Zeppelin em Maceió

O dirigível esteve sobre o aeroporto Costa Rego, no Tabuleiro, por alguns minutos na tarde 26 de novembro de 1935

Hindenburg pousado em Recife

Mesmo com dirigíveis já realizando voos comerciais desde 1910, foi somente em outubro de 1928 que um desses aparelhos realizou o primeiro voo de longa distância. A interrupção de suas atividades se deu como punição por terem sido utilizados na Primeira Guerra Mundial como arma para bombardear a Inglaterra.

A ousada viagem entre Frankfurt (Alemanha) e Nova York (EUA), em 112 horas (decolou no dia 11 e pousou no dia 15), deu fama ao dirigível LZ 127, o Graf Zeppelin, que havia sido construído naquele mesmo ano. Possuía 213 metros de comprimento, 5 motores, transportava de 20 a 24 passageiros e cerca de 36 tripulantes.

Graf Zeppelin em Recife, no Campo do Jequiá

O outro feito histórico do Graf Zeppelin foi o de ser o primeiro aparelho voador a dar a volta ao mundo em 1929. Percorreu 33 mil quilômetros em sete etapas.

Com estes feitos e contando ainda com as limitações dos aviões para os voos transatlânticos, as viagens aéreas entre a Europa e as Américas passaram a ser exploradas unicamente por estes grandes dirigíveis alemães.

Entre 1930 e 1937 as principais linhas aéreas comerciais atendidas pelos Zeppelins interligavam a Alemanha aos Estados Unidos e ao Brasil. O primeiro deles a chegar ao Brasil, às 18h35 de 22 de maio de 1930, pousou em Recife, no Campo de Jequiá.

O prefeito da capital pernambucana, que tinha decretado feriado, colocou holofotes no local, destacando a fuselagem prateada do Graf Zeppelin e permitindo ler a matrícula D-LZ 127. Esse dirigível tinha decolado às 17h do dia 18 de maio da cidade portuária de Friedrichshafen na Alemanha.

Graf Zeppelin sobrevoando Maceió em 1934

A multidão que foi assistir a chegada do Graf Zeppelin ficou impressionada com as suas dimensões: eram 236,6 metros de comprimento e 30 metros de altura, superando muitos navios transatlânticos e qualquer aeronave, mesmo as atuais.

As mais de 15 mil pessoas que estavam no Campo do Jequiá pagaram ingresso e durante a atracação, os carros da cidade que lá estavam — praticamente todos — fizeram um “buzinaço“. Mais de mil policiais faziam a segurança do lugar.

O Graf Zeppelin realizou 147 voos ao Brasil antes de ser substituído, em 1936, pelo D-LZ 129 Hindenburg. O voo inaugural do novo dirigível ao Brasil decolou para o Rio de Janeiro em 31 março de 1936. É até hoje a maior nave a voar.

Apenas 14 meses depois, no dia 6 de maio de 1937, um acidente com o Hindenburg pôs fim ao transporte aéreo por dirigível. Pouco antes de pousar em Lakehurst, New Jersey, nos Estados Unidos, um incêndio destruiu a aeronave e matou 13 passageiros e 22 tripulantes, além de uma pessoa no solo.

Zeppelin em Maceió

No trajeto de Recife para o Rio de Janeiro, tanto o Zeppelin quanto o Hindenburg sobrevoavam o litoral de Alagoas, o que permitiu muitos registros fotográficos das duas aeronaves, principalmente quando estavam sobre Maceió.

Nas ruas, as crianças faziam festa ao ver o gigantesco dirigível. O doutor e professor Lúcio Vasconcellos de Verçoza lembra que seu avô, Fernando Vasconcellos, cantava para ele uma música, mas dela somente lembra uma parte:

Lá Lá, Lé Lé, Lí Lí,
Vamos pra rua,
Vamos ver o Zeppelin.

Maria Tenório, também leitora do História de Alagoas, publicou que sua mãe entoava uma cantiga sobre o dirigível:

Quem voar nesse balão
É arriscado a não voltar
Ligeiro, ligeiro, ligeiro,
Subiu o balão brasileiro.

Assim, Maceió somente via o balão passar. Mas no dia 26 de novembro de 1935 o recebeu o Zeppelin por alguns minutos.

O dirigível havia sido impedido de pousar em Recife por ação das forças rebeldes, que tentavam a tomada do poder no país no episódio que ficou conhecido como a Revolução de 35 ou Intentona Comunista.

No dia anterior, o Zeppelin deveria ter descido no Campo do Jequiá às 17h, mas foi avisado que a área estava ocupada por rebelados, com ocorrência de tiroteios entre estes e as forças do governo.

Torre para atracação do Graf Zeppelin no Campo do Jequiá em Recife

Torre para atracação do Graf Zeppelin no Campo do Jequiá em Recife

Por rádio, a direção da empresa orientou que o dirigível deveria ir para o Rio de Janeiro, mas como a sua carga era somente de malotes postais, sobrevoou Recife por mais uma hora até que decidiram deslocar o aparelho até Maceió, para onde o hidroavião Taquari da Condor foi enviado com a missão de receber a correspondência vinda da Europa e levá-la imediatamente para o Rio de Janeiro.

O Zeppelin chegou em Maceió às 16h52 do dia 26 e sobrevoou o aeroporto Costa Rego, onde atualmente está o DER no Tabuleiro, até que que soldados do 20º BC conseguiram segurar os cabos jogados da aeronave, mantendo-o parada o tempo suficiente para que descessem os malotes postais.

Após esta operação, voltou a Pernambuco onde, nas proximidades da costa, encontrava-se o navio España, pertencente a Lufthansa, que, numa operação semelhante a ocorrida em Maceió, embarcou para no dirigível água e gêneros alimentícios.

Com o fim da rebelião em Recife, o Zeppelin consegui pousar no Campo do Jequiá às 13h do dia 27 de novembro de 1935, onde foi reabastecido e, dias depois, seguiu viagem. Essa prolongada permanência no ar terminou por estabelecer um novo recorde mundial, de 119 horas de voo sem pouso.

Fontes:
– Jornais da época.
– Cultura Aeronáutica (http://culturaaeronautica.blogspot.com.br/).
– Selos do Brasil (http://selosdobrasil.forumeiros.com/).

9 Comments on Zeppelin em Maceió

  1. Delma Conceição de Lima // 3 de março de 2016 em 09:22 //

    Fantástico!!!

  2. José Alberto Espirito Santo // 3 de março de 2016 em 22:46 //

    Sou fã do Zeppelin!

  3. Iremar Marinho // 17 de julho de 2017 em 21:26 //

    É conhecida a história de que na época em que o Zepellin sobrevoou Alagoas, muitas pessoas acreditaram que era o fim do mundo e se embrenharam nas matas, temendo a catástrofe final.

  4. Plinio Tonello // 7 de março de 2020 em 13:47 //

    No Aeroporto dos Palmares existia um local, depois da antiga vila residencial do pessoal da FAB onde, segundo diziam, era uma área de pouso do Zepellin, e onde os garotos de vila iam soltar pipas.
    Se alguma vez o Zepellin pousou lá eu não sei, mas que a área existia eu pude constatar, pois morei lá por duas vezes.

  5. Plinio, não eram Zepellins. O antigo aeroporto dos Palmares, de 1942 a até o fim da guerra em 1945, funcionou também como base militar norte-americana, que atuava na fiscalização da costa com balões radares que tinham o mesmo formato que os zepellins, em forma de charuto.

  6. Guilherme de Pereira Monte // 25 de maio de 2020 em 20:02 //

    Muito bacana a história dos Zepellins. Principalmente aqui no Brasil. Eu quando menino, cheguei a ver parte de uma área em asfalto, antes de chegar ao aeroporto, quando íamos pegar alguém, em que meu pai dizia. Aqui nesta área, pousava grandes dirigíveis, como os Zepellins

  7. CARMELITA GONÇALVES // 17 de maio de 2021 em 22:43 //

    BOA NOITE, TENHO 83 ANOS E SEMPRE CONTO HISTORIAS ANTIGAS MEUS FILHOS E MEUS NETOS ACHAVAM QUE EU ESTAVA CADUCANDO. VI E MOSTREI À ELES QUE ERA VERDADE. EU MORAVA NO TRAPICHE DA BARRA PERTO DA LAGOA E EM UMA TARDE EU VI ESSE LINDO ZEPPELIN PRATEADO SOBRE A LAGOA. LINDO !!!.

  8. Iremar Marinho // 21 de maio de 2021 em 22:04 //

    A música folclórica alagoana: “Eu tava no meio da feira, lá em Palmeira, quando o avião passou” é também atribuída à passagem do Zeppelin por Alagoas.

  9. Mayara Moura // 19 de junho de 2021 em 11:11 //

    Muito Impressionante! Nostálgico até. Imagino a sensação de presenciar um monumento desse de perto. Deveria dá medo, por isso que muita gente pensou que era o fim do mundo kkk

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