Amélia Rosa foi a mãe do Silva

Obras de saneamento na Av. Amélia Rosa em 1975

Durante muito tempo considerou-se que a Av. Amélia Rosa na Jatiúca, em Maceió, recebeu essa denominação como homenagem à irmã do marechal Deodoro da Fonseca, Amélia Rosa da Fonseca.

Para surpresa de muitos, não foi a ilustre alagoana a homenageada.

Quem ajudou a corrigir esse erro histórico foi o engenheiro Carlito Lima, que era um estagiário de engenharia na Cohab-AL no período em que ocorreu a aprovação da lei com a denominação.

Av. Amélia Rosa na década de 1970

Essa história tem início quando a Companhia de Habitação Popular de Alagoas (Cohab-AL), uma sociedade por ações de economia mista que havia sido fundada em 13 de junho de 1966 para atender as exigências do Sistema Nacional de Habitação, resolveu construir 1042 casas populares criando os conjuntos habitacionais que depois constituíram principalmente o bairro da Jatiúca.

Av. Amélia Rosa em 1976, nas proximidades do terreno do futuro Shopping

As obras foram iniciadas em 1969 e a empresa contratada foi a pernambucana Construtora Silva Ltda, que atuava principalmente em seu estado, onde já havia erguido várias obras para a Cohab local, a exemplo das 400 casas populares iniciadas em março de 1968 no município de Gravatá.

Quando do início das obras em Maceió, a intenção era denominar o local como Bairro Novo ou governador Lamenha Filho. As casas e apartamentos foram entregues em junho de 1970 e Jatiúca permaneceu sendo Jatiúca, com  suas ruas passando a receber nomes por iniciativa dos vereadores da capital.

Uma delas já era conhecida dos maceioenses desde 1960, quando o “local chamado Jatiúca, que liga [a praia de Jatiúca] a Avenida D. Constança, no Poço”, passou a ser conhecido oficialmente como Av. Jatiúca, conforme estabeleceu a Lei nº 710, de 25 de abril de 1970. Essa via estava pavimentada desde 1963.

A Av. Jatiúca voltou a ser objeto de ato legislativo logo após as inaugurações dos conjuntos do novo bairro. Foi a Lei nº 1.806, de 7 de maio de 1971, que definiu a renomeação da avenida “que liga a praia de Jatiúca à Av. Gustavo Paiva” como Av. Dr. Hindemburg Coelho.

Vista aérea da Av. Amélia Rosa

Quatro anos depois outra lei, a nº 2.226 de 25 de junho de 1975, retirou a homenagem ao Dr. Hindemburg Coelho e denominou a avenida como Dr. Júlio Marques Luz.

Bem próximo da Av. Jatiúca, outra via importante para o bairro também foi nominada em 1971. A Lei nº 1887, de 17 de dezembro, determinou que a “2ª rua paralela, depois da Av. Hindemburg Coelho, onde está construído o conjunto Jardim Cecília e Pratagy, no bairro de Jatiúca, iniciando na Av. D. Constança e terminando na Av. Contorno” fosse denominada Av. Amélia Rosa.

A iniciativa legislativa para esta denominação foi do vereador Walter Pitombo Laranjeiras, o Toroca, que atendeu a solicitação dos envolvidos com as obras da Construtora Silva Ltda naquele bairro.

Segundo Carlito Lima, a iniciativa homenageava a mãe do proprietário da empresa, uma senhora que à época morava em Arcoverde, Pernambuco. Esta pesquisa descobriu que naquela data ela já havia falecido.

A editoria do História de Alagoas identificou que o empresário que esteve em Maceió naquele período era o advogado Deoclécio Nepomuceno da Silva, um investidor no ramo da construção civil que teve participação acionária em vários empreendimentos, a exemplo da Pajeú Construções S. A., constituída em 1970 no município de Arcoverde e com endereço na Av. Zeferino Florêncio Galvão, nº 116. A falência desta empresa foi decretada no dia 11 de maio de 1973, quando Deoclécio já não era mais seu diretor presidente.

Advogado Deoclécio Nepomuceno da Silva, empresário Abel da Cruz, Adriano Couto (da Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia) e o jornalista Anibal Júnior em 1975

Entre 1977 e 1978 Deoclécio envolveu-se no rumoroso caso Hoffmann Bosworth Engenharia S/A, quando foi acusado de fraudar documentos para se apropriar da empresa após a morte do empresário português Abel da Cruz, seu acionista principal.

Deoclécio faleceu tragicamente no dia 23 de dezembro de 1978.

Sua mãe, a homenageada Amélia Rosa Nepomuceno, havia falecido às 11h30 do dia 26 de fevereiro de 1970 em Caruaru, onde residia à Rua Joaquim Távora, nº 276.

Em 1976, Dona Amélia Rosa perdeu a honraria e a Câmara Municipal de Maceió resolveu homenagear alguém mais próximo dos alagoanos e escolheu o Dr. Antônio Gomes de Barros. A modificação foi autorizada pela Lei nº 2.326, de 27 de dezembro de 1976.

A exemplo de outros logradouros de Maceió, a vontade popular se impôs e a Av. Jatiúca venceu o Dr. Hindemburg Coelho e o Dr. Júlio Marques Luz. Da mesma forma que a D. Amélia Rosa não deixou que o ilustre alagoano, Dr. Antônio Gomes de Barros, se estabelecesse honorificamente naquele bairro.

Como resolver o impasse entre as denominações oficiais e a vontade popular? Para a Av. Jatiúca não se precisaria de muito esforço para se construir a justificativa e preservar o primeiro nome que a avenida recebeu, mas no caso da D. Amélia Rosa, não se tem nenhuma informação sobre suas qualidades para defender a manutenção da homenagem.

Uma solução poderia ser a oficialização da Av. Amélia Rosa como sendo uma tardia honraria à alagoana irmã do marechal Deodoro, D. Amélia Rosa da Fonseca.

Os doutores Júlio Marques Luz e Antônio Gomes de Barros podem e devem continuar lembrados em outras novas vias ou rodovias de Alagoas.

13 Comments on Amélia Rosa foi a mãe do Silva

  1. Acompanho sempre tudo relacionado a história….fico deslumbrado com o passado …parabéns

  2. Joao Batista Costa Jr Boleado // 25 de janeiro de 2019 em 05:47 //

    Fantástica essa história, sou louco por fotos e histórias como essa. Parabéns aos envolvidos. 👏👏👏👏👏👏

  3. Genésio José dos Santos // 25 de janeiro de 2019 em 06:18 //

    Muito interessante esse resgate da história dos logradouros maceioenses. A juventude alagoana precisa conhecer mais de perto a sua história para construir mais fortemente sua identidade locacional.

  4. A história de um povo é de uma importância sem limites. Por isso tudo que se refere ao passado me atrai, pois além de conhecimento passamos a “viver” a época

  5. Walber Eüller // 4 de fevereiro de 2019 em 20:25 //

    Sou morador da Jatiúca a mais de 40 anos,e acho que o nome da avenida em questão deveria ser Amélia Rosa mesmo.
    Muito boa essa história do nosso bairro.
    E já deixo aqui uma pergunta: Existem bandeiras que representem os bairros de Maceió?
    Se existe,como é a da jatiúca?
    Será que tem um “carrapato”? kkkk!!!
    Espero as respostas.

  6. Kristhyna R. M. // 17 de fevereiro de 2019 em 10:03 //

    Muito bom esse resgate. Bem diferente da história que aprendi. Me disseram que antes de virar bairro havia uma senhora nessa região conhecida por seu ofício, a arte de lavar roupas finas e enxovais, que se chamava Amélia Rosa.
    Essa história da lavadeira era bem mais bonita…

  7. O Carlito Lima me contou essa história tenho até gravado, mas vc foi além das informações do Carlito. Parabéns vou copiar e colocar em nosso site http://www.bairrosdemaceio.net com os devidos créditos.

  8. Arlindo Lopes // 28 de janeiro de 2021 em 18:52 //

    Cheguei na Jatiúca em 1972, em 1973 iniciou a pavimentação da av.jatiuca, não como relata que foi em 1963

  9. Caro Arlindo, você está se referindo que em 1973 houve pavimentação ASFÁLTICA. Em 1963 a pavimentação foi em terra batida, principalmente utilizando o nosso tão conhecido barro.

  10. Tatiana Magalhães Florêncio // 9 de julho de 2022 em 20:41 //

    Acabo de descobrir que a Amélia Rosa da avenida era a minha bisavó!!! Não conheci vovô Deoclécio, mas minha mãe é a única filha dele que acabou vindo morar em Maceió. Não sabíamos da história e ela ficou emocionada. Obrigada, Carlito!

  11. Flávio Lima Silva // 10 de julho de 2022 em 09:24 //

    Como a Av. Amélia Rosa continua conhecida por esse nome e não vejo justificativa para que continuasse homenageando uma pernambucana que, por sinal, nunca morou aqui, o mais correto seria denominar a artéria de Amélia Rosa da Fonseca

  12. HERBERTH NOBRE // 10 de julho de 2022 em 13:17 //

    Excelente ideia a de oficializar o nome como Av. Amélia Rosa, sendo honenageada a alagoana irmã do Marechal Deodoro. À primeira homenageada, ficaria o agradecimento por ter emprestado o nome e a boa lembrança dos seus familiares.

  13. AV Amélia Rosa onde ficava a casa da minha avó hoje funciona o salão de cabelereiro das minhas tias filhas do segundo casamento. Quando minha avó comprou essa casa na década de 60 meu pai já era pré adolescente não teve apoio nenhum do meu avô que não ligava pra nada tanto fazia ter ou não ter o futuro dos filhos um teto para a família não ficar no relento. Quando eles se separaram por que ele tinha arranjado outra família além das muitas amantes ela separou de boca (nunca aceitou divorciar) foi para são Paulo e só pediu que ele cuidasse em pagar a hipoteca da casa ela abria mão da pensão da policia que ela exigiu no quartel por que senão os filhos morriam de fome e ela lavava roupa para complementar a renda então foi embora para são Paulo e ele traz a segunda família (a mulher na época ja tinha alguns filhos dele) alguns deles moram lá ate hoje em meados da década de 80 ela morre jovem em são Paulo estava se operando iria aposentar sonhando em voltar a Maceió mas não teve tempo os filhos dela não receberam o que era direito os irmãos por parte de pai se apossaram da casa e hoje é moradia e salão de cabelereiro enfim justiça só de Deus e tá tudo certo fica lá a casinha da minha avó que ela sonhava em morar novamente morreu e não conseguiu voltar na Av Amélia Rosa.

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