Trem tomba em Rio Largo: explosão, incêndio e morte em 1949

Gustavo Paiva em Rio Largo

Chovia na noite daquela segunda-feira, 28 de novembro de 1949. Passava das 20h quando os maquinistas Oscar Damásio e Alcides Soares, conduzindo um trem puxado pelas locomotivas 511 e 288 da Great Western entraram em Gustavo Paiva, antiga Cachoeira, no município de Rio Largo.

Reduziram a velocidade para percorrer a curva da Rua Araripe, mas foi insuficiente.

Três vagões descarrilaram e um deles, um carro tanque que transportava 100 mil litros de gasolina para a Atlantic, tombou e começou a derramar combustível.

Em poucos minutos ocorreu uma explosão.

Trem tombado em Gustavo Paiva, Rio Largo

Dona Odete Moreira, esposa do sr. João Moreira, que morava a uns 200 metros do local do acidente, descreveu para os jornais da época o que aconteceu:

“Estava, despreocupadamente, conversando com uma vizinha, quando se registrou o descarrilamento de um dos carros. Este pendeu para um lado, sendo acompanhado pelos outros. Instantes depois vi várias pessoas carregando latas e vasilhas. Quis saber a razão dessa atitude e elas me informaram que o carro tanque vazara e iriam aproveitar a oportunidade para conseguir combustível”.

“De repente — continuou D. Odete —, uma locomotiva se aproximou de um dos vagões, verificando-se um forte estampido. Vi, horrorizada, uma mulher passar pela minha porta com as vestes em chamas e ouvi lancinantes gritos de socorro. Nada mais posso adiantar, pois imediatamente corri para um local bem distante, fugindo das chamas cada vez mais ameaçadoras”.

Gustavo Paiva quando ainda era Cachoeira em 1908

Várias outras testemunhas afirmaram que a causa principal do sinistro havia sido a imprudência de algumas pessoas que, portando candeeiros acesos, tentavam recolher a gasolina pensando ser querosene.

O acidente foi considerado um dos maiores do Nordeste até aquela data, principalmente pelo incêndio que destruiu algumas casas da antiga Cachoeira.

O casal João Reis e Gilberta de Faria Reis era proprietário de um estabelecimento comercial e perdeu tudo, inclusive os objetos que se encontravam na residência. João Reis disse que ao ouvir a explosão e um forte clarão, que tomou conta da casa, saiu correndo com a família e em poucos minutos tudo se transformou em um monte de ruínas.

Foram destruídas ainda as residências números 96, de Edgard Lima; 105, de Ana Ferreira; 111, de Cícero Miranda; 119, de Rosa Ferreira dos Santos e outra sem número da viúva Maria Domingues.

As vítimas do sinistro foram as seguintes: José de Oliveira Leite, 31 anos, casado; Maria Miranda Silva, 25, casada; Manoel Lopes, 19; José Miranda Silva, 18; Maria Júlia Silva, 13; Manoel Padilha Neto, 17; Edilha Antônio, 20; Rosalvo Pereira Santos, 37; José Ramalho Filho, 16; José Lopes Santos, 1; José Epaminondas Filho, 14; Clotilde Conceição, 28; Benedito Silvestre, 25; Argentina Miranda Batista, 20; Maria Miranda, 24; Teresinha Epaminondas, 19 anos, e Moacir Crisostomo.

Faleceram, vítimas das queimaduras, Teresinha Epaminondas, 19 anos, e José Epaminondas Filho, 14 anos, filhos de José Epaminondas da Silva, operário da Fábrica Progresso.

9 Comments on Trem tomba em Rio Largo: explosão, incêndio e morte em 1949

  1. Claudio de Mendonça Ribeiro // 30 de novembro de 2017 em 20:28 //

    Prezado Ticianeli,
    Era criança nesse dia em Fernão Velho. Iria completar 7 anos no início de dezembro. Lembro-me das intensas chuvas, o transbordamento da Lagoa Mundaú, queda de barreira etc. Morava com meus pais na Rua da Praia, próximo à lagoa. A água da lagoa foi subindo, subindo e chegou até à linha férrea. Lembro-me que a minha mãe colocou a mim e a meus irmãos, todos pequenos, em cima de uma mesa, certamente para que não morrêssemos afogados. Ficaram gravados em meu subconsciente a chuva, a cheia e o estrondo da barreira.

  2. Simone Bavaroski // 9 de março de 2018 em 20:09 //

    Prezados
    Estou estudando Alagoas no intuito de reencontrar a família de minhã mãe. O tio dela morreu acidente de trem, por isso esta história me chamou a atenção. Infelizmente ela só lembra o Nome da viúva: Quitéria (da Silva). Saberiam de dizer como eu conseguiria ver sobre acidentes com trens entre 1950/1960.

    Procuro também uma antiga usina de Cana de Acucar que havia já em 1957 dois grandes tonéis. A linha do trem passava quase na frente da Usina, e havia uma Fazenda chamada Sapucaia não muito distante. Se alguém puder ajudar ficarei muito agradecida.

    Grata

  3. Oi Simone bavaroski.
    Essa usina que vc falou.fica em UNIÃO DOS PALMARES estado de Alagoas.

    Ela se chama usina Laginha. Hoje fechada deixando milhares desempregados

  4. Uau obrigada por responder. Por acaso conheceu alguma ladeira vermelha ao redor desta Usina por volta de 1955/1960?

  5. Conta meu pai . Da morte do meu vô na linha do trem em Arapiraca sei Manuel leão. Gostaria de saber mais sobre… alguém da época q conhecer a história?

  6. mojuvenalo@gmail.com // 11 de maio de 2021 em 22:30 //

    Eu nunca vi falar nesse desastre ou acidente de trem, foi no ano que nasci em 1949, Chã preta Al., tenho irmão mais velho e nunca falaram isso, que bom saber um pouca da história de Alagoas.

  7. Simone Bavaroski, pela sua descrição, a usina a que você se refere não é a Laginha, e sim a Usina Campo Verde, extinta há muitos anos, que era localizada no município de Branquinha. Visitei, quando criança, a Usina Campo Verde, vindo de União dos Palmares, buscar mel cabaú para ração de animais. No caminho, passávamos pela Fazenda Sapucaia.

  8. Olá, obrigada por responder! Procurei no Google quando que a Usina Campo Verde fechou, e também alguma foto desta usina, mas não consegui nada.

    Se a Usina fechou antes de 1955 então não é essa usina, pq minha mãe saiu de Alagoas em 1959 e ela lembra q morava na usina e ela ainda funcionava.

  9. Alessandra // 1 de agosto de 2021 em 02:49 //

    Olá Simone, por coincidência entrei nessa notícia a procura dos familiares do meu pai. Ele também conta que meu avô morreu em acidente com trem. Se tiver interesse em compartilhar sua história e a minha pode me procurar.

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