Junqueiro, a terra dos juncos da Lagoa do Retiro

Igreja N. S. Divina Pastora em Junqueiro, Alagoas

Os primeiros moradores do local utilizavam largamente o junco existente na atual Lagoa do Retiro para a produção de utensílios domésticos, como cestos, esteiras e pavios de velas, aproveitando a medula dos caules. Não demorou e a região da lagoa com seus juncos passou a ser conhecida como Junqueiro.

Igreja de São Sebastião em Junqueiro, Alagoas

As informações sobre seus primeiros habitantes identificam como sendo familiares de Isabel Ferreira. Seus filhos se fixaram na região e constituíram famílias, como uma das suas filhas, que se casou com um cidadão de nome Tomaz, oriundo de Sergipe e que ficou conhecido na região como Pai Félix. Seu nome é lembrado como um dos responsáveis pelo desenvolvimento de Junqueiro.

A padroeira do município é Nossa Senhora Divina Pastora e a sua escolha se deu após ser encontrada uma cruz, com um pequeno desenho da Divina Pastora em um dos braços, no tronco de um ingazeiro.

Foi Pai Félix quem levantou uma capela da Santa Cruz para receber o achado. O local era próximo do ingazeiro e serviu para anos depois receber também a igreja de Nossa Senhora Divina Pastora.

Em meados do século XIX, Junqueiro era um dos povoados de Anadia. Os outros eram: Limoeiro, Pindoba, Tanque d’Arca, Tapera, Canabrava e Mar Vermelho.

Rua Aurélio Góis e a Igreja de N. S. da Divina Pastora em Junqueiro, Alagoas

Nessa época, dava os primeiros passos no ensino, como ficou evidenciado com a notícia da realização do concurso publicado para escolher o professor da cadeira de “primeiras letras do sexo masculino para a povoação de Junqueiro”, ocorrido em 10 de setembro 1851.

Foi nesse período que surgiu a sua maior ligação com Limoeiro. A Lei Provincial nº 456, de 26 de junho de 1865, criou a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Limoeiro abrangendo o povoado de Junqueiro, que já tinha sua capela.

Em 1874, o município de Anadia apareceu no Almanak da Província de Alagoas com oito povoados: Anadia (vila com 640 habitantes), Limoeiro (300 hab.), Junqueiro (400 hab.), Pindoba (112 hab.), Tanque D’arca (140 hab.), Tapera (80 hab.) Canabrava (80 hab.) e Mar Vermelho (100 hab.).

Em 1875 existiam dois professores no povoado do Junqueiro: Antônio Félix de Jesus e Belarmina Valadares de Oliveira Costa. O “Delegado Literário” era Antônio Joviniano da Silva. O subdelegado de Polícia era Manoel Pereira Lima, que contava com três suplentes: José de Almeida Lima, José Vicente da Costa e José Pedro d’Almeida.

O povoado ganhou a posição de Distrito do município de Limoeiro de Anadia pela resolução provincial nº 812, de 21 de junho de 1879. Essa mesma resolução, adotada pelo presidente da Província Cincinato Pinto da Silva, também transferiu a sede da freguesa de Limoeiro para Junqueiro.

Mercado Público de Junqueiro, Alagoas

O governador do Bispado não gostou da mudança e não deu a aprovação canônica. Essa resolução caiu automaticamente quando, três anos depois, a Lei Provincial nº 866 de 31 de maio de 1882, elevou Limoeiro a município. Junqueiro passou a ser um povoado de Limoeiro, deixando Anadia.

Junqueiro chegou a Distrito Judiciário pela Lei Provincial nº 956 de 13 de julho de 1885.

Segundo o Almanak do Estado de Alagoas de 1891, a povoação de Junqueiro tinha “cento e tantos fogos (habitações), uma boa capela consagrada à Divina Pastora e um cemitério com capela sob o padroado de S. Sebastião”.

Em 1894, Junqueiro tinha três estabelecimentos comerciais de “Molhados”, cujos proprietários eram Antônio Manoel da Costa, Manoel Marques da Silva e Manoel Rocha. Cinco lojas de fazendas de Alexandrino Barboza, Antônio Barboza Silva Vital, Felinto Espírito Santo, José Barboza de Souza e Veridiano do Espírito Santo. Duas padarias, de Macário Cardoso e de Manoel Antônio da Costa.

Os alfaiates eram José Cândido e Manoel Alves Silva Campos. Dois fogueteiros: Tibúrcio Valeriano e Veridiano do Espírito Santo. Os ferreiros eram José Café, Lourenço José e Theodoro Manoel do Rosário. O ourives era Antônio Francisco Peretti.

Prefeitura de Junqueiro erguida em 1937 na gestão de Alípio Madeiro

Belarmino Epaminondas, Manoel Leite e Pedro Quintino eram os marceneiros, e Francisco do Ó, Manoel Catité e Marcelino Gomes eram os sapateiros.

Três máquinas a vapor descaroçavam algodão. Eram de propriedades de João Francolino Silva Reis, Manoel Leandro e Manoel Marques da Silva.

Em 1894, Junqueiro era um dos povoados do município de Limoeiro, ao lado de Arapiraca e Canabrava.

Foi nesse período que cresceu a cobrança por autonomia do povoado. Como resultado dessa mobilização, no dia 27 de abril de 1897 foi lido no plenário da Assembleia o projeto que elevava Junqueiro a Vila.

Quatro anos depois, pela Resolução nº 317, de 12 de junho de 1901, o governador do Estado de Alagoas Euclides Malta autorizou a transferência da sede do município de Limoeiro de Anadia para Junqueiro.

Houve impasse político e essa mudança não ocorreu, entretanto, dois anos depois a Lei Estadual nº 379, de 15 de junho de 1903, desmembrou Junqueiro de Limoeiro elevando-o a município. Foi instalado em 31 de janeiro de 1904.

A eleição do seu primeiro Conselho Municipal (atual Câmara Municipal de Vereadores) foi em 14 de dezembro de 1905.

A Paróquia Nossa Senhora Divina Pastora, de  Junqueiro, foi criada em 3 de setembro de 1912 por Dom Manuel Antônio de Oliveira Lopes, 2° Bispo Diocesano de Alagoas e 1° Arcebispo da Arquidiocese de Maceió. Seu primeiro padre, Antônio Procópio, era natural do município.

Sua população em 1922 era de 10.093 habitantes distribuídos por Sucupira Torta, Camboim, Retiro e Riachão.

Mesmo demonstrando crescimento e desenvolvimento econômico, o município ainda teve que enfrentar algumas batalhas para consolidar a sua emancipação política.

O primeiro revés ocorreu com edição do Decreto nº 1619, de 23 de fevereiro de 1932, que extinguiu o município, anexando seu território ao município de Limoeiro, como simples distrito.

Lagoa do Retiro em Junqueiro, Alagoas. Foto da página do Facebook Memórias de Junqueiro

A decisão foi do interventor capitão Tasso de Oliveira Tinoco como parte das medidas adotadas pela Revolução de 1930.

A reação a favor dos junqueirenses ocorreu por iniciativa dos deputados constituintes de 1935, que resolveram restabelecer o município e aprovaram dispositivo legal para isso na carta estadual de 16 de setembro de 1935.

Foi novamente extinto pelo governador Osman Loureiro, que assinou o decreto-lei estadual nº 2361, de 31 de março de 1938. Desta feita seu território foi anexado ao distrito sede do município de Limoeiro.

Voltou a ser distrito do município de Limoeiro pelo decreto estadual nº 2435, de 30 de novembro de 1938. Limoeiro passou a ser Limoeiro de Anadia pelo decreto-lei estadual nº 2909, de 30 de dezembro de 1943.

Voltou a ser município em 9 de julho de 1947, por imposição do artigo 6º das Disposições Transitórias da Constituição Estadual daquele ano. O governador era Silvestre Péricles de Góis Monteiro.

Mesmo tendo chegado a município por determinação da Lei Estadual nº 379, de 15 de junho de 1903, a data escolhida para comemorar a emancipação é 9 de julho de 1947, quando Junqueiro voltou a ser município após ter perdido essa condição em dois momentos de sua história.

8 Comments on Junqueiro, a terra dos juncos da Lagoa do Retiro

  1. José Elpidio de Mendonça Cerqueira // 2 de janeiro de 2019 em 20:15 //

    Nunca tinha tido a curiosidade de conhecer a origem do nome da cidade. Achei muito interessante este relato desta parte do Estado de Alagoas.

  2. Eduardo Jorge // 2 de janeiro de 2019 em 20:21 //

    Grande cidade Junqueiro onde passei muitas férias na casa de meus queridos tios Leôncio e Maria e todos e seus filhos e netos.

  3. Jorge Tomás dos Santos // 21 de março de 2021 em 15:04 //

    Amei conhecer a história de Junqueiros.
    Minha mãe é filha de Junqueiros e após a sua morte, há quase dois anos, quero reencontrar os meus ascendentes e comecei a pesquisar.

  4. Junqueiro, minha terra querida.Em breve estarei aí.terra da paixão.

  5. Junqueiro, terra da paixão.

  6. José italo // 6 de outubro de 2021 em 23:47 //

    Por alguns instantes, imaginei como viviam essas pessoas há mais de um século; suas histórias, famílias, descendentes. Quanta diferença aos dias atuais.

  7. Manoel messias // 28 de fevereiro de 2022 em 16:08 //

    Saudades da minha terra de coraçao partido

  8. Angela F Silva // 1 de outubro de 2023 em 00:07 //

    Minha mãe nasceu nos anos de 1950 em Junqueiro, infelizmente perdeu meus avós muito nova, casando-se em seguida. Foi morar em São Paulo, afastando-se contra vontade da família. Mas seu coração estava em Junqueiro. Planejava levá-la este ano para rever seu local de nascimento e eu poder reviver com ela, sua história, mas Deus não quis e a recolheu no dia de natal de 2022. Com tudo isso, sonho ainda poder conhecer a terra de minha mãe, e como sorte, conhecer sua história e andar pelas terras onde ela cresceu e foi feliz.

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