José Paulino, um mestre da pintura e do desenho alagoano

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José Paulino de Albuquerque Lins nasceu no Engenho Santo Antônio Grande, município de São Luís do Quitunde em Alagoas, no dia 20 de outubro de 1893. Era filho de Francisco Accioly de Albuquerque Lins e de Maria da Conceição Albuquerque Lins.

Seu pai, um dos herdeiros do coronel José Paulino de Albuquerque Sarmento, ocupou cargos importantes em Porto Calvo. Foi Delegado e Comissário de Polícia. Em 1891 era capitão da 7ª Companhia da Guarda Nacional.

Não se conseguiu informações sobre o início dos estudos de José Paulino, mas se sabe que cursou o preparatório em Maceió, de onde saiu para Salvador, já matriculado na Escola de Engenharia da Bahia.

Casa de Farinha desenho de José Paulino

No início da década de 1910, voltou a morar em Maceió e foi trabalhar como desenhista na Intendência Municipal. Havia perdido o pai e supõe-se que não tinha mais condições de se manter em Salvador.

A única informação colhida sobre esse período foi a de que em outubro de 1916, com 23 anos de idade, inscreveu-se no Tiro Naval recém-fundado em Maceió.

Seu desempenho como desenhista da Intendência o levou, em fevereiro de 1917, a ser nomeado, pelo Ministério da Agricultura, adjunto de professor de desenho da Escola de Aprendizes Artífices.

Em setembro 1917 expôs 30 trabalhos a óleo e aquarela em um dos pavilhões construídos na Praça D. Pedro II para as comemorações do Centenário da Emancipação Política de Alagoas.

Sua próxima exposição ocorreu em 1920, quando dividiu a galeria da Casa Mercúrio, em Maceió, com a também pintora Ana Sampaio Duarte.

Como se percebe, há registros do jovem José Paulino levando seus trabalhos ao público, mas não existe informação sobre quando despertou para a pintura. Sabe-se, entretanto, que foi um autodidata em sua arte.

Forno assando beiju, desenho de José Paulino

Esta ausência de formação artística não era negada por ele e foi amplamente difundida na imprensa quando realizou as suas primeiras mostras.

O Diário de Pernambuco de 20 de dezembro de 1922 destacava a falta deste orientador: “José Paulino, o admirável pintor alagoano, que, sem mestres, já tem produzido obras admiráveis, acaba de expor mais uma de suas formosas telas intitulada Boca da Caixa, porque representa um dos mais suntuosos trechos da lagoa Manguaba”.

O Jornal de Recife de 7 de abril de 1925 ao informar da exposição no salão do Cine Floriano em Maceió, salienta também esta particularidade: “é digno de nota ser José Paulino Lins produto de seus próprios esforços e nunca haver cursado uma escola de Belas Artes”.

Moreno Brandão, ao citá-lo em 1925 no artigo As artes plásticas em Alagoas até o ano de 1925, também destacou que o artista não havia seguido “um curso regular de estudos”.

Em agosto de 1923 levou seus trabalhos para a Galeria Elegante, em Recife. A crítica foi positiva, mas recomendava “aperfeiçoar com os estudos as raras qualidades nativas”.

Mesmo sem mestres ou escolas de arte, José Paulino teve o seu trabalho reconhecido e passou também a ser procurado para, com sua arte, valorizar outras obras a exemplo da ilustração que produziu para a capa do livro Cantos Escolares de Jayme de Altavila e Tavares de Figueiredo.

No início de dezembro de 1924 casou-se com Marina Flores, filha do coronel Álvaro Flores e Maria Lícia Flores, e em março do ano seguinte foi divulgado em jornal que estava expondo no Cine Floriano. Pode ter sido esta a primeira apresentação dos seus trabalhos ao público.

Em 16 de janeiro de 1926, o Decreto nº 8, assinado pelo governador Costa Rego, lhe concedeu uma bolsa anual no valor de 6:000$000 para que estudasse na Escola de Bellas Artes do Rio de Janeiro.

José Paulino abriu mão deste recurso. Não se sabe se desistiu da matrícula na famosa escola de arte ou se não precisava da ajuda governamental.

Exposição de José Paulino no saguão da Casa Jordan, Rio de Janeiro, em 1927. Foto da Revista Para Todos

Com Escola ou sem Escola, no dia 27 de dezembro daquele mesmo ano inaugurou sua primeira exposição no Rio de Janeiro apresentando 51 telas. Ocupava o saguão da Casa Jordan, antigo edifício do cinema Odeon, na esquina da Av. Rio Branco com a Rua Sete de Setembro.

Em janeiro do ano seguinte a exposição continuava e o Jornal do Brasil assim a descreveu: “São aspectos de praias, casa de pescadores, coqueirais, trechos de mar, lagoas, que o inteligente pintor soube fixar com emoção, evidenciando sua tendência artística, que, à falta de mestre, ainda não orientou melhor e aproveitou”.

E continuou: “Contudo, as pequenas telas de José Paulino agradam, causam excelente impressão e mostram a necessidade do jovem pintor nortista, estudar, a fim de conquistar o nome a que tem direito”.

No final do mês de julho de 1928 foi exonerado do cargo de professor adjunto de desenho da Escola de Aprendizes Artífices de Alagoas. Houve um concurso e o cargo foi preenchido pela professora Maria das Dores Paes de Barros.

Ficou sem trabalho por pouco tempo. Em outubro de 1928 foi contratado como desenhista do Departamento de Viação e Obras Públicas de Alagoas. Posteriormente foi transferido para o Departamento Estadual de Estatística, como desenhista-cartógrafo.

Expôs seus quadros na Festa das Cores, promovida pela Academia Guimarães Passos em novembro de 1930 na capital alagoana. Em 1933 expôs no salão da Escola Normal de Maceió e a partir do dia 13 de outubro do mesmo ano seus quadros estavam nas vitrines da Casa São Miguel, na Rua do Comércio em Maceió.

Nesse período sofreu duras críticas de Valdemar Cavalcanti. Na Revista Novidade nº 3, de 1931, foi assim avaliado: “Um pintor muito conhecido é o sr. José Paulino. Pesa-me confessar, no entanto, que não lhe aprecio a obra, dada a sua inegável vocação para o mimoso: uma paisagem admirável de vermelhos e verdes e amarelos e roxos e azuis — todo um colorido capaz de entontecer os olhos acostumados à maciez da paisagem europeia — o sr. José Paulino pinta com a mais doce aquarela; com a mesma aquarela exigida pelo menino da farinha Nestlé”.

Ainda em 1928, José Paulino surge atuando em outra área das artes em Maceió ao pintar a barra superior e os medalhões do Salão Nobre do Palácio do Comércio em Jaraguá, inaugurado em 7 de setembro de 1928.

Em 1930 foi dele o projeto, executado pelo engenheiro Afonso Lyra, para a construção da Igreja Matriz de Santa Terezinha, na Rua Capitão Samuel Lins, Farol, e para o “remodelamento” da Igreja de Nosso Senhor Bom Jesus dos Martírios, executada pelo arquiteto Sizenando F. de Almeida (Diário de Pernambuco de 20 de julho de 1930).

Foi também de sua autoria, em 1936, o vitral da capela de Santo Antônio na Casa do Pobre de Maceió. No ano seguinte cuidava do projeto e dos vitrais para a capela do Colégio Nossa Senhora do Amparo, no Farol.

Expôs na Movelaria Progresso, na Rua da Imperatriz em Recife, em fevereiro de 1936. O quadro mais comentado foi a Praia de Riacho Doce.

Em 1937, divulgava como endereço para suas aulas de desenho uma casa na Praça D. Pedro II. Poucos anos depois foi contratado temporariamente como professor de desenho do Liceu Alagoano. Sua nomeação, como Auxiliar de Ensino de Trabalhos Manuais, ocorreu em 1943.

Transportando mandioca, desenho de José Paulino

No final dos anos da década de 1940 foi convidado por seu amigo Mário Marroquim para desenhar as ilustrações de um trabalho sobre a importância da mandioca na dieta alimentar dos primeiros tempos de colonização.

O trabalho nunca foi concluído, mas graças a Fábio Máximo de Carvalho Marroquim, filho de Mário, os desenhos foram guardados e tornados público durante as comemorações do centenário de nascimento do seu pai. Alguns deles estão publicadas aqui.

Esteve expondo também em Recife, onde mostrou suas obras pela primeira vez no saguão do Cinema Parque, em 1939. Em 1945, expôs na sede da Associação dos Empregados do Comércio e, depois, no Clube dos Oficiais da Aeronáutica.

Em março de 1948 foi encarregado de organizar uma exposição de pintores alagoanos em Maceió. As obras utilizadas na mostra eram de Rosalvo Ribeiro, Virgílio Maurício, José Paulino, Noêmia, Ana Duarte, Lourenço Peixoto, Moreira e Silva, Zaluar Santana e outros.

Na Bahia participou do VII Salão de Alá em 1950. Neste mesmo ano expôs ainda na Câmara dos Vereadores e no Edifício do IPASE, no Rio de Janeiro.

Seu quadro De Onde Caiu Zumbi está no Museu de Arte de São Paulo (MASP). Foi doado pelo governador Silvestre Péricles em 1947, atendendo a um pedido de Assis Chateaubriand.

De Onde Caiu Zumbi, de José Paulino

José Paulino faleceu em Maceió no dia 9 de abril de 1971, segundo Post de uma exposição no Teatro Deodoro em 1982 do acervo de Claudevan Melo. No ABC das Alagoas a data do seu falecimento em Maceió é 26 de maio de 1970.

Em sua homenagem a Lei nº 2.015 de 23 de julho de 1973 denominou a antiga Rua Paraguassu, no Farol, de Rua Professor José Paulino.

5 Comments on José Paulino, um mestre da pintura e do desenho alagoano

  1. Edson Bezerra // 1 de julho de 2019 em 21:12 //

    …uma raridade este ensaio. De parabéns Galego, foda viu!!!

  2. Adriana Lins // 10 de julho de 2019 em 22:31 //

    Grande prazer em ver a história e obras do meu tio-avô, irmão mais velho do pai da minha mãe. Muito feliz 😀

  3. Claudevan melo // 24 de dezembro de 2022 em 13:27 //

    Ticianelli tenho um Post com a foto de jose Paulino e na contra capa uma biografia dizendo faleceu em maceio 9 Abril 2971.
    Assinam Belmiro e Humberto Albuquerque Lins. Exposição no Deodoro 1982

  4. Pablo Sotuyo Blanco // 5 de fevereiro de 2023 em 00:39 //

    Claudevan Melo, gostaria de poder ler o seu post… poderia deixar o link? grato!

  5. Eugênio José Albuquerque de Lima // 15 de junho de 2023 em 00:00 //

    Minha mãe, Antonieta Albuquerque de Lima sobrinha por parte do seu pai Francisco Accioly Lins filho admirava suas pinturas de flores e rosas. Ainda me lembro do seu atelier.

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