História da Usina Utinga Leão

Usina Leão em 1921, foto do livro Terra das Alagoas

Quem fundou o Engenho Utinga foi o português Salvador Pereira da Rosa e Silva e sua esposa Adriana Rodrigues Calheiros. Liderança política de Alagoas, seu criador foi deputado provincial por várias legislaturas.

Não se tem o registro de quando o Engenho Utinga iniciou suas atividades, mas pode-se estimar que foi nos primeiros anos do século XIX. Ficava uma légua abaixo do Engenho Cachoeira. Salvador Pereira também foi proprietário do Engenho Subaúma conforme anotações de 1844.

Em maio de 1847 foi nomeado comandante superior da Guarda Nacional da Comarca de Alagoas. Faleceu em 1849 no combate com as forças do capitão pernambucano Pedro Ivo Velloso, durante a Revolução Praieira (1848/50). Era o comandante do Batalhão Provisório criado pelo presidente da Província José Bento da Cunha Figueiredo.

Nesse mesmo ano, o Engenho Utinga já surgia nos registros como sendo de propriedade de Jacinto de Paula Calheiros. Em 1859 pertencia ao Major Simplício Pereira da Rosa Calheiros, indicando que continuava de posse dos descendentes do seu fundador.

Manoel Joaquim da Silva Leão

O português Manoel Joaquim da Silva Leão chegou ao Brasil ainda criança e não se sabe quando se estabeleceu em Alagoas. Era casado com Maria Josephina Lopes de Amorim. Tiveram os seguintes filhos: Manoel de Amorim Leão, Luiz de Amorim Leão, Amália de Amorim Leão, Gertrudes (Iaiá) de Amorim Leão, Domingos de Amorim Leão, José de Amorim Leão e Francisco de Amorim Leão.

Francisco de Amorim Leão, filho de Manoel Joaquim da Silva Leão, em 1913

A citação mais antiga do seu nome em jornais é de 13 de junho de 1850, quando um anúncio n’O Correio Maceioense informou que Manoel Joaquim da Silva Leão estava vendendo por 2:000U rs a quantia de 4:029U rs “que lhe tocou no rateio de Antônio Pantaleão Bezerra Montenegro, a saber: em metade de uma prensa de algodão e um sobrado na Villa do Norte (Santa Luzia do Norte), ambos no valor de 1:000U rs, e 3:029U214 rs em dívidas, como pode mostrar pelo formal de partilha”.

Essa nota revela que o português Silva Leão era um investidor, ou capitalista como era comumente identificado naquela época quem emprestava dinheiro a juros. É provável que também já fosse comerciante em 1850, mas somente em 1857 encontra-se registros das suas transações com bacalhau. Em 1860 era exportador de açúcar, com armazém em Jaraguá.

Em 1859 o Engenho Oficina, em Santa Luzia do Norte, já lhe pertencia. O historiador Moacir Santana, em um dos seus estudos sobre a indústria canavieira alagoana, avalia que o comerciante deve ter recebido essa propriedade como resultado da falência dos seus antigos donos, que tinham dívidas com ele.

Dez anos antes o Oficina era propriedade de Francisco Correia Mota. Produziu, em 1857, 2.000 sacos (de 8 quilos) de açúcar mascavo e 250 canadas de aguardente.

Na década de 1870, outros engenhos são citados como pertencentes a Manoel Joaquim da Silva Leão. Surgem nos registros o Manjerona, na freguesia de Porto de Pedras e, em Santa Luzia do Norte, o Lagoa de Uma, Oficina e o Utinga.

Nos anos seguintes, ampliou seus negócios e investimentos, passando a ser, com seus filhos, sócio majoritário da Empresa da Estrada de Ferro Central da Província e Navegação da Lagoa Manguaba e, a partir de 1880, já era o principal empresário dos transportes em Alagoas.

Considerado como o homem mais rico de Alagoas em sua época, o Comendador Silva Leão soube envolver seus filhos nos negócios e quando faleceu por problemas cardíacos em 7 de janeiro de 1883, na Bahia, os empreendimentos continuaram e alguns deles cresceram, como foi o caso do Engenho Utinga.

Engenhos Centrais

Os problemas crônicos de falta de investimentos que afetavam o setor açucareiro nordestino se agudizaram em meados do século XIX, como constatou o historiador Cícero Péricles de Carvalho em seu livro Formação Histórica de Alagoas.

A concorrência externa do açúcar da cana antilhana e do açúcar da beterraba europeia levaram os engenhos brasileiros à estagnação e da diminuição do já baixo rendimento industrial, provocando a produção de um açúcar de péssima qualidade.

Para responder a essa situação, o governo imperial decidiu, a partir de 1875, investir na modernização da produção transformando alguns engenhos em unidades industriais especializadas no fabrico do açúcar, separando as atividades industriais das agrícolas.

Segundo Manuel Correia de Andrade em Usinas e Destilarias das Alagoas, essa iniciativa atendia ao capitalismo inglês, que já controlava o sistema ferroviário e tinha demonstrado interesse no investimento em indústrias: “O Governo Imperial, muito dócil ao capital estrangeiro, imaginou para o açúcar a implantação dos engenhos centrais, que seriam não só uma inovação de ordem técnica — implantação de verdadeiras usinas — como também de ordem social, porque procurava restringir o uso da força do trabalho escravo e separar a atividade agrícola, que continuaria com os antigos banguezeiros, da atividade industrial, confiada a empresa”,

Para montar esses Engenhos Centrais, o governo oferecia empréstimos ou garantia de juros de até 7% para os investidores. Essas condições extremamente vantajosas para a época começaram a ser oferecidas, em Alagoas, ainda em 1875 pelo presidente da Província João Vieira de Araújo, que chegou a aprovar a Lei nº 864, de 3 de maio daquele ano, autorizando a contratação de quem melhores vantagens oferecessem para “o estabelecimento de três engenhos que se compreenderiam nas zonas da capital, Pilar, Atalaia, Alagoas, Camaragibe e Porto Calvo”, como registrou Diegues Júnior em O Banguê das Alagoas. Não apareceram candidatos.

Somente em 1880, o Jornal do Penedo de 13 de fevereiro noticiou que Alagoas teria um desses empreendimentos: “Engenho Central – Um grande melhoramento vai ser iniciado nesta Província. Em data de 9 de mês passado [janeiro], contratou o Exm. Snr. Presidente Dr. Cincinato Pinto da Silva, com o Sr. Engenheiro, Dr. [João Camilo] Affonso Costard, o estabelecimento dum Engenho Central para o fabrico de açúcar de cana, na Zona das Comarcas do Pilar, Alagoas e Atalaia. Venha mais esse poderoso elemento de progresso em bem da prosperidade da nossa Lavoura”.

Usina Utinga Leão em 1921. Foto publicada no livro Terra das Alagoas em 1922

Em 10 de janeiro de 1880, Affonso Costard já tinha a garantia de juros de 3% ao ano sobre o capital que deveria ser investido (500:000$), mas esperava conseguir 7% do Governo Geral e para mobilizar o Governo Provincial na busca dessa garantia adicional prometeu que no dia da assinatura do contrato com esse novo percentual distribuiria 5:000$ para alguns estabelecimentos de Alagoas: 2:000$ para o prédio destinado à instrução primária (a Escola Prática na Praça Deodoro); 1:000$ para reparo da casa escolar de Penedo; 1:000$ para a Santa Casa de Maceió e 1:000$ para o Asilo de N. S. do Bom Conselho.

O mesmo engenheiro Costard, em parceria com João Gaulmin, já havia conseguido no ano anterior tal incentivo do governo para projeto semelhante no município de Igarapé Mirim, no Pará. O Decreto nº 7.524 de 25 de outubro de 1879 garantia a eles 7% ao ano sobre os 500:000$ aplicados na construção de um engenho central.

Nesse meio tempo, uma tragédia atingiu o projeto. O jovem engenheiro civil João Camillo Affonso Costard, que estava hospedado no Hotel do Commercio, faleceu às 8h do dia 7 de março de 1882 em Belém do Pará, vítima de um aneurisma. A projeto do Pará foi transferido para a Empresa Açucareira do Grão Pará, que desistiu em 23 de junho, passando a concessão para Domingos Moutinho.

Em junho de 1882, a concessão do Engenho Central em Alagoas foi transferida para seu irmão, o também engenheiro João Henrique Costard. Pelo Decreto nº 8.590 de 17 de junho de 1882, a concessão foi oficializada com garantias de juros de 6% ao ano sobre o capital de 200:000$000.

Uma nota publicada em jornais informava que o Engenho Central teria a capacidade de moer diariamente 150 toneladas de cana e fabricar anualmente, durante safra de 100 dias, 750.000 quilos de açúcar, no mínimo.

João Henrique Costard solicitou em agosto de 1882 a mesma garantia de 6% ao ano para o aumento do capital que pretendia captar. Não conseguiu. Em junho do ano seguinte pediu ao Ministério da Agricultura prorrogação por mais seis meses para poder organizar a firma. O pedido foi indeferido.

Em maio de 1884 o governo considerou caducas as concessões feitas a vários empreendimentos, incluindo as de João Henrique Costard.

Mais Engenhos Centrais

Em 25 de março de 1884, O Liberal (Alagoas) informou na coluna COMUNICADO sobre “Os engenhos centrais”. Esclarece que os dois engenhos desse tipo que seriam instalados em breve no Pilar e em Camaragibe pertenciam à empresa inglesa North Brasilian Sugar Factories Company Limited e que seria um crime se opor a tal investimentos. A empresa inglesa havia obtido as concessões no ano anterior e fora autorizada a atuar no Brasil pelo Decreto nº 8.882, de 17 de fevereiro de 1883.

Na visão do articulista, separar o cultivo da cana do fabrico do açúcar era “um princípio econômico que hoje mais do que nunca convém ser aplicado à indústria açucareira”. E conclamava: “Facilitem todos a realização dos engenhos centrais, e não tenham mesmo os capitalistas da terra receio de constituírem-se em companhias para levarem a efeito tão útil melhoramento”.

E concluiu: “Se tivéssemos meia dúzia de homens do valor do sempre chorado Manoel da Silva Leão, não tardaria muito que no solo fértil desta província se erguessem diversas fábricas centrais; nisso não vai a menor ofensa aos dignos capitalistas da terra, mas uma justiça, uma homenagem ao homem que não sendo filho deste país, prestou serviços como outros não o têm melhores”.

A North Brasilian Sugar Factories Company Limited também não conseguiu levar a frente o projeto e o Decreto nº 9.564, de 6 de março de 1886 declarou caduca a concessão para a construção, mediante garantia de juros, de engenhos centrais destinados ao fabrico de açúcar nos municípios de Sirinhaém e Ipojuca (Pernambuco), Pilar e Camaragibe (Alagoas), e Maruim (Sergipe).

Essa empresa era concessionária de 15 engenhos centrais nas Províncias do Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Alagoas e Sergipe.

Engenho em Pernambuco em meados do século XIX

O assunto Engenho Central voltou a ser veiculado na imprensa em 9 de novembro de 1889, quando o Jornal do Penedo informou que tinha sido publicado no jornal Liberal que o “Sr. Dr. Castilho contratou fornecimentos de canas para um Engenho Central no Pilar e outro em Coruripe”.

O mesmo periódico, mas de 24 de maio de 1890 — seis meses depois —, publicou um texto sobre “Os Engenhos Centrais” cobrando investimentos na agricultura alagoana por parte da República recém-instalada e indicando que era preciso priorizar a reanimação a indústria açucareira que se daria com a implantação de “Fábricas Centrais”, por facilitarem a “divisão e brevidade do trabalho” e tornando a “produção menos dispendiosa e grandemente avultada”.

Para a montagem de três Engenhos Centrais (um Norte, outro no Centro e o último no Sul), propunha a transferência para Alagoas das unidades instaladas no Rio Grande do Norte e Sergipe.

Segundo Diegues Júnior, em 1890 outros dois engenhos centrais foram anunciados: um em Porto Calvo e outro em Maragogi. A concessão definida pelo Decreto nº 616, de 31 de julho, com garantia de juros de 6%, foi entregue aos engenheiros José de Barros Wanderley Mendonça e Luís Felipe Alvez da Nóbrega. O capital a ser levantado era de 1.500:000$000. Também não foram construídos.

No mesmo ano, o Governo Federal concedeu à Companhia dos Engenhos Centrais nas Alagoas para a construção de engenhos centrais em Murici, Ipioca e São Luís do Quitunde. O Decreto nº 887, que definiu estes locais, também incluiu mais três unidades: no Pilar, Coruripe e Atalaia. Essa outorga foi confirmada pelo Decreto nº 888 de 18 outubro de 1891, que modificou os prazos para a conclusão das instalações.

Ainda em outubro de 1891, o Decreto nº 637 transferiu dois desses engenhos para a Companhia Promotora de Indústria e Melhoramentos, de Domingos Moutinho, que tinha como superintendente em Alagoas o mesmo engenheiro José de Barros Wanderley de Mendonça. Essa empresa foi liquidada em 1897 e Wanderley de Mendonça terminou se envolvendo, anos depois, no rumoroso caso do Empréstimo Francês. Faleceu em 1928 na miséria numa cadeia em Paris, na França.

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O Almanak do Estado de Alagoas de 1891-1894, ao descrever os “Rios, lagos e riachos” do município de Alagoas, atual Marechal Deodoro, revela a montagem de um Engenho Central em suas terras: “Depois temos o rio Sumaúma, com diversos afluentes, navegável por canoas até a distância de quatro léguas de sua foz, que é na mesma lagoa [Manguaba]; O Sumaúma-Mirim; o Utinga; o Salgado no engenho Lama, onde se trata de montar um engenho central para o fabrico do açúcar; e vários outros córregos, fontes e regatos de curso limitado mas perene”.

Ainda em 1891 foram aprovados dois Decretos com autorizações para instalações de Engenhos Centrais em Alagoas. O de nº 391, de junho, atendia a Porto Calvo e o nº 519, de 10 de setembro, a Maragogi.

Não se tem mais detalhes sobre esses empreendimentos, mas pode-se afirmar que em Alagoas os Engenhos Centrais não foram viabilizados. A modernização pretendida se deu com a instalação de usinas de açúcar em terras próprias dos antigos engenhos. Estas unidades plantavam suas canas e adquiriam outras de fornecedores, mas não ocorreu a tão esperada separação entre as atividades agrícola e industrial.

Usina Utinga

A primeira usina a se implantar em Alagoas foi a Brasileiro, em Atalaia, que funcionou pela primeira vez no dia 18 de janeiro de 1892. Era o resultado dos investimentos dos irmãos franceses Félix e Gustavo Wandesmet, que desde de 1885 já exploravam uma destilaria no Pilar.

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O segundo empreendimento nasceu da junção do capital das famílias Amorim Leão e Dubeux, esta de Pernambuco, que investiam em mais um negócio em Alagoas, considerando que já eram sócias na Companhia Alagoana de Trilhos Urbanos e na empresa Leão & Irmãos.

A união entre essas famílias extrapolou as relações comerciais e industriais. Alguns filhos e filhas de Manoel Joaquim da Silva Leão e Maria Josephina Lopes de Amorim casaram-se com herdeiros de Cláudio Candido Dubeux, natural de Lisboa com nacionalidade francesa, e de Josephina Libânia Burle. Veja no final desta pesquisa como se deram essas uniões.

Quem liderou o projeto da fusão de engenhos e de investimentos para a construção da Usina Utinga foi Luiz de Amorim Leão, logo após o falecimento do seu irmão mais velho Manoel de Amorim Leão em 13 de setembro de 1891. Era dele o Engenho Utinga.

Luiz de Amorim Leão, que passou a ser o mais velho entre os filhos e filhas de Manoel Joaquim da Silva Leão e de Maria Josephina Lopes de Amorim, assumiu os principais negócios da firma Silva Leão & Filhos a partir de 1893. Tinha formação superior na Europa, possivelmente em Engenharia Mecânica.

Conhecido como o Comendador Leão, Luiz de Amorim Leão casou-se com a viúva do irmão falecido, Laura de Córdoba Burle Dubeux (Laura Dubeux Leão).

Laura de Córdoba Burle Dubeux

A Usina Utinga começou a surgir em 1893 quando foi instituída a Sociedade Agrícola e Industrial Usina Leão, que ocuparia as terras dos antigos engenhos da família. A pesquisa encontrou citações sobre algumas outras unidades fabris que deram origem ao empreendimento: Utinga, Oficina, Boa Paz, Lagoa de Una e Garça Torta.

O Engenho Utinga, que em 1849 era de Jacinto de Paula Calheiros, em 1859 pertencia ao Major Simplício Pereira da Rosa Calheiros e foi repassado para Manoel Joaquim da Silva Leão.

Em 1849, o Garça Torta era de João Lins Calheiros, o Oficina de Francisco Correia Mota e o Boa Paz de Joaquim Inácio de Miranda. Dez anos depois os proprietários eram os seguintes: Garça Torta, do Padre Antônio Gomes de Melo; Oficina, de Manoel Joaquim da Silva Leão e o Boa Paz continuava com Joaquim Inácio de Miranda.

Segundo Manuel Diégues Júnior em O Açúcar no povoamento de Alagoas, o Garça Torta foi, possivelmente, absorvido pelo Engenho Utinga no final do século XIX. Era mais conhecido como Engenho Nossa Senhora da Encarnação.

A Usina Utinga, que começou a moer em junho de 1894, surgiu pequena, com capacidade de produzir 90 toneladas por dia. Era a segunda unidade desse tipo de indústria em Alagoas (a primeira foi a Usina Brasileiro), mas a primeira com capital alagoano.

Um ano depois ocorreu o registro de uma nova firma, a Sociedade Agrícola, Industrial e Mercantil Leão & Irmãos, constituída no dia 1º de julho de 1905 (Evolucionista de 26 de julho de 1905). Tinha a participação de Luiz de Amorim Leão, Cláudio Dubeux e Francisco de Amorim Leão. Segundo o jornal, “Essa firma destina-se a continuar a desenvolver todos os negócios da Usina Leão, em Utinga, neste Estado”.

Mesmo não sendo um Engenho Central, a Usina Utinga foi tratada como tal pelo governador Gabino Besouro em seu relatório de 15 de abril de 1894. Besouro cita o Engenho Central Brasileiro do sr. Vandesmet, em Atalaia e “um outro que acaba também de ser montado e inaugurado no município de Santa Luzia do Norte, de propriedade dos snrs. Amorim Leão & Cia…”.

Moendo

O primeiro maquinário instalado na Usina Utinga era de origem inglesa (George Fletcher & Co e Watson Laidlaw & Co). A coluna de destilação foi fornecida pela empresa francesa Savalle Fils. Novos maquinários chegaram em 1897, produzidos pela firma Mirless-Watson Iaryan Co, de Glasgow, permitindo o funcionamento do sistema de moagem dupla.

Com essas modificações, a safra 1901/02 produziu 1.334 toneladas de açúcar (22.233 sacos de 60 quilos). Na de 1904/05, o esmagamento que era até então de 100 toneladas de cana por dia, foi para 220 toneladas.

Com o falecimento do Comendador Luiz de Amorim Leão, em 29 de maio de 1907 no Rio de Janeiro Francisco de Amorim Leão assumiu a empresa e teve inicio novo ciclo de expansão da sua capacidade produtiva, surgindo, consequentemente, a necessidade de comercializar seus produtos em melhores condições. Assim, em 1909, em Recife, foi constituída a firma Leão & Cia para cuidar do comércio de açúcar.

Eram seus sócios: Francisco de Amorim Leão, Cláudio Leão Dubeux e Luiz Dubeux. Era a firma que “maiores vantagens oferecia” no comércio, indústria, representações e comissões em Pernambuco. O capital inicial foi de 100 contos de réis. Tinha 30 empregados. Em Recife estava instalada à rua Barão do Triunfo, 303. A filial em Maceió ocupava o 1º andar do prédio nº 1 da Av. Comendador Leão, onde funcionou posteriormente o Banco de Alagoas no andar térreo.

Cláudio Burle Dubeux

Novos investimentos foram realizados em 1909 com a aquisição de terras e a instalação de mais uma seção de moagem, com maquinário adquirido dos fabricantes ingleses The Harvey Engineering Company, de Glagow. A Usina passou a esmagar 400 toneladas de cana por dia.

Nesse período, com a instalação da destilaria, fabricava açúcar, álcool e rum. Produzia também ladrilhos, mosaicos e gelo.

Na safra de 1917/18 moía 660 toneladas de cana por dia. Com algumas reformas a capacidade de produção do açúcar foi elevada 116.000 sacos de 60 quilos e 200 mil litros de aguardente A destilaria fabricava 800.000 litros de álcool por safra.

Em 1919 a Usina plantava em suas terras maniçoba (mandioca brava), piteira, mandioca, feijão, café e outras culturas, explorando os canteiros ao lado da cana-de-açúcar. Tinha ainda a criação de gado vacum e cavalar, com espécies de gado Búfalo da Índia, Zebus, Devons, Shortthorns, etc.

No ano seguinte possuía 5 km de linha férrea no sistema Decauville, com 60 centímetros de bitola e tração animal. Em 1922, essa linha tinha 20 km e já era atendida por três locomotivas alemãs e 100 vagões para o transporte da cana.

Nesse período, 24 propriedades plantavam cana para a Usina Utinga, que utilizava cerca de 2.500 animais de tração (bois, cavalos e 77 bois zebus). As canas plantadas eram das variedades: Caiana, Rosa, Pitu, Fita ou Imperial, Cristalina e Salangor.

O Recenseamento do Brasil realizado em setembro de 1920 identificou como de propriedade de Leão & Irmãos em Santa Luzia do Norte (que envolvia Rio Largo) os seguintes engenhos: Boa Paz, Pinto, Coité, Pindoba, Cachoeira, Primavera, Utinga, Conceição, Campinas, Ligação, São Sebastião, Garça Torta, Cafundó e Oficina. As fazendas Várzea Grande e Retiro.

Em Atalaia a firma Leão & Irmãos tinha a fazenda Sertãozinho. Em Murici era proprietária das fazendas Lages, Tabocal, Nicho, Duarte.

Nova Usina

Em 1923, quando Comendador Francisco de Amorim Leão passou a ser o sócio-gerente, mudanças impactaram a empresa.

Após visitar importantes instalações em Cuba e nos Estados Unidos, Francisco Leão iniciou a construção da Central Leão Utinga com equipamentos adquiridos à firma Dyer & Co, de Cleveland, Ohio. Foram os engenheiros-técnicos dessa firma que vieram para Alagoas com a missão de capacitar os profissionais da Central Leão Utinga. Entre estes técnicos estava o químico Mr. Wolff.

Usina Leão Utinga

A partir de 1924 a Central Leão Utinga passou a ter capacidade para moer 1.500 toneladas métricas diárias, com a produção anual de 400.000 sacos.

No ano seguinte, a Central Leão Utinga estava eletrificada. Foi a primeira destas unidades fabris a receber esse benefício na América Latina. Era considerada referência no país.

Na última safra da década de 1920 produziu 400.709 sacos de 60 quilos, esmagando 220.321 toneladas de cana (média de 1.230 toneladas/dia ou 51,26 toneladas/hora). Colocou no mercado 3.000.000 litros de álcool anidro de teor 99,8%, empregado como combustível para automóveis.

Já não era mais administrada por Francisco de Amorim Leão, que faleceu no dia 14 de setembro de 1927 em Lausanne na Suíça, para onde foi em tratamento.

Safras recordes

O crescimento permanente de sua produção transformou a Central Leão Utinga na maior usinas de Alagoas por décadas. Segundo levantamento de Manuel Correia de Andrade, as safras da usina a partir de 1930/31 alcançaram as seguintes quantidades de sacos de açúcar cristal:

1930/31 – 234.000
1940/41 – 362.864
1955/56 – 604.848
1960/61 – 664.642
1965/66 – 629.757
1980/81 – 1.000.000
1987/88 – 1.381.152

Em sua destilaria também cresceu exponencialmente a produção de álcool, com exceção de 1937 quando o governo não garantiu mercado para o álcool motor:

1932 – 457.717 litros
1937 – 123.157
1943 – 2.422.731
1948 – 2.458.624

Em 1945, todo seu maquinário era movido por eletricidade gerada numa casa de força com três tubos-geradores de mil cavalos cada um (750 kilowatts).

A casa das caldeiras tinha cinco unidades com capacidade de 471 HP, com alimentadores automáticos de bagaço e com fornalhas de tipo especial Maclead, suspensas e revestidas de tijolos refratários.

As moendas eram compostas por um jogo de navalhas Farrell, dois esmagadores Fulton e quatro jogos de moendas de 32 x 61’’, no total de 16 rolos. Com essa estrutura, chegava a moer 1.500 toneladas de cana em 24 horas. A nova destilaria para a produção de álcool anidro era a primeira desse gênero em Alagoas.

Usina Leão Utinga em publicação da revista Vamos Ler! de 8 de novembro de 1945

A cana moída na Central Leão vinha de 42 propriedades (30 delas da própria Usina). Tinha 60 quilômetros de linha férrea com 220 carros e 10 locomotivas, o suficiente para mover 2.000 toneladas.

As canas cultivadas eram das variedades POJ. 2878 e 3405, BH. 1012, D 433, Badilla e outras em menor escala. Exportava principalmente para o Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná.

A empresa oferecia serviço médico e dentário. Tinha farmácia, ambulatórios e salas de operações. Existiam ainda uma creche, uma vila operária e amplo estádio de futebol com iluminação para jogos noturnos.

Com a nova denominação de Sociedade Anônima Leão Irmãos, adotada em 1941, a empresa passou a ter a seguinte diretoria:  Manuel Dubeux Leão (comercial), Mário Leão (administração geral), José Dubeux Leão (lavoura), Ernesto Percival Gillman (maquinário) e Cláudio Leão Duleuse. Paulino Rodrigues Santiago era o diretor secretário. O engenheiro-chefe Irvin Wolff foi por muitos anos o responsável pela fabricação. O engenheiro-substituto era Leonel Harmond, os engenheiros-eletricistas eram João Herb e Emílio Tarmudsan. O engenheiro-mecânico era Norman Mc Bridd e o agrônomo, Horta Pinto.

Em 1949, toda a área da Usina estava eletrificada. Esmagava em média 1.500 toneladas de cana por dia e ensacava perto de 3.000 sacas de açúcar cristal no mesmo período.

Moravam em Utinga cerca de 20 mil pessoas, todas dependentes direta ou indiretamente da Usina.

Escola para filhos dos operários na Usina Leão Utinga

Crise do Açúcar

Segundo o economista e historiador Cícero Péricles em seu livro Economia Popular: uma via de modernização para Alagoas, a crise do setor sucro-alcooleiro teve origem conhecida: “Com a desaceleração do Proálcool a partir de 1986 e a crescente dificuldade de apoio e financiamento, o setor açucareiro alagoano foi buscar uma compensação na estrutura do Estado, com o intuito de complementar os mecanismos paternalistas que dispunha no plano federal”.

Foi esse socorro ao setor que provocou uma das mais graves crises vividas pelo Estado de Alagoas, que chegou a transferir para estas indústrias aproximadamente 1,5 bilhão de reais, segundo estimativa da Secretaria da Fazenda.

No início de 2008, o fundo de capital estrangeiro Brazil Ethanol adquiriu participação na Usina Utinga Leão e no ano seguinte ela foi repassada para o Grupo Eduardo Queiroz Monteiro (Grupo Cucaú).

Usina Leão Utinga na década de 1960

Em 2008 a Usina Cucaú devia R$ 157.790.843,60 à Previdência Social e a Usina Leão Utinga, R$ 85.956.011,99.

Segundo estudo do economista e historiador Cícero Péricles, nesse mesmo ano o Ministério Público do Trabalho (MPT) deflagrou em Alagoas a “Operação Zumbi dos Palmares”, envolvendo a Procuradoria Geral do Trabalho (PGT), Polícia Federal (PF) e Polícia Rodoviária Federal (PRF).

Fiscalizaram 15 usinas para verificar o cumprimento das leis trabalhistas, principalmente a observância da Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde nos Trabalhos na Agricultura (NR-31). O resultado dessa ação foi a instalação de 12 ações civis públicas contra as empresas sucroalcooleiras que mantinham seus trabalhadores em situação degradante. Algumas dessas indústrias foram interditadas.

Foi oficializado também o pedido de indenização por lesão aos direitos difusos e coletivos dos cortadores de cana em Alagoas. Cada empresa foi autuada em R$ 20 milhões. E, pelo não cumprimento dos acordos anteriores, mais R$ 30 mil de multa para cada uma das infratoras.

Dias depois houve um novo acordo junto ao Ministério Público do Trabalho (MPT) e as 12 ações foram extintas. A Central Leão Utinga foi uma das autuadas.

Em 2013. o Grupo Cucaú (EQM) pediu Recuperação Judicial Conjunto para suas empresas (Zihuatanejo do Brasil Açúcar e Álcool S.A., S.A. Leão Irmãos Açúcar e Álcool, Brazil Ethanol Leão Participações S.A., Companhia Geral de Melhoramentos em Pernambuco e Kelbe Participações Ltda). A solicitação foi deferida em 17 de outubro de 2013 e dois meses depois o Grupo apresentou seu plano de recuperação.

Em 24 de julho de 2019 os jornais anunciavam que a Fazenda Utinga iria a leilão com lance inicial de R$ 71,6 milhões. Essa unidade rural ocupava uma de área de 358,4600 hectares. Não houve lance. No final de dezembro, o leilão voltou a ser anunciado, mas com o valor inicial de R$ 35.846 milhões.

O imóvel pertencia à Usina Utinga, que era então a segunda maior devedora do Estado de Alagoas (R$ 177 milhões). A primeira, a Usina Laginha, faliu e deixou uma dívida de R$ 358 milhões.

As últimas informações colhidas por esta pesquisa indicam que a Usina Utinga Leão continua sob Recuperação Judicial e que na safra 2020/2021 foi uma das 15 unidades produtoras do Estado, moendo 720.085 toneladas de cana, produzindo 59.771 toneladas de açúcar e 17.674 toneladas de etanol.

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União das famílias Amorim Leão com Dubeux

1 – Manoel de Amorim Leão

Nasceu em 1º de novembro de 1853 e faleceu em 13 de setembro de 1891 às 11h da noite. Casou-se em novembro de 1879 com Laura de Cordoba Burle Dubeux (Laura Dubeux Leão), que nasceu em 2 de junho de 1858 e faleceu em 26 de julho de 1942. Tiveram os seguintes filhos:

a – Maria de Amorim Leão ou Maria Dubeux Leão (22 de setembro de 1880 – ????). Casou-se em dezembro de 1907 com o industrial francês marquês Henri de Joannes.

b – Izalina Dubeux Leão ou Izalina de Amorim Leão (batizada em 1º de abril de 1883). Faleceu em setembro de 1908 em Paris.

c – Manoel Dubeux Leão (1884 – ????). Seu primeiro casamento, em St. Hughs Catholic Church, Lincoln, Inglaterra, em 9 de julho de 1913, foi com a inglesa Margareth Helen Nissler (Margarida Leão), que nasceu em 11 de outubro de 1884. Ficou viúvo e casou-se novamente em 17 de maio de 1923, no Rio de Janeiro, com a maranhense Maria Augusta Dubeux Colares Moreira (29 de abril de 1891-????).

Casamento de Manoel Dubeux Leão e Margareth Helen Nissler, em Lincoln, Inglaterra, no dia 9 de julho de 1913. Foto do acervo de Hamilton Oiticica Soutinho

Filhos do primeiro casamento com Margareth Helen Nissler (Margarida Leão):

Maria Isalina Nissler Leão (casou-se com Fernando da Rosa Oiticica). Casada, passou a se chamar Maria Isalina Leão da Rosa Oiticica.

Manuel Dubeux Leão Junior (casou-se com a prima Therese, filha de Mário Dubeux Leão).

Francisco Moreira Dubeux Leão (casou-se com Helena Ferraz).

Maria Izabel Dubeux (casou-se com John Buyer).

Margarida (solteira).

Maria Josefa (solteira).

Alza (casou-se com Alberto Braga)

d – Luiz Dubeux Leão (2 de novembro de 1884-1912).

e – José Dubeux (1890-????)

Margareth Helen Nissler Leão e sua filha Maria Isalina Nissler Leão. Foto do acervo de Hamilton Oiticica Soutinho

 

Adam Nissler e Emma Sabrina Nissler, acima, e atrás do cavalo Margareth Helen Nissler Leão. Flagrante em sua casa na Inglaterra. Foto do acervo de Hamilton Oiticica Soutinho

2 – Luiz de Amorim Leão, o Comendador Leão

Nasceu em 28 de novembro de 1856 e faleceu em 29 de maio de 1907 no Rio de Janeiro, para aonde foi em busca de tratamento. Estudou na Europa e possivelmente graduou-se em Engenharia Mecânica. Casou-se com a viúva do irmão Manoel de Amorim Leão, Laura de Cordoba Burle Dubeux (Laura Dubeux Leão). Tiveram os seguintes filhos:

a – Mário Dubeux Leão (16 de março de 1896-????). Casou-se com a francesa Pauline Rumeau e tiveram os seguintes filhos:

Therese (casou-se com o primo Manuel Dubeux Leão Junior).

Maria Luiza (casou-se com Jaques Netter).

Luiz Cláudio (foi diretor da Usina e casou-se pela primeira vez com a americana Shirley Dason).

Mário Raul “Mariozinho” (foi diretor financeiro da empresa. Não casou).

Cecile, (casou-se com Clóvis Hazer).

Francette (casou-se com o francês Oliveira Pethnau).

José Dubeux Leão (22 de fevereiro de 1902 – 12 de fevereiro de 1975). Casou-se em 27 de junho de 1942 (no Rio de Janeiro) com a prima Judith de Amorim Leão (viúva Judith Griffith Williams – foi casada antes com Maurice Swift Griffith Williams), filha de José de Amorim Leão e de Emília Josephina Brotherhood Leão.

Mário Dubeux Leão

b – Laura Dubeux Leão (11 de novembro de 1897-????).

3 – Domingos de Amorim Leão

Nasceu em 1860 e faleceu no dia 9 de maio de 1887 em Maceió, aos 26 anos de idade. Era engenheiro e solteiro.

4 – Amália de Amorim Leão

Nasceu em 1861 e faleceu em 8 de janeiro de 1906. Casou-se com Cláudio Burle Dubeux (14 de junho de 1845 – 12 de março de 1919). Tiveram um único filho:

a – Cláudio Leão Dubeux. Casou-se com Carmen Lemos Leão Dubeux e tiveram os seguintes filhos:

Maria Christina Lemos Leão Dubeux (1917-2000). Casou-se com Sylvio Campos Paes Barreto.

Maria Carmen Leão Dubeux (1919-1982).

Maria Carolina Leão Dubeux.

4 – Gertrudes de Amorim Leão.

Nasceu em 1864 e faleceu em 16 de março de 1957, em Recife. Solteira. Em 1905 morava na Rua do Sol nº 128 em Maceió.

5 – José de Amorim Leão

Nasceu em 28 de janeiro de 1866 e faleceu em 30 de outubro de 1903 em Paris. Casou-se em 1895 com Emília Josephina Brotherhood (5 de agosto de 1866- ????). Foi um dos fundadores do Clube Fênix.

Sua esposa, Emília Josephina Brotherhood, era filha de Josephina Dubeux Brotherhood e de Ernesto Brotherhood e irmã de Cláudio Dubeux Brotherhood, Cecil George Brotherhood (morava em Alagoas), Lucy Conolly e Laura Thom.

Tiveram três filhos:

a – Judith de Amorim Leão. Casou-se com Maurice Swift Griffith Williams e ficou viúva. Voltou a casar, desta feita com seu primo José Dubeux Leão (1903 – 12 de fevereiro de 1975).

b – Lucila de Amorim Leão.

c – Ernesto de Amorim Leão.

6 – Francisco de Amorim Leão.

Nasceu em 1868 e faleceu no dia 14 de setembro de 1927 em Lausanne na Suíça, para onde foi em tratamento. Não casou. Tinha 59 anos de idade.

Não casou, mas em 1950, após rumoroso processo iniciado em janeiro de 1947, o STF encerrou uma investigação de paternidade em que José Machado Leão se habilitava como herdeiro de Francisco, alegando ser filho deste com sua mãe Paulina Machado.

O Supremo reconheceu a filiação e o concubinato. Negou provimento ao recurso apresentado por Cláudio Leão Dubeux, validando a decisão do Tribunal de Justiça de Alagoas.

***

Conjunto JDL-6: Os Meninos da Utinga

Texto de Cícero Melo e Eanes Melo

Na década de 1970, a onda da calça boca de sino Lee ou Lewis e macacão jeans, sapatos cavalo de aço, fivelão na cintura e cabelos longos, lisos ou encaracolados, marcavam uma geração que curtia Beatles, o pop-rock nacional e internacional, e outros estilos musicais, com ouvidinhos colados nos Rádios, de preferência a Mundial que à noite, do Rio de Janeiro, transmitia por ondas hertzianas grandes sucessos musicais que depois chegavam nas lojas de discos em vinil de Maceió em especial a tradicional Eletrodisco do Jorge.

Naquele tempo parecia fácil formar um conjunto musical para tocar e as pessoas dançarem. Mas não era. Exigia-se talento, dom e ter afinidade com um instrumento de sopro, cordas e de percussão. Como a música não tem fronteiras, ela chegou num lugarejo escondido entre as cidades de Rio Largo e Satuba: a usina de cana-de-açúcar Utinga Leão, administrada pelo grupo empresarial da família Dubeaux Leão. Foi lá que um grupo de rapazes, todos estudantes, resolveram montar uma banda para se apresentar em bailes e que se tornou conhecida pelo nome JDL-6, uma homenagem ao Sr. José Dubeaux Leão, um dos membros da tradicional família Leão.

Cícero Melo, saxofonista, e Ailton Birrada, percussão, em Cacimbinhas

Os Meninos da Utinga, como eram carinhosamente chamados pela fundadora do conjunto, a Sra. Maria Dolores, junto ao empresário Rocha, investiram em equipamentos de som e não escondiam o entusiasmo pela qualidade dos músicos e pelo repertório. Para atingir essa qualidade, os músicos ensaiavam no Retiro Esportivo da Utinga, local silencioso e arborizado por jambeiros, até altas horas da madrugada.

Em pouco tempo, o JDL-6 era um dos grupos mais requisitados para as festas da Usina, cidades circunvizinhas e em todo o estado de Alagoas. No repertório: Tim Maia, Erlon Chaves com a Banda Veneno, Raul Seixas com a Metamorfose Ambulante, Pholhas, Elton John, Santana, James Brow, George Mc Cree e Barrabas dos hits Woman e Safari, e outros clássicos da MPB.

O talentoso conjunto dos jovens músicos da Utinga Leão igualava-se a outros grupos musicais da época, como os lendários LSD, Golden Lions e Grupo 6, atingindo o nível deles para se apresentar nos clubes e boates da capital alagoana.

Durante nove anos o JDL-6 fez a moçada dançar. A formação original tinha dois guitarristas — o baixinho e talentoso Keka, na guitarra solo, e Zé Boquinha, que fazia a guitarra base. No contrabaixo, Adil não somente tocava como também cantava. Téo Batera marcou época por sua versatilidade com as baquetas. Os crooners eram Haroldo e Edmilson que cantavam os sucessos da época com bastante músicas em inglês.

Mas o JDL-6 queria muito mais. Era preciso ter o peso dos metais. Então agregou o trompetista Eanes e o saxofonista Cícero Melo. Os dois instrumentistas de sopro estudavam no Colégio Agrícola de Satuba, oriundos da cidade de Traipu-AL e foram convidados para compor a banda, que se expandiu para 10 participantes com a entrada do tecladista Zé Carlos, que já tinha tocado com “Os Tigres” de Penedo, e do percussionista Birrada, fotógrafo conhecido como Ailton Cruz. Ainda passou pela formação do conjunto JDL-6 o violonista e pistonista Brandão, José Vital (Trompete), Alberto Espinheira (baixista), Eduardo Tavares (tecladista), Beto Batera, o guitarrista Rafael e outros mais.

Formação do JDL-6 em 1973. Em pé: Cícero Melo, sax tenor; Téo, bateria; Edmilson, croner; Adyl, contrabaixo; Ailton Birrada, percussão. Sentados: Rochinha, empresário; Keka, guitarra solo; José Ramos, guitarra base; Eanes Melo, piston e Haroldo, croner.

Por onde o JDL-6 andou? Muitos lugares. Mas sempre aplaudido e elogiado por todos. Se apresentava nas cidades de Rio Largo, Murici, União dos Palmares, Delmiro Gouveia no Alto Sertão, Palmeira dos Índios, São José da Laje, Porto Calvo, São Luiz do Quitunde, Xexéu, Catende, nos clubes Fênix e Portuguesa, e nas boates Caverna e Esquisito de Maceió.

Era praxe na época ter um prefixo que mostrasse a identidade do conjunto. O JDL-6 sempre iniciava um baile com a música “2001 Uma Odisseia no Espaço“. O som da banda enchia o ambiente como se uma nave estivesse viajando mundo a fora.

E aquela viagem continuou até os nossos dias, mas não mais como uma Odisseia no Espaço. Aqueles jovens de 20 e poucos anos se tornaram idosos e alguns já se foram iniciando outras viagens, mas deles continua bem viva a contribuição cultural e a saudade dos anos dourados deixadas na memória de quem curtiu o JDL-6 da Usina Utinga Leão.

Atualmente (abril de 2022) a fundadora e dona do conjunto, a Dôre, como era chamada por todos da banda, está com mais de 90 anos e vive tranquila, feliz, residindo no bairro Gruta de Lourdes, em Maceió. Os componentes do JDL-6 continuaram a estudar e depois se graduaram. Alguns em Administração de Empresas, em Jornalismo, Biologia, Agronomia, Direito e Medicina na especialidade de cirurgia plástica. Foi uma geração de ouro.

19 Comments on História da Usina Utinga Leão

  1. Cadê o Mariozinho Leão

  2. Cadê o Mariozinho leão?

  3. Rita de Cassia de Aguiar Tenorio // 1 de fevereiro de 2022 em 13:40 //

    Minha avó materna Laura, nasceu, se criou e casou na Usina Utinga Leão. Meu avô Raphael Pereira de Aguiar veio de Pernambuco para trabalhar como farmacêutico na Usina. Meus avós de apaixonaram, casaram e tiveram 12 filhos: Cleovansóstenes Pereira de Aguiar, Cremilda,Clínio, Clesthenes , Cléa , Cléria, Cleómenes, Cleóbulo, Cremirtha, Cleâne, Cleóphas e Clívia.
    Por causa da amizade que meu avô tinha com os Leões, foram sepultados no Cemitério da Ligação: minha avó, seus pais e uma irmã do meu avô. O Cemitério da Ligação é onde são sepultados os Leões .
    Meus bisavós materno eram comerciantes na Usina.

  4. Aristides de Aquino Medeiros // 3 de fevereiro de 2022 em 11:51 //

    Já escrevi alguma coisa sobre a minha infância onde nasci, Utinga, deixei vários Amigos daquela época, vou citar alguns: Gil filho do Senhor David, Mariozinho, Deca Dentista como também sou, meu primo Zé Galego, Geraldo meu Amigo de Fé Camarada, ala feminina minha prima Sonia e seu irmão Sivaldo, Dizinha, minhas primas Marilu e Cecilia Jose Ferreira o cara mais engraçado da época, e tem muito mais a memória do idoso de 85 anos que já pegou corona-vírus 2 vezes se pegar pela terceira vez vou pedir musica no fantástico, um grande e afetuoso abraço. Aristides ( Tidinho )

  5. Alberto Lima // 4 de fevereiro de 2022 em 11:09 //

    Meu avô paterno, Sr Álvaro Ferreira, era vendedor prestamista e criou os filhos, comercializando mercadorias como; colchões, armários, guarda roupas, colchas,relógios, guarda chuvas e principalmente alianças de casamento para os moradores da Utinga. Era uma figura conhecida e respeitada na região. Em minhas férias de fim de ano , ia juntamente com meus irmãos e primos fazer a cobrança semanal de porta em porta . A grande maioria das pessoas da Utinga nos anos 70 e 80 casaram-se com as alianças compradas a S. Álvaro. Boas lembranças.

  6. Luiz Eduardo Rocha menezes // 7 de fevereiro de 2022 em 19:59 //

    Esplorou duas geraçoes de minha familia e se eu nao com 18 anos ficasse ai hoje estaria numa merda como ficou meu pai e muitos amigos que ficou nesse lugar cha.ado Utinga leão. Virei empresario e nao semi escravo .

  7. Genira Lopes de Sena Pinto // 6 de março de 2022 em 08:53 //

    Minha mãe traba!hou na Usina na década de 30. Seu nome Guiomar Lopes Ferreira. Ela fez parte do time de basquete da Usina. Será que há fotos? Faria de saber.
    OObrigada

  8. almir porro // 10 de março de 2022 em 19:24 //

    Como saber se meu bisavo trabalhou neste grupo ?///Manoel Paulino da Silva a ideia que tenho data desde 1935 em diante . Perdi muitos documentos num incendio, se por acaso alguem soube r como me orientar agradeço. Almir Porro

  9. Meu pai, Sr Octávio Pereira Viana (“seu Ota”), foi motorista do Sr. Mário Leão e Sra. Paulinne, esta era francesa. Pais de Mário (Mariozinho), Luís Claudio (“Seu” Lulu), Therese, Francette e Cecille. Sou de 51, cresci nesse lindo lugar paradisíaco. Meu pai morreu de CA e foi muito bem cuidado por esta família, tratamento no Rio de Janeiro. Tenho belíssimas recordações. Apesar de saber de tantos percalços, tanto econômicos e provavelmente enrodos políticos só agora, nada apaga apaga as minhas maravilhosas recordações. Ainda estamos vivos, dos Pereira Vianna: Vandete (86 anos) e Waldete (84 anos); Dr.Vanilton, aposentado como Procurador de Estado; Wanderval (74), formado no Rio de Janeiro em Comunicação, trabalhando até hoje na TV Opss em Arapiraca e numa rádio por robe e super feliz; e eu, Vânia (71). Vivo num campo (Povoado Moeiro, de Limoeiro de Abadia) e ainda atuo como psicóloga virtual.
    Obrigada por este arquivo preciosíssimo que me fez viajar de volta aos anos de infância, dos quais era totalmente inocente; só sei que lá fui muito feliz, e sabia disso. Lugar que, só em lembrar, me refaz dia a dia a minha caminhada. Que Deus te abençoe e te guarde por tão honrosa narrativa.

  10. Maria Natália // 18 de maio de 2022 em 04:35 //

    Minha mãe nasceu ai nesse lugar lindo só que ela foi levada pra ser criada em outra família, hoje ela tenta saber quem é a mãe dela ,ela so sabe o premeiro nome …o nome é Iva ,se alguém souber agente tá procurando muito .por ela se ainda for viva queria muito te conhecer ,,,o anos é 1986 hoje ela tá com 36 anos
    ,Se alguém souber de alguma informação porfavor me falem quero muito conhecer minha avó , mãe da minha mãe ,, queremos saber meu Deus 🙏

  11. Um tesouro essa matéria!! Parabéns pela preciosidade!!

  12. Alberto Leão Braga // 3 de agosto de 2022 em 07:10 //

    Luiz Eduardo Rocha Menezes……pertenço a familia Leão e sinto muito em saber que você pense dessa forma….convivi desde criança com muitas pessoas da Utinga e é a primeira vez que escuto alguem falar mal da minha família e que nós explorávamos nossos funcionários….minha tia, Dona Margarida tinha um apreço muito grande por todas as pessoas que moravam na Utinga….ela era responsavel pela parte social e posso lhe garantir que ela fazia o possível para agradar todo o povo da Utinga…mais uma vez…é uma pena que pense dessa forma.

  13. Edison S Silva // 4 de agosto de 2022 em 19:13 //

    Meu avô trabalhou na usina Leão na década de 20, minha mãe nasceu na usina em 1924. Será que existe algum arquivo histórico dessa época.

  14. Jenifer Kelly da Silva // 15 de outubro de 2022 em 16:12 //

    Boa tarde , procuro a uma senhora chamada Nazaré Ferreira da Silva , meu avô faz mas 50 anos que não a vê e uma irmã perdida , a. Última notícia ela morava na cidade de Satuba , se alguém tiver alguma notícia ou contato por favor me ajude a encontrar, pode me chama aqui ou no zap
    11989558643

    Nome da irmã do meu avô
    Nazaré Ferreira da Silva
    Nome do esposo
    Irineu pequeno dos santos , trabalhou nessa empresa se alguém tiver alguma informação por favor entrar em contato

    Nomes dos pais era
    Abílio ferreira da Silva
    Josefa Tavares de Siqueira

  15. Meu pai nasceu na Usina Utinga Leão, em 1912. Era filho de Manoel Bispo Romano e Lúcia Maria da Conceição. Meu avô trabalhava na usina Nada sei a respeito dele. Será que existe registro dos trabalhadores dessa época? Seia interessante saber sobre os trabalhadores que verdadeiramente ajudaram na formação do patrimônio dessa importante família e que, ao que tudo indica, foram esquecidos no decorrer da história da Utinga Leão.

  16. Marcelo Lisboa Costa // 8 de novembro de 2022 em 16:09 //

    Venho aqui agradecer tudo que a Família Leão fez pela minha Família, sou Filho do Médico e Coronel da PMAL Zoomilx Marcelo Gomes Costa, que era irmão Zelxius, Zelândia, Zizi, Zilckson, Cila, Zander, Zelia, Mó e Deca, todos filhos da minha Vó Aurea Gomes com meu Avö José Costa que moraram no Espigão/Utinga. Voltando a Família Leão agradeço pois meu pai e tios estudaram no Colégio Marista e em outros Colégios de Maceió, e tudo pago pelos Leões. Luiz Eduardo Rocha Menezes saiba do meu eterno agradecimento a tua família!

  17. Olá! Meu nome é Leandra e estou tentando encontrar alguém da Familia do meu pai.
    Ele se chamava Lourival Amorim Silva. Ele era natural de Murici/Alagoas e me contava muitas histórias da sua infância e citou várias vezes sobre Utinga Leão.
    Ele não conheceu seu pai só sabemos que ele se chamava Manoel.
    Sua mãe se chamava Regina Maria da Conceição.
    Meu pai teve dois irmãos biológicos a irmã se chamava Noemia Amorim e um irmão que foi criado pelo padrinho(não lembro o nome) ambos ficaram em Murici. Gostaríamos muito de encontrar alguém da família por parte do meu pai.

  18. Onde encontro registros historicos das usinas Laginha e Cansanção de Sinimbu, AL?
    Desde já agrad3co

  19. João Mota dos Santos // 26 de abril de 2024 em 15:14 //

    Sou nascido e criado na usina Utinga Leão. meu paí é o Manuel Mota dos Santos que foi trabalhador Rural e presidente do Rural de Rio Largo. faleceu a 12 anos atrás.

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