A Fábrica Alexandria do Bom Parto

Fábrica Alexandria de M. Lobo & Cia em1920, no Bom Parto

A primeira informação publicada sobre a Fábrica Alexandria surgiu no jornal Gutemberg de 8 de março de 1911. Em um longo texto laudatório do progresso e do desenvolvimento produzidos pela indústria, o periódico enalteceu a constituição daquela companhia.

“Sob a competente orientação de um distinto capitalista, o sr. João Antônio Loureiro, e de um mecânico de rara habilidade, como o sr. Manoel Teixeira Guimarães, a Fábrica Alexandria se propõe a explorar o feitio de rendas sistema Madeira e de linhas de algodão”, destacou o jornal.

Manoel Teixeira Guimarães, um dos primeiros proprietários da Fábrica Alexandria. Revista Comercial e Agrícola das Alagoas, 1914

Detalhou ainda que a fábrica seria localizada no Bom Parto e que as máquinas deveriam vir na Europa “dentro de dois meses”. Em junho, os jornais noticiavam que a firma havia conseguido a isenção de “direitos alfandegários ao maquinismo importado…”.

Foi o intendente Luiz de Mascarenhas quem assinou o despacho de 20 de abril de 1911 autorizando a firma a “construir uma casa à rua Calheiros da Graça”. Indicativo que havia investimento em obras na área. (Gutenberg de 21 de abril de 1911). Instalada na Rua General Hermes, nº 1.199, no bairro do Bom Parto, seus escritórios ocupavam a antiga chácara do dr. Luiz Eugênio Silveira Leite.

No mesmo dia 20 de abril, o Gutenberg informava que João Antônio Loureiro havia distribuído duas circulares, uma delas comunicando que havia dissolvido a firma Loureiro & Cia, que mantinha em Penedo para explorar o abastecimento d’água na cidade, ali instalado em abril de 1904.

A outra circular tornava público a constituição da firma Loureiro & Guimarães “cujo principal objetivo é o fabrico de rendas e linhas de algodão, montando para isso a Fábrica Alexandria…”.

Em 17 de agosto de 1911, o Gutemberg noticiou que o governador do Estado, Euclides Malta, e outras autoridades fizeram uma visita “as obras da Fábrica de rendas dos srs. Loureiro & Guimarães (sita no Bom Parto)”.

Fábrica Alexandria foi inaugurada em outubro de 1911 e permaneceu até 1913 como um empreendimento da firma Loureiro & Guimarães, de João Antônio Loureiro e Manoel Teixeira Guimarães.

Filho de tradicional família de Penedo, Alagoas, João Antônio Loureiro era o diretor gerente da firma J. A. Loureiro & Cia, Empresa Luz Elétrica Alagoas, uma sociedade em comandita, registrada em setembro de 1894, que instalou o primeiro sistema de iluminação elétrica de Maceió, inaugurado em 16 de janeiro de 1896. Adriano de Oliveira Maia era o outro sócio.

Em 1907, sem honrar uma dívida contraída com o Estado de Alagoas e sem conseguir dar manutenção em seus equipamentos, a companhia Luz Elétrica de Alagoas foi executada pelo Governo e arrematada em hasta pública pelo comendador José Antônio Teixeira Basto, que pagou 35:000$000 pela empresa.

Manoel Teixeira Guimarães era um mecânico português natural da cidade de Fafe, que em 1906 se instalou Sergipe para montar a Fábrica Peixoto & Gonçalves, no município de Neópolis. Essa empresa continua em atividade com a denominação de Peixoto Gonçalves S/A.

Após constituir a Loureiro & Guimarães em 1911 e se afastar dela em 1913, com a venda da Fábrica Alexandria, Manoel Teixeira Guimarães permaneceu na empresa até 1914 como diretor técnico. Neste mesmo ano assumiu a gerência da Fábrica Progresso Alagoano.

O português João Antônio Loureiro foi para o Rio de Janeiro, onde instalou a fábrica de rendas Petropólis-Fabril no Vale do Paraíso.

Em 24 de novembro de 1912, a Revista Commercial das Alagoas noticiou que a Fábrica Alexander, da Inglaterra, movia ação contra a marca utilizada pela Alexandria na comercialização de suas linhas. A revista avaliava que a razão estava “do lado do Sr. J. F. Guimarães o proprietário da fábrica Alexandria — os produtos desta fábrica têm o indício de Maceió e não de Glascow. Alexandria e não Alexander. O Tribunal Federal dirá o resto”.  Quem era o Sr. J. F. Guimarães? Seria o mesmo Manoel Teixeira Guimarães grafado de forma errada?

Famílias Zagallo e Lobo na Fábrica Alexandria

Antigas casas dos operários da Alexandria na Rua Saldanha Marinho no Bom Parto. Foto de Ademir Brandão para O Jornal

No final de abril de 1913, a Revista Comercial de Alagoas divulgou uma nota circular “da futurosa firma Zagallo & Irmão” com o seguinte teor:

“Maceió, 26 de abril de 1913. — Ilustre Redação da ‘Revista Comercial’. Maceió. — Amigos e Snrs. — Temos a subida honra de comunicar a V.S. que nesta data constituímos uma sociedade mercantil sob a firma ZAGALLO & IRMÃO, para exploração dos produtos manufaturados pela fábrica denomina Alexandria, sita à rua Calheiros da Graça n. 28, hoje de nossa propriedade, da qual são solidários Luiz Zagallo Rodrigues Cardozo e Joaquim Cordeiro Zagallo, conforme contrato arquivado na Meritíssima Junta Comercial deste Estado”.

Sete anos depois a Fábrica estava sob o controle de Mário Lobo, e assim permaneceu por quatro décadas e meia.

A história dessa transferência começa bem antes, em março de 1910, quando o jovem acadêmico de Medicina Mário Lobo casa-se com Edla Zagallo Lobo, uma das filhas de Luiz Zagallo e de Laura Cardoso Zagallo. Mário concluiu o curso na Faculdade de Medicina da Bahia em dezembro daquele mesmo ano.

Mário Lobo, que era filho de Alfredo Alves de Souza Lobo, então juiz de Direito em Porto Calvo, surge nos registros de 1916 como diretor gerente da fábrica. Nesta época morava na Rua Calheiros da Graça, nº 46.

A irmã de Mario Lobo, Maria Antonieta Lobo Zagallo, foi a mãe de Mário Jorge Lobo Zagallo, o craque de futebol que nasceu em Maceió no dia 9 de agosto de 1931.  Seu pai, Haroldo Cardoso Zagallo, era diretor comercial da Alexandria no Rio de Janeiro.

Com a morte de Joaquim Cordeiro Zagallo, em Salvador no dia 30 de novembro de 1915, a firma proprietária da Fábrica Alexandria passou por alteração societária. Em 1917 ela era citada como Zagallo & Cia, não mais Zagallo & Irmão.

Em 1920, a fábrica foi repassada à firma M. Lobo & Cia, sociedade em comandita por ações com um capital de 1.000:000$000, que adquiriu novo maquinário e ampliou exponencialmente a capacidade de produção daquela unidade fabril.

Luiz Zagallo faleceu no dia 15 de novembro de 1931, no Rio de Janeiro.

Esporte Clube Alexandria, campeão alagoano de 1947

Mário Lobo, que passou a administrar a indústria a partir de 1920, permaneceu à frente da fábrica até quando desligou definitivamente seus motores em 23 de novembro de 1966.

Em algum momento dessa trajetória houve a incorporação de Alfredo Peixoto como um dos principais sócios da empresa.

Em 1945, a M. Lobo & Cia. estava localizada na Rua General Hermes, 1327, no Bom Parto.

Governador Silvestre Péricles visita a Fábrica Alexandria

A presença da fábrica e dos seus operários no Bom Parto durante décadas fez o bairro prosperar e melhorou a qualidade de vida dos seus moradores. A Alexandria oferecia aos seus trabalhadores alguns benefícios, entre eles centenas de moradias refeições durante o período de trabalho.

Ao lado da fábrica surgiu uma feira livre e havia um espaço reservado para shows e apresentações, o Teatro Alexandria, onde eram exibidos filmes às sextas-feiras e sábados.

time de futebol dos trabalhadores da empresa (Associação Atlética Alexandria) também fez história ao sagrar-se campeão alagoano de 1947. Havia sido fundado em 28 de novembro de 1935.

Relatório da diretoria, apresentado em 31 de março de 1943, indica o aumento produtivo da empresa. A partir de 1942 a Alexandria passou a comprar energia elétrica da Empresa Força e Luz Nordeste do Brasil. Houve ainda a aquisição na Inglaterra de novas máquinas para a Seção de Abridores e Batedores, que passaram a funcionar sob controle automático elétrico, “com ótimo resultado no beneficiamento do algodão e na homogeneidade de sua manta, saída dos batedores”. A instalação modernizada tinha o nome de “Novo Processo Contínuo” de Lord Brotheres.

Assinavam o relatório os “sócios solidários e gerentes” dr. Mário Ferreira de Souza Lobo, Alfredo da Silva Peixoto e Antônio Fernandes Ferreira. O Conselho Fiscal era composto por: Álvaro da Silva Peixoto, João de Farias Lobo e Manoel Dias Peixoto.

Rua Luiz Zagallo no Bom Parto. Foto de Ademir Brandão para O Jornal

Mesmo oferecendo condições de trabalho nos três turnos, a Fábrica perseguia continuamente a ampliação de sua produção. Isso pode ser constatado no Correio da Manhã de 9 de setembro de 1944, que divulgou a resposta do Ministro do Trabalho à reivindicação da empresa que pleiteava “prorrogação do horário normal do trabalho para homens, mulheres e crianças”.

O ministro “deferiu o pedido, excetuando os menores e ressaltando que o trabalho de mulheres que exercem atividades também em horário noturno não pode exceder de oito horas”.

Em 1956, a Fábrica Alexandria tinha 1.015 operários, sendo mulheres 501 destes. O salário médio era de mil cruzeiros e cada operário controlava até quatro máquinas.

No jornal Imprensa Popular de 5 de junho, as operárias denunciavam que a empresa não oferecia vestiários feminino e nem banheiro para se lavarem ao término do serviço.

Quando fechou, em 23 de novembro de 1966, a Fábrica Alexandria funcionava com apenas 150 operários. Todo seu equipamento foi vendido para o Cotonifício da Torre S.A., de Recife, Pernambuco.

2 Comments on A Fábrica Alexandria do Bom Parto

  1. Milton Pereira // 25 de janeiro de 2022 em 11:56 //

    Espetacular reportagem, prestando um grande serviço a memória histórica de nosso estado.

  2. Parabéns, história de nossa terra, para sempre nos anais

Deixe um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*