História da informática em Alagoas

O primeiro computador a funcionar em Alagoas foi instalado na Fundação Instituto de Tecnologia e Pesquisas de Alagoas (Fitpal) em data próxima a 1970

Luiz Eugênio Barroca e Robson Paffer no I Salão de Informática em Alagoas, no anos de 1992

Edberto Ticianeli
Jornalista – 1483 MTE/AL

Foi somente em 1944, após algumas experiências com a construção de máquinas para facilitar cálculos, que o professor Woward Aiken, da Universidade de Harvard, nos EUA, conseguiu montar um equipamento que passou a ser considerada como o primeiro computador da história. O “Mark I” foi concebido, inicialmente, para guiar a trajetória de projéteis da Marinha de Guerra daquele país.

Dois anos depois, a Universidade da Pensilvânia apresentou o famoso ENIAC, o primeiro computador eletrônico, com seus 18 mil tubos de vácuo, circuitos e elementos de rápida ligação. Seus componentes eram muito caros. Pesava 30 toneladas e ocupava um espaço de 165 metros quadrados.

Os primeiros equipamentos comercializados surgiram em 1954 nos EUA. Eram fabricados pela Remington Rand sob encomenda e ainda eram experimentais.

Os computadores somente tiveram condições de produção em escala comercial a partir de 1958, com a substituição dos tubos de vácuos por transistores, anéis magnéticos e outros componentes em estado sólido, suficientes minúsculos e confiáveis, trabalhando a frio.

Em maio de 1960, a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro foi o primeiro cliente no Brasil da nova tecnologia ao adquirir um “computador eletrônico”. Com a compra de um “205” da Burroughs, a PUC passou a ser a primeira universidade latino-americana a ter um “cérebro eletrônico”.

No ano seguinte, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, no Rio de Janeiro, também começou a utilizar os tais “cérebros” e divulgava, em outubro, os dados do recenseamento iniciado em 1º setembro de 1960 — foi concluído em fins de março de 1961 — e esclarecia que os dados colhidos foram armazenados e tratados por um computador eletrônico adquirido à Remington Rand para aquele fim por 2,7 milhões de dólares. Outros investimentos para o funcionamento do equipamento iriam consumir 500 mil dólares, dos quais 237 mil na aquisição de uma impressora de alta velocidade e 270 mil numa máquina transportadora de dados dos cartões para as fitas magnéticas.

Anúncio do computador Burroughs 205 em 1960, na revista Manchete

A revista Manchete de 1º de outubro de 1960 informa que dez profissionais do IBGE (engenheiros, programadores e operadores) foram estagiar nos EUA para aprenderem a manusear “as poderosas e sensíveis combinações desse prodígio da cibernética, com um conjunto de 7.800 válvulas”, que “realizarão em apenas 18 meses uma tarefa que antes demandava nada menos de seis anos, e sem possibilidade de erro de cálculo”.

O gigantesco computador, que custou “uma fortuna”, era divulgado pela revista carioca como pesando 35 toneladas. Possuía “8.192 memórias de acesso rápido (na base de oito microssegundos) e de 32.788 de acesso normal (17 milésimos de segundo)”. Seus periféricos eram: “uma máquina de escrever, outra de perfurar fita de papel e uma de leitura fotoelétrica, afora as que permitem a leitura de informações. Poderá armazenar 15 milhões de dados em 20 rolos de fita magnética – número que basta para dar uma ideia de sua possibilidade”.

Rio Data Center operava em 1966 com um IBM 7.044

Alagoas na era da informática

Em Alagoas, os primeiros passos em busca dos “cérebros eletrônicos” foram dados no início de 1966, quando a Companhia de Desenvolvimento de Alagoas (Codeal) anunciou que pretendia criar um organismo com capacidade de acompanhar o progresso da ciência e da tecnologia, dotado de recursos necessários e de profissionais capacitados.

Quem elaborou o projeto sobre a viabilidade da implantação de um Instituto de Tecnologia e Pesquisas em Alagoas foi o professor e padre Antônio Tavares de Bragança, da Escola de Química de Sergipe e membro do Conselho Nacional de Pesquisas. Para ele, esse tipo de órgão não era novidade, considerando que o Instituto Tecnológico e de Pesquisas do Estado de Sergipe (ITPS) fora criado em 27 de junho de 1923.

Nesse projeto já se previa a ocupação do Grupo Escolar Alberto Torres, na Granja Conceição em Bebedouro, Maceió. A instituição teria as seguintes secções: a) Ensaio de Materiais; b) Química Bromatológica; c) Geografia e Cartografia; d) Geologia e Mineralogia; e) Meteorologia. Participariam da elaboração do projeto e da fundação desse Instituto o Estado de Alagoas, a Universidade Federal de Alagoas e a SUDENE.

Grupo Escolar Alberto Torres na Granja Conceição em Bebedouro, Maceió, na década 1950

A Fundação Instituto de Tecnologia e Pesquisas de Alagoas (Fitpal), futura Epeal, surgiu em 27 de outubro de 1967, vinculada à Secretaria de Planejamento de Alagoas.

A partir de 5 de julho de 1968, a Fitpal passou a contar com a significativa contribuição do engenheiro agrônomo alagoano Tarcizo Toledo Carnaúba. Formado em 1960 pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP, foi pesquisador na Seção de Frutas Tropicais no Instituto Agronômico de Campinas (IAC) até que o governador de São Paulo, Abreu Sodré, autorizou o seu afastamento para que pudesse “coordenar a implantação da Divisão Agrícola da Fundação Instituto de Tecnologia e Pesquisas do Estado de Alagoas”. A solicitação para essa cessão foi encaminhada pelo governador Lamenha Filho, atendendo a indicação dos secretários Ib Gatto Falcão e Roberto Macias.

Tarcizo Toledo Carnaúba foi quem trouxe o primeiro computador para Alagoas

Tarcizo Carnaúba logo assumiu a Diretoria Executiva da Fitpal. Segundo sua esposa, a também engenheira agrônoma Lygia de Almeida Carnaúba, foi ele quem trouxe para a Fitpal o primeiro computador a funcionar em Alagoas.

Lygia Carnaúba cita ainda que seu marido, que faleceu em 5 de janeiro de 2021 aos 85 anos de idade, “foi sempre um homem à frente de seu tempo. Temos como exemplo algumas de suas iniciativas à frente da Fundação Instituto de Tecnologia e Pesquisas de Alagoas (Fitpal), nos anos 1960, que na sua gestão chegou a ter cinco laboratórios de pesquisa e quatro estações experimentais, uma em cada região agrícola do Estado”.

Sobre o pioneiro computador instalado na Fitpal, foi comprado em data próxima a 1970. Tarcizo foi ao Rio de Janeiro e adquiriu um equipamento da Borroughs. Esse computador, segundo Lygia Carnaúba, fazia as folhas de pagamento do Governo, da Casal, da Ceal, da Telasa, do Banco do Estado, entre outros.

Quem também conheceu esse equipamento ainda em funcionamento, em meados da década de 1970, foi o engenheiro Marcus de Melo Braga, que descreveu o computador como um aparelho alimentado por conexões de plugs, como uma central telefônica.

O computador da Ufal

Após vários estudos, o Conselho Federal de Educação aprovou, em 15 de maio de 1971, a orientação para que fosse adotado o “sistema de créditos” e o regime de “matrícula por disciplinas” nas instituições de nível superior do país.

Justificava a adoção desse modelo por ser facilitador das transferências de alunos no sistema educacional, facilitando também maior flexibilidade aos planos de ensino e o estabelecimento de critérios de organização e execução curricular. Tudo isso para permitir a implantação da Reforma Universitária aprovada em 1968.

Essas mudanças geraram enorme quantidade de dados a serem tratados pelas administrações universitárias. Para responder a essa demanda em Alagoas, a Ufal instalou, em 1972, o Núcleo de Computação Eletrônica, vinculado à Pró-reitoria para Assuntos de Planejamento. Essa estrutura atenderia também as atividades de pesquisa e de administração da Universidade.

O primeiro computador, um IBM-1130 com uma impressora matricial da IBM-1132, foi alugado da sua fabricante, a norte-americana International Business Machines Corporation como parte de um convênio com a Universidade de São Paulo (USP). Para operá-lo foi treinado um grupo de profissionais, que também foi preparado para o ensino da disciplina Ciência dos Computadores.

IBM 1130 instalado na Ufal

Nesse primeiro grupo foi possível identificar a participação de Fernando Cardoso Gama, Maurilúcio Martiniano dos Santos, Afra Maria Barbosa, José Beder Leite e Washington Guimarães Bomfim.

Em depoimento para o Portal História de Alagoas, o ex-reitor Fernando Gama, um dos pioneiros na operação dos “Cérebros Eletrônicos” em Alagoas, lembrou que o primeiro vestibular da Ufal, com resultados apurados pelo computador, foi o de 1972. Lygia de Almeida Carnaúba, em depoimento memorialístico, informou que seu marido, Tarcizo Carnaúba, contribuiu levando a equipe da Fitipal para ajudar no fornecimento de dados para o computador da Universidade.

Prof. Fernando Gama em foto de José Ronaldo

Fernando Gama, que era o diretor do Núcleo de Computação Eletrônica, disse que dias depois da divulgação do resultado de 1972, com todos os aprovados já comemorando, descobriu-se um erro e que a sua correção alteraria a relação dos futuros universitários.

Na compilação dos cartões perfurados com as respostas, houve uma troca entre os dos concorrentes de Física e de Biologia. Fernando Gama, que também foi diretor do Centro de Tecnologia da Ufal, conversou com o reitor Nabuco Lopes e de comum acordo resolveram que a melhor solução era não mexer nos aprovados e acrescentar os que injustamente não tinham entrado naquela relação. Como eram poucos, um número próximo as duas dezenas, não houve dificuldade em reparar o erro.

A Ufal também foi pioneira na preparação de profissionais e professores, incluindo disciplinas dessa área do conhecimento nas graduações em Ciências Exatas, mas somente instalou o Curso de Ciência da Computação em 1986.

O Serpro em Alagoas

A instalação dos computadores da Fitpal, em 1970, e do Núcleo de Computação Eletrônica da Ufal, em 1972, levou o Governo do Estado de Alagoas a se interessar em criar seu Centro de Processamento de Dados em computadores. Quem primeiro se moveu para instalar essa estrutura foi o secretário José de Melo Gomes. No início de 1977, contando com a assessoria de Cícero Perel Simões, que estava na estava na Fitipal e acumulava a experiência de ter trabalhado na Petrobras, trabalhando com dados em Maceió, Sergipe e São Paulo.

Cícero Perel foi o primeiro alagoano a operar equipamentos de informática. Contratado pela Petrobras em 1966, começou trabalhando no escritório da empresa em uma das salas do Edifício Luz, próximo à Praça da Cadeia, no Centro de Maceió. Depois foi transferido para as instalações do Tabuleiro, ao lado do futuro Hospital Universitário, onde foi capacitado a operar uma perfuradora de cartões, antiga forma de fornecer dados ao computador — o da Petrobras ficava em Recife.

Cícero Perel foi o primeiro alagoano a operar computadores

Em 1969, quando o distrito operacional da Petrobras em Alagoas foi transferido para Aracaju, em Sergipe, Perel seguiu para o estado vizinho, onde a empresa não demorou a extinguir o núcleo local de processamento de dados, transferindo-o para São Paulo. Como os custos com a nova residência no Sudeste não eram subsidiados pela empresa, em 1971 Perel aceitou a orientação do amigo Zé Luiz e pediu demissão, voltando a Maceió, onde imediatamente foi contratado pela Fitpal, então processando as folhas de pagamento de várias secretarias e de outros órgãos.

Como era ele quem fazia a ponte entre a Fitpal e a Secretaria de Planejamento, foi chamado a prestar serviços ali. O secretário era José de Melo Gomes, que estava empenhado em criar um Centro de Processamento de Dados para o Estado.

A Burroughs Corporation, já atuante no mercado brasileiro e disputando espaços com a IBM, foi a primeira a apresentar proposta para realizar seus serviços em Alagoas. A Olivetti também oferecia serviços e equipamentos no Brasil.

Na época, esses grandes equipamentos exigiam manutenção permanente, o que inviabilizava sua comercialização. Optava-se pela locação. Eram computadores de grande porte, utilizando periféricos que soam estranhos atualmente: unidades de fita magnética, cartuchos de fita, leitora de cartão perfurado etc.

Foi Cícero Perel quem procurou procurou uma alternativa mais barata. Foi até Recife e ali manteve contato com a representação local do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), solicitando a instalação de um Núcleo em Maceió. O Serpro, vinculado ao Ministério da Fazenda, foi criado nos últimos meses de 1964.

Nota no extinto Jornal de Alagoas em 15 de julho de 1977 sobre inauguração do CPD

Depois de algumas reuniões com o secretário José de Melo Gomes, o convênio foi assinado e uma equipe de Pernambuco foi deslocada a Maceió para estruturar o Centro de Processamento de Dados da Secretaria do Planejamento.

A preparação dos futuros profissionais começou imediatamente, com a seleção de 40 pessoas para o curso/concurso. Era uma prova por semana e quem tivesse nota abaixo de sete, era eliminado. No final sobraram oito, que foram submetidos a uma nova fase de testes. Somente após a aprovação, foram admitidos.

Assim se constituiu o Núcleo Maceió do Serpro (NMA/Serpro), que mantinha vinculação com a 4ª URO, em Pernambuco. Foi inaugurado em 15 de julho de 1977 e passou a funcionar como o Centro de Processamento de Dados (CPD), já instalado no mesmo prédio ocupado até os nossos dias pelo ITEC.

Sede do IPD nos anos 90

Surge o Centro de Processamento de Dados/Fiplan

Em 1977, enquanto o CPD se instalava em Maceió com mainframes locados pela IBM e contando com o empenho de Cícero Perel Simões e José Luiz Simões Monteiro, nos EUA os jovens Steve Jobs e Steve Wozniak, da pequena Apple, já apresentavam ao público o primeiro microcomputador.

Também em 1977, Dennis C. Hayes e Dale Heatherington divulgavam o primeiro modem (modulador-demodulador para a transmissão de dados) convencional. Funcionava conectado diretamente à linha telefônica e controlado por microprocessador.

Bill Gates e Paul Allen, neste mesmo ano, criavam a ainda pequena Microsoft numa sala em um centro comercial em Albuquerque, no Novo México, USA.

Enquanto essas tecnologias e equipamentos não desembarcavam em Alagoas, o CPD/Fiplan investia na formação dos seus profissionais e já assumia a elaboração das folhas de pagamento do Governo, Casal, Ceal, Telasa, Banco do Estado, Caixa Econômica e outros.

Deputados alagoanos conhecem o sistema do IPD nos anos 90

O convênio com o Serpro existiu até 1º de março de 1980. A partir daí, com a contratação de todo o pessoal que havia sido demitido do Serpro, passou a funcionar o Instituto de Processamento de Dados – IPD.

Instituto de Processamento de Dados

Os primeiros microcomputadores do IPD, com terminais (IBM), começaram a funcionar entre 1984 e 1985. Mas foi somente na década seguinte que esses novos equipamentos permitiram a montagem as primeiras redes, interligando órgãos públicos com a central de processamentos do Instituto. Utilizavam ainda os monitores com tela verde, conhecidos popularmente como “Fura Olho”.

Raymundo Fernandes, um dos profissionais admitidos nas contratações de 1988, recorda dessa nova fase: “Na década de 1990 aconteceu o que chamamos de ‘baixar a plataforma’, ou seja, passou para uma arquitetura cliente-servidor (computadores de pequeno porte processando a informação de forma distribuída), a partir daí, começou a aparecer essa nova geração de sistemas operacionais, como o Windows, por exemplo”.

Raymundo Fernandes foi contratado pelo IPD  em 1988

A Internet, outra ferramenta importante para o IPD, surgiu em 1996, possibilitando a ampla utilização das operações por redes a partir de 1998.

O funcionamento em rede cobrou a formação de novos profissionais, que eram distribuídos pelos clientes do IPD: órgãos públicos, empresas e bancos. Um dos que mais colaborou para o êxito do novo sistema foi Yadir Gusmão, da Equipe Fazendária, que contribui decisivamente para a implantação, em 1997, do complexo Projeto de Informatização Fazendária.

Cícero Perel também estava entre os profissionais que atuavam nas sedes dos clientes. Coube a ele a missão de montar o sistema da Secretaria da Administração — atual Secretaria de Recursos Humanos e Administração Pública —, onde permaneceu até a sua aposentadoria.

Engenheiro Yadir Gusmão

Outro profissional que viveu o momento de transição tecnológica no IPD foi Luciano Botelho, que descreveu os detalhes desse processo no livro “Aspas Tecnológicas – A história da Informática Pública Alagoana pela ótica de seus construtores”:

“A programação era feita dessa forma: o analista ou programador fazia o código na linguagem de máquina e passava para a gente, que ia digitando toda a programação dele, com aquele catatau de cartões, 500, 1000, dependendo do tamanho do programa. Estes, eram passados na leitora do computador e arquivados e aí gerava o programa. Então, quando ia rodar o programa, se desse falha, o programador sabia onde ela estava, então tinha que consertar, aí pedia ao perfurador para fazer outro cartão, com quase o mesmo conteúdo, mudando apenas uma letra, uma instrução. Antes de rodar o programa, saía uma relação com os erros.

Posso não me lembrar quanto tempo decorreu, mas chegaram umas máquinas, se não me engano da marca Cobra, e saímos do cartão perfurado para os disquetes grandes, a gente armazenava neles o que digitava e depois esse conteúdo era passado para uma fita em rolo grande, onde saía todo percentual de erro, acerto, tudo.

Eu não posso dizer que venho do ábaco, mas venho do cartão perfurado, então quando nos foi apresentado um terminal onde a gente colocava um disquete e digitava tudo, logicamente tinha-se uma programação, você carregava a vaga memória desse equipamento com o programa que você ia digitar, neste caso dos equipamentos Cobra. Nós tínhamos um disco de “cinco alguma coisa” polegadas, que era o programa que a gente ia digitar, carregava a memória do computador com o programa e fazia todas as alterações, todas as digitações. Então, para mim, o grande foco foi essa evolução, sair de perfurar papel para digitar eletronicamente, daí veio a microinformática. Nessa época, tínhamos uma impressora no Instituto que muita gente não acredita que naquele tempo existisse uma impressora com uma capacidade daquela. Era a laser e fazia 60 páginas, frente e verso, por minuto. Penso que no início de 1992, era raro ter uma máquina dessas, era um monstro da IBM. Eu, como sempre curioso, todas as vezes que chamavam o Marcos Mendes da IBM para dar manutenção, eu ficava ao lado dele e anotava os erros, mas era tudo inglês técnico e daí era gozado, por que tínhamos um vigilante da portaria, o Zé Carlos, que me ajudava, pois era autodidata e traduzia tudo que eu queria e só não fazia falar, ele traduzia tudo, só não tinha a pronúncia, mas em tradução, ler e tudo o mais, o Zé Carlos era fantástico”.

Luciano Botelho acompanho de perto as principais transformações tecnológicas no IPD

Em 2000, o Governo do Estado concordou com a extinção o IPD para que uma nova organização, uma autarquia, facilitasse o funcionamento do órgão. Foi proposta a criação do Instituto de Tecnologia, que somente aconteceu em 2002. Nesse intervalo, os servidores mantinham-se no trabalho, recebendo seus salários, mas sem vínculo com qualquer instituição.

Nasce o Itec

O Instituto de Tecnologia em Informática e Informação do Estado de Alagoas foi criado em 2002, quando o governador era o engenheiro Luiz Abílio. Seu primeiro presidente foi o amazonense Ruy Barbosa Correia, que tinha como superintendente Ednardo Quintiliano.

Quem sugeriu a criação de uma autarquia foi o então secretário Luciano Barbosa. Argumentou ele que dessa forma se facilitaria a aquisição de material, algo que vinha travando o IPD. A autarquia, anos depois, foi substituída por uma empresa sem personalidade jurídica.

Uma das primeiras impressoras do IPD

Primeiras empresas privadas de informática em Alagoas

A primeira empresa privada alagoana a explorar o mercado de serviços em informática foi a Processa, criada em 1975 como resultado da associação entre Fernando Cardoso Gama e Maurilúcio Martiniano dos Santos.

Também alugava os equipamentos da IBM e entre os seus clientes estavam escritórios, lojas e bancos, entre eles o Banco Nacional do Norte. Tinha sede na Rua Barão de Anadia, em frente ao antigo Palácio Episcopal, logo após a Estação Ferroviária. Depois construiu moderna sede na Av. da Paz, em Jaraguá. Funcionou até 1980. Naquele ano o professor Fernando Gama deixou Maceió e se instalou temporariamente no Rio de Janeiro, onde participou de um curso da Escola Superior de Guerra.

A empresa foi vendida à Procenge S/A (Processamento de Dados e Engenharia de Sistemas), dirigida então pelo engenheiro alagoano Roberto Mário Gomes de Mattos Mafra. Eram seus sócios Márcio Lacerda, José Cláudio Oliveira, Danilo Lins e Roberto Pinto de Medeiros. Tinha sede em Recife, na Estrada do Arraial, nº 3.108, bairro de Casa Amarela.

Com a aquisição da Processa, que manteve essa denominação como uma empresa coligada, a Procenge passou a ter cerca de 90 clientes. Utilizava três Cobra 400, cada um deles com oito terminais, um deles em Maceió, e um IBM 370115, além de 10 perfuradoras.

Roberto Mário Gomes de Mattos Mafra, da Procenge

Alagoas e as primeiras eleições com computadores no Brasil

Em 1986, com o anúncio das eleições diretas para governador, os Tribunais Regionais Eleitorais foram orientados a melhorar o processo de apuração de votos e autorizados contratar empresas para esse serviço. Buscava-se uma contagem de votos mais rápida e com a redução da possibilidade de fraudes.

Quem apresentou a proposta e venceu a licitação junto ao TRE de Alagoas foi a Processa, representando a Procenge, que havia se unido a mais três empresas (Paraná, Brasília e Paraíba) para disputar essa contratação.

Anúncio da Procenge publicado no Diário de Pernambuco de 2 de dezembro de 1986

O sistema elaborado pela Procenge atuava sobre os mapas de apuração elaborados pelas mesas escrutinadoras, cruzando os números de eleitores, votantes e votos. Quando se encontravam discrepâncias, o TRE era informado imediatamente para refazer a contagem.

Os dados apurados em Maceió eram processados em Recife, para onde eram transmitidos via um modem discado, utilizando linha telefônica de 56k de velocidade. O mainframe processava rapidamente e devolvia o resultado pela mesma via. Cada micro tinha uma impressora, que gerava os mapas entregues em seguida ao TRE.

O sistema, que também foi utilizado em Brasília, Paraná e Paraíba, funcionou bem e foi muito elogiado. É considerado o precursor da urna eletrônica no Brasil.

5 Comments on História da informática em Alagoas

  1. Claudio de Mendonça Ribeiro // 31 de janeiro de 2023 em 08:03 //

    Prezado Ticianeli, parabéns.
    Muito grato pela publicação desta matéria.
    Fraternal abraço,
    Claudio Ribeiro

  2. Ruslan Queiroz // 31 de janeiro de 2023 em 12:21 //

    Parabéns!
    Excelente Flashback Digital, emocionante para mim, revi alguns professores e amigos.

    Sugiro uma EXCLUSIVAMENTE sobre a “INTERNET em ALAGOAS” , com os pioneiros:
    Noaldo Dantas (DialNet), Paulo Marinho ( FEJALNET), Paulo Minuzzi (OFM), Alexandre Lira (SUNET), eles pavimentaram com todos os desafios tecnológicos da época a estrada digital dessa e das novas gerações, que de maneira Inadvertida ainda diz: “Hoje a Internet está LENTA!”, eles não sabem o que é uma internet lenta de verdade 🙂

    Abraços!

  3. Falta contar tb a história do início da informática na imprensa alagoana.

  4. Ótimo site!
    A aprendizagem ou interação entre seres vivos e dispositivos eletrônicos é algo como uma simbiose. Acho o bahaviorismo em si, não tem como interpretar essa aprendizagem entre seres vivos e computadores (móvel ou não)
    Att,
    David

  5. eram transmitidos via um modem discado, utilizando linha telefônica de 256k de velocidade.

    Não existia essa velocidade de modem. As velocidades eram 28k, 33k, 48k, 56k

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