Rua Sá e Albuquerque, a Rua da Alfandega do velho Jaraguá

Rua Sá e Albuquerque em Jaraguá

O ritmo de desenvolvimento de Maceió no começo do século XIX se devia principalmente ao seu ancoradouro privilegiado, facilitando a exportação de açúcar, algodão, fumo, cereais, madeiras para a construção civil e naval, farinha de mandioca, couro e outros produtos que chegavam ao povoado vindos do interior.

Nesse período, mesmo tendo sua importância reconhecida, Jaraguá ainda era um extenso areal com poucas casas e algumas estruturas para embarque e desembarque de mercadorias e passageiros.

Antonio Coelho de Sá e Albuquerque, governador de Alagoas que deu nome à antiga Rua da Alfandega

Era tratado como um povoado distante de Maceió. Toda a região portuária recebia a denominação de Jaraguá, sem a identificação de nenhuma rua em particular.

A primeira referência a existência de ruas em Jaraguá surgiu n’O Correio Maceioense, de 22 de setembro de 1850, uma Resolução, datada de 6 de julho, declarando de utilidade pública um terreno “para nele se abrir uma travessa ou beco por onde se comunique a Rua da Praia com a que lhe é paralela“. Essa outra, muito provavelmente foi denominada posteriormente como Rua da Igreja e é a atual Rua Barão de Jaraguá.

A Rua da Praia também foi conhecida como a Rua da Frente, conforme registro do Monsenhor Luís Barbosa.

O seu prolongamento em direção ao Centro de Maceió ficou conhecido como o “Caminho de Jaraguá“. Esse areal, anos depois passou a ser o Aterro de Jaraguá. Seu trecho mais próximo de Jaraguá foi a Rua do Conselheiro Saraiva. Já no século XX, a Estrada de Jaraguá deu lugar à Avenida da Paz. Em um período foi a Avenida Duque de Caxias, mas a Paz voltou a reinar por lá na década de 1990.

Maceió e Jaraguá

Em 1874, no Almanak Administrativo da Província das Alagoas, que descrevia Maceió como uma capital dividida em dois bairros, Maceió e Jaraguá, a Rua da Praia já não é mais citada.

Jaraguá tinha 16 ruas: Saraiva, Alfandega, Barão de Jaraguá, Ponte, São Felix, Santo Amaro, Matriz, Amorim, Cafundó, Pajussara, Araçá, Jasmim, Goitizeiro, Cacimba, Bom Retiro e Fogo, além da pequena praça da Matriz e um jardim.

A capela deu lugar à Matriz, que já estava em construção naquele ano de 1874.

A Rua Sá e Albuquerque sempre foi o principal logradouro de Jaraguá

A Rua Sá e Albuquerque sempre foi o principal logradouro de Jaraguá

Mesmo com 16 artérias, a rua mais importante do bairro era a Rua da Alfandega, a antiga Rua da Praia. Foi nela que se expandiu o comércio e serviços, destacando-se as agências bancárias. Os armazéns de mercadorias também se situavam nela.

Com muitos caixeiros viajantes desembarcando em Jaraguá, por lá também existiam boas hospedarias, a exemplo do Hotel Salvador, que em setembro de 1879 passou a ser o Hotel Universal de Liberato Mistchell. Ficava na Rua da Alfandega, 71.

No dia 30 de novembro de 1883, os jornais divulgavam a instalação da Fundição Alagoana em Jaraguá, na Rua do Conselheiro Saraiva, esquina com a Rua Rayol (atual Mato Grosso).

Quem quisesse conversar com os seus proprietários teria que caminhar mais um pouco até o nº 54 da Rua Alfandega, que na verdade era a continuação da Rua do Saraiva. Lá, em uma recém-estabelecida casa de ferragens, poderia ser encontrado Jacintho José Nunes Leite, proprietário do empreendimento em sociedade com Eduardo Lima.

O Beco do Estrela, que deu origem à Estrada Nova, atual Av. Comendador Leão, era a fronteira entre as ruas da Alfandega e do Saraiva.

Rua Sá e Albuquerque

Sá e Albuquerque também foi ministro o Império

Sá e Albuquerque também foi ministro o Império

A Rua da Alfandega, que já tinha sido Rua da Praia e Rua da Frente, era tão conhecida como tal que, mesmo após meio século da sua denominação como Rua Sá e Albuquerque continuava sendo citada pelo nome anterior.

No final dos anos 20 do século XX ainda se podia ler anúncios nos jornais de lojas de Jaraguá localizadas “na antiga Rua da Alfandega“.

A pesquisa não encontrou com exatidão a data da mudança do nome, mas em janeiro de 1883 os jornais já se referiam ao principal logradouro de Jaraguá como Rua Sá e Albuquerque, uma homenagem a Antônio Coelho de Sá e Albuquerque, que governou Alagoas três vezes: de 13 outubro de 1854 a 4 maio de 1855; de 29 de outubro 1855 a 11 de maio 1856 e de 24 de outubro de 1856 a 13 de abril 1857.

Durante o seu governo em Alagoas, foi o responsável pela construção da capela do Cemitério de Nossa Senhora da Piedade e o Lazareto do Porto do Francês, destinado aos pacientes com cólera.

Sá e Albuquerque nasceu no dia 18 de outubro de 1821, no Engenho Guararapes, município de Muribeca, em Sergipe.

Formou-se em Direito na Faculdade de Direito do Recife em 1842. Foi deputado geral em Pernambuco nos períodos 1853/1856, 1857/1860, 1861/1862 e 1864/1865 e senador de 13 de maio de 1865 a 22 de fevereiro de 1868.

Fundição Alagoana na esquina da Comendador Saraiva e Rua do Rayol

Fundição Alagoana na esquina da Comendador Saraiva e Rua do Rayol

Governou as províncias da Paraíba, Alagoas, Pará e Bahia.

Filho do Comendador Lourenço de Sá e Albuquerque e Mariana de Sá e Albuquerque, era irmão do Visconde de Guararapes.

Foi Ministro das Relações Exteriores do gabinete conservador liderado por Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, de abril a julho de 1861.

Também foi ministro da Agricultura do breve gabinete liberal de Zacarias de Gois e Vasconcelos em 1862.

Em outubro de 1867 foi nomeado ministro e secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, cargo que ocupava quando faleceu, às 10 horas do 22 de fevereiro de 1868 a bordo do navio Paraná, que navegava a costa da Bahia. Viajava para Recife onde esperava melhorar da grave doença que o atingia, possivelmente a tuberculose.

Prostituição

Como toda zona portuária, em Jaraguá também se instalaram casas de prostituição, inicialmente voltadas para os marinheiros e portuários. Depois foram ampliadas para receber a clientela local. Algumas delas, principalmente as da Rua Sá e Albuquerque, ficaram famosas por receberem frequentadores abastados. Ali permaneceram até 1969, quando o secretário de Segurança, coronel Adauto Barbosa, as transferiu para o Canaã.

Em entrevista de janeiro de 2004, o jornalista Rubens Jambo lembrou dos cabarés e de suas “quengas” famosas. Citou Maria Pão de Ló como especialista em felação e da Nega Odete, “dona de um dos mais belos corpos de Jaraguá”. Esclareceu que alguns fregueses tinham raparigas fixas e que elas eram muito religiosas, não perdendo as missas dominicais.

Recordou ainda que o contrabando acontecia sem maiores repressões. Os produtos que chegavam nos navios eram comercializados no bairro. Um dos mais conhecidos agentes desse ramo era o Ciço Corcundinho, que tinha uma banca ao lado da Associação Comercial. “Vendia de tudo, cigarros, uísques, perfumes, alimentos e drogas. Aliás, o comércio de drogas era promissor, pois não havia fiscalização“.

Jambo cita também que havia a prostituição masculina: “Muitos dos cozinheiros dos cabarés costumavam ser ‘bonecas‘ daqueles que procuravam divertimento no mesmo sexo. Alguns rapazes também faziam ponto nas ruas em busca dos marinheiros recém-chegados ao cais”.

2 Comments on Rua Sá e Albuquerque, a Rua da Alfandega do velho Jaraguá

  1. Muito bom relembrar a nossa história.

  2. Muito bom conhecer nossa história provinciana. Agradeço imensamente por enriquecer meus conhecimentos.

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  1. A rua que mais respira cultura em Alagoas – culturaeviagem

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