próxima, do capitão Fortunato Benjamim Lins de Vasconcelos, havia música e festa. Os músicos eram do corpo provisório da Guarda Nacional, instituição onde Fortunato era capitão fiscal.

Ouvindo o som dos instrumentos musicais, alguém da casa do tenente-coronel Meira teve a iniciativa de mandar pedir ao vizinho a cessão de alguns dos seus músicos. O pedido foi negado.

Como naquela casa estavam presentes o ex e o presidente da Província, um dos amigos resolveu usar da autoridade deles, sem consultá-los: mandou um emissário ao vizinho informando que o pedido era do presidente da Província e que se os músicos não fossem, seriam detidos.

Dessa forma pedido, os músicos arrumaram seus instrumentos e foram tocar na casa vizinha.

Sem saber que o governante nada tinha a ver com aquela ordem, uma comitiva dos cavalheiros que haviam perdido seus instrumentistas se deslocou até a residência dos usurpadores e tendo à frente o major Miranda, cunhado do capitão Fortunato.

Acompanhado de várias mulheres, Miranda entrou no salão e perguntou:

— Quem é aqui o presidente da Província?

— Sou eu —, respondeu Perez de Moreno.

— Estas senhoras vêm agradecer a V. Ex. a delicadeza que usou para com elas de lhes tirar a música do soirée, em que se divertiam”.

O presidente nada respondeu, pois não tinha dado ordem alguma, mas como os ânimos se exacerbaram, não teve mais festa para ninguém e dias depois, percebendo que o episódio ainda rendia desgastes políticos, o presidente, identificando a origem dos ataques no capitão Fortunato, o exonerou do cargo de capitão fiscal.

Poucos dias após se afastar do governo, em março de 1874, o bacharel Perez Moreno faleceu em Maceió “vítima de diversas moléstias, que se complicaram no curto espaço de oito a dez dias”.

Será que entre os festeiros insatisfeitos com a perda da banda musical alguém amaldiçoou o governante?

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