A queda do Gogó da Ema

Noite da queda do Gogó da Ema em 1955

O coqueiro torto, que veio a ser cartão postal de Maceió por décadas, era apenas mais um entre as centenas de outros que existiam na Ponta Verde dos anos de 1930, quando o bairro ainda era uma região de sítios e suas praias tinham como atrações principais a pescaria e a possibilidade de por lá se encontrar petróleo.

Nos anos 30, o governo federal abriu poços de prospecção de petróleo na Ponta Verde. Este era bem próximo ao Gogó da Ema

Nos anos 30, o governo federal abriu poços de prospecção de petróleo na Ponta Verde. Este era bem próximo ao Gogó da Ema

A curva da Ponta Verde, onde ficava o Gogó da Ema, era um sítio de propriedade de Francisco Venâncio Barbosa, o Chico Zu, como informa Félix Lima Júnior no seu livro Maceió de Outrora.

O coqueiro começou a receber atenção dos poderes públicos em 1946, na gestão do prefeito Reinaldo Carlos de Carvalho Gama, que mandou enterrar algumas estacas ao seu redor para protegê-lo.

Em 1948, quando o prefeito já era João Teixeira de Vasconcelos, no entorno do Gogó da Ema foi construída uma pracinha com quatro banquinhos.

Raras imagens do Gogó da Ema e da Estátua da Liberdade em Maceió em trecho do filme O Gigante, montado em 1968 com imagens colhidas anos antes.

Após ser identificado como uma atração na Praia de Ponta Verde, o Gogó da Ema foi cantado em verso e prosa, fotografado e pintado até 1955, quando caiu vítima do avanço do mar.

A responsabilidade de sua queda foi atribuída as mudanças das correntes marinhas a partir da construção do cais de Maceió.

O engenheiro Vinicius de Maia Nobre acredita que o Gogó da Ema já estava em idade adulta, mas que as obras do porto aceleraram o avanço do mar sobre o coqueiro (reportagem do G1 AQUI).

“As águas da enseada da Pajuçara passavam, através de um canal próximo ao Porto, para a enseada de Jaraguá, onde era o ancoradouro dos navios. O projeto era transpor essa região onde a corrente passava através de uma ponte, que não foi construída. Foi vedada a passagem dessa corrente. Por isso ela hoje, bate lá e volta, e acentuou o avanço do mar na região do Gogó da Ema”.

Gogó da Ema no dia da sua queda

Gogó da Ema no dia da sua queda

Essa invasão do mar na curva da Ponta Verde derrubou vários coqueiros e o Gogó da Ema foi um deles, mesmo com os cuidados que foram adotados para mantê-lo de pé.

Caiu o Gogó da Ema

No dia 27 de julho de 1955, às 14:20 horas, lentamente, inclinando-se onda após onda, o cartão postal de Maceió foi vagarosamente caindo.

A notícia logo se espalhou pela cidade, causando comoção. No dia seguinte teve início uma operação para reerguê-lo.

Coordenaram a iniciativa o coronel Mário de Carvalho Lima, comandante da PM (pai do capitão Carlito Lima), Théo Brandão e o jornalista Carivaldo Brandão.

Mais de 200 soldados da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros foram mobilizados para os trabalhos. Dois dias depois o coqueiro foi recolocado de pé com a orientação dos engenheiros agrônomos Jesus Gerardo Parentes Fortes e Olavo Machado.

O Gogó da Ema permaneceu lutando pela vida até dezembro, quando suas folhas secaram definitivamente e ele foi declarado morto, mesmo ainda estando de pé.

Dias depois (22 de janeiro de 1956) tombou definitivamente nas areias da Ponta Verde. Seus tronco ainda permaneceu no local por alguns anos.

Coronel Mário Lima Conte (pai do CArlito Lima), Théo Brandão e Carivaldo Brandão na operação salvamento do Gogó da Ema em 1955.

Coronel Mário Lima Conte (pai do Carlito Lima), Théo Brandão e Carivaldo Brandão na operação salvamento do Gogó da Ema em 1955.

Carivaldo Brandão, que acompanhou de perto a tragédia do Gogó da Ema, revelou no texto Paixão e morte de um coqueiro que a recuperação não aconteceu porque logo após a queda “mãos insensíveis e ignorantes se apresentaram em flagelá-lo mais ainda, a golpes de facão, mutilando sua preciosa folhagem”.

A ideia de reerguer o Gogó da Ema partiu da mãe do fotógrafo Virgilito Cabral, do Jornal de Alagoas. Ele comentou esta sugestão de sua mãe com Carivaldo Brandão, que acionou o chefe da Defesa Sanitária Vegetal, agrônomo Jesus Gerardo Parente Fortes.

A operação durou três dias e contou com a ajuda de um carro guindaste da Companhia Força e Luz do Nordeste do Brasil (CFLNB).

Após 90 dias de tratamento, algumas folhagens reapareceram, mas logo secaram. Sem vida, foi entregue às insistentes ondas do mar, que solaparam a sua base derrubando-o definitivamente dias depois.

Fontes: Texto “Gogó da Ema” de Luís Veras Filho, publicado no Caderno “Maceió Histórias-Costumes”, da Funted. Luís Veras Filho é autor do clássico “História do Turismo de Alagoas”, de 1991. Texto “Paixão e morte de um coqueiro” de Carivaldo Brandão, publicado no livro “Jornal de Alagoas, 80 anos”, de 1988.

Gogó da Ema no seu esplendor

Gogó da Ema no seu esplendor

Mirante do Gogó da Ema

Mirante do Gogó da Ema

Gogó da Ema era o principal cartão postal de Maceió

Gogó da Ema era o principal cartão postal de Maceió

Gogó da Ema em 1950

Gogó da Ema em 1950

O poeta Cipriano Jucá e o Gogó da Ema em 1940

O poeta Cipriano Jucá e o Gogó da Ema em 1940

Gogó da Ema no chão

Gogó da Ema no chão

Muita gente foi ver o Gogó da Ema caído

Muita gente foi ver o Gogó da Ema caído.

Os engenheiros agrônomos Jesus Gerardo Parentes Fortes e Olavo Machado foram chamados para ver a situação do Gogó da Ema

Os engenheiros agrônomos Jesus Gerardo Parentes Fortes e Olavo Machado foram chamados para ver a situação do Gogó da Ema

Engenheiros agrônomos Jesus Gerardo Parentes Fortes e Olavo Machado examinam o coqueiro para reerguê-lo

Engenheiros agrônomos Jesus Gerardo Parentes Fortes e Olavo Machado examinam o coqueiro para reerguê-lo

Soldados do Exército e marinheiros ajudaram a reerguer o coqueiro caído

Soldados do Exército e marinheiros ajudaram a reerguer o coqueiro caído

Mesmo reerguido, o Gogó da Ema não sobreviveu

Mesmo reerguido, o Gogó da Ema não sobreviveu

19 Comments on A queda do Gogó da Ema

  1. TERESA CRISTNA SILVA RODRIGUES // 27 de outubro de 2015 em 13:27 //

    Não sabia que se tinha tantas coisas sobre o Gogó da Ema. Acho muito bom se encontrar esse tipo de informações sobre nossa cidade. Muito grata por ter sempre alguns conhecimentos a mais do que o curso que estou a fazer de ALAGOANIDADE na Faculdade da Cidade de Maceió, FACIMA TI, que é uma faculdade direcionada à terceira idade.(acho que o nosso curso deveria se estender mais).

  2. MIGUEL DOS SANTOS FREITAS // 29 de fevereiro de 2016 em 00:06 //

    Saudades de Maceió sempre ouvi as histórias deste lindo coqueiro, minha mãe é de Maceió, sou de Santos, mas tenho muitas saudades da terra, de meus avós que faleceram recentemente. Conheço Maceió desde janeiro de 1981 e como a cidade cresceu e perdeu um pouco suas características.

  3. Leonardo Rocha Fortes // 21 de outubro de 2016 em 20:14 //

    O meu pai Jesus Gerardo Parentes Fortes, conhecido Dr. Jesus, uma vez me falou que também foi causa da morte do Gogo a grande quantidade de chumbo que tinha nele proviniente de tiros de arma de fogo e ele me dizia

  4. grata por compatilhar!

  5. Se realmente era um cartão postal de Alagoas pois deveriam fazerem uma réplica no local em homenagens ao pé gogo da ema mesmo depois de morto não era pra ser esquecido um cartão postal não era pra ser apagado da cidade de Alagoas a história de Alagoas não pode se esquecer

  6. Jose antonio iazzetti prof.paulistace amante de maceio ha 37 anos // 4 de janeiro de 2018 em 19:50 //

    Estes documentos sao fundamentalmente imortantes para que os jovens das atuais geracoes conhecam o passado dr sua cidade.

  7. Vera Lucia Rego Vieira // 26 de maio de 2019 em 17:41 //

    Eu cresci ouvindo meu pai e minhas tias falarem do coqueiro GOGÓ DA EMA. Na casa da minha tia no Rio de Janeiro tinha um quadro na sala do GOGÓ e eu bem pequena achava muito interessante. Acho que deveria sim, ter uma réplica desse cartão postal de Alagoas.

  8. Meus pais são do pontal da barra e a casa da minha avó materna ficava na beira da lagoa de mandau lá existia até os 1978 a 1979 um coqueiro com as mesmas caracteristicas do gogo da ema , segundo meu avô , a curvatura do coqueiro foi devido as fortes ventanias a beira da lagoa. Na epoca estiveram agrônomos fazendo estudos ,para remoção do coqueiro , para a praia de gogo da ema como era chamada naquela epoca, mais infelizmente , segundo eles a remoção era dificil e o coqueiro morreria. eu estava procurando na internet uma foto do gogo da ema para pintar um quadro pra escola do meu neto,quando li esse reportagem , ai deu saudades do meu pai. falei pai. ´´ ,

  9. Se houvesse vontade política em nossa capital seria erguida uma réplica do gogó da ema no mesmo local em que se enconva o mesmo. Certamente seria uma grande atração turística para nossa capital que atrairia turistas do Brasil e do mundo inteiro.

  10. José Edilson de Oliveira // 21 de novembro de 2019 em 04:12 //

    Confesso que fiquei muito comovido com essa linda matéria sobre o ” Gogó da Ema”.
    Concordo também em se construir uma réplica desse coqueiro, pois tenho certeza que isso pode ser possível, tendo em vista as tecnologias arquitetônicas estarem muito avançadas. É só o interesse dos Poderes Públicos serem provocados.

  11. Deveriam ter preservado o tronco.

  12. Me chamo Jeosadack Gouveia sou de Caruaru PE, ouvi várias vezes do meu saudoso pai “Josafá Gouveia” que morou no interior de Alagoas relatos e histórias sobre o coqueiro “Gogó de Ema” na época dos relatos não exisia internet e eu ficava imaginando como seria o famoso coqueiro, até que veio a internet e eu pude enfim matar minha curiosidade vendo fotos do mesmo e contar a mesma história pro Meu filho Nathan Gouveia que ficou muito interessado pelo tema

  13. José Carivaldo Brandão Júnior // 13 de julho de 2020 em 14:54 //

    É muito emocionante e motivo de orgulho, saber que meu pai, jornalista Carivaldo Brandão, participou com grande dedicação a esse momento da história da nossa terra, que foi reerguer o formoso e raro Coqueiro GOGÓ DA EMA, que um dia também foi FILHO, SÍMBOLO da NOSSA AMADA MACEIÓ.

  14. Sebastião Paulo // 29 de julho de 2020 em 15:51 //

    Meu avô era Alagoano de Viçosa, ele morreu em 1968, e me falava sobre esse coqueiro o GOGÓ DA EMA. Eu sou pernambucano e moro em São Paulo, mas sou a favor de uma réplica do COQUEIRO…
    Ele me disse que viu o coqueiro em 1940. 15 anos antes de sua queda.
    Sou a favor de se erguer uma réplica grande tipo uns 50 metros de altura. O governador é o senador (pai e filho) Renan Calheiro. Deveriam fazer essa obra com verba do poder privado e uma questão de interesse e de cultura. Não deixem a história morrer! GOGÓ DA EMA… LINDA HISTORIA.

  15. Luiz Carlos // 19 de outubro de 2020 em 10:18 //

    Tinha uns 12 anos quando vi as primeiras fotos desse coqueiro. Isso foi em 1955. Logo depois ele deixou de existir. Uma pena. Será que se tivessem guardado e plantado sementes dele teríamos outro Gogó da Ema igual ao que morreu?

  16. Sebastião Paulo de Barros Desenhista Mecânico Auto Cad // 20 de março de 2021 em 16:56 //

    Quando será que vão construir uma Replica do GOGÓ DA EMA?
    COM 50 METROS DE ALTURA. MORO EM São Paulo mas SOU neto de alguém que conheceu em 1940 o famoso coqueiro. Meu avô era de Viçosa/Al.
    Não deixem essa história morrer. LINDA HISTORIA.

  17. Boa tarde. Gostei muito de conhecer a história. Procuro meu avô. O nome que tenho para essa busca é Francisco Paulo de Oliveira. Nos anos de 1953/1960… tenho a informação que ele morava na rua Formosa, no bairro da Levada em Maceió. Ele era militar, da Polícia Militar de Alagoas. Tinha além do meu pai outros filhos. Agradeço se alguém tiver alguma informação a respeito do paradeiro dele. Obrigada. simonefcassi@bol.com.br

  18. Deveriam fazer uma réplica de fibra de carbono

  19. Sou neta de 1o grau de stock venancio Barbosa! Essas terras tem muita história!

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