Luiz Lavenère e a aventura pela arte e cultura das Alagoas

Rua Boa Vista em foto de Luiz Lavenère

Luiz Lavenère Wanderley nasceu em Maceió no dia 17 fevereiro 1868. Foi o primeiro filho de Estanislau Wanderley e de Amélie Elodia Lavenère Wanderley.

Seu pai, cujo nome também era grafado como Stanisláo ou Stanislau, era escriturário e funcionário público a serviço da Tesouraria de Fazenda do Estado de Alagoas a partir de março de 1891.

No ano seguinte foi transferido para Recife como conferente. Dois anos depois já era chefe de seção da Alfândega, quando foi aposentado.

Stanislau Wanderley e Amelie Elodia Lavenère Wanderley em 1867

Estanislau foi o primeiro fotógrafo amador de Maceió.

Também se destacou por sua militância política como republicano e antiescravagista. Foi um  dos fundadores da Sociedade Libertadora Alagoana e era morador da Rua da Cambona, nº 84, em 1875.

Nasceu no dia 7 maio 1830 em Camaragibe (Matriz de Camaragibe) e faleceu em 18 março de 1899 em Maceió, quando tinha 68 anos de idade.

Casou-se com francesa Amelia (ou Amélie) Elodia Lavenère em 1867. Ela nasceu em 1835, na comuna francesa de Pau, Aquitânia. Era filha de Albert Michel Remy Lavenère e Joanna Francisca Almeida Lavenère.

Albert Michel, em 1842, passou a ser Alberto Miguel Remi Lavenère ou resumidamente Alberto Lavenère. Era boticário em Recife desde 1823, quando fez exames naquela capital e abriu uma botica na Rua Nova. Vendeu essa firma no ano seguinte, quando foi com a esposa para a França.

Em 1842, a Comissão de Saúde não lhe concedeu licença e impedido de exercer sua profissão, Alberto começou a ensinar matemática, geografia, desenho e línguas, inclusive o português brasileiro para estrangeiros.

No ano seguinte voltou a trabalhar, administrando a botica dos srs. Cunha & Brandão na Rua do Rosário em Recife, mas por pouco tempo. Estava em vigor uma lei que o obrigava a revalidar seu diploma francês em uma das faculdades brasileiras.

Além de serem os pais de Amélie Lavenère, o casal teve ainda Ernest Lavenère, Celestine Lavenère e Justin Lavenère.

Os irmãos Luiz, Alberto e Rachel, com Albertina, filha de Luiz, em foto de 1889

Amélia Elodia Lavenère, em fevereiro de 1860, solicitou licença à Diretoria de Instrução Pública de Pernambuco, para “ensinar primeiras letras e francês”.

Em julho já anunciava no Diário de Pernambuco que ocupava o 2º andar do nº 19, na Rua do Livramento, em Recife, onde ensinava para o sexo feminino “primeiras letras, francês, e certas prendas, bem como coser, bordar, etc”. Recebia também alunas internas. Em janeiro de 1861 tinha se mudado para a Rua Direita, 54, 1º andar.

Estanislau Wanderley e Amélia Elodia Lavenère eram surdos. Essa revelação foi feita pelo próprio Lavenére em “Recordando”: “Como meu pai e minha mãe eram surdos não apreciavam música“.

Pelas publicações de Amélia anunciando que era professora, quando ainda jovem, deve-se presumir que desenvolveu a limitação posteriormente. Quanto a Estanislau não se tem informação se já não tinha audição desde o nascimento ou também adquiriu durante a vida.

Pesquisa de Etevaldo Amorim revelou que Luiz Lavenère, em 1911, estava interessado em montar a árvore genealógica de sua família e publicou no jornal francês L’Independant uma nota solicitando informações sobre os Lavenères:

AVISO RELATIVO À FAMÍLIA LAVENÈRE

A família Lavenère descende do Barão Maransin.

O Sr. Michel de Sanit-Remy Lavenère nasceu em Pau; alguns de sua família nasceram em Tarbes.

O Sr. Ernest Lavenère (Jean-Pierre) foi cônsul da França em Porto Rico; Cidade do Cabo e Vigo.

Aqueles que podem fornecer informações sobre os descendentes da família Lavenère ou os próprios membros desta família devem escrever ao Sr. L. Lavenère em Maceió (Alagoas), Brasil.

20 de outubro de 1911.

O casamento de Estanislau Wanderley com Amélia Elodia Lavenère gerou Luiz Lavenère Wanderley, Rachel Lavenère Wanderley e Alberto Lavenère Wanderley, que veio a ser general do Exército brasileiro. Amélia faleceu em 18 de abril de 1905.

O professor Luiz Lavenère

Estudou o ensino primário no Colégio São José e o curso de humanidades no Colégio Bom Jesus e no Liceu Alagoano, em Maceió.

Quando menino, morou em um sítio na Cambona, ao lado da Capela do Bom Parto. Seu pai vendeu o lugar após perder parte dele para a ferrovia.

Em “Recordando” (Revista do IHGAL nº 30), Lavenère lembra que quando entrou na escola primária, “já sabia ler algumas palavras em português e em francês, ensinado por minha mãe. A primeira palavra francesa que li foi tête, porque nessa língua começava a leitura pelos nomes das partes do corpo humano”.

A primeira escola que frequentou ficava na Rua da Alegria, “casa aos fundos da residência da família Vicente Bezerra Montenegro”. Era dirigida por duas professoras, uma delas era a “Senhorinha Freire ou Ramos Freire”, filha de Alípio  Freire. Alípio enlouqueceu e tentou incendiar a escola, que fechou pouco tempo depois.

Continuou o curso primário no Colégio São José de propriedade do Sr. Soares. Quem cuidava também dos alunos era um ex-combatente da Guerra do Paraguai, João dos Santos Lima, conhecido como “Ponte Baixa“, apelido que recebeu por ter perdido em combate os movimentos de uma das pálpebras,

Ficava vizinho ao sobrado da esquina das ruas do Macena e Augusta. Esta mesma casa sediou o Quartel da Polícia e depois o Lyceu de Artes e Ofícios, que saiu daí para a Praça D. Pedro II.

A casa então voltou a ser residencial, ocupada pela família Manuel Pinto do Amaral Lisboa.

Pouco tempos depois, o jovem Lavenère foi transferido para o Colégio Bom Jesus, na esquina da Rua Boa Vista com o Beco de São José. Pertencia a Francisco Domingues da Silva.

No Bom Jesus, concluiu o primário e iniciou os estudos de Latim com o padre Pedro Lins de Vasconcelos. Não evoluiu bem e desistiu da disciplina por três anos. Voltou ao Latim somente quando já estava no Lyceu com o padre Procópio.

Do tempo dos estudos em Latim no Bom Jesus, Lavenère lembra de dois colegas indisciplinados: Firmino Vasconcelos e Pedro Aureliano Monteiro, que veio a ser o patriarca da família Góis Monteiro.

Fez os exames finais preparatórios no Lyceu Alagoano em 1884, com 16 anos de idade.

Entretanto, no ano anterior já lecionava no Colégio Bom Jesus.

Como se destacou na disciplina de Retórica no Lyceu, onde era aluno do professor Januário Pereira de Carvalho, foi convidado por Francisco Domingues para lecionar a mesma disciplina no Bom Jesus, mas para um único aluno. “Não posso pagar um professor para um aluno só”, argumentou o proprietário, oferecendo-lhe 5$000 em pagamento. Depois também passou lecionar Inglês.

Maria Capitulina primeira esposa de Luiz Lavenère

Há registros de sua transferência para Recife, onde pretendia cursar a Faculdade de Direito. Teria abandonado o curso para casar-se com a pernambucana e professora Maria Capitulina Martins Ribeiro, que em janeiro de 1887 era diretora do Colégio Seis de Abril, na Rua Visconde de Albuquerque, nº 26, em Recife. Oferecia instrução primária e secundária para o sexo feminino.

Como Albertina Lavenère, sua filha deste casamento, nasceu em Maceió no ano de 1889, presume-se que o casamento com Maria Capitulina tenha ocorrido um ou dois anos antes.

Albertina Lavenère casou-se com Manoel Gomes Machado e foram pais, entre outros, de Zeferino Lavenère Machado.

Em março de 1886, Luiz Lavenère estava morando em Recife na Rua do Livramento, nº 12, onde ensinava francês. Em março do ano seguinte, continuava a anunciar no Diário de Pernambuco, mas informava que era um “antigo professor do colégio Bom Jesus, o mais acreditado de Alagoas” e que estava residindo na Rua da Concórdia, nº 73.

Há registros, sem maiores detalhes, de sua passagem como professor pelos colégios Spencer e 11 de Agosto em Recife.

Foi aceito como sócio correspondente do Instituto dos Professores Primários de Alagoas em setembro de 1886, indicando que nesta data já estava de volta a Maceió.

Em agosto de 1887 estava ensinando preparatórios em Maceió. Anunciava-se como professor de matemáticas elementares, francês e inglês. Sua sala ficava na Rua da Boa Vista, nº 110.

Em dezembro de 1887 divulgou que no ano seguinte abriria um curso primário misto sob a direção de sua esposa, Maria Capitulina, mas que continuaria a lecionar preparatórios “a qualquer hora e no lugar convencionado”. O endereço anunciado era o da Rua Augusta, nº 21.

Maria Capitulina Lavenère faleceu em 1890 e não foi possível encontrar maiores informações sobre ela.

Jessie Lavenère e Edith Lavenère, filhas de Lavenère com Túlia

No fim de 1889, Luiz Lavenère iniciou a carreira de telegrafista como “praticante”, que significava que teria que trabalhar durante um ano sem remuneração alguma.

“Eu tive sorte de trabalhar apenas dois meses, porque meu ‘padrinho’ aproveitou-se da balbúrdia dos primeiros dias da República e obteve, no dia 10 de janeiro de 1890, a minha nomeação para o primeiro posto, com os vencimentos de 80$000 mensais”, confessou.

Como era adjunto de telegrafista, foi trabalhar um tempo em Ipojuca, na Bahia, uma estação translatora que interligava Recife à Estação Central no Rio de Janeiro. Depois esteve em Recife.

Em fevereiro de 1892, ainda em Pernambuco, foi promovido a telegrafista de 3ª classe e no ano seguinte era o encarregado da Estação Telegráfica de Piaçabuçu, em Alagoas. Aposentou-se como telegrafista de 2ª classe em 23 de março de 1907, ganhando anualmente 2:533$333.

Essa aposentadoria precoce deve-se, provavelmente, à perda parcial da visão de Lavenère. Essa informação está no livro Folclore Negro das Alagoas, de Abelardo Duarte, ao citar os emboladores do início do século XX em Maceió. Uma das emboladas dizia:

Seu Lavenère
Por ser bom telegrafista
Entendeu sofrer da vista
Para não mais trabalhar.

Numa data próxima do início de 1894, Luiz Lavenère casou-se com Túlia Lavenère Wanderley, que solteira foi Túlia Guimarães Reis. Nasceu em 26 de junho de 1877 e faleceu em junho de 1940 em Maceió.

Tiveram os seguintes filhos: Jessie Lavenère (nasceu em 23 de dezembro de 1894); Yvonne Lavenère; Túlio Lavenère; Edith Lavenère; Olga Lavenère e Carmen Lavenère.

Em junho de 1899, Luiz mudou sua residência para a Rua do Comércio, nº 19. Mas continuou lecionando na Rua Boa Vista, nº 74.

Foi professor de Português, Francês, Inglês, Latim e Escrituração Mercantil no Liceu de Artes e Ofícios (era lente em Inglês) e em outros estabelecimentos, a exemplo do Instituto de Humanidade.

Esteve envolvido, em 12 de abril de 1952, na fundação da Aliança Francesa de Maceió. Com ele estavam como sócios fundadores Théo Brandão, Rivadávia Carnaúba, Mário Dubeux Leão, Ib Gatto Falcão, Jeanette Savastano Ramalho, Vanilo Galvão Barros.

O ativista Luiz Lavenère

Túlio Lavenère, filho de Luiz Lavenère

Segundo o jornal O Orbe de 21 de setembro de 1881, a Sociedade Libertadora Alagoana foi criada no dia 18 daquele mesmo mês e entre os seus fundadores estavam Stanisláu Wanderley e seu filho Luiz Lavenère, então com 13 anos de idade. Em 1888, assumiu a tesouraria desta instituição.

Uma das principais lideranças do movimento emancipacionista foi Francisco Domingues da Silva, o mesmo que dividiu com Diegues Júnior a instalação do Colégio Bom Jesus, onde Luiz Lavenère estudou e ensinou.

Aos 15 anos de idade, em 1883, já era o primeiro secretário do Club Castro Alves, sócio da Sociedade Recreio Científico em Maceió e foi um dos oradores da sessão fúnebre do Instituto Arqueológico alagoano no trigésimo dia da morte de Dias Cabral, atuante secretário perpétuo daquela instituição.

Foi admitido como sócio efetivo do Instituto Arqueológico e Geográfico de Alagoas em 31 de março de 1885, com 17 anos de idade. Em 17 de setembro de 1985, Moacir Medeiros de Santana fez aprovar no Instituto a relação dos patronos das 60 cadeiras de sócios efetivos. Luiz Lavenère foi escolhido como patrono da cadeira nº 41.

Também se dedicou aos esportes. O Club Atlético Alagoas foi fundado em 18 de janeiro de 1897 “com a finalidade de promover o desenvolvimento muscular de seus associados, empregando para isso qualquer tipo de força e agilidade”. Tinha sede em Jaraguá e foi presidido por Carlos Leopoldo Ferreira, tendo como vice Napoleão Goulart e como 1º secretário Luiz Lavenère Wanderley. O 2º secretário era José A. Leão.

Em dezembro de 1931, quando o Instituto Arqueológico e Geográfico de Alagoas reformou seus estatutos, passando a ser o Instituto Histórico de Alagoas, a primeira diretoria, presidida por Orlando Araújo. tinha como secretário perpétuo o professor Craveiro Costa e seu substituto era Luiz Lavenère.

Com a morte de Craveiro Costa em dia 31 de agosto de 1934, Lavenère assumiu a secretaria e nela permaneceu até 1943.

Seu pai, Stanisláo Wanderley, tinha sido aceito como sócio efetivo do mesmo Instituto em 1º de maio de 1877.

Em 1890 fazia parte do Centro Federal Republicano e em 1896 era o 1º secretário do Club Atlético Alagoas.

Luiz Lavenère ao lado de sua esposa Túlia em 1934

Na Academia Alagoana de Letras, criada em novembro de 1919, foi o primeiro ocupante da cadeira n° 36.

Em 1902, trava o célebre debate sobre o socialismo com João Ferro, um defensor das ideias de Marx, logo após o lançamento do manifesto programa do Partido do Socialista. Lavenère publicou uma série de artigos com o título de “Contra o Socialismo”.

Segundo pesquisa de Sávio Almeida, em “Chrônicas Alagoanas”, João Ferro se referiu no episódio a Lavenère como “burguesito de primo cartello”, acusando-o de defender os interesses dos “tubarões da burguesia”. Nos anos da década de 1930, Lavenère participou do movimento integralista em Alagoas.

Durante a Primeira Grande Guerra Mundial, Luiz Lavenère foi o agente consular da França em Alagoas, nomeado em março de 1917 em substituição ao engenheiro Felix Vandesmet, cargo em que permaneceu até dezembro de 1918, quando pediu demissão.

Em maio de 1931, após a Revolução de 30, foi exonerado do cargo de suplente de juiz federal. Por decreto do governo provisório, Luiz Oiticica (1º suplente), Álvaro Leite (2º suplente) e Luiz Lavenère Wanderley (3º suplente), deixaram a magistratura.

Participou, ainda em 16 de abril de 1933, da fundação da Liga Alagoana Pró-Pensamento Livre, instalado no Teatro Deodoro sob sua presidência, tendo como diretores: vice-presidente, Raul Falcão; secretários, Alfredo Uchoa, Craveiro Costa e José Mattos; oradores, Esdras Gueiros, Manoel Onofre e Sebastião da Hora.

Yvonne Lavenère ao lado do esposo, do pai e da mãe

Em 24 de fevereiro de 1934, a Liga Alagoana Pró-Pensamento Livre realizou um ato em comemoração ao aniversário da promulgação da constituição de 1891.

Em nota, a entidade divulgou o encontro, que teve a presidência de Luiz Lavenère, e enumerou os oradores: Levy Pereira, Barbosa Júnior, Sebastião da Hora, Esdras Gueiros e Américo Mello, “que expressaram seus veementes protestos contra a intromissão da igreja católica na política nacional, tendente a coarctar a liberdade de pensamento no que concerne ao ensino religioso nas escolas”.

Foi deputado estadual nas legislaturas 1905-06 e 1907-08. Entre os deputados mais votados desta última eleição, Luiz Lavenère Wanderley obteve 9.328 votos.

Em 1935 foi candidato a vereador em Maceió pelo Partido Autonomista, criado por Edgard de Góis Monteiro. Sendo o vereador mais votado, foi ele quem presidiu a primeira sessão da Câmara da capital em janeiro de 1936. Depois assumiu o cardo de 2º secretário do poder legislativo municipal.

Um dos seus projetos como vereador, em 1937, criava o serviço de Assistência à Infância Desvalida.

Para as eleições de 2 de dezembro de 1945, o Partido Republicano Progressista, constituído de dissidentes do PSD e UDN, apresentou sua chapa ao Senado com Afrânio Jorge e Luiz Lavenère. Foram os últimos colocados. Enquanto o mais votado, Cônego Cícero Vasconcelos, ultrapassava os 32 mil votos, Afrânio Jorge não conseguiu chegar aos 1.300 votos e Lavenère ficou somente com os votos de 200 eleitores.

A Casa dos Artistas, no Rio de janeiro, resolveu nomear representantes nos estados em 1938. O representante de Alagoas era o professor Luiz Lavenère.

Em 1950 era diretor do Teatro Deodoro em Maceió.

O músico Luiz Lavenère

Luiz Lavenère comanda uma apresentação no Teatro Deodoro

Segundo o professor Antonio Alexandre Bispo foi o próprio Luiz Lavenère quem explicou como se deu a sua vinculação à música. As revelações foram encontradas nas crônicas (“Recordando”) publicadas na Gazeta de Alagoas e na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (XXX, 1973, 13-38).

“Uma irmã do meu pai que morava conosco cantava modinhas e fez meu pai comprar um piano e contratar a professora D. Amélia (de Azevedo) para ensinar minha irmã. De mim não cuidaram e somente com muita insistência minha deixaram que o professor Pedro Diniz Maceió me desse lições de música, recomendando logo que não me ensinasse a solfejar porque eu tinha voz muito fraca e poderia ficar tuberculoso! Concordou com isso o professor e fez-me aprender a tocar flauta. Um erro imperdoável, mas, com esforço próprio, aprendi a ler música batendo as teclas do piano”, lembra Lavenère.

Ainda segundo Antonio Alexandre Bispo, “sua formação prático-musical não foi das mais sólidas, o mesmo não pode ser afirmado a respeito de seus conhecimentos teóricos, embora assimilados sobretudo autodidaticamente.

De sua bibliografia musical, citam-se: Compêndio de Teoria Musical, Maceió, 1927; A Música em Alagoas, Maceió, 1928; Bailes Pastorís (colecionados e revistos), Maceió, 1948 (caderno mimeografado); Baile da Seduzida (revisto e corrigido), Maceió, 1948 (caderno mimeografado); Jornadas (Cantigas de Pastorís colecionadas), Maceió, 1948 (caderno mimeografado); Nossas Cantigas (2a. ed., Maceió, 1950, mimeografado) e Cantigas do Nordeste (Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas XIX, 83)”.

Lavenère regendo conjunto musical feminino que fez apresentação no Instituto Histórico durante o Centenário de 1939

No Compêndio de Theoria Musical publicado pela Livraria Machado em 1927, mas escrito em 1925, Lavenère critica os métodos utilizados na época para o ensino de música nas escolas.

Seu objetivo era mostrar o método correto e com isso expunha as falhas nas escolas alagoanas, mas também no Brasil.

Aprofundou seus conhecimentos musicais nos ritmos e definia música como a arte de ritmar os sons: “Não há dúvida de que a música é constituída por sons, entretanto se alguém bater desordenadamente sobre o teclado de um piano, os sons que disso resultarem não produzirão música…”.

Após analisar vários autores e concepções de ritmo, definiu: “Na minha opinião, em Música, o ritmo é composto de três elementos: 1. Ordem estética dos sons; 2. Ordem métrica dos sons; 3. Ordem expressiva dos sons. É o conjunto desses três elementos que constitui o ritmo musical, sendo cada um deles um ritmo diferente”.

Explicava sua teoria mostrando que “desde o momento que se deem a esses sons uma certa ordem agradável ao ouvido, tem-se começado a se lhes dar o ritmo musical. Essa disposição de sons, separados por intervalos mais ou menos atrativos, concluída com uma sensação de repouso, constitui o que se chama ideia musical, e tem por si só um ritmo bem determinado.”

Para Antonio Alexandre Bispo, Lavenère foi um antecessor no Brasil do procedimento da “Melodia da Montanha” tão divulgado por H. Villa-Lobos.

Ressaltava Lavenère, demonstrando em um diagrama, que existiriam sons que seriam impelidos por outros, sons que procurariam unir-se a outros, sons que desceriam com tendência a um repouso. Esse “conflito de forças é visível no diagrama e sensível ao ouvido, portanto essa ordem de sons é uma sucessão ritmada”. Cada um desses exemplos seria um “esboço” de melodia; faltando-lhes o que faltaria num desenho sem sombras. “O claro e o escuro na Música são formados pela diferença de tempos, pela ordem métrica“.

Praça Dom Pedro II em foto de Luiz Lavenère

Para o professor e doutor Antonio Alexandre Bispo, “Luiz Lavenère revela-se, portanto, nesta introdução do seu compêndio, ser um dos principais pensadores da questão do ritmo no Brasil, cujo expoente máximo era o mestre-capela de São Paulo, Furio Franceschini”.

Em 6 de julho de 1934, na coluna Notícias de Alagoas, o Diário de Pernambuco divulgou que o Compêndio de Theoria Musical estava fazendo sucesso além-fronteiras. “Acaba de ser adotado pelo Instituto Português de Música de Lisboa, o compêndio de “Teoria Musical” da autoria do nosso conterrâneo prof. Luiz Lavenère”.

Há registros revelando a existência, em 1949, de uma Escola de Música Professor Lavenère que teria participado das comemorações do centenário de Chopin com apresentações no Teatro Deodoro.

Foi Luiz Lavenère quem musicou e regeu as operetas infantis O Mistério do Príncipe (1946) e O Herdeiro de Naban (1950), ambos de autoria de Linda Mascarenhas.

Essa aproximação com Linda Mascarenhas o levou a participar da fundação, em 12 de outubro de 1955, da Associação Teatral das Alagoas (ATA), que contou também com a colaboração da ala jovem do Clube de Regatas Brasil (CRB) e de parte da juventude maceioense.

O fotógrafo Luiz Lavenère

Mesmo tendo contato com a fotografia desde criança, por ter um pai que foi o primeiro amador de Maceió, L. Lavenère começou a fotografar no início do século XX, quando negociava com equipamentos fotográficos na Livraria Fonseca.

Começou a fotografar quando dirigia e editava seu jornal, o Evolucionista. Uma das suas fotos foi a da amante do médico Câmara Sampaio, conhecida por Ceição (Maria da Conceição) e assassinada por ele num acesso de loucura.

Em 1906, com uma fotografia do bairro do Poço, conquistou seu primeiro grande prêmio ao participar de concurso de amadores em Londres.

Edith Lavenère fotografada pelo pai

Em 30 de outubro de 1908, o Gutenberg, ao informar que tinha em exposição no escritório uma foto de autoria de Luiz Lavenère retratando uma de suas filhas em pose angelical, revelou que o fotógrafo havia recebido “as melhores e as mais elogiosas referências do sr. Charles Mendel, na importante revista parisiense PHOTO-MAGAZINE, que é diretor”.

No início do ano seguinte, em 18 de fevereiro, o Gutenberg voltou a elogiar o trabalho fotográfico de Lavenère, que teve a foto Aprés la lecture publicada na Photo-Revue. Retratava “sua interessante filha, a senhorita Jessie, extasiada, depois da leitura admirável dos versos de Bilac, o poeta primoroso”.

Voltou a ter foto publicada em revista francesa em 9 de maio de 1909. Desta feita uma foto colorida “de sua gentil filhinha Edith”, como informou o Gutenberg de 23 de maio daquele ano.

Em 15 de junho, ainda no Gutenberg, explicava ao editor que enviara àquele jornal uma fotografia a carvão, “executado pelo processo Poitevin”, um método “quase tão antigo como a fotografia, pois conta com aproximadamente 50 anos de existência, mas é tão pouco praticado que constitui aqui uma novidade”.

No mês seguinte, dia 25, publicou no Gutenberg o ofício enviado ao intendente Demócrito Brandão Gracindo ofertando “uma fotografia das casas demolidas à praça dos Martírios, para o fim de ser construído o palácio municipal”. Era uma lembrança do que foi o local “embelezado” e que para Lavenère aquela fotografia teria “algum valor histórico”. Acertou. É atualmente um valiosíssimo documento histórico.

Casas de Simeão de Oliveira e outras de Eugênio Teles de Silveira Fontes, desapropriadas e demolidas por Demócrito Gracindo para construir a Intendência. Foto de Luiz Lavenère

Em 13 de janeiro de 1910, o Gutenberg noticiou que o professor L. Lavenère estava expondo na Joalheria Machado, na Rua do Comércio, nº 60, um novo trabalho ainda desconhecido em Maceió.: “Trata-se de uma fotografia pelo dificílimo processo de impressão denominado Oil Pigment e que nos dá a ilusão de estarmos contemplando um verdadeiro quadro a óleo”.

No final de março, o jornal explicava que a “fotografia a cores, primorosamente colorida, nítida, de uma perfeição absoluta”, retratava as “duas gentis filhinhas do autor, Jessie e Edith e uma neta do major Carneiro Tiririca, no traje de gueixas do Club dos Arautos”.

Em fevereiro de 1911, na mesma Joalheria Machado, expunha ao público fotografia sobre madeira.

Como tinha acesso às Oficinas Tipográficas da Livraria Fonseca, onde trabalhava editando o seu jornal O Evolucionista, lançou uma coleção de cartões-postais em 1907. Outra coleção saiu em 1911, editada pelo próprio Lavenère.

Os últimos postais foram impressos em 1920 pela Livraria Machado. Ao todo são 36 cartões-postais reconhecidos como de sua autoria.

Negativos de dezenas de fotos suas estão em poder do Arquivo Público de Alagoas, adquiridos pelo Estado ainda durante a gestão de Moacir Sant’ana.

O linguístico Luiz Lavenère

Alunos de datilografia da Profª Jolinda Vieira. Luiz Lavenère sentado ao lado da mestra

Foi a partir de 1899 que Luiz Lavenère começou escrever no Gutenberg a coluna Questões Gramaticais, com o objetivo de discutir ou explicar expressões adotadas pelos escritores de então.

A primeira dela encontrada por esta pesquisa é de 1º de julho e envolvia uma polêmica com o dr. Castro Lopes sobre a nasalidade do som da letra “M”. Lavenère advogava que “m é indicador de som nasal”. “É verdade que não tem som, como não tem nenhuma consoante, mas indica um preparo do aparelho fonador, que consiste exatamente em deixar livre a saída do ar pelas fossas nasais”.

Quinze dias depois discutia comprimento e cumprimento e defendia que somente a forma comprimento deveria ser adotada. Analisou a partir de comprir e cumprir que se deveria escrever em todos os casos comprir, “admitindo a forma cumpro e as outras em que há troca do o pelo u, como irregularidade análoga a que se observa nos verbos cobrir — cubro; mentir — minto e muitos outros”.

Explicando que comprido tem significado de longo, argumenta que “parece proceder de comprimido” e que algo sob compressão lateral se alonga. Comprimir teria vindo de comprimento.

Sobre as razões de “comprimento significar saudação parece proveniente do costume de comprimir a mão para saudar, então fazer um comprimento da mão seria comprimentar”.

“Daí por diante tudo o que podia substituir o aperto de mão foi considerado comprimento”, concluiu e desafiou: “Escrevo, portanto, comprimento e não cumprimento, em qualquer caso. Submeto-me, porém, ao juízo dos mestres”.

No artigo seguinte voltou ao tema para provar que a expressão comprimir tinha origem no latim comprimere.

Explicou que a palavra comprimento existe em todos os países que tiveram relações com os romanos “e é notável que a língua latina não o possua e que o francês, o inglês, o alemão, o italiano, só o tenham significando saudação”.

Atribuía isso à supressão de algumas palavras de uma frase desaparecida, sobrevivendo somente a palavra principal. Lembrou que os romanos não dispensavam símbolos e que a mão que representava o poder, a força, etc, comprimindo outra significava a Concórdia.

Intendência Municipal de Maceió Foto de Luiz Lavenère

“A saudação de amizade fazia-se juntando as mãos, e isso se dizia: — Dextras comprimere. A saudação de respeito fazia-se pondo a mão no peito e inclinando a cabeça: sempre a ideia de comprimir”.

Explicou que comprimento foi usado isoladamente para a saudação feita com a mão comprimida ao peito ou apertando a mão do amigo saudado. Essa era a sua hipótese e concluía conclamando o leitor a dizer com ele: “Si non é vero é bene trovato”.

Em 19 de julho de 1899, o Gutenberg, na mesma coluna explicou no texto bíblico É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino dos Céus, a significação exata do vocábulo camelo ali empregado.

Esclareceu que a habitação de um Judeu rico se compunha de dois andares, um térreo, muito baixo, destinado a depósito e dormitório de animais domésticos, com uma só entrada; outro superior para a residência da família, e que essa entrada do andar térreo era estreita.

Para um camelo passar por ela era preciso que estivesse descarregado e que entrasse dobrando as pernas dianteiras, como ajoelhando-se. Foi na tradução de “porta baixa e estreita” que ocorreu o erro.

Em janeiro de 1910 escreveu para o Gutenberg a respeito da entrada no domínio da língua portuguesa do vocabulário Boycottage, se propondo a explicar a origem da expressão.

Lavenère esclareceu que o vocabulário tem origem no oficial irlandês Capitão Boycott, falecido em 1895, e que foi alvo de uma campanha dos negociantes do local onde morava, com a pretensão de expulsá-lo dali. Para forçar sua saída, resolveram não vender mais nada a ele. Criou-se assim o termo Boycottage.

Defendia que em português se deveria dizer “Boycottizar”, “pois o sufixo IZAR é o único que deve ser adaptado a nomes que se transformam em verbos dessa classe”. Associava boicote a bloqueio.

Em 1946, na revista Mocidade, discutiu a existência dos advérbios propositalmente e propositadamente e dos adjetivos proposital e propositado, achando que ambos tinham o direito de existir.

O escritor e jornalista Luiz Lavenère

Praça Dois Leões Foto de Luiz Lavenère

Os primeiros registros de escritos de Luiz Lavenère remontam a maio de 1885, quando seu nome surge como um dos redatores do jornal José de Alencar, órgão do Club Literário José de Alencar, fundado em 1882. Antes era uma revista e existia desde 1881. Era parte da imprensa abolicionista da capital.

Dois anos depois, em outubro de 1887, participava do Instituto dos Professores Primários e colaborava para seu jornal, O Magistério. No ano seguinte, foi um dos que ofereceu livros para a constituição da Biblioteca desta associação.

No dia 6 de abril de 1896 começou a circular em Maceió a revista quinzenal Paulo Afonso, dirigida por Luiz Lavenère, Goulart de Andrade e H. Jobim. Publicou somente mais um número e fechou. Era impressa na Tipografia Tertuliano de Menezes.

Segundo o jornal O Trabalho, de Penedo, edição de 27 de junho de 1896, “Lavenère, burilador das mais belas produções, não encontrou, segundo consta-nos, os recursos necessários para manter a mimosa revista”.

Passou a colaborar no jornal Gutenberg, onde escreveu por muitos anos e foi tradutor de inúmeros textos de escritores ingleses e franceses.

Luiz Lavenère aos 98 anos de idade

Em 1901 lançou o semanário O Evolucionista, que circulava às segundas-feiras e era o jornal de maior formato impresso em Alagoas. Media 70cm por 50cm. No ano seguinte passou a ser diário, mas diminuiu o formato para 60cmm por 42cm.

Luiz Lavenère foi o seu redator e diretor até o final 1906, entretanto, a partir de 1905 quem assumiu a redação política foi o deputado Raymundo Pontes de Miranda e o editor proprietário passou a ser M. G. Fonseca, funcionando na Rua do Comércio, nº 42. Foi publicado até dezembro de 1906.

Também foi de sua iniciativa a produção do anuário Almanak Alagoano das Senhoras, que circulou em outubro de 1901 sua edição para 1902. Tinha direção de Lavenère e como editor, Manoel Gomes da Fonseca. Custava 2$000 e era vendido na Livraria Fonseca, em Maceió, e distribuído para algumas livrarias do Brasil.

Em 1916 era proprietário da Livraria Americana na Rua da Alfândega, nº 115, em Jaraguá e representante da Revista Fon-Fon, impressa no Rio de janeiro e de circulação nacional.

O semanário A Conquista, que circulou em Maceió entre 14 de março a 25 de dezembro de 1920, também foi um investimento de Luiz Lavenére. Em especial, esse periódico fez história por ser o primeiro, em Alagoas, a ter clichê de zinco.

Confeccionado pelo próprio Lavenère, o clichê “O Paurílio” reproduzia a figura de Hipólito Paurílio e foi publicada no segundo número, em 21 de março de 1920. Usando o pseudônimo Marie Pambrun, Lavenère publicou em 14 de julho de 1920, um número dedicado à França, inclusive com a música da Marselhesa.

Estátua da Liberdade na Praça Dois Leões em Jaraguá. Foto de Luiz Lavenère

A partir de 1927, passou a contribuir com a Revista do Ensino e publicou naquele ano “Uma lição de música”, ensinando o sistema tonal. Em 1929, escreveu “Língua Brasileira” e no ano seguinte “O Ensino da Música”.

Foi colaborador da revista Novidade, lançada em 11 de abril e 1931 sob a direção de Alberto Passos Guimarães e Valdemar Cavalcanti.

Quando a Gazeta de Alagoas entrou em nova fase, a partir de 1951, após passar às mãos de Arnon de Melo, sendo dirigida pelo jornalista e deputado federal José Afonso Casado de Mello, vários dos antigos colaboradores do jornal criado e dirigido por Luiz Silveira continuaram a escrever, e entre eles estava Luiz Lavenère, com sua famosa coluna A Propósito.

Em 1953 era um dos redatores da Revista da Faculdade de Direito de Alagoas, dirigida pelo professor Jayme de Altavila.

Luiz Wanderley Lavenère faleceu em 29 de outubro de 1966, às 10 horas. Foi enterrado no Cemitério de Nossa da Piedade em Maceió.

Entre suas obras impressas estão:

O Bonde Elétrico (1915), Zefinha (Cenas da Vida Alagoana) (1921), O Padre Cornélio (1921), Crônica (4º Caderno) (1921), Versos de brincadeira (1922), Mostruário de Gravuras em Zinco, Maceió, 1922, Compêndio de escritura mercantil simplificada (1924), Noite de São João, publicado com o pseudônimo La Saetta (1927), Compêndio de Teoria Musical (1927), A Música em Alagoas (Conferência feita no Instituto Arqueológico e Geográfico Alagoano, em 11 de novembro de 1928), Nigumba, Conto Africano (1935), Nossas cantigas e Hinos escolares para uso das escolas primarias do Estado de Alagoas (1938), Maceió Antigo (1945) palestra em edição mimeografada, Carta Aberta aos Meus Amigos, Maceió (1945), Nossas Cantigas – Canções, Cantigas de Roda, Cocos, Modinhas, Cheganças, Pastoris Mais Populares do Nordeste, artigos publicados na A Gazeta de Alagoas (1946), Meu Waterloo na Imprensa de Maceió (1946), Crônicas e Discursos (1945), Baile da Seduzida – revisto e corrigido (1948), Bailes Pastoris (1948), Ad Memoriam (1948), Jornadas (1948), Conversas com o Rvm. Padre José Brandão Lima (1949), Por Causa de um S (1949), Uma Temporada Infeliz da Companhia Dramática Teatro Popular de Arte em Maceió, (dezembro de 1950), Nossas Cantigas. 2ª ed. (1950), O Templo do Senhor do Bonfim (artigos publicados no Jornal de Alagoas (1951), Crônicas (4º Caderno) (1952), Polêmica Religiosa (1956), Cantigas do Nordeste (1962), Em Oitenta Anos (1973), O Natal no Começo do Século XX, Boletim Alagoano de Folclore, ano 1, n. 1, (dezembro de 1955), A Fotografia em Maceió 1858-1918 (1962) em parceria com Moacir Medeiros de Sant’Ana.

O crente batista Luiz Lavenère

No início de fevereiro de 1938, Luiz Lavenère surpreendeu a comunidade religiosa de Maceió ao anunciar que estava se afastando da Igreja Batista, onde chegou nos últimos anos do século XIX, para voltar ao catolicismo.

Revelou que foi convencido do “erro” durante um curso, que durou meses, de religião proferido pelo padre Teófanes Augusto de Barros na Federação Alagoana para o Progresso Feminino.

“Venho dar-vos uma notícia que imagino vos causará tristeza: desde este momento não sou mais vosso irmão, mas, unicamente, vosso amigo”, informou aos cristãos batistas pela Gazeta de Alagoas.

Na sua justificativa, explicou: “Há cerca de quarenta anos milito na vossa denominação e nunca me interessei por investigar os fundamentos da doutrina católica, contentando-me em ler o que escreviam autores adversários e ex-padres, que passaram para a nossa igreja”.

Continuou: “Há uns três anos li, por acaso, um capítulo de uma obra do padre Leonel França [A Igreja, a Reforma e a Civilização] e senti um pequeno abalo nas minhas convicções, de tal ordem que não quis mais ler o livro, com receio de me tornar católico. Isso, porém, foi uma semente de mostarda que germinou no meu espírito”.

“Daí por diante não podia ouvir a música dos templos católicos sem sentir uma atração para atender ao chamado daquelas vozes que me cantavam no ouvido”.

“Desde o ano passado comecei a pensar na minha incapacidade para interpretar a Bíblia como pretendíamos, nós, os Batistas, recusando a interpretação dos sábios e doutores da Igreja Católica que viveram em épocas mais próximas do advento do Cristianismo, e senti que andava errado, pois não era possível que eu fosse mais inteligente e mais sábio do que tantos homens ilustres que afirmavam o contrário do que vós e os vossos pastores me ensinavam”.

“Depois de muito refletir tomei a resolução de neste momento despedir-me de vós e voltar à Igreja Católica de onde saí para a vossa. Deixo-vos; mas, não penseis que serei agora vosso inimigo e detrator das vossas crenças que foram também minhas durante quase metade da minha existência. Fui uma ovelha desgarrada que encontrou seu rebanho”.

5 Comments on Luiz Lavenère e a aventura pela arte e cultura das Alagoas

  1. limafilho.antonio@gmail.com // 13 de abril de 2020 em 23:16 //

    Inicialmente, por encontrar muitas fotos de Luiz Lavenère, a curiosidade foi aguçada e perguntei ao grupo quem era O fotógrafo? Fomos brindados com toda essa história que merece elogios de todos nós. Luiz Lavenère presente! Obrigado e parabéns aos organizadores!

  2. Ronaldo de Andrade Silva // 14 de abril de 2020 em 04:50 //

    Recompensadora a leitura do texto sobre o inquieto Luiz Lavenere. A dimensão intelectual do biografado, apresentada pelo autor, é plena de variantes que enobrecem . No tocante à música e ao teatro ler os nomes de Linda Mascarenhas e da Associação Teatral das Alagoas – ATA nos lisonjeou. Parabéns.

    Ronaldo de Andrade
    Presidente da ATA

  3. André Soares // 16 de abril de 2020 em 06:40 //

    Ticianeli que serviço de informação e cultura você presta ao nosso povo.
    Vida longa a este espaço de saber.

  4. BILLY MAGNO // 20 de abril de 2020 em 10:08 //

    Valiosíssimo documento a memória de Lavenére. O túmulo dele é bem próximo da entrada do cemitério da Piedade.

  5. Kelvin Henrique Dos Santos // 25 de novembro de 2020 em 02:46 //

    Olá, gostaria de saber onde encontro os trabalhos e livros do professor Lavenére sobre emboladas? Desde já agradeço.

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