História da produção de energia elétrica em São José da Laje

Estudo de Fernando Galvão de Pontes publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, nº 43, de 1991/1992 com o título "Produção de energia elétrica em agroindústria alagoana"

São José da Lage, em Alagoas

Fernando Galvão de Pontes 

Usina Serra Grande em São José da Laje

Os engenhos lajenses, como os demais de toda a região nordestina, aproveitaram primeiramente a tração animal, e a seguir a força da água, para acionarem as suas velhas moendas. Somente com o aparecimento, em nosso município, das Usinas Apolinário e Serra Grande (antes eram engenhos), é que, pelo ano de 1916. foi instalada na Serra Grande a primeira unidade geradora de eletricidade.

Esta unidade compunha-se de uma caldeira a vapor acionando um gerador elétrico, por meio de uma correia, deste modo obtendo a produção de eletricidade que se destinava à iluminação da fábrica de açúcar, o pátio e a casa-grande do usineiro.

Cerca de um ano depois foi montada outra caldeira com a mesma finalidade, na Usina Apolinário. Na montagem da caldeira e gerador em Apolinário, houve uma discussão entre o Major Francisco Alves (Francisco Alves Pereira de Lyra) e o Dr. Franz F. Scmidt, tudo em torno da máquina a vapor e gerador de eletricidade. Francisco Alves tinha inventado uma máquina a vapor de cilindro móvel de pequeno porte para servir de modelo, pensando em futura patente. Mas tudo terminou em paz e tornaram-se bons amigos.

A rede elétrica foi instalada no pátio e na casa-grande de Apolinário; serviço realizado por um eletricista alemão de nome Carlos. Às emendas dos fios eram soldadas para evitar as perdas de energia, e também com este fim, já existia o balanceamento dos bicos de luz.

De acordo com o valioso arquivo do Dr. Fernando Rocha, dispomos, para a presente pesquisa, de inúmeros dados — como por exemplo, que a partir de 1921 é que foram procedidos os estudos pelo Dr. Schimdt, para a instalação da primeira hidroelétrica situada cm Jibóia, pertencente à Usina Serra Grande, aproveitando-se as águas do rio Canhoto, que nessa época era volumoso.

Esta hidroelétrica tinha como finalidade o aumento do poder energético, pois nesta época o Coronel Carlos Lyra havia introduzido os melhoramentos na sua pecuária e construíra três silos de alvenaria com cobertura de placa de cimento, precisando assim de energia elétrica para acionar a máquina de cortar capim, bem como de uma esteira de elevação do material a ser armazenado.

Menciono que ainda alcancei todo este conjunto e ficava várias horas a ver o seu funcionamento. E também foram colocados alguns motores elétricos dentro da usina e oficinas de manutenção da mesma.

O Diário de Pernambuco, do dia 22 de novembro de 1922 — (dia da inauguração da hidroelétrica do sítio Jibóia), registra, dentre outras coisas, a capacidade de 250 KWA, e a voltagem reduzida para fazer funcionar os cortadores e elevador de forragens que atuavam nos três silos construídos com a finalidade de abastecer a criação do gado puro sangue (Zebu e Nellore), importados da Índia, atingindo a instalação o custo de 500.004000 (quinhentos contos de réis).

Usina Serra Grande em São José da Laje no ano de 1929

A sua maquinaria constante de uma turbina, gerador, regulador de voltagem, etc. A turbina tipo “FRANCIS” de eixo horizontal, fechada em caixa de ferro fundido desenvolvendo 275 cavalos. Tem uma inscrição em alto relevo — HANSENWERK — 4.996 GOTHA — 1920.

O prédio continua íntegro nas suas fachadas. Na sua frente contendo portão e duas janelas, e mais três janelas na fachada lateral, sendo todas de macieira com vidro. A sua fachada principal fica em frente à estrada Lage-Serra Grande, tem gravado em grandes letras pintadas, os dizeres: “USINA HYDRO-ELÉTRICA“.

O prédio tem dois pisos: na parte superior está o controle e transformador de saída de energia elétrica, e na inferior a turbina e gerador.

Foi necessário barrar o rio Canhoto, entre a Usina Serra Grande e a referida hidroelétrica; barragem de pedra e cimento, aproveitando as encostas do monte; a água é deslocada através de aquedutos de alvenaria, (cerca de um quilômetro) com uma diferença de nível de 20 metros, para o local onde está instalado o conjunto gerador.

A solenidade de inauguração das instalações da hidroelétrica localizada no sítio Jibóia teve lugar no dia 14 de novembro de 1920. O Diário de Pernambuco do dia 28. publicava na pág. nº 02 uma reportagem intitulada “APROVEITAMENTO DE FORÇA HIDRÁULICA NA USINA SERRA GRANDE E APOLINÁRIO“.

O ato da inauguração teve caráter festivo com grande comparecimento de cerca de três mil pessoas (agricultores, comerciantes e representantes de várias classes sociais), além de outras pessoas vindas de diversas partes de Alagoas e Pernambuco que foram levar ao Coronel Carlos Lyra seu cumprimentai pela iniciativa pioneira.

A população de São José da Laje, sede do município, fez por esta ocasião significante manifestação de apreço àquele capitão da Indústria. O padre Xavier, vigário da paróquia local, levou consigo a imagem de São José, as associações religiosas, mais a banda de música e Tiro de Guerra local.

Em Serra Grande já aguardavam os visitantes e os convidados, foram conduzidos em composições ferroviárias atreladas às locomotivas “Argentina”, “Brasil” e “Chile”, do serviço rodoviário da Usina. A benção foi concedida pelo vigário Xavier Thuet, que fez um discurso alusivo ao ato e ao mesmo tempo congratulando-se com todos pelo grande progresso da agricultura e indústria da região. O Coronel Carlos Lyra proferiu seu agradecimento, salientando a importância da energia elétrica no futuro da indústria em nosso País.

Na mesma tarde foram também inaugurados os transformadores localizados nas Usinas Serra Grande e Apolinário. À noite foi servido um farto jantar aos convidados, na casa de residência do Coronel Carlos Lyra, em Serra Grande, distribuídos em numerosas mesas espalhadas no jardim. Após o jantar foi realizada uma sessão cinematográfica ao ar livre e a final queimados fogos de artifício. Ao encerramento foram distribuídas medalhas comemorativas às pessoas presentes.

Usina Serra Grande em São José da Laje

Em 25 de maio de 1919 o Diário de Pernambuco publicou nota sobre a visita do Coronel Arthur Cavalcante, proprietário da “Usina Pedrosa“. O visitante observou a hidroelétrica e o gado de raça importado. O Dr. Abelardo Lima Cavalcante era irmão do Coronel Lima Cavalcante, ex-interventor e ex-governador do Estado de Pernambuco.

Outra hidroelétrica foi edificada pela Serra Grande, idealizada pelo Coronel Carlos Lyra. destinando-se ao suprimento de energia elétrica à cidade de São José da Laje.

As turbinas instaladas na Usina hidroelétrica do Grangeiros, em número de duas. tinham na sua placa em alto relevo as seguintes inscrições: 4.497 e 4.498 — HAUSENWERK-GOTHA – R/22. Turbinas de eixo horizontal tipo “FRANCIS** de 275 cavalos, conjugados diretamente aos seus geradores, produzindo eletricidade de corrente alternada trifásica de 50 ciclos, para uma tensão de 2.400 volts. As turbinas e seu encanamento foram fabricados pela firma Brioglob Cia. Hausen, alemã, e os geradores pela firma SIEMENS-SCHUCKERT, de Berlim.

A casa que abriga esta empresa elétrica tem, na sua fachada principal, um portão e duas janelas que ficam em frente para velha estrada Laje a Cruz Verde e o outro que fica para o lado com três janelas, todas em grade de ferro. As turbinas, geradores, e o quadro de comando ficam no mesmo piso.

A água para o funcionamento vem do rio Canhoto, que é barrado à altura da cidade e tem um canal com 950 metros de extensão, terminando em um encanamento de ferro, colocado em cima de arco de alvenaria, passando por baixo o antigo caminho. Posteriormente foi necessário destruir um dos arcos para dar passagem aos atuais caminhões.

Os trabalhos de construção da hidroelétrica estiveram sob a direção dos senhores Dr. Franz Schimdt, engenheiro. Inácio Cabral na parte elétrica e do mecânico Eugenio Wolf, administrador de obras, José de Holanda Valença e do Dr. Germano Schoroedar da firma SIEMENS-SCHUCKERT S.A.

A festa de inauguração foi assistida por cerca de três mil pessoas. Reportagem do Diário de Pernambuco publicada no dia 31 de janeiro de 1924, pág. 03, contendo matéria sobre “a inauguração da Usina hidroelétrica montada em São José da Laje — Alagoas — pela firma Carlos Lyra Cia. (razão social da época), com a finalidade de fornecer luz pública à cidade”, etc.

As 16 horas foi realizada a bênção das instalações pelo vigário Xavier Thuet e Os presentes conduziram para o recinto das máquinas a imagem de São José. O padre Xavier Thuet fez vibrante oração rogando aos céus suas bênçãos sobre aquelas instalações. Por delegação do Coronel Carlos Lyra — diretor gerente da Empresa, usou a palavra o Sr. Teófilo de Barros, dando a obra por inaugurada.

A seguir, já na igreja Matriz da cidade, foi realizado um “TE-DEUM”. Finalmente, com o povo na praça, foi ligada a luz pública da cidade. Usaram da palavra os senhores: deputado Ernesto Bezerra, Teófilo de Barros, João Nepomuceno. Mário Lyra. vigário Xavier Thuet e o padre Pedrosa. Este último, dias após publicava no velho Diário de Pernambuco uma reportagem sobre sua visita à Serra Grande, Laje e Garanhuns.

Usina Serra Grande em São José da Laje

Na administração de Manoel Prazeres, na Prefeitura de Laje, foi pelo mesmo assinado o Decreto nº 150, de 15 de março de 1947, (terça-feira), que visava a desapropriação desta hidroelétrica pela Prefeitura de São José da Laje. A citada desapropriação não foi consumada por interferência do Dr. Silvestre Péricles de Góis Monteiro, Governador do Estado, em vista de a Prefeitura lajense não possuir estrutura financeira e técnica para continuar o funcionamento daquela unidade geradora de energia.

Essas duas hidroelétricas ainda hoje estão funcionando, se bem que com suas potências reduzidas, devido à diminuição das águas do rio Canhoto. Com a falta d’água, foi retirada uma das turbinas para urna nova hidroelétrica, no Oriental, em 1947.

Outra pequena hidroelétrica foi instalada no sítio Ideal, do Capitão João Norberto de Lima, quando o mesmo edificou a sua casa residencial. Esta hidroelétrica tinha finalidade a iluminação da casa-grande e arruado. Ainda houve uma tentativa no sentido do fornecimento de energia para Valparaízo, mas não deu certo. Eram aproveitadas as águas do riacho Jibóia. Os estudos preliminares e sua montagem foram feitos pelo engenheiro Dr. Franz Schmidt.

Pelo ano de 1947, era procedido um estudo para aumentar o potencial energético de (…) e daí resultou a construção do açude Maria Maior, aproveitando as águas do rio Espeto, dispondo de razoável cachoeira cujo nome foi dado ao açude; por isso foi localizado uma nova hidroelétrica no sitio Oriental, de propriedade, da Usina. Para lá foi transferida uma das turbinas da hidroelétrica do Grangeiro, dando assim ótimo resultado. Anos depois de comprada outra marca SIEMENS; a instalação desta hidroelétrica deve-se a outro engenheiro. de origem alemã. Guilherme Willy Diestsche.

Esta hidroelétrica pode aproveitar as águas do rio Espeto e acidentalmente as águas do rio Anhumas, por meio de bombeamento para um canal interligando os dois cursos d’água. Em cada hidroelétrica foram edificadas duas casas destinadas aos operadores, as quais dispõem de telefone.

Açude de Maria Maior (Oriental) na Usina Serra Grande em São José da Lage, Alagoas

No dia de sua inauguração estiveram os diretores da Usina Serra Grande, funcionários e operários da mesma Empresa. À frente das solenidades o presidente do Instituto do Álcool e Açúcar, o Sr. Edgard de Gois Monteiro.

Em nossa região tivemos, igualmente, as termoelétricas, de fabricação alemã, montadas em 1936, com capacidade de 300 K.V.A., na década de 1950 vendidas à Usina Laginha. Estes geradores foram substituídos por um de maior potência, fabricação da “Worthington”, com capacidade geradora de 2.400 K.V.A., usando vapor produzido na Usina.

Com este turbo-gerador aconteceu que o guindaste do navio que o transportava, quando atracado no porto de Maceió, na hora do desembarque não suportou o peso e caiu, danificando as peças principais.

A Usina Serra Grande foi notificada, e como a referida máquina vinha protegida por companhia Seguradora, deveria cobrir a indenização ou substituiria o equipamento. O Dr. Salvador Lyra mandou buscar o mecânico da Usina, João de Oliveira Melo, para que apresentasse um parecer a respeito. João Melo, depois de um detalhado exame, constatou que a base da máquina estava fora do nível normal, ou “empenada”, mas as partes restantes encontravam-se em perfeita ordem.

Visto isto, foi a peça embarcada para Serra Grande e lá efetuado o reparo. Este turbo-gerador foi vendido pela firma COTRIM MONTE & CIA., que era representante da “Worthington” em nosso Estado.

Os primeiros motores com gerador elétrico usados para produção de luz, na década de vinte, foram o de Bom Jesus, de “seu” Zezo, e o do Valparaízo, do Capitão Zacarias Lyra, vindo outros com o decorrer dos anos, tais como: no Pindorama, de José Pinto, de São Vicente, de Antonio Ferreira, Espalhado, de Heráclito Pedrosa, Constanópolis, Fernando Galvão de Pontes, Osmar Andrade em Rio Verde e a municipalidade lajense nas vilas de Ibateguara e Canastra ao tempo sob a jurisdição, quando prefeito o Dr. Antônio Ferreira (1950 a 1954).

Na década de 1950, com a chegada da energia elétrica de Paulo Afonso na cidade pernambucana de Garanhuns, Os motores Diesel de fabricação Americana (MIRRLEES) que forneciam energia a esta cidade foram vendidos à Usina Serra Grande e instalados para completar o potencial deste centro fabril; eram em número de dois, com o potencial de 195 K.V.A., contavam com assistência técnica do Dr. Antenor Brasileiro.

Hoje, com a eletrificação feita pela CEAL (Companhia Energética de Alagoas) aproveitando a energia gerada em Paulo Afonso com as águas do rio São Francisco, dispomos de eletricidade rural em várias propriedades onde se dispunha de energia procedente de outras fontes.

São José da Lage em Alagoas

Tenho em meu poder cópia de um relatório apresentado à COMPANHIA HIDROELÉTRICA DO SÃO FRANCISCO, pela Usina Serra Grande, através do diretor Presidente Dr. Salvador Lyra. No citado relatório a Usina mostra o poder energético dos municípios de São José da Laje e União dos Palmares, e as deficiências neste setor. E, ao mesmo tempo, pede providência no sentido de ser instalada a rede elétrica para suprimento do município (Laje). O relatório tem data de 30 de outubro de 1952.

A Serra Grande comprou todo o material para referida instalação, tais como: cabos, isoladores etc. Não foi procedida à desejada ligação, o que somente ocorreu no ano de 1984, através da CEAL. Ligação a partir da rede elétrica Laje-Ibateguara, na altura do sítio Limão.

Tivemos também em algumas fazendas de nosso município a energia gerada por “corta-vento” (energia eólica), na fazenda Aquidabã, de Oscar Andrade, e Pindorama, de José Pinto. Mas o resultado não foi dos melhores, pois a produção era pequena. O primeiro desses “corta-ventos” foi vendido aos irmãos Pontes (Fernando e Geraldo) sendo instalado no Morro das Graças, proximidades de União dos Palmares.

Na atual década foram construídos na Fazenda Patos, de Deraldo Lyra, e em Riacho Seco, de José Olimpo, alguns biodigestores, aproveitando como matéria-prima os resíduos de estábulo, fato que merece registro pelo pioneirismo dos seus proprietários. O biodigestor, na propriedade de José Olimpo, foi motivo de reportagem na TV Gazeta de Alagoas, no programa “Alagoas Agrícola“, patrocinado pela ASPLANA e LAJENSE S.A., mostrando as vantagens deste tipo de alternativa, de custo muito barato.

3 Comments on História da produção de energia elétrica em São José da Laje

  1. Gostei deste mergulho no Túnel do Tempo.
    Aprendi mais sobre a história de São José Laje, minha amada terra natal.
    Daslan Melo Lima
    Timbaúba, Pernambuco

  2. Luiz Ferreira Filho // 13 de dezembro de 2018 em 07:04 //

    Embora, esteja afastado da minha terra natal há muito anos, achei interessante saber um pouco mais sobre São José da Laje.
    Luiz Ferreira Filho
    Brasília- DF

  3. Gostei do q li e me deu saudade naci em maria maior não tenho nem foto filhote Abílio felisardo era encarregado do acude d Maria maior

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