Mozart Damasceno, o bom burguês

Rua do Comércio em Murici, terra natal de Aurino Maciel
Mozart Damasceno

Mozart Damasceno

O comerciante Mozart Verçosa Damasceno nasceu no dia 19 de outubro de 1925 em Murici, Alagoas. Era o filho primogênito de Hermes Hernesto Damasceno e Maria do Carmo Verçosa Damasceno, que tiveram oitos filhos: Mozart, Delane [1926-1998], militar aposentado; Eraldino [1928], militar aposentado e gerente comercial; Eraldina [1930], dona de casa; Carlita [1937-2007], professora; Clementino [1934], funcionário público; Hermes [1936-2009], militar aposentado e comerciante e Maria Theresa [1940], professora, bancária e corretora.

Mozart foi casado com Isaltina Amazonas, mas não tiveram filhos. Estudou no Colégio Batista Alagoano em Maceió, onde cursou o antigo ginasial e colegial, mas em função do falecimento do pai, sendo o filho mais velho, parou os estudos e voltou para Murici, para administrar os negócios da família.

Como comerciante, fez prosperar o empreendimento da família, alcançando um patamar de destaque em toda a região do Vale do Mundau. Faleceu no dia 2 de junho de 1987, tendo sido sepultado em sua cidade natal, Murici.

Socialismo

Em pé: Jonas Cornélio, Paulo da Caixa, George Lopes, Mozart Damasceno, Delane Damasceno e Eraldo Damasceno. Agachados: Hermes e Clementino Damasceno

Em pé: Jonas Cornélio, Paulo da Caixa, George Lopes, Mozart Damasceno, Delane Damasceno e Eraldo Damasceno. Agachados: Hermes e Clementino Damasceno

O contato com as ideias socialistas se deu no pós-guerra, em 1945, quando em uma conversa com um cearense vendedor de tecidos ouviu dele informações sobre as conquistas do socialismo na União Soviética. Quis saber a fonte daquelas notícias e assim conheceu o livro O Poder Soviético, de Giulette Jonhson.

Mais tarde, como era amigo, dos tempos da infância em Maceió, de Jayme Miranda e de Nilson Miranda, passou a militar no Partido Comunista Brasileiro, o PCB.

Entre 1945 e 1964, participou de várias atividades e reuniões, sempre acompanhado por Nilson Miranda. Em Murici, não conseguiu estruturar o partido, mesmo tendo alguns adeptos.

Em depoimento a Geraldo de Majella, em 1984, Mozart explicou o insucesso partidário em Murici: “Isso aqui é uma zona de latifúndio. É uma zona da ‘pesada’, sabe? Terra cercada de usinas. Eu sempre notei a dificuldade do Partido se estruturar aqui, inclusive para fazer um comício. O Jayme [em 1952] veio na marra! Pedro Timóteo, que era o cacique político daqui, líder do governo na Assembleia Legislativa, disse: ‘Hoje o sangue dá no meio da canela em Murici, mas o Partido não faz esse comício’.”

Marcelo Vieira, Xavier, Cícero Souza Nenén), José Moura Rocha e Mozart Damasceno

Marcelo Vieira, Xavier, Cícero Souza Nenén), José Moura Rocha e Mozart Damasceno

Com o golpe militar de 1964, foi procurado em Murici por um destacamento policial comandado pelo delegado Alberico Barros, o Barrinhos, que ficou conhecido em Alagoas pela violência e arbitrariedade. Sabendo que Mozart era amigo do prefeito Cauby de Freitas, Barrinhos solicitou que ele levasse Mozart até a Secretaria de Segurança em Maceió para evitar a prisão em Murici.

Na capital foi interrogado pelos delegados Fernando Costa e Rubens Quintella e por militares do Exército (Tenente Madalena e Capitão Damaso).

Sobre o Tenente Madalena, Mozart destacou que ele era muito amigo do seu irmão Clementino Damasceno e que de vez em quando ria. “Eu pensei: ‘esse cara está me gozando’. Muitos anos depois é que vim saber que ele era amigo do meu irmão, Clementino. E ele já estava naquelas perguntas de gozação porque ele era muito amigo, do peito mesmo, do Clementino, sabendo que eu era irmão dele”.

Paulo Mendes Rocha, Agostinho Dias de Oliveira, ex-deputado pernambucano e Mozart Damasceno no Bar das Ostras em Maceió no início da década de 1960

Paulo Mendes Rocha, Agostinho Dias de Oliveira, ex-deputado pernambucano e Mozart Damasceno no Bar das Ostras em Maceió no início da década de 1960

Ficou preso por dezenove dias e se referiu a este período como os melhores dias que tinha passado na vida. “Porque eu descansei – estava precisando de um descanso mesmo – e convivi com uma rapaziada inteligente”. Ficou detido na cela 12, na parte superior da penitenciária, dividindo a o espaço com Rubens Colaço e outros presos comuns.

Ao definir Mozart como um comerciante, mecenas, ecologista e prático em manipulação de ervas medicinais, Geraldo de Majella afirma que ele foi uma das figuras humanas mais bonitas que conheceu.

*O livro Mozart Damasceno, o bom burguês, de Geraldo de Majella, pode ser baixado gratuitamente aqui.

Mozart Damasceno

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7 Comments on Mozart Damasceno, o bom burguês

  1. JOSE DENIO DA SILVA // 16 de fevereiro de 2016 em 20:43 //

    Saudoso. Mozart Damasceno. Aos meus 15 anos eu trabalhava na mercearia dele aos domingos como conferente e eu aprendi muito com as suas postura e orientação educacional o qual ele fazia questão de passar para quem trabalhava para ele. Os bons costumes era o que ele gostava de falar.
    Os seus ensinamentos me ajudou no meu caminho profissionalmente.
    Vale também lembrar que eu durante a semana trabalhava como praticante de telegrafista na Rede Ferroviária de Murici. Minha querida cidade natal.

  2. ManoelTenorio // 17 de fevereiro de 2016 em 11:59 //

    Tive a glória de conhecer Mozart, sendo seu conterrâneo, posso afirmar; é dos poucos nome a HONRAR nossa cidade, a exemplo de seu irmão Clementino e Dona Izarele Souza (saudosa tabeliã)

  3. MARCO AURÉLIO MOURA DA CUNHA // 17 de fevereiro de 2016 em 23:07 //

    HOMEM FANTÁSTICO COM IDEAIS HUMANÍSTICOS E RENOVADORES QUE NÃO FORAM COMPREENDIDAS E MUITO MENOS APLICADAS, SEJA EM MURICI OU ONDE ESTEJAM OS QUE O CONHECERAM!

    UM VERDADEIRO REVOLUCIONÁRIO DA PAZ!

  4. Figura humana maravilhosa. Homem de bem e do bem na verdadeira acepção da palavra. Tive a honra de conviver com ele.

  5. joao cavalcante de souza junior // 18 de fevereiro de 2016 em 17:04 //

    trabalhei em sua mercearia foi meu primeiro emprego e aprendi muito com ele, bons exemplos como honestidade, simplicidade, lealdade e acima de tudo respeito ao próximo, grande homem, deixou saudades.

  6. João Pedro Duarte Gaia // 29 de agosto de 2016 em 13:59 //

    Tive uma grande honra de ter conhecido esse homem. Pessoa honesta e de bem, sempre se preocupando com o próximo e aprendi muito com suas atitudes, sua preservação ecológica sempre ligado a natureza, assim como sua forma humanista em lidar com todos. Está sempre em minhas orações, assim como minha tia izaltina. E ainda contribuiu ampliando minha visão, meu modo de pensar e de ver a política sob um outro prisma. Agradeço a Deus por ter te conhecido tio Mozart.

    João Pedro Duarte Gaia – Maj PM

  7. Rinaldo Gomes da Silva // 6 de outubro de 2020 em 09:51 //

    Sou de Murici, morava em frente a casa do senhor Mozart, fui muito a farmácia comprar remédio para senhora Tininha esposa do senhor Mozart, ele tinha criação de galo de briga, ganhei dele um pintinho que se tornou um galo de briga dos bons quando vim para o Rio dei o galo ao senhor Mozart que ficou emocionado pelo meu gesto. Tenho profundo respeito e admiração pelo senhor Mozart pelo seu humanismo, ajudava aos jovens dando oportunidade para trabalhar. Um ser humano especial, conheci o sr. AMAZONAS pai da sra. Tininha o intelectual de Murici .

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