Marista e o histórico Colégio Diocesano de Maceió

Entrou em funcionamento no dia 8 de fevereiro de 1905 e passou a ser denominado Colégio Marista de Maceió em 1960

Corpo docente do Colégio Diocesano de Maceió no início dos anos 40, no centro da foto o governador Osman Loureiro e ao seu lado dom Ranulpho. Foto do Arquivo da Cúria Metropolitana da Maceió

A ideia de criar um Seminário Episcopal e o Colégio Diocesano em Maceió partiu do bispo D. Antônio Brandão, que tinha assumido a Diocese de Alagoas em 23 de agosto de 1901. O bispado de Alagoas foi criado pelo Decreto Consistorial de 2 de julho de 1900 e a Diocese foi instituída cinco dias depois, por desmembramento da então Diocese de Olinda.

Colégio Diocesano na Rua do Macena

O Seminário entrou em funcionamento em 1902, provisoriamente instalado no convento franciscano de Marechal Deodoro, e o Colégio Diocesano somente começou a ser viabilizado no final do ano de 1904, quando seis Irmãos Maristas, liderados pelo Irmão Louis Channel, desembarcaram em Maceió.

Como o prédio que deveria abrigar o Colégio estava em reformas, a Diocese cedeu o edifício do Instituto Alagoano, situado na Rua 15 de Novembro, nº 97, e que, que estava fechado, sem uso. Tinha sido o palacete do Dr. Miguel Felício.

Segundo o Gutenberg de 11 de janeiro de 1905, o prédio do Instituto Alagoano, que já pertencia à Diocese, seria utilizado para fundar “em breve, com o concurso dos revms. Religiosos Maristas, o Colégio Diocesano”.

No dia seguinte, o mesmo jornal voltava a informar que “brevemente deverão chegar a esta capital alguns religiosos da Congregação dos Filhos de Maria, que virão, segundo os desejos do virtuoso sr. Bispo desta diocese, tomar a direção do antigo ‘Instituto Alagoano’ para a instalação do Colégio Diocesano”. Explicava ainda que estes religiosos “ocupam-se exclusivamente do ensino e da educação”. Dois destes religiosos chegaram no dia 19 de janeiro de 1905.

Pátio do Colégio Diocesano

No dia 9 de fevereiro, o Gutenberg divulgou uma carta datada de 7 de fevereiro e assinada pelo irmão Luiz Chanel (os jornais também grafaram Louis) anunciando a abertura do Colégio no dia “8 do corrente mês”.

Informava ainda que os Irmãos Maristas promoveriam “a instrução e educação dos meninos de 5 anos a 12 em geral”, internos, semi-internos e externos. Os internos pagavam 180$000 por trimestre; os semi-internos 105$000; e os externos, 5$000 por mês.

O prédio era propagandeado como “belo, espaçoso e saudável”. O corpo docente era formado por professores Maristas e “outros seculares desta capital”.

Não foi possível encontrar a data em que se iniciaram as matrículas, mas como o Diocesano entrou em funcionamento no dia 8 de fevereiro de 1905, é provável que isso ocorreu a partir de dezembro do ano anterior. Mas sabe-se quem foi o primeiro matriculado. Num texto publicado no jornal católico Semeador de 7 de novembro de 1928, sobre a morte de Jackson de Figueiredo, Jorge de Lima revela:

“Há anos, Jackson viera prestar exames no Liceu de Maceió. Eu que fui o primeiro aluno a se matricular no Colégio Diocesano que os irmãos Maristas, haviam inaugurado, fazia poucos dias, tinha sido escolhido — talvez por esse motivoporta-estandarte do colégio. Um dia o porta-estandarte foi apresentado ao Jackson, que era já a esse tempo um poeta vantajosamente conhecido e um monista de palavra fácil e sedutora. O tolo do menino porta-estandarte (um belo estandarte em que estava São Luiz Gonzaga e sua pureza) se passou com armas e bagagens (graças a Deus deixei a bandeira) para as fileiras do escritor ateu. Devorei sob a influência literária de meu amigo, as brochurazinhas de Heckel com a mesma anomalia gustativa dos meninos opilados que roem cacos de panelas, pedaços de papel e outras coisas incríveis”.

No domingo, dia 15 de outubro de 1905, o Colégio realizou a Primeira Comunhão dos seus alunos (participaram 28), com a presença do bispo diocesano, que celebrou missa às 7h30.

Às 17h, na Catedral de Maceió, ocorreu a “Renovação das Promessas do Batismo, Administração do Crisma e Benção do S. S. Sacramento”. Representando os alunos, participou dos ritos Virgílio Maurício da Rocha, que viria a ser o famoso pintor.

Em dezembro, quando encerrou o ano letivo iniciado com apenas 20 alunos, o Colégio Diocesano divulgou os resultados das avaliações. Por eles sabe-se o nome dos alunos que concluíram o seu primeiro ano de funcionamento.

Altar da Capela do Colégio Diocesano

Em Ciências e Letras: Clovis Loureiro Farias, Osman Loureiro Farias, João Brasileiro, João Sacerdote da Costa, Virgílio Maurício da Rocha, Clemente Magalhães da Silveira, José Eustáquio da Silva, Mário Sucupira, Armando Sampaio Costa, Diógenes da Silveira, José Matheus de Lima, Waldemar Sucupira, Silvério Lins Filho, George Lemos Moreira, Byron Leal Penna, Manoel Brederode dos Reis Lisboa e Henrique Brederode dos Reis Lisboa.

No curso Primário: Carlos de Menezes, Floriano Souza Castro, Mário Augusto da Silva Guimarães, José Danglard da Silva Jucá, Francisco Cavalcante Lins, Helvécio Auto Cruz Oliveira, Hypolito Cassiano Lopes, Inocêncio Asterio de Menezes Lins, José Lopes Ferreira de Omena, Osório Calheiros da Silva Gatto, João Ramalho, Raul Monteiro, Estevão de Menezes Ferreira Pinto, Luiz Nunes Leite, Hercílio Milton de Novaes e Romulo Menezes da Rocha Lins.

Em janeiro do ano seguinte, o Colégio divulgou que reabriria suas aulas no dia 1º de fevereiro “sob a competente direção do zeloso Irmão Luiz-Chanel, auxiliado por mais 7 irmãos da tão distinta associação dos Irmãos Maristas”.

A cadeira de português do 1º e 2º ano do curso de Ciências e Letras continuaria sob a regência do “competente e dedicado professor Luiz Carlos”.

Anunciou ainda que “os irmãos que regem as diferentes aulas do curso, já foram professores em ginásios equiparados em S. Paulo e Rio de Janeiro”.

Ainda em março de 1906, os Irmãos Maristas que dirigiam o educandário, “convencidos de que sua missão é de substituir os pais no desenvolvimento moral e físico dos seus alunos”, passaram a oferecer música vocal e canto, desenho, declamação e ginástica com aparelhos, como registrou o Gutenberg de 17 daquele mês.

Primeira Comunhão no Colégio Diocesano em 1943. Foto do acervo de Lauthenay Perdigão

Sabe-se pelo mesmo jornal em setembro de 1906, que seria concluída em breve as “obras do grande palacete em construção à rua Cincinato [do Macena], onde ficará perfeitamente bem colocado o Colégio Diocesano…”.

Em janeiro de 1907 foi noticiado que o irmão marista Louis Chanel havia sido transferido para Bahia e em seu lugar na direção da instituição havia assumido o Irmão Theodoro, que permaneceu à frente do Diocesano até dezembro de 1909, quando foi dirigir o colégio dos irmãos Maristas no Pará. Neste ano o Colégio tinha 115 alunos matriculados.

Em junho de 1911, o Colégio Diocesano adquiriu “o elegante palacete da Rua Augusta, nº 2, canto da rua do Macena, bastante confortável e higiênico” para ali instalar suas dependências. Sabe-se pelo Gutenberg de 1º de junho também que o diretor de então era o “operoso e infatigável Superior, Irmão Florentino”.

Não se conhece as razões, mas somente em 25 de março de 1914 foi inaugurada a sede do Colégio cuja construção tinha sido iniciada em setembro de 1906. Ficava na Rua do Macena, nº 69. Com mais espaço, expandiu os matriculados para 233 alunos, sendo que 40 deles em regime de internato.

Em 1917 o diretor era o irmão Gabriel Aubert.

Turma do Colégio Diocesano de Maceió em 1961, último ano na Rua do Macena

O prédio da Rua do Macena sofreu ampliações com o passar dos anos, ganhando banheiros, refeitórios, cozinha, biblioteca, alojamentos e laboratórios. Além disso, também foram instaladas área de lazer, campo de futebol e pista de atletismo.

Mesmo recebendo alunos desde 1905, o Colégio Diocesano somente foi autorizado a funcionar, e mesmo assim a título precário, em 1925, pelo Decreto 16.728-A. Em 31 de outubro de 1932, o Decreto 5.303-A manteve a autorização, mas ainda título condicional.

É provável que o seu funcionamento até 1925 só tenha sido possível por utilizar a autorização do Instituto Alagoano, adquirido pela Diocese.

Somente foi autorizado o seu funcionamento como colégio do 2º Ciclo em 2 de março de 1943, pelo Decreto 11.755.

No início da década de 1950 os cerca de 600 matriculados recebiam os cuidados de duas dezenas de irmãos maristas. Esses mesmos religiosos também atendiam os mais carentes na Escola Noturna Padre Champagnat, que atendia gratuitamente a 150 alunos à época.

Além disso, contava ainda com a Escola de Música Prof. Lavenère Machado e a Escola de Datilografia.

Cânticos do Colégio Diocesano para o Mês de Maria em 1955

Em maio de 1955, o Colégio Diocesano, sempre cuidando da educação religiosa dos seus alunos, programou para as festas aniversárias dos seus 50 anos de existência vários ritos religiosos. Entre as muitas realizações, publicaram uma pequena cartilha com os cânticos programados para aquele período.

A cópia aqui reproduzida foi impressa na Tipografia e Papelaria Fernandes e pertence ao acervo da família de Paulo Fernando Jucá, que foi jornalista, economista e um dos dirigentes da Casa da Indústria.

Colégio Marista

No final da década de 1950, o Colégio Diocesano já precisava de novas instalações para atender o crescente número de alunos.

O local escolhido para o novo edifício ficava ao lado da Praça Dom Antônio Brandão, em frente ao Seminário Arquidiocesano, final da Av. Dom Antônio Brandão. O terreno de 18.000 m² foi adquirido pela União Norte Brasileira de Educação e Cultura.

A UMBEC era a proprietária do Colégio Diocesano, vinculada à Província Marista do Norte do Brasil, com sede em Recife.

Uma nota publicada no jornal Correio da Manhã de 26 de agosto de 1958 informava que o ministro da Fazenda, com base em parecer da Caixa Econômica Federal de Alagoas, não dispunha de recursos para atender o empréstimo pretendido pela União Norte Brasileira de Educação e Cultura. Tudo indica que os Maristas buscavam recursos para a construção da nova sede.

Convite de formatura da turma de 1959 do Colégio Diocesano

Em maio de 1959, o deputado federal padre Medeiros Neto apresentou projeto estabelecendo uma dotação de Cr$ 4.000.000,00 (quatro milhões de cruzeiros) durante três exercícios consecutivos para a construção das novas instalações do Colégio Diocesano de Maceió. O projeto “dormiu” nas comissões e em novembro de 1962 recebeu parecer contrário da Comissão de Orçamento e Fiscalização Financeira.

Estas iniciativas demonstram que não existiam recursos suficientes para a construção, mesmo assim a pedra fundamental da obra foi lançada no dia 15 de agosto de 1959 com a benção do então cônego Berchmans, na presença do secretário de Educação e Saúde, Jorge Assunção, e de outras autoridades.

Na justificativa apresentada ao seu projeto de maio de 1959, o deputado e padre Medeiros Neto informava que naquela data existiam 552 alunos matriculados nos cursos secundários e 260 na Escola Gratuita, curso de primário integral.

Colégio Marista no final de sua construção em 1961

Argumentava que as instalações da Rua do Macena se resumiam a “quatro prédios velhos, sem conforto, sem instalações adequadas e sem segurança. O local é centro comercial e barulhento, contraindicado, pois, para o funcionamento de uma Escola, que requer atmosfera de calma e silêncio”.

Revelava ainda que era pretensão da instituição “elevar o número de matrículas para 1.000 a 1.200 alunos”.

Foi a Construtora Barroca que ergueu a nova sede da instituição.

A partir de 1960, o Colégio Diocesano alterou sua denominação para Colégio Marista de Maceió, quando o diretor era o irmão Máximo Antônio.

O primeiro ano letivo nesta nova sede teve início somente em 12 de março de 1962.

O antigo prédio da Rua do Macena foi posto à venda e adquirido pelo governo do Estado de Alagoas.

Em 28 de fevereiro de 2018, constitui-se a Província Marista Brasil Centro Norte, com sede em Brasília e atuando em 16 estados e no Distrito Federal, abrangendo 19 colégios, 14 escolas gratuitas, 3 unidades de assistência social e 2 de assessoramento. É a esta Província que o Colégio Marista de Maceió está atrelado.

As outras duas unidades administrativas são: Província Marista Brasil Centro-Sul/PMBCS e Província Marista Brasil Sul-Amazônia/PMBSA.

O Colégio Marista de Maceió foi um dos últimos no Estado a aceitar alunas. Somente a partir de 1970 passou a ter mulheres estudando em suas salas de aula. No primeiro ano foram 11 meninas no 3º colegial.

Colégio Marista fotografado pelo Comandante Lessa em 1961

4 Comments on Marista e o histórico Colégio Diocesano de Maceió

  1. Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros // 27 de abril de 2020 em 17:23 //

    E com muita emoção que leio esta matéria, porque meu irmão mais velho, Gilberto Oliveira Cavalcanti, a partir de 1947, foi aluno do Diocesano. Além de participar da Banda do Diocesano, era um dos jogadores do time de futebol do Colégio. Tenho foto do time, destacando-se o quarteto: Zagalo, Gilbertão (ou Porca Russa), Dida e Hélio Ramires.

  2. Rennany Gomes // 28 de abril de 2020 em 10:11 //

    Lutgarde essa foto tem valor histórico. Você tem como digitaliza-la e postar em algum dos grupos que divulgam a história de Alagoas?

  3. João Batista Piazza // 5 de agosto de 2020 em 21:24 //

    Insólita instituição de ensino…
    Tive a honra de ser professor de História do Colégio Marista de Londrina nos anos 70/80, aqui no Paraná.
    Eram tempos em que havia elevada estiva e inefável consideração entre discentes e docentes, pautadas na filosofia de nosso Diretor Geral – Irmão Osvaldo Colombo e José Marckzak [in memoriam].

    Muito obrigado por postar essas informações tão boas.
    Infelizmente não pude visitar o querido Colégio Marista quando estive ai em 2000 por motivos particulares…
    Mas um dia quem sabe.

  4. Monica Lisboa Landgraf // 7 de maio de 2021 em 16:15 //

    Meu Bisavô era Manoel Brederode dos Reis Lisboa, citado nessa matéria <3

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