União dos Palmares, a Terra da Liberdade
Publicado em 20/11/2015 por Edberto Ticianeli
A ocupação das terras do município de União dos Palmares teve início ainda no século XVI, no período da ocupação holandesa, quando os quilombos ampliaram as áreas ocupadas.
Somente no século XVII foi que na Serra da Barriga, ou Cerca Real dos Macacos, se instalou a capital do quilombo que viria a ser conhecido como dos Palmares, uma república composta principalmente por negros fugidos da escravidão.

Descaroçador de algodão de João Victorino em União no início dos anos 20
O domínio territorial do Quilombo dos Palmares se estendia por extensa área dos vales do Mundaú e do Paraíba. Para o sul, se aproximavam de Penedo e, ao norte, ocupavam terras pertencentes hoje a Pernambuco.
Com os portugueses envolvidos no combate aos holandeses, os quilombos tiveram um período de trégua permitindo que destinassem algumas áreas para a agricultura e a pecuária, além de se fortificarem em suas defesas.
Somente após de 1654, com o fim dos combates aos batavos, foi que os colonizadores portugueses perceberam a dimensão dos quilombos e a ameaça que representava para eles aquele tipo de organização social.

Fábrica de óleos vegetais de Peixoto e Cia em União no início dos anos 20
Os engenhos da região, ávidos pela mão de obra escrava, cobraram da coroa portuguesa o fim dos quilombos e principalmente do Quilombo dos Palmares, o que aconteceu em 1694, após 14 tentativas fracassadas.
A “tríplice aliança” que derrotou Palmares era formada por Bernardo Vieira de Melo, Sebastião Dias e Domingos Jorge Velho.
Os primeiros núcleos urbanos da região surgiram a partir da ocupação desse território por seus novos proprietários, muitos deles líderes das expedições militares que destruíram os quilombos.
Domingos Jorge Velho foi um dos que recebeu como prêmio o planalto que funcionou como acampamento de suas forças. Foi o próprio paulista quem mandou erguer a primitiva igreja de Nossa Senhora das Brotas. Assim surgiu o Arraial dos Palmares, núcleo que deu início ao povoamento do hoje município de Atalaia.
Alguns pesquisadores afirmam que a localização do Arraial onde se estabeleceu Domingos Jorge Velho teria sido nas proximidades do Quilombo dos Palmares e que foi esse primeiro povoamento, conhecido então como Macaco, que deu origem a atual cidade de União dos Palmares.
A pesquisadora e professora Genisete Lucena argumenta que a permanência de Domingos Jorge Velho no local era uma orientação da Coroa para impedir que o quilombo fosse reorganizado após a retirada das tropas.
A primeira capela construída pelo bandeirante era muito rústica. Foi erguida com recursos obtidos dos impostos cobrados sobre a venda dos capturados em Palmares, todos comercializados como escravos. A precária construção não agradou à Igreja, que exigiu que fosse erguido um templo mais digno para o local.
Esse primeiro povoamento não prosperou. Provavelmente esvaziado por outro que rapidamente se consolidou nas proximidades, o Arraial dos Palmares, futura cidade de Atalaia.
A área que viria a ser a sede do atual município de União dos Palmares voltou a ter um povoado no século XVIII, quando doada como sesmaria ao português Domingos de Pino, que se instalou na Fazenda Gordo.
Foi ele quem construiu a primeira capela do local, dedicada à Santa Maria Madalena, denominação que também foi adotada pelo povoado, que se expandiu a partir desse pequeno templo.
O terreno no entorno desta capela foi doado, em 1810, à Santa Maria Madalena pelo casal João Camelo de Amorim e Francisca Correia de Araújo, descendentes dos primeiros proprietários. Eles estabeleceram que a posse efetiva da Igreja sobre essa área somente poderia se dar após a construção da Igreja Matriz — iniciada na década de 1850, somente foi concluída no final do século XIX ou início do XX, revelou o pesquisador Franco Maciel, que também é autor do documentário “A história de União dos Palmares, Alagoas” (veja AQUI).
Santa Maria Madalena foi elevada à categoria de vila com a denominação de Vila Nova da Imperatriz, pelo Decreto de 13 de outubro de 1831, desmembrado do município de Atalaia.
Pela resolução provincial nº 8, de 10 de abril de 1835, foi criada a Paróquia de Santa Maria Madalena, como registrou Thomas Espíndola em 1871 no livro Geografia Alagoana.
Em junho de 1858, a Câmara dos Deputados autorizou uma “loteria em favor da matriz da freguesia da vila da Imperatriz, da província das Alagoas”, comprovando que já estava em construção. O vigário era Macário José de Omena.
A agência dos Correios de Imperatriz foi instalada em 1859.
Em julho de 1862 o bispo de Pernambuco nomeou o padre Getúlio Vespasiano Augusto da Costa para a freguesia da vila de Imperatriz. Antônio Pureza de Vasconcellos era o vigário em 1873.
Uma nota publicada no Diário de Pernambuco de 20 de setembro de 1864, reproduzindo informação divulgada no Jornal de Maceió, revela que a construção da Matriz já exigia um guarda para vigiá-la. A notícia foi a da morte deste soldado de polícia, que inadvertidamente disparou a arma contra a própria cabeça.
O crescimento do lugar provocou seu desmembramento do município de Atalaia, formalizado em 13 de outubro de 1831 pelo decreto governamental. Surgia a “Vila Nova Imperatriz“, ou simplesmente “Imperatriz“. Elevada à categoria de cidade pela Lei 1.113, de 20 de agosto de 1889.
Nesse mesmo período Atalaia também perde a Vila da Assembleia, futura Viçosa.
O pesquisador Clezivaldo Mizael afirma que a denominação de Imperatriz surgiu por iniciativa das lideranças políticas locais, que, para atrair investimentos da Corte, homenagearam a segunda esposa de D. Pedro I, a imperatriz Amélia Augusta Eugênia Napoleona (Milão, 31 de julho de 1812 – Lisboa, 26 de janeiro de 1873). Ele tinha então 30 anos de idade e ela 17.
A imperatriz d. Maria Leopoldina, primeira esposa de D. Pedro I, havia falecido em 1826.
O casamento arranjado entre os representantes da nobreza europeia se deu em 30 de maio de 1829. Foi este enlace que levou Pedro I a romper definitivamente sua ligação com a Marquesa de Santos. Para provar que a partir de então seria um marido devotado à nova esposa, instituiu a Ordem da Rosa, cujo lema é “Amor e Fidelidade”.
Sem nunca ter perdido a fama de mulherengo, D. Pedro I faleceu tuberculoso em 24 de setembro de 1834.
No dia 9 de fevereiro de 1871 foi assinado o contrato entre a Província e o engenheiro civil Hugh Wilson para a construção da estrada de ferro que interligaria Maceió e a vila da Imperatriz pelo vale do Mundaú. Essa obra iria mudar radicalmente a economia da região.
Em 1871, Thomaz Espíndola em sua Geografia Alagoana registrou que Imperatriz tinha uma população de 13.121 habitantes, dos quais 928 eram escravos.
Espíndola assim descreveu os limites daquela Freguesia em 1871: “Limita-se ao norte com as freguesias de Camaragibe e serra da Canastra; ao sul com as do Murici e Assembleia pela serra Cafuchy, a leste com a freguesia do Murici pelo Riacho Cabeça de Porco, cortando em linha reta até o sítio Ximenes; e a oeste com Panelas de Miranda e Quipapá pela serra da Areia, que outros denominam Riachão, e pela serra dos Dois Pilões, com S. Bento pela Serra Urucuba e Riacho Canivete, e com Garanhuns pela ladeira de André Martins, águas pendentes para aquela e águas pendentes para esta”.
A Freguesia tinha sete capelas filiais: “a do Bolão, que fica distante da sede 3 léguas, a do Roçadinho, 6, da Lage do Canhoto, 5, do Caruruzinho, 4, de Panelas ou Juçara, 5, do Mundaú Mirim, 5, e do Timbó, 3”.

Mercado Público de União em 1920
A denominação “União” surgiu através do decreto nº 46, de 25 de setembro de 1890, e teve origem no fato da cidade ser o elo entre as estradas de ferro de Alagoas e Pernambuco.
Em 1944, ocorreu a mudança definitiva para “União dos Palmares“. Atendia a um decreto presidencial que procurava eliminar que uma mesma denominação servisse a mais de uma cidade.
Permaneceria com o nome as mais antigas. As outras teriam que alterar. Foi assim que União ganhou dos Palmares, numa clara referência ao Quilombo. Isso também facilitou a escolha do gentílico: surgiram os palmarinos.
A revolta da chibata
Em 15 de setembro de 1853, o alferes do 8º Batalhão de Infantaria de primeira linha, João Caetano dos Santos, destacando em Imperatriz, puniu um guarda nacional Manoel Mathias Ferreira autorizando que lhe fossem aplicadas 30 chibatadas.
O guarda açoitado, com mais três companheiros, fugiu para o povoado Cabeça de Porco, onde estava sua família. Lá, explicou aos amigos a punição sofrida e logo outros guardas souberam do ocorrido e para lá também se dirigiram em solidariedade.
Após discursos inflamados, os mais de 150 guardas resolveram atacar o destacamento e assassinar o oficial.
Sabendo da animosidade estabelecida e com a intenção de apaziguar os ânimos, no dia 18 de setembro dirigiu-se para o local o capitão Manoel Joaquim de Souza, que comandava interinamente a Guarda Nacional em Imperatriz.
Lá chegando, foi para a casa do tenente Coutinho, onde pretendia estabelecer as negociações. Foi surpreendido por um primo do açoitado, de nome Bernardino e também guarda nacional, que o assassinou com duas facadas e depois fugiu.
O Diário de Pernambuco de 13 de junho de 1854 informa que a morte do capitão “não foi devido à exaltação e entusiasmo do momento, mas um ato de vingança de seus inimigos, que há muito mantinham esse desígnio criminoso e espreitavam ocasião asada”.
A situação foi normalizada com a presença do chefe de Polícia da capital, que chegou a Imperatriz no dia 20 de setembro para restabelecer o controle sobre os amotinados.
Formação Administrativa
Elevado à categoria de vila com a denominação de Vila Nova da Imperatriz, pelo decreto de 13 de outubro de 1831, desmembrado do município de Atalaia.
A freguesia foi criada pela Lei Provincial nº 8, de 10 de abril de 1835, como registrou Thomas Espíndola em 1871 no livro Geografia Alagoana.
O jornal O Liberal Pernambucano de 2 de dezembro de 1853 anunciou que “O termo da Imperatriz foi separado do município de Atalaia; e hoje forma por si um julgado, tendo um juiz letrado, sendo que a nomeação interina desse juiz, o Sr. Dr. Antônio Ribeiro de Moura, ainda não foi aprovada pelo governo”.
“O povo em geral é liberal e tem dedicações muito pronunciadas pelas ideias da oposição. Há, porém, falta de quem aproveite essas disposições do povo e com inteligência, vontade e dedicação se sujeite às deliberações que forem do interesse da mesma oposição; e é por isto que ali os partidos políticos não se acham bem definidos”.
“É um dos termos em que a repressão do crime ou a punição dos delitos deve ser severa, porque ainda as coisas se decidem pelo bacamarte! Os sicários e espoletas das malversações encontram naquelas matas muitos refúgios; e a ação policial ou é fraca demais, ou cúmplice ao menos em consentir e tolerar que os criminosos passem a salvo, e alguns até ostentem por este lado a razão de seus respeitos”.

Rua de União em 1920
A sede do município foi transferida para a vila de São José da Laje pela Resolução nº 681, de 24 de abril de 1875.
Essa mudança não chegou a ser efetivada. Foi anulada pela Lei Provincial nº 733 de 3 de julho de 1876.
Pela Lei Provincial nº 737, de 7 de julho de 1876, a Vila Nova da Imperatriz foi extinta, sendo seu território anexado ao município de Atalaia, como simples distrito.
Elevada novamente à categoria de vila com a mesma denominação anterior, pela Lei Provincial nº 956, de 13 de julho de 1885.
Elevada à condição de cidade com a denominação de Vila Nova da Imperatriz, pela Lei Provincial nº 1113, de 20 de agosto de 1889. (Há registro dessa elevação a cidade pela Lei Provincial nº 1107 de 20 de agosto de 1887).
Pelo decreto estadual nº 46, de 25 de setembro de 1890, o município de Vila Nova da Imperatriz passou a denominar-se União. A República, instalada recentemente, fazia desaparecer os rastros da monarquia.
Em divisão administrativa referente ao ano de 1911, o município aparece constituído de seis distritos: União, Barra do Canhoto, Mandaú-Mirim, Munguba, São José do Bolão e Timbó.

Igreja Matriz de Santa Maria Madalena em União dos Palmares
Em divisão administrativa referente ao ano de 1933, o município aparece com o distrito sede, não figurando os distritos da divisão de 1911.
Em divisões territoriais datadas de 31 de dezembro de 1936 e 31 de dezembro de 1937, o município aparece constituído de três distritos: União, Barro do Canhoto e Mundaú-Mirim.
Pelo decreto estadual nº 2435, de 30 de novembro de 1938, é criado o distrito de Mungaba com terras desmembrada do distrito de Barro do Canhoto anexado ao município de União dos Palmares.
No quadro fixado para vigorar no período de 1939-1943, o município é constituído de quatro distritos: União, Barro do Canhoto, Mundaú-Mirim e Mungaba.
Pelo decreto lei estadual nº 2909, de 30 de dezembro de 1943, o município de União passou a denominar-se União dos Palmares.
No quadro fixado para vigorar no período de 1944-1948, o município de União dos Palmares, ex-União, é constituído de quatro distritos: União dos Palmares, Barro do Canhoto, Mundaú-Mirim e Mungaba.
Pela lei nº 1473, de 17 de setembro de 1949, o distrito de Barro do Canhoto passou a denominar-se Rocha Cavalcanti.

Grupo Escolar Rocha Cavalcante União dos Palmares
Em divisão territorial datada de 1º de dezembro de 1950, o município é constituído de quatro distritos; União dos Palmares, Mundaú-Mirim, Mungaba e Rocha Cavalcanti ex-Barro do Canhoto.
Assim permanecendo em divisão territorial datada de 1º de julho de 1955.
A lei estadual nº 2245, de 14 de junho de 1960, desmembrou do município de União dos Palmares os distritos de Mundaú-Mirim e Mungaba, para formar o novo município com a denominação de Santana do Mundaú.
Em divisão territorial datada de 1º de julho de 1960, o município é constituído de dois distritos: União dos Palmares e Rocha Cavalcanti.
Assim permanecendo em divisão territorial datada de 2007.
Fonte principal: IBGE

Quadra de esportes em União dos Palmares

Praça Jorge de Lima em União dos Palmares

Praça Brasiliano Sarmento em União dos Palmares

Praça Basiliano Sarmento em União dos Palmares

Intendência Prefeitura) de União em 1920

Casa do poeta Jorge de Lima em União dos Palmares

Centro Administrativo Antônio Gomes de Barros em União dos Palmares
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