Visita de Afonso Pena a Alagoas em 1906

Jaraguá no início do século XX

O vice-presidente da República, Afonso Augusto Moreira Penna, foi eleito presidente do país no dia 1º de março de 1906. Antes de tomar posse esteve em Alagoas no dia 29 de maio, como parte de uma excursão que fez por vários estados brasileiros.

Nesta viagem pelo Brasil, do Amazonas ao Rio Grande do Sul, o presidente percorreu 21.459 quilômetros. A excursão começou no dia 16 de maio de 1906, no Rio de Janeiro, e terminou em Belo Horizonte, no dia 24 agosto do mesmo ano.

Afonso Pena

O futuro presidente queria conhecer, pessoalmente, o que existia nos estados. Ver a real situação das indústrias, escolas, quartéis, hospitais, repartições públicas, portos e ferrovias.

Os jornais da época publicavam que Afonso Pena estava dispensando as recepções festivas para “poder ver as zonas visitadas em seu estado normal e, desta forma, verificar as suas necessidades reais”.

A viagem apresentou uma novidade para época: foi acompanhada de perto pela imprensa. Foram destacados 16 jornalistas para a excursão. A presença da comitiva nas cidades era noticiada detalhadamente nos jornais e a revista Kosmos publicou várias reportagens com farto material fotográfico.

Recepção na ponte de Jaraguá

Recepção na ponte de Jaraguá

Além da cobertura da imprensa, a viagem ficou registrada no diário pessoal de Afonso Pena e em dois livros: A viagem do dr. Afonso Pena. Notas e impressões, de Paulo Vidal, da Gazeta de Notícias [Rio de Janeiro, Tipografia Rebelo Braga, 1907]; e Viagem pelo Brasil, 12 de maio a 24 de agosto de 1906, de Álvaro Astolfo da Silveira, do Minas Gerais [Belo Horizonte, Imprensa Oficial do Estado de Minas, 1906].

Eis o roteiro da passagem por Alagoas do presidente Afonso Pena, com anotações do seu diário:

29 de maio – Maceió. Farol avistado às 4h; possibilidade de chegar às 5h. “Bordejando por motivo outro que não de navegação”. Chegada a Maceió às 8h. Trajeto de 222 km em 12 horas, descontadas a parada na saída da barra e o tempo “bordejando”. Desembarque na ponte Jaraguá às 9h.

Iluminação a “arco voltaico”, geração a vapor, por empresa privada; preço: 170 a 300 réis “por vela-mês”, conforme o número de lâmpadas da casa. Iluminação pública não se acende nas noites de luar, de acordo com a “folhinha”; incômodo, quando o tempo está encoberto ou chove.

Preço do abastecimento de água: 6$000 réis por mês por 200 litros/dia. “Comparado com o de Belo Horizonte este preço é exagerado, pois que são cada 1.000 litros a 1$000; entretanto, ainda é a metade do preço por que é pago na Bahia. Ali, a empresa particular que explora o abastecimento d’água, exige 12$000 mensais por 200 litros diários, o que dá o preço de 2$000 por 1.000 litros”.

Recepção no Largo dos Martírios

Recepção no Largo dos Martírios

30 de maio – Visitadas duas usinas de açúcar; e duas fábricas de tecidos da “estação da Cachoeira”, que tinham quase a mesma diretoria. “As duas fabricas estão situadas à margem do ribeirão Mundaú, que tem uma cachoeira donde sai o canal, de quase 500 metros de extensão, portador da água que fornece a força motora dos maquinismos de ambas”. Dividendos atingem 60%.

?? – Sindicato Agrícola, que controlava a “importante e adiantada indústria açucareira. Aí encontramos, afinal, dados positivos sobre a indústria alagoana que revelou ser organizada sistematicamente”.

?? – A partir de Alagoas, finalmente a ferrovia desempenha um papel mais efetivo como meio de transporte entre os estados. Viagem para o Pernambuco em trem especial da Great Western, elogiada pela “eficiência” e “conforto”. Em Serra Grande, última estação antes da divisa, desembarcam as autoridades alagoanas. Paradas no percurso para visita a usinas de açúcar e fábricas de tecidos.

A visita nos jornais

Vários jornais noticiaram as atividades do presidente Afonso Pena em Alagoas, todos publicaram reportagem detalhando os eventos que marcaram a visita. A seguir, um resumo dessa cobertura.

Recepção a Afonso Pena no Palácio do Governo.

Recepção a Afonso Pena no Palácio do Governo.

A recepção no porto de Jaraguá foi realizada por várias autoridades — incluindo o vice-governador em exercício, Coronel Antônio Máximo —, que deram boas-vindas ao presidente ainda a bordo do paquete Estrela.

Na Praça Wanderley de Mendonça (atual Praça Dois Leões) ficaram as tropas do 33º Batalhão, da Escola de Aprendizes de Marinheiros, Batalhão de Polícia, além de uma representação dos estudantes da Faculdade de Direito do Recife.

A comitiva presidencial seguiu de bonde até o Palácio do Governo, para onde também se deslocaram as tropas para a recepção protocolar. Durante o trajeto, o presidente era saudado pela multidão que se formou no percurso.

Após a recepção no Palácio, o presidente visitou o prédio da Intendência Municipal, o Museu Comercial da Perseverança e Auxílio, a Assembleia Legislativa (então Congresso Estadual), a Delegacia Fiscal, repartição dos Correios, Catedral Metropolitana, Alfandega, Associação Comercial, Escola de Aprendizes de Marinheiro, Enfermaria Militar, Quartel do 33º e, por último, visitou o bispo Dom Antônio Brandão, para depois se recolher ao Palácio, onde estava hospedado. Naquela noite, ainda foi oferecido um banquete à comitiva presidencial.

No dia seguinte, às 7 horas da manhã, o presidente embarcou em um trem com destino a Atalaia. Esse embarque se deu no trecho dos trilhos mais próximo dos fundos do Palácio. Na passagem por Fernão Velho, foi saudado pelos operários da União Mercantil.

Na Usina Utinga, Afonso Pena chegou às 8h30 e foi recebida pelo Comendador Luiz Leão, sócios e familiares. Lá conheceu o Campo de Experiência, a Estação Agronômica da Sociedade de Agricultura e a planta industrial da usina. Em Rio Largo, visitou as fábricas das Companhias de Fiação e Tecidos e Progresso Alagoano. Todos almoçaram na Cachoeira em recepção oferecida pelo Comendador Teixeira Basto.

Em Atalaia, o presidente visitou a Companhia União Mercantil a Usina Wendesmet, onde o Barão de Wendesmet ofereceu um jantar à comitiva. A chegada a Maceió só se deu às 20 horas.

No dia seguinte, 31 de maio, Afonso Pena conheceu o Lyceu de Artes e Ofícios, Instituto Histórico, Farol de Maceió, Senado e o Colégio do Sagrado Coração de Jesus. A comitiva partiu em trem especial para Recife no dia 1º de junho, encerrando a visita a Alagoas.

3 Comments on Visita de Afonso Pena a Alagoas em 1906

  1. Boa noite. Onde poderia encontrar as obras citadas no texto:
    A viagem do dr. Afonso Pena. Notas e impressões, de Paulo Vidal, da Gazeta de Notícias [Rio de Janeiro, Tipografia Rebelo Braga, 1907];
    Viagem pelo Brasil, 12 de maio a 24 de agosto de 1906, de Álvaro Astolfo da Silveira, do Minas Gerais [Belo Horizonte, Imprensa Oficial do Estado de Minas, 1906].

  2. O primeiro está na coleção Miguel Calmon – Museu Histórico Nacional / Rio de Janeiro.
    O segundo é encontrado no Arquivo Público Mineiro – Belo Horizonte/MG.

  3. Tenho todas fotos dele que ele tirou de Maceió Alagoas todas nas nuvens original.

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