História do Exército brasileiro em Alagoas

Quartel do 20º Batalhão de Caçadores nos anos 50

Oficialmente, o Exército brasileiro surgiu com a declaração de independência do país em 7 de setembro de 1822. Entretanto, brasileiros lutando organizadamente como uma força militar existem desde a colonização, quando ocorreram os enfrentamentos com franceses e holandeses, principalmente.

Uniformes do Exército Brasileiro de 1730 a1922

A data de um destes combates é considerada como o dia em que de fato surgiu o Exército de brasileiros. Foi em 19 de abril de 1648 que brasileiros e portugueses travaram vitoriosamente a primeira batalha, em Jaboatão dos Guararapes, com as tropas da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais.

No início do ano seguinte, em 19 de fevereiro de 1649, ocorreu o segundo confronto no mesmo local e novamente os holandeses foram derrotados. Estes feitos eternizaram a Batalha dos Guararapes como o evento que deu vida à organização militar do povo brasileiro, que pela primeira vez mobilizou grandes efetivos imbuídos do sentimento de defesa nacional, independentemente da influência da Coroa.

Reproduzindo o modelo adotado pelo Exército português após a restauração da Independência de Portugal em 1640, as forças terrestres do Brasil naquela época adotaram também a organização em três linhas. Foram mantidas assim até ao século XIX.

A 1ª linha era formada pelas tropas pagas e tinha seus oficiais recrutados entre os mais abastados e originalmente na nobreza, que surgiu com atribuições basicamente militares de defender o território e o soberano.

As tropas auxiliares compunham a 2ª linha, dando origem as “milícias” no final do século XVIII. As ordenanças eram classificadas na 3ª linha.

Composta por homens livres válidos entre 18 e 60 anos, as milícias e as ordenanças estruturavam-se nas freguesias dos municípios e representou para muitos a única possibilidade de ascensão social.

Marques de Pombal

As primeiras estruturas mais profissionais do nascente Exército brasileiro surgiram quando, em meados do século XVIII, o Marquês de Pombal resolveu investir na reorganização do Exército Português em Portugal e no Brasil e contratou o conde Guilherme de Schaumburg-Lippe, militar alemão para realizar as modificações pretendidas.

Para o Brasil veio, entre outros, o general João Henrique Böhm, que logo foi enviado a comandar a defesa das fronteiras do Sul. Com ele, vieram de Portugal três regimentos de infantaria (Estremoz, Moura e Bragança). Após os combates nas guerras do Sul estes regimentos permaneceram no Brasil.

Foi sob a orientação de Böhm que foram construídos quartéis, casas de armas, fortificações e hospitais. Como o Rio de Janeiro sediava o governo geral da colônia, sua guarnição passou a ser centro de preparação para as tropas, principalmente para as que se dirigiam aos combates no Sul contra forças espanholas.

Além disso, a reforma do conde Guilherme de Schaumburg-Lippe estabeleceu um papel mais relevante às milícias e as ordenanças, que passaram também a atuar na defesa do território, em especial o colonial.

No início do século XIX, antes da chegada da Corte no Rio de Janeiro, a capital do Brasil era defendida pelo esquadrão da guarda do vice-rei, que tinha duas companhias e era comandado por um sargento-mor.

Existiam ainda três regimentos de Infantaria e um de Artilharia. Os regimentos de Infantaria compunham-se de oito companhias, sendo duas de granadeiros e três de fuzileiros. O “estado-maior da Infantaria” era reduzido e composto de oficiais agregados sem outras funções.

Na Artilharia, o regimento era formado por nove companhias. Três delas eram específicas: de bombeiros, de artífices e de mineiros.

As milícias se organizavam em um regimento de Cavalaria com sete companhias e quatro regimentos de Infantaria.

Cada um desses regimentos de infantaria tinha organização semelhante à tropa do Exército, com dez companhias, sendo uma de Granadeiros, outra de Caçadores e oito de Fuzileiros.

Em 1808, as questões de guerra envolvendo as forças terrestres eram resolvidas pela Secretaria de Estado da Guerra e Negócios Estrangeiros.

A partir da criação de um Ministério da Guerra no Brasil em 1815, que representou a subordinação das Forças Terrestres dispersas a um centro comum, as questões militares ganharam mais relevo. Foi criada ainda uma inspetoria das três armas (Infantaria, Cavalaria e Artilharia) com o intuito de unificar os procedimentos.

As alterações mantiveram as três linhas sucessivas, entretanto, passou a se ter mais investimentos nos profissionais da primeira linha, evidenciando que eles passaram a ser prioridade no Exército.

Nesse mesmo período foram criadas novas instituições militares como o Conselho Supremo Militar, o Arquivo Militar e a Academia Real Militar, todos com sede no Rio de Janeiro.

A partir de 1808 estavam criadas as bases do futuro Exército brasileiro, que teve como primeiro comandante o secretário de Estado dos Negócios da Guerra, Rodrigo de Sousa Coutinho, o  Conde de Linhares, que assumiu em 10 de março daquele ano.

O Exército em Alagoas

O primeiro corpo de tropa de linha existente em Alagoas foi formado dois anos após a antiga província de Pernambuco ser promovida à Capitania em 16 de setembro de 1817.

Segundo o historiador Félix Lima Júnior em seu livro Fortificações Históricas de Maceió, foi o Decreto Real de 26 de julho de 1818 que criou as duas companhias de infantaria com 232 praças, sediada na Vila de Alagoas (atual Marechal Deodoro) e uma de artilharia com 109 em Maceió.

Reconhecendo que a Tropa de Linha criada em 1818 era insuficiente e não correspondia ao esperado, o imperador optou por reforçar as “Tropas Ligeiras”, consideradas como mais adaptadas ao serviço do Império.

Assim, um novo Decreto datado de 14 de abril de 1823 extinguiu o antigo Corpo de Linha e criou um Batalhão de Caçadores composto de quatro Companhias, que recebeu os oficiais e os praças da antiga tropa de infantaria.

O Império constituiu ainda um “Corpo de Artilharia a cavalo” formado por duas Companhias. Para estas unidades foram os praças e oficiais da extinta Companhia de Artilharia.

Prédio construído no local onde existiu o Forte de São João e onde funcionou a Enfermaria Militar. Atualmente abriga a 20ª CSM do Exército

O Forte de São João foi a primeira instalação de defesa erguida em Maceió por determinação do presidente Melo Póvoas. Ficava onde hoje está a 20ª CSM. A pedra fundamental foi lançada no dia 13 de maio de 1819.

Nesse mesmo período foi construído o primeiro Quartel Militar para abrigar essa recém-criada Tropa de Linha. O local é o mesmo onde atualmente funciona o Quartel Geral da Polícia Milirtar, na Praça da Independência.

Em 31 de maio de 1826 o Forte de São João foi visitado pelo tenente-coronel, adido do Estado Maior, Joaquim Mariano de Oliveira Belo, comandante das Armas da Província, e pelo tenente-coronel Colaço Amado, que o avaliaram como arruinado.

Exército de brasileiros alagoanos

A volta de D. João VI a Portugal em 1821 alterou as relações do povo brasileiro com o império português e D. Pedro I, que aqui ficou como príncipe regente, foi pressionado a declarar a independência do país.

Os portugueses não gostaram dessas pretensões e passaram também a exigir o retorno do príncipe regente à Europa. D. Pedro I optou por ficar e em 3 de junho de 1822 convocou a Assembleia Constituinte brasileira.

Em Alagoas, o presidente da Junta Governativa, o português José Antônio Ferreira Braklamy, resolveu cobrar das Câmaras e dos servidores públicos que declarassem votos de fidelidade a Portugal.

Houve reação e em junho de 1822 explodiu um movimento contra os portugueses sob a lideranças de Jerônimo de Albuquerque, que mobilizou e armou 400 homens de Coruripe, Anadia, Poxim, Porto Calvo e Penedo. Todos pertencentes as milícias dos proprietários rurais.

A capital, Vila de Alagoas, foi invadida e nomeada uma nova junta governativa tendo Caetano Lopes Gama como presidente. Todos os portugueses, tratados como “pés de chumbo” ou “marinheiros” foram demitidos do serviço público.

Estes milicianos foram aceitos como os novos componentes da força militar da Província. Surgiram assim o Novo Regimento de Infantaria da Vila de Porto Calvo, o Regimento Velho da Vila de Porto de Pedras e o Regimento de Infantaria dos Homens Pardos da Vila de Penedo. Na Vila de Alagoas (atual Marechal Deodoro), sede da Província, surgiu a Companhia de Infantaria dos Pretos Forros Henrique Dias com 114 praças.

Em 10 de junho de 1822, para oficializar a nova Tropa de Linha formada por alagoanos, a Junta Governativa solicitou a D. Pedro I que aprovasse a relação enviada contendo os nomes dos combatentes, já com alguns deles devidamente indicados como oficiais e com salários definidos.

Há registros ainda da criação de mais dois corpos de linha no início de 1923, como informou o Diário do Governo.

Exército Imperial do Brasil ataca as forças confederadas no Recife em 1824

No ano seguinte, para subjugar os revoltosos de Recife durante a chamada Confederação do Equador, o imperador decretou a suspensão das garantias constitucionais em Pernambuco e deu poderes a uma comissão militar sob a chefia do brigadeiro Francisco de Lima e Silva para assumir o governo, processar e julgar sumariamente os chefes da rebelião.

Na sua passagem para a capital pernambucana, Lima e Silva desembarcou em Maceió e seguiu com a tropa a pé em direção a Recife onde enfrentou fraca resistência e derrotou os sublevados nos dias 12 e 13 de setembro.

Foi na sua breve passagem por Alagoas que Lima e Silva dominou algumas das unidades das tropas provinciais que estavam alinhadas com os pernambucanos. Ocorreram rápidos combates em Palmeira dos Índios, Anadia e São Miguel.

Período regencial

Em 7 de abril de 1831, o imperador Dom Pedro I abdicou e seu filho D. Pedro de Alcântara, futuro D. Pedro II, com apenas cinco anos de idade não pôde assumir o governo, o que provocou o início do período regencial no Brasil.

Essa mudança de poder teve reflexo no Exército, que imediatamente sofreu redução no seu contingente por influência dos liberais, que queriam impedir qualquer possibilidade de retorno de D. Pedro I, enfraquecendo uma das instituições mais ligadas a ele.

As medidas adotadas levaram a dissoluções de batalhões e a transferências de alguns para províncias distantes. Além disso, o alistamento foi suspenso e deixaram de acontecer as promoções dos oficiais.

Em agosto de 1831, o Exército brasileiro tinha menos de 10 mil homens. Em pouco tempo esse número chegou a 6 mil. Até os batalhões formados por mercenários foram dissolvidos.

Batalhão de Fuzileiros da Guarda Nacional entre 1840 e 1845

Em substituição a estas forças, o governo criou a Guarda Nacional em 18 de agosto de 1831, para ser, em caso de guerra, incorporada ao Exército da 1ª Linha. Era uma força de reserva do Exército Imperial.

Modificação importante em outra área, a da segurança pública, também ocorreu nesse mesmo período. A partir da Lei Imperial de 10 de outubro de 1831 estabeleceu-se definitivamente a separação das forças militares, atribuindo às policias a manutenção da tranquilidade pública e o auxílio ao judiciário, formando um corpo policial profissional.

No bojo destas modificações foi criada, em 3 de fevereiro de 1832, a unidade que viria a ser a Polícia Militar de Alagoas. Por decisão do Governo do Império do Brasil foram organizadas as Guardas Municipais das Províncias.

Pela Lei n° 11 de 10 de abril de 1835, os Guardas Municipais de Alagoas foram reduzidos a somente uma companhia com 150 soldados, 2 corneteiros, 8 cabos, 1 furriel, 3 segundos sargentos, 22 primeiros sargentos e dois oficiais nomeados pelo presidente da Província.

No Relatório do Ministério da Guerra de 1838 consta que em Alagoas existiam três Fortes (de São Pedro, de São João e Francês) e uma Bateria (do Príncipe Imperial). Estas unidades tinham 32 peças.

Esse mesmo relatório informa que esses Fortes “se acham no mais ruinoso estado” e a Bateria “em sofrível estado”. E recomendava: “Pela má posição dos dois primeiros Fortes, não têm importância alguma, e por esta razão muito conviria construir-se um novo Forte sobre o Recife: quanto ao Forte Francês se faz mister a sua conservação. A Bateria defende a Cidade”.

Um mapa das Forças Militares gerado pela Secretaria de Estado dos Negócios da Guerra em 31 de dezembro de 1842 indicava que em Alagoas somente existia a Guarda Nacional com um capitão, um Alferes, quatro Cabos de Esquadra e 28 soldados.

Em 15 de abril de 1844, o Ministério da Guerra anotou que em Alagoas existia somente uma Companhia Provisória de Caçadores com 81 praças, sendo 1 alferes, 1 primeiro sargento, 2 segundos sargentos, 1 furriel, seis cabos de esquadra, 68 soldados e 2 corneteiros.

A situação já era muito diferente em 30 de novembro deste mesmo ano, quando o Estado Maior General passou a ter um brigadeiro e o Estado Maior de Segunda Classe, um capitão e um tenente. Recebeu ainda um segundo tenente engenheiro. A Companhia Provisória de Caçadores tinha dois primeiros tenentes e seus efetivos somavam 71 profissionais. A Guarda Nacional tinha 188 praças.

Em 22 de julho de 1845, a “ala esquerda” do 1º Batalhão de Caçadores, com 195 homens, foi movimentada para Alagoas. Chegou em agosto. Da mesma forma, em 15 de fevereiro de 1846, foi transferido para Alagoas o 6º Batalhão de Caçadores com 240 homens, chegando a Maceió no dia 22 de março. Ambos do Rio de Janeiro.

Logo após a chegada do 6º Batalhão de Caçadores a Alagoas, o presidente da Província determinou a “passagem de todas as praças de quaisquer Corpos ou Companhias Provisórias que existirem na Província para o 6º Batalhão de Caçadores, devendo seguir para a Província de Pernambuco parte do 1º Batalhão da mesma arma e recolher-se a seus Corpos as praças do 1º Batalhão de Artilharia e 1º de Fuzileiros que ali se acham”.

Informa ainda o relatório de 7 de maio de 1846, que o presidente “mandou conservar na referida Província das Alagoas duas Companhias completas do 2º Batalhão de Artilharia, regressando ao seu respectivo Corpo o resto das praças que excederem”.

No relatório do Ministério da Guerra de 15 de abril de 1847, existiam duas Companhias do 2º Batalhão de Artilharia com 186 praças, o 1º Batalhão de Caçadores com 289 e 250 Guardas Nacionais. Esse mesmo documento informava que os fortes alagoanos estavam demolidos.

Em 1848, Alagoas recebeu uma Companhia do 2º Batalhão de Infantaria, uma Companhia do 7º Batalhão de Caçadores, uma Companhia do 6º Batalhão de Caçadores e Guardas Nacionais num total de 222 praças.

Durante a Revolução Praieira (1849/1850) iniciada em Pernambuco e que envolveu Alagoas, Maceió foi ameaçada pelas forças rebeldes comandadas pelo Capitão Pedro Ivo. Segundo Craveiro Costa, a cidade foi defendida por 17 praças do 2º Batalhão de Caçadores e 71 de um corpo de artilharia não identificado.

Em outra fonte, confirma-se que três unidades estavam em território alagoano no ano de 1850: um contingente do 2º Batalhão de Artilharia a pé, outro do 2º Batalhão de Caçadores e Guardas Nacionais, num total de 347 homens.

Mapa militar de Colônia Leopoldina

Nesse mesmo período, Alagoas ganhou a Colônia Penal Leopoldina, criada pelo Decreto nº 729 de 9 de novembro de 1850 e organizada pelo Regulamento nº 820 de 12 de setembro de 1851. Permaneceu como tal até 18 de junho de 1867, quando deixou de ser Colônia Militar.

Um relatório de 1852 diz bem sobre as condições de funcionamento do Exército na região. “Das Províncias de Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Ceará e Maranhão nada há a acrescentar ao que vos disse no Relatório passado. Por toda a parte se luta igualmente com as ruínas, faltando os precisos meios para reparar os estragos causados pelo tempo. Vamos acudindo ao mais urgente e em ordem a embaraçar uma total deterioração dos edifícios”.

Guerra do Paraguai

Em 1864 tem início um dos episódios da história do Brasil que mais gerou repercussões na organização militar do país. O conflito armado agrupou em um lado Brasil, Argentina e Uruguai, e do outro o Paraguai, então governado por Solano Lopez.

Essa guerra, que se prolongou até 1870, deu condições do Império brasileiro estruturar o seu Exército, graças principalmente à mobilização de civis, que se organizaram nos corpos denominados Voluntários da Pátria.

No momento do início do conflito, em 1865, o Brasil não tinha condições militares para enfrentar o as forças paraguaias. Era o resultado de décadas de abandono de suas forças armadas. Existiam somente 16.834 oficiais e praças, distribuídos pelas unidades.

Coube ao Duque de Caxias a tarefa de liderar a reorganização do Exército para que ele tivesse condições de cinco anos depois derrotar o Paraguai.

Oficiais brasileiros nos momentos finais da Guerra do Paraguai em 1870

Em Alagoas, com o início do conflito, o Corpo Policial da Província se apresentou imediatamente para ir combater no Sul. Em alguns bairros de Maceió e em outros municípios, cidadãos se ofereceram para montar as Guardas Cívicas para cuidar do policiamento e assim liberar os efetivos profissionais para a guerra.

A formalização dos Corpos de Voluntários da Pátria aconteceu por Decreto Imperial em 7 de janeiro de 1865. Um segundo decreto, de 21 de janeiro, definiu que a meta era ter 14.796 guardas nacionais para o serviço da guerra, cabendo a Alagoas contribuir com 484 soldados.

Como havia a informação que em várias províncias as Forças Policiais também estavam se oferecendo para a combater no Paraguai, o chefe de polícia, dr. Sebastião Cardoso, e o major comandante (capitão reformado do Exército), Carlos Cyrillo de Castro, consultaram oficiais e praças para saber se eles estavam dispostos a fazer o mesmo em Alagoas. Como todos concordaram, o presidente Gonçalves Campos transferiu-os para o 20º Corpo de Voluntários da Pátria.

Enquanto isso, a segurança de Maceió ficou entregue à Guarda Nacional e à Companhia Provisória de Polícia, considerando que a guarnição realizada pelo 8º Batalhão de Infantaria (Exército) em Maceió foi deslocada para o Rio de Janeiro para o serviço de guerra.

Essa Companhia Provisória de Polícia, instituída pela Lei nº 454 de 26 de junho de 1865, teve muitas dificuldades para se manter. Os recrutados para ela temiam seguir o caminho da Força Policial que substituíam e que foi levada para o Paraguai.

Em 1867, o quartel da Praça Calabar, atual Praça da Independência, ainda estava ocupado pelos contingentes do 8º Batalhão de Infantaria da Guarda Nacional, com 267 praças, e pelo Depósito de Artigos Bélicos.

Com o fim da Guerra do Paraguai em março de 1870, o Decreto nº 4572 de 12 de agosto daquele mesmo ano determinou a organização dos corpos das armas de Artilharia, Cavalaria e Infantaria em todo país. Alagoas ganhou uma das oito Companhias de Infantaria Ligeira.

Ao relacionar os corpos e companhias das províncias em abril de 1871, o Ministério da Guerra informou que em Alagoas a Companhia de Caçadores “ainda não está organizada”.

No final de 1871, essa Companhia tinha 312 praças, incluindo a Guarda Nacional. Em abril de 1872, o Ministério da Guerra citou a existência também de uma Companhia de Guarnição em Alagoas.

Cinco anos depois, a Companhia de Infantaria tinha 93 homens e naquele ano o Exército inaugurou o novo Depósito de Artigos Bélicos (ao lado do antigo Quartel, que havia sido cedido ao Estado e abrigava a Polícia Militar).

Salgadinho no antigo curso com a Enfermaria Militar, atual CSM

Nessa época também era propriedade do Exército o prédio que abrigava a Enfermaria Militar, que funcionava no local do antigo Forte de São João, atualmente a 20ª Circunscrição do Serviço Militar. Seu novo prédio foi construído em 1892.

Contando ainda com apenas uma Companhia de Infantaria, Alagoas recebeu em 1879 um destacamento do 16º Batalhão de Infantaria da Bahia.

Em um plano de reorganização do Exército apresentado em 10 de julho de 1882, surge pela primeira vez a proposta de se criar um Batalhão de Infantaria em Alagoas.

República

Com a Proclamação da República do Brasil em 15 de novembro de 1889, os militares brasileiros assumiram o poder político e colocaram as forças armadas em um novo patamar de importância no cenário político nacional.

As primeiras grandes modificações na estrutura militar do país ocorreram a partir de 1906, quando o marechal Hermes da Fonseca assumiu a pasta da Guerra e aprofundou as reformas iniciadas no final do século anterior.

Nesse período estabeleceu-se o serviço militar obrigatório, ainda por sorteio, e foi reorganizado e reequipado o Exército, que passou a funcionar em bases modernas. Essas mudanças foram ampliadas em 1919, quando o Exército foi objeto de nova reorganização, desta feita sob a orientação de uma missão militar francesa, chefiada pelo general Maurice-Gustave Gamelin.

Ainda em 1891 entrou em vigor o Decreto nº 431 de 2 de julho, estabelecendo sete distritos militares do país. Alagoas estava incluído no 3º distrito, que contava ainda com Bahia e Sergipe. A sede era em Salvador.

A proposta de se criar um Batalhão em Alagoas surgiu em 1882, mas somente foi realizada meses antes da instauração da República, no início de 1889, quando se constituiu o 26º Batalhão de Infantaria.

Em 1891 o Exército inaugurou um novo quartel no Prado, em frente ao Cemitério de N. S. da Piedade. A planta foi do engenheiro militar Carlos Jorge Calheiros de Lima.

O 26° BI permaneceu em Alagoas até outubro de 1895, quando foi transferido para Sergipe após terem surgidos alguns conflitos entre esta guarnição e a Força Policial do Estado de Alagoas.

De Sergipe, Alagoas recebeu, no mês seguinte, o 33º Batalhão de Infantaria. Esta unidade começou a ser organizada naquela capital em 10 de janeiro de 1890 pelo capitão Virgínio Napoleão Ramos. Em 9 de fevereiro, a tarefa foi repassada para o major Joaquim Balthasar da Silveira.

Foi este Batalhão que, na noite de 24 de novembro de 1891, depôs o governador de Sergipe, coronel Vicente Lins de Oliveira Ribeiro. Assumiu interinamente o cargo o próprio comandante do 33º BI, Joaquim Balthasar da Silveira.

Neste período, o episódio mais importante para o Exército em Alagoas nesse período foi a Guerra de Canudos. Os enfrentamentos duraram de 1896 a 1897 e aconteceram no interior do estado da Bahia.

A participação das tropas alagoanas teve início no dia 6 de dezembro de 1906, quando 200 praças do 33º Batalhão da Infantaria embarcaram no vapor “Alagoas”, como registrou O Gutemberg de 10 de dezembro, sob o título “Sucessos na Bahia”.

O 33º BI, ao chegar a Bahia, foi incorporado à 2ª Coluna comandada pelo general Cláudio do Amaral Savaget, que por sua vez estava sob o comando do general Arthur Oscar. A tropa alagoana compunha a 6ª Brigada em conjunto com o 26º BI de Sergipe e o 32º BI do Espírito Santo. O comandante da brigada era o coronel alagoano Donaciano de Araújo Pantoja.

Membros do 39º Batalhão de Infantaria em ação na Guerra de Canudos em 1897 (Flávio de Barros-Acervo Museu da República)

O segundo deslocamento de soldados alagoanos para a Campanha de Canudos aconteceu em 21 de março de 1897. A partir do dia 12 de março, o 33º BI passou a aguardar o transporte para a Salvador, que só aconteceu no dia 21 do mesmo mês. Às 16h30, o vapor “Espirito Santo” recebeu todo o efetivo do Batalhão que ainda permanecia em Maceió.

O Gutemberg de 23 de março de 1897 registrou assim o acontecimento:

O embarque do 33º
O povo formando alas acompanhava a marcha daquela legião de servidores da Pátria, aos quais o dever impôs o sacrifício de ir combater as hostes inimigas da tranquilidade da Nação.
O bairro de Jaraguá achava-se, nas imediações da ponte de embarque, repleto de povo em sua maioria mulheres e crianças que tristemente, chorosas e consternados iam dar adeus aos que partiam, aos maridos, filhos, irmãos e parentes.
Puxava a marcha a banda do Corpo de Polícia seguida da do Batalhão 33º, as quais em saudosíssimas harmonias davam à terra de que se apartavam, em momento de tantas apreensões, a despedida.
E a tropa passava silenciosa, cadenciada, mas sem tristeza, ouvindo-se de quando em quando aclamações e vivas aos valorosos servidores da nação.

…………………………….

Defronte da ponte de embarque o coronel Virgínio Napoleão Ramos apresentou as despedidas ao povo de sua terra natal, incitando no mesmo passo a bravura de seus bravos comandados.
Após discursos que em seguida foram pronunciados pelo dr. Ângelo Neto, dr. Manoel Luiz Gonçalves, engenheiros de obras públicas e pelo dr. Costa Leite, teve início o embarque da tropa, somente concluído às 19 horas”.

O 33º BI voltou a Alagoas no dia 11 de novembro de 1897 a bordo do “Prudente de Moraes”. Desembarcaram somente 110 homens e 30 mulheres. Os demais ficaram sepultados nos sertões baianos, ou feridos em hospitais, como registrou O Gutenberg.

Quartel da Polícia Militar no início do século XX, antigo Quartel de Linha. Foto do acervo de Alípio Ribeiro cedida por sua filha Cleusa Ribeiro

Foram recebidos sem festa, principalmente porque havia ocorrido recentemente o assassinato, no Rio de Janeiro, do Ministro da Guerra, marechal Carlos Machado Bittencourt.

Em dezembro de 1908, o 33º BI sofreu alterações importantes. Segundo o jornal Gutenberg de 31 de dezembro daquele ano, “três das quatro companhias de guerra que compõem o 33º de Infantaria, aquartelado nesta cidade, irão constituir um batalhão de Caçadores. Ficará, portanto, aqui, e ao comando de um capitão, apenas a 4ª Companhia”.

Maceió, “porém, será a sede de uma Inspeção Permanente cujo comando incumbe a um general, que já se acha nomeado, e que é o exmo. sr. general de divisão Francisco da Rocha Callado, nosso conterrâneo”.

O jornal informava ainda que o Quartel General desta Inspeção foi instalado na “bela e grande casa do sr. João Leite, situada no Aterro de Jaraguá”. Esse prédio veio a ser o Hotel Atlântico.

Em 1910, estavam em Maceió o 8º Pelotão de Engenharia e a 5ª Companhia de Caçadores (isolada), esta aquartelada na antiga Enfermaria Militar.

A Sociedade Tiro de Alagoas com 600 sócios também surgiu em 1910. No início tinha companhias isoladas em Leopoldina, Murici, Penedo e Viçosa. Era vinculada a Confederação do Tiro Brasileiro.

Pelo decreto nº 11.497, de 23 de fevereiro de 1915, o Exército Nacional foi remodelado e surgirão as sete Regiões Militares. Alagoas ficou na 2ª Região ao lado do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco. A sede do comando foi estabelecida em Recife.

Logo após as modificações de 1915, os estados do Amazonas, Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas, Sergipe, Espírito Santo e Goiás ficaram sem guarnição militar permanente. Existindo, em alguns deles, destacamentos provisórios para resolver problemas de ocasião.

Cobrava-se a organização, em cada um desses Estados, de um Batalhão de Caçadores ou Companhia de Metralhadores por serem “unidades menos dispendiosas”.

No período da Primeira Guerra Mundial (1914–1918), provisoriamente foram instaladas quatro baterias na costa norte do país. Receberam estes armamentos os portos de Fortaleza, Cabedelo, Natal e Maceió.

O Brasil participou do primeiro grande conflito mundial declarando guerra às potências centrais (Alemanha, Império Otomano e Áustria-Hungria) e enviando um pequeno contingente para a Europa.

20º Batalhão de Caçadores

A unidade militar que viria a ser o histórico 20º Batalhão de Caçadores foi criada pelo Decreto nº 782, de 19 de abril de 1851. Esta medida criou 14 Batalhões de Infantaria, que receberam números de um a quatorze, “sendo os oito primeiros de Fuzileiros, e os seis restantes de Caçadores”. Foi o 9º Batalhão de Caçadores, sediado na Corte, Rio de Janeiro, que, anos depois, deu origem ao 20º BC.

Sua denominação foi alterada no ano seguinte por imposição do Decreto nº 1.074, de 30 de novembro de 1852, que suprimiu o 7º Batalhão de Infantaria. Com a alteração da numeração, o 9º Batalhão de Caçadores passou a ser o 8º Batalhão de Infantaria, como tinha estabelecido o Decreto nº 782.

Na Guerra do Paraguai, o 8º BI teve participação destacada em 24 de maio de 1866, na Batalha de Tuiuti, atuando sob o comando do coronel Hermes Ernesto da Fonseca. Pertencia a divisão de infantaria liderada pelo general Antônio Sampaio.

Quando o Duque de Caxias ocupou Assunção, em janeiro de 1869, marchavam com ele as fileiras do 8º Batalhão de Infantaria, que permaneceu na capital paraguaia até ser deslocada para Cuiabá, Mato Grosso.

Não há informações precisas sobre quando o 8º BI foi transferido para Cuiabá, mas sabe-se que uma divisão do Exército brasileiro permaneceu no Paraguai até 1876, e que seus efetivos foram sendo transferidos por partes. Essas informações situam a chegada do 8º BI a Cuiabá entre 1870 (fim da Guerra) e 1876.

14º Regimento de Infantaria em Corumbá, Mato Grosso. O Malho de 22 de junho de 1912

Nova transferência ocorreu por determinação de uma Portaria de 28 de novembro de 1908 do ministro da Guerra, Hermes da Fonseca. Cumprindo orientações do Decreto nº 6.971, de 4 de junho de 1908, o Ministério da Guerra expediu as instruções para a organização e instalação das novas unidades do Exército.

Dentre elas estava o 14º Regimento de Infantaria com seus três Batalhões (40º, 41º e 42º), que utilizou o pessoal do 8º Regimento de Infantaria e que, no dia 7 de junho de 1908, foi deslocado para Aquidauana, ainda no Mato Grosso.

O 14º RI foi instalado oficialmente em Aquidauana, em maio de 1909, pelo coronel Antônio Constantino Nery, como informou o jornal O Brazil do Mato Grosso (de 25 de março de 1909 e de 13 de maio de 1909).

Em abril de 1911, o 14º Regimento de Infantaria foi transferido de Aquidauana para Campo Grande. (O Dia de Santa Catarina, de 13 de abril de 1911).

Por imposição do Decreto nº 12.701 de 7 de novembro de 1917, os batalhões 40º, 41º e 42º do 14º Regimento de Infantaria no Mato Grosso passarão a ter organização de Caçadores. Esse mesmo decreto situou o Exército em Alagoas na 3ª Região Militar.

No final daquele ano o 42º Batalhão de Caçadores foi deslocado para Maceió, Alagoas. Essa transferência já tinha sido anunciada no O Jornal, de Recife, em 5 de outubro de 1917. Informava o periódico que “além das unidades já organizadas nesta região, terão efetivo, do próximo ano, […] 42º batalhão de caçadores, em Alagoas”.

O 41º Batalhão de Caçadores, outra unidade do 14º Regimento de Infantaria, também deixou o Mato Grosso e foi instalada em Aracaju meses antes, em 7 de março de 1917.

Um Aviso do Ministério da Guerra de 17 de novembro de 1917 informou a distribuição das unidades do Exército pelas regiões militares e pelos Estados. Em Alagoas estavam o 42º Batalhão de Caçadores e a 1ª Bateria de Artilharia de Costa.

Em fevereiro de 1918, resumo do Jornal de Alagoas publicado no Jornal de Recife informava que estava em exposição na “Loja América”, em Maceió, uma bandeira que as mulheres alagoanas iriam entregar ao 42º Batalhão. Foi confeccionada no Rio de Janeiro e transportada pelo dr. Clementino do Monte. A bandeira foi entregue em 31 de abril. O atraso foi motivado pelas obras no edifício da antiga Enfermaria Militar, que passou a ser o quartel deste batalhão.

Quartel do 42º Batalhão de Caçadores durante visita do general João Emydio Ramalho, comandante da 3ª Região Militar. Foto publicada na revista Fon Fon de 4 de agosto de 1918

O comandante do 42º BC, em outubro de 1918, era o tenente coronel Domingos Ribeiro.

Nova alteração das regiões militares ocorreu após a publicação do Decreto nº 12.790, de 2 de janeiro de 1918. Permaneceram sete Regiões Militares, com Alagoas, Sergipe e Bahia compondo a .

Pelo Decreto nº 13.651, de 18 de junho de 1919, houve redefinição da divisão territorial e reorganização das divisões do Exército. Alagoas, Bahia e Sergipe passaram a compor a 5ª Região Militar, com sede em Salvador.

Formavam também a 5ª Divisão de Infantaria os 19º BC, em Salvador; o 20º BC em Maceió e o 28º BC em Aracaju.

O 42º Batalhão de Caçadores teve sua denominação modificada para 20º Batalhão de Caçadores em 11 de novembro de 1919, por desdobramentos do Decreto nº 13.916 daquela mesma data, que alterou a divisão territorial e a organização das divisões de Exército, criou unidades e serviços, e reorganizou a Artilharia de Costa.

Foi o Decreto nº 15.325, de 31 de dezembro de 1921, que fixou o 20º BC em Alagoas. O documento legal foi assinado pelo presidente Epitácio Pessoa com o propósito de organizar o Exército ativo em tempo de paz.

20° BC e o período tenentista

Antigo quartel do 20º Batalhão de Caçadores em 1944. Foto do acervo do IHGAL

No início da década de 1920, surgiu um amplo movimento político com base na classe média urbana, principalmente entre seus representantes distribuídos na baixa e média patente do Exército brasileiro. Era o início do Tenentismo.

Suas principais reivindicações se conflitavam com poder oligárquico tradicional, que se sustentava principalmente a partir de São Paulo e Minas Gerais. Cobravam a instituição do voto secreto — fim do voto de cabresto — e a reforma na educação brasileira.

A primeira grande ação do movimento tenentista brasileiro foi a Revolta dos 18 do Forte, ou Revolta do Forte de Copacabana. Durou somente dois dias e teve início em 5 de julho de 1922 na cidade do Rio de Janeiro, que era a capital do país.

Dois anos depois, na mesma data do início da sublevação do Rio de Janeiro, iniciou-se a Revolta Paulista de 1924. Foi a segunda grande manifestação armada do Tenentismo. Teve início na madrugada de 5 de julho e terminou em 28 de julho de 1924.

O 20º BC, que não teve envolvimento algum nestes dois primeiros episódios do movimento Tenentista, somente atuou em 1925 e 1926, quando participou da perseguição à Coluna Prestes, um agrupamento de militares sulistas que foi ampliado ao receber combatentes da Revolta Paulista de 1924.

Com a Revolução de 1930, um golpe militar que depôs o presidente da república Washington Luís em 24 de outubro e impediu a posse do presidente eleito Júlio Prestes, o Tenentismo chegava ao poder.

Em Alagoas, o governador Álvaro Paes ainda tentou articular a resistência, esperando receber o auxílio prometido pelo governo federal: navios de guerra, tropas e a presença do general Santa Cruz.

Segundo Carlos de Gusmão no seu livro Boca da Grota, no dia 8 de outubro o clima era tenso no Palácio e o governador, após uma longa conversa com o major do Exército Pedro Pierre, Reginaldo Teixeira — também major do Exército e comandante da Força Policial —, José Peixoto e outros, ouviu deles que não tinham munição suficiente para uma resistência.

Além disso, o major Reginaldo argumentou que não mobilizaria o 20º Batalhão de Caçadores para tal fim, por não ter ordens do Presidente da República para isso. Na verdade, um telegrama oficial do presidente da República, Washington Luís, havia sido publicado no Diário Oficial autorizando-o a tomar todas as medidas necessárias para garantir o poder eleito, já que o Estado de Sítio tinha sido estendido a todo território nacional.

No dia 14 de outubro de 1930, a Rua do Comércio em Maceió recebe a Coluna Revolucionária, vindo de Recife

Assim, com o Batalhão neutralizado, restou ao governador deixar o palácio, que foi ocupado, à meia-noite do dia 10 de outubro de 1930, pelo major do Exército Pedro Reginaldo Teixeira, comandante da PM. Ele era o oficial mais graduado do Exército presente no Estado.

Isso se deu porque o comandante do 20º BC, tenente-coronel A. Castro Nascimento, tinha se deslocado para o Sul do país em missão militar da Revolução, só regressando no dia 20 de novembro de 1930.

Contrarrevolução paulista

Com a eclosão da chamada Revolução Constitucionalista de 1932 em São Paulo, que tinha o objetivo de derrubar o governo de Getúlio Vargas. Houve reação do governo e a capital paulista foi cercada e após intensos combates a sublevação foi derrotada.

Em Alagoas, o interventor, capitão Tasso de Oliveira Tinoco, e o 20º BC lideraram a mobilização para combater os rebeldes paulistas. Novas tropas foram formadas a partir dos voluntários mobilizados pelos prefeitos. A Polícia Militar teve o seu efetivo aumentado e acelerado o preparo militar dos recrutas a serem enviados aos diversos teatros de operação.

1º Batalhão Provisório sob o comando de João Palmeira. Participaram do combate no Morro do Gravy em Itapira durante a contra revolução paulista de 32, Foto da revista Fon Fon de 26 de novembro de 1942

Alagoas contribuiu com cerca de 3.000 homens para as fileiras legalistas até o final da revolta, que se estendeu de 9 de julho a 2 de outubro de 1932.

Segundo o general Mário Lima, as tropas alagoanas foram enviadas a São Paulo na seguinte ordem:

1º – à 14 de julho, a bordo do vapor “Campinas”, o 20º B.C., com efetivo de 15 oficiais e 407 praças, sob o comando do major Tito de Barros. Esse batalhão foi incorporado ao Destacamento Cel. Daltro Filho, a tropa mais atuante do Exército do Leste, comandado pelo general Góes Monteiro.

2º – à 24 de julho, a bordo do “Itapuí”, a 3ª Companhia da Polícia Militar, com efetivo de 226 homens, sob o comando do capitão João Fernandes dos Anjos. Essa tropa foi também destinada ao Vale do Paraíba, permanecendo adida ao Quartel General do general Góes Monteiro, guarnecendo o seu policiamento.

3º – à 26 de julho, a bordo do “Santarém” um contingente de voluntários, alistado pela 13º Circunscrição de Recrutamento de Maceió, com efetivo de 620 homens, comandado pelo tenente Cícero Mendes Caminha. Esta tropa se destinava à recomposição de efetivos das unidades do Exército em combate.

4º – à 18 de agosto, o 1º Batalhão Provisório da Força Policial Militar, a bordo do “Araraquara”, com o efetivo de 535 homens, sob o comando do major comissionado Jorge de Oliveira Tinoco, irmão do interventor. Esse batalhão foi incorporado ao Destacamento Cel. Eurico Gaspar Dutra, na frente mineira.

5º – à 4 de setembro, a bordo do “Itaité”, escalão de reforço à tropa da Polícia Militar, com efetivo de 352 homens, sob a supervisão do coronel Luiz da França Albuquerque.

6º – à 25 de setembro, a bordo do “Itaquera”, novo contingente de reforço da Polícia Militar, com o efetivo de 547 homens.

O 20º BC retornou a Maceió no dia 28 de outubro a bordo do “Itaquera”. Foi recebido festivamente pela população.

Alguns não voltaram, como lembrou o general Mário Lima: “Como testemunho da bravura, da disciplina, do espírito de luta dos nossos pracinhas, lá ficaram, nos cemitérios do Vale do Paraíba, solitárias tumbas dos abnegados e diletos companheiros”.

Revolução de 1935

Nova organização do Exército ocorreu pelo Decreto nº 23.977, de 8 de março de 1934, conhecido como Lei de Organização Geral do Exército. Foi aprovado por Getúlio Vargas. Com essa reorganização, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará passaram a compor a 7ª Região Militar com sede em Recife.

Outro episódio dos anos 30 que teve a participação do 20º BC, foi a revolta liderada pela Aliança Nacional Libertadora em novembro de 1935. 

A ANL, dirigida por lideranças comunistas, tentou derrubar o governo de Getúlio Vargas a partir da mobilização de forças militares em Natal, Recife e Rio de Janeiro.

Quartel da Salgadeira (atualmente Casa do Estudante), antigo Quartel General da Polícia Militar do Rio Grande do Norte, após intenso combate em 1935

O general Mário Lima deixou registrado que a notícia do levante em Natal, no sábado 23 de novembro, levou o 20º BC a entrar em regime de rigorosa prontidão. O soldado telegrafista Jeferson, que por acaso estava na Estação PTR-2 do 20º BC, ouviu uma chamada e estabeleceu o seguinte diálogo com o operador da estação-rádio do 21º BC em Natal:

Maceió – Alô, alô, Natal. Aqui Maceió, o que é que há?
Natal – O 21º BC levantou-se agora mesmo. Aguente a mão, tenho mensagem urgente para Recife.
Maceió – Como é, companheiro?
Natal – As coisas aqui estão pretas. É bala para desgraça.
Maceió – Que movimento é esse?
Natal – É um movimento comunista de sargentos, cabos, soldados e operários. Adeus; por ordem superior estão cortadas as comunicações.

Segundo Mário Lima, foi a partir da estação de Maceió que o Brasil recebeu as primeiras informações sobre o levante na capital do Rio Grande do Norte.

Com o fim da insurreição, o batalhão de Alagoas foi elogiado em relatório do Ministério da Guerra: “Tornou-se digna de realce a presteza e a dedicação com que o 20º e o 22º batalhões de caçadores e a 7ª bateria de artilharia independente acorreram a Recife, deixando as suas sedes em Maceió e João Pessoa, respectivamente; e posteriormente convergindo a sua eficiente ação para Natal. O êxito das operações definiu bem o grau de dedicação dessas valorosas unidades”.

Novo quartel

Mesmo sendo uma unidade digna de elogios, o 20º BC não recebia maiores atenções em sua logística. Em relatório de maio de 1938, o general Eurico Gaspar Dutra, ministro da Guerra, informou que o quartel do 20º BC era velho e exigia reparos.

No mesmo documento comunicava que o Serviço de Engenharia Regional já havia entrado em entendimento com o interventor federal, Osman Loureiro, sobre a escolha do terreno para o início da construção do novo quartel ainda em 1938.

Somente em maio de 1942 foi o terreno desapropriado. O novo quartel, no Farol, foi inaugurado em 4 de dezembro de 1944. Sua construção foi, em parte, viabilizada graças a presença das forças norte-americanas em Alagoas.

Anos antes, o antigo quartel, da Praça da Cadeia, que estava cedido ao governo do Estado para acomodar a Polícia Militar, foi permutado com um prédio da Praça Sinimbu. A autorização da troca foi feita pela Lei Estadual nº 725, de 23 de maio de 1936.

Soldados alagoanos na Itália durante a 2ª Guerra Mundial

Segunda Guerra

Após os ataques a navios mercantes brasileiros na costa nordestina, o Brasil declarou guerra à Alemanha e a Itália no início de 1942. A partir de então foram tomadas várias medidas para a defesa do país, principalmente do chamado Teatro de Operações do Nordeste.

Alagoas, por sua posição estratégica, teve seus efetivos reforçados e recebeu novas instalações. O 20º Batalhão de Caçadores tinha 500 homens, mas os efetivos em terras alagoanas passaram a 2 mil com a chegada do 22º BC e do grupo de artilharia II/4º R.A.M., que veio de Itú, São Paulo, e aqui chegou no dia 15 de outubro de 1942.

Nesse período foi criado o Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva (NPOR). Outra conquista do período da Segunda Grande Guerra Mundial foi a construção do novo quartel no Farol.

Além da defesa do litoral alagoano, o 20º BC também forneceu efetivos para a formação da Força Expedicionária Brasileira que combateu na Europa.

O general Mário Lima testemunhou que “vários pracinhas oriundos do 20º Batalhão de Caçadores integraram contingentes da FAB, alguns dos quais não regressaram à Pátria querida. Hoje, seus restos mortais repousam no “Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial”, erigido no Parque do Flamengo, na Guanabara (cidade do Rio de Janeiro)”.

A história do 20º BC em Alagoas também está marcada por várias intervenções em situações de crises políticas locais, quando ocorreram enfrentamentos armados, ou para garantir o cumprimento de determinações governamentais.

59º Batalhão de Infantaria Motorizada. Foto de Gilberto Farias

Durante os governos militares, a partir de 1964, o 20 º BC, a exemplo de todas as unidades do país, atuou na repressão política, prendendo lideranças oposicionistas e solicitando a cassação dos direitos políticos de parlamentares.

Foi nesse período que, em 21 de novembro de 1973, mudou a sua denominação para 59° Batalhão de Infantaria Motorizado, subordinado a 10ª Brigada de Infantaria Motorizada em Recife, Pernambuco.

Sua denominação histórica é Batalhão Hermes Ernesto da Fonseca em homenagem ao marechal Hermes Ernesto da Fonseca, um alagoano que foi pai do presidente da República, Hermes Rodrigues da Fonseca, e irmão do primeiro presidente do período republicano, Marechal Manoel Deodoro da Fonseca.

2 Comments on História do Exército brasileiro em Alagoas

  1. Simone Bavaroski // 8 de setembro de 2021 em 19:44 //

    Por ventura alguém sabe onde residiam os Oficiais do Exército em 1959? Se por ventura era em uma vila militar, ou em Hotéis de Transição?

  2. Claudio de Mendonça Ribeiro // 7 de dezembro de 2022 em 14:05 //

    Muito grato pela publicação desta análise geopolítica, prezado Ticianeli.

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