Tributo à antiga Escola Pública

Luiz Ferreira da Silva em dezembro de 2012

Capa do livroTrecho do livro de mesmo título do escritor e agrônomo Luiz Ferreira da Silva, lançado em 2013 pelo Grupo Editorial Scortecci, São Paulo. É um “justo tributo aos seus mestres, colegas e servidores da educação pública em Alagoas”, como explica Manoel Tourinho na apresentação da publicação. Quem se interessar em conhecer este ou outros livros do autor, pode entrar em contato com ele pelo e-mail luizferreira1937@gmail.com.

………………

O Exame de Admissão

Naquele tempo, década de 1950, a meninada oriunda dos grupos escolares e escolas particulares teriam que se submeter ao exame de admissão, uma espécie de vestibular para poder iniciar a segunda etapa da sua formação educacional, o ginásio, quatro (4) anos mais. Uma peneira para se chegar ao científico, mais três (3) anos.

O Colégio Estadual de Alagoas — CEA — era o mais concorrido e, por tal razão, tido como o mais difícil de aprovação. Isso porque era gratuito e mantinha um bom nível de ensino.

Lembro-me muito bem das provas. O ponto alto uma redação, que a gente treinava com afinco nos educandários de origem. Era colocado a nossa frente um cavalete dotado de um álbum seriado, cujas páginas se compunham de paisagens coloridas. O examinador selecionava uma delas, a partir da qual o aluno descrevia o que ele imaginava representar aquelas gravuras, interpretando o tema visualizado. Além da avaliação pelo conjunto da obra, era analisada a ortografia, caligrafia e clareza interpretativa.

Autor em dezembro de 1954

Autor em dezembro de 1954

As redações sempre começavam assim: “O quadro que se encontra a minha frente…” e aí se fazia a composição (como também era chamada), enfocando mensagens que a paisagem parecia dizer.

Em síntese, era temida. Reprovava bastante. Outro temor, o “carroção”, uma espécie de conta composta das quatro operações interligadas, que exigia muita atenção na ordem dos cálculos prevalentes.

Tal “vestibular mirim” da minha turma ocorreu em dezembro de 1950. Não sei precisar o número de participantes, mas deve ter ultrapassado a casa dos 150, tendo sido aprovados 60%, ao que posso estimar, considerando o quantitativo matriculado na primeira série ginasial — 114 — incluindo os repetentes.

Não tive dificuldades no exame, obtendo boa colocação. Isso se deveu aos meus anos, em Coruripe, cursando no Instituto São João do Professor Manuel Cecílio de Jesus, que facultava uma excelente formação, reconhecida pelo Colégio Diocesano de Penedo, haja vista a performance dos Cururipenses abastados que lá continuavam os seus estudos.

E, adicionalmente, a contribuição da Dona Neda Ramalho, dedicada mestra do Grupo Escolar Experimental, em Maceió, no qual conclui o curso primário. Em março de 1951, a minha turma, aqui apelidada de Turma do Caroço, composta de meninos tão somente — a maioria da classe pobre — de vários bairros e do interior, ultrapassava os umbrais do casarão da Rua do Livramento, com muita expectativa e antevisão de um futuro promissor.

O Início de Tudo

Lembro-me muito bem do primeiro dia de aula. Os calouros agrupados em frente ao Foto Fon, muitos se conhecendo naquele instante, ansiosos para “tomar posse”, mas sem coragem de enfrentar os veteranos que se postavam no portão de entrada para o “batismo”.

Rua do Livramento em 1920 - Lyceu

Liceu Alagoano, na Rua do Livramento. Depois seria o Colégio Estadual de Alagoas

Foi quando conheci Julmário que, assim como eu, procurava um jeito de entrar sem tomar o trote. E juntos, depois de toda galera ter adentrado, passamos correndo, sem deixar de levar umas reguadas nas costas, não dando certo a estratégia.

Lá dentro, outro mundo. No lado direito, a sala da Turma A, que ia de A a J. Do lado oposto, a da Turma B, de J a W. Ambas com estrutura própria composta de um galpão com bancos de cimento para os minutos de intervalo das aulas. Servia para bater papo, jogar bola de gude com uma das mãos servindo de trave, rever matérias, discutir futebol e sacanear uns aos outros. No fundo, a sala de canto orfeônico.

No outro lado, havia um bar que vendia lanches e sucos. O banheiro ficava no fundo, bem como as dependências esportivas para as aulas de educação física.

Tudo era diferente em relação ao primário, exigindo uma adaptação aos novos paradigmas. No meu grupo escolar, era uma só Professora que ministrava as aulas de português, aritmética, geografia, história, ciências, religião. Havia uma interação perfeita.

Agora, oito (8) professores — Português, Matemática (não se dizia mais aritmética), Geografia, História Geral, Francês, Desenho, Trabalhos Manuais e Canto. Ao invés da Dona Neda, lá do Grupo Escolar Experimental, em frente à Igreja São Benedito, respectivamente, Lauro Costa, Petrônio Viana, J. S. Camerino, Jaime de Altavila, Vanilo Galvão, Vital Barbosa, Jesualdo Ribeiro e Odilon Chagas.

E o sistema das aulas era bem diferente. Não havia o monitoramento como no curso primário e a responsabilidade passava a ser individual, perdendo-se o “pageamento” da mestra presente.

No primeiro semestre eu sofri para me adaptar, refletindo em notas baixas, quando no primário era um dos primeiros da turma. Mas me recuperei nas parciais (junho e novembro), passando para a segunda série com uma boa média, entre os melhores da turma.

(…)

1 Comentário on Tributo à antiga Escola Pública

  1. José Oliveira Cavalcanti // 28 de julho de 2016 em 08:58 //

    Estimados Luiz Ferreira e Família, Bom Dia.
    Você Escreve Muito Bem, Pois Você, Coloca o Leitor Dentro do Ambiente Que Você Viveu, Inclusive
    Com os Personagens Que Você Descreve. Parabéns !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
    Obs : Como Colaboração, o Sobrenome do Prof.Odilon, era Chaves.

Deixe um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*