O curioso pleito em que todos saíram vitoriosos

Divaldo Suruagy e Edécio Lopes em campanha no interior de Alagoas
Jornalista Nilton de Oliveira

Jornalista Nilton de Oliveira

Nilton de Oliveira*

A disputa pela única cadeira do Senado da República em 1974 não chegou a se constituir grande problema para a Arena, pois além da imagem positiva que o senador Teotônio Vilela tinha naquele pleito, a oposição mais uma vez revelou timidez e desordenação na escolha do seu candidato. Acabou saindo Pedro Marinho Muniz Falcão, o nosso bom Camucé, sacrificado para compor o quadro numa manobra em que mais uma vez se usou a velha tecla: tentar explorar o nome Muniz Falcão.

Não havia, em verdade, maior perspectiva para o MDB embora a candidatura de Camucé fosse lançada pela influência de uma “febre” nacional emedebista que varreu as urnas em 17 Estados. Só que o vereador, pelo seu modesto e discreto comportamento, pela sua introversão e limitação, não podia fazer mais do que fez, batendo-se contra a máquina azeitada pelo fogo de governador novo que Suruagy revelava. Como era previsível, na Capital a vantagem foi de Camucé. Mas, no interior, o nome de Teotônio trouxe as urnas de roldão de forma que, no somatório de votos, a reeleição foi garantida. E para o bem de Alagoas, diga-se de passagem. Sem poder de oratória, sem aparecer na televisão (simplesmente por timidez) e sem dinheiro, Camucé não pode ser apresentado como um derrotado. Ele apenas não venceu…

Afrânio Godoy e Romero Vieira Belo entrevistam o vereador Pedro Marinho Muniz Falcão, candidato ao Senado em 1974

Afrânio Godoy e Romero Vieira Belo entrevistam o vereador Pedro Marinho Muniz Falcão, o Camucé, candidato ao Senado em 1974

Se o MDB soubesse que a coisa ia ser daquele jeito, certamente teria encarado o problema da eleição majoritária com maior empenho. O crescimento de suas representações no Congresso Nacional e na Assembleia Legislativa assim comprova. Mais que isso, o fato de ter em cada cargo os mais votados candidatos a deputado federal e estadual. José Costa e Mendonça Neto, usando o potencial de oratória e destemor na televisão, garantiram com aquele poderoso instrumento e comunicação uma posição excepcional e inesperada. Amigos de Mendonça asseguram que seus cálculos não iam além de dois terços da votação obtida. A previsão para José Costa também não era muito diferente.

Teotônio Vilela venceu a disputa pelo Senado com apoio de Divaldo Suruagy

Teotônio Vilela venceu a disputa pelo Senado com apoio de Divaldo Suruagy

Apesar da evolução do MDB, com aumento de sua representatividade, a Arena também saiu vitoriosa aumentando suas bancadas. Aliás, em verdade, elevações — tanto da Arena quanto do MDB, tributadas ao aumento das vagas nas casas legislativas. E, de parte da Arena, foi o governador Divaldo Suruagy o grande comandante. Por razões de saúde o governador Afrânio Lages, que terminava seu mandato, não participou da campanha. Então o seu jovem sucessor pegou o peão na unha e mandou brasa, controlando praticamente sozinho todo o processo. Tanto que, em três candidaturas com as quais jogou, deu sobejas demonstrações de que a situação estava realmente sob controle.

Há o particular exemplo da candidatura de Theobaldo Barbosa. Havia um entendimento de cavalheiros entre ambos, quando começou a se definir o quadro da sucessão estadual. Tanto Suruagy quanto Theobaldo eram fortes. Daí então, veio o entendimento: o que fosse eleito faria do outro deputado federal. Divaldo então deu a corda toda a fim de cumprir o compromisso em sua plenitude. Ademais, o posicionamento do senador Arnon de Mello no mesmo processo levou o governador a “lavar as mãos” quanto a candidatura de D. Leda. E como Theobaldo simbolizava no quadro oposto das pretensões do senador, o novo governador foi além do compromisso e o fez o deputado federal mais votado da Arena. E ainda acomodou a situação dos demais, de acordo com as perspectivas.

Guilherme Palmeira, Nelson Costa, José Sampaio, Theobaldo Barbosa, Divaldo Suruagy e Jorge Quintela, lideranças políticas na década de 1970

Guilherme Palmeira, Nelson Costa, José Sampaio, Theobaldo Barbosa, Divaldo Suruagy e Jorge Quintela, lideranças políticas na década de 1970

No plano estadual Divaldo Suruagy jogou firme em Guilherme Palmeira. E não podia ser diferente. Como não seria estranho se ele depois usasse toda sua força para fazê-lo seu sucessor. Foi Guilherme um dos mais sólidos suportes com que o governador contou para chegar ao cargo, por mobilizar velhas amizades do seu saudoso pai e conduzi-las para Suruagy, como se para ele fossem. Então, Suruagy forçou a consolidação de sua reeleição, o fez Presidente da Assembleia e, ao fim do seu mandato, o conduziu para uma Secretaria de Estado, para exercitar função executiva ainda não ocupada. Finalmente, o caso do deputado Nelson Costa. Por iniciativa de Suruagy, Nelson foi fazer um curso na Alemanha. Esqueceu do período eleitoral e quando voltou os esquemas estavam feitos. Ele se viu “furado” e a única saída honrosa que encontrou foi desistir, decisão que levou a Suruagy. Este, então, garantiu sua candidatura ao conduzir o apoio dos Amarais, entre Batalha e Major Izidoro. E Nelson ainda hoje é deputado.

Pelo visto, no pleito de 1974, em Alagoas, todos saíram vitoriosos, com raras e honrosas exceções.

*Extraído do livro Eu fui testemunha, Maceió, 1979.

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