Trapiche da Barra e a proposta de “Plano Diretor” de 1917

Tradicional lancha das lagoas Mundaú e Manguaba, que tinha porto no Pontal e no Trapiche

O jornal Diário do Povo de 22 de fevereiro de 1917, quinta-feira, publicou um texto editorial com a intenção clara de promover o intendente da capital, Firmino Vasconcellos.

Como órgão do Partido Republicano Conservador, o jornal procurou exaltar a operosidade do prefeito de então.

Praça Pingo D’água no Trapiche da Barra em 1940

Entretanto, ao descrever detalhadamente a jornada do coronel Firmino até o Trapiche da Barra, o jornal terminou por fornecer informações importantes do desenho urbano de Maceió no início do século XX, além de propor normas para as edificações para a hoje Avenida Siqueira Campos.

O texto do jornal está reproduzido abaixo:

Serviços Municipais

Praça Pingo Dágua em 1952

Praça Pingo D’água em 1952

O sr. Coronel Firmino Vasconcellos perdoe-nos: é s. s. [sua senhoria] mesmo o culpado com a sua operosidade, de que o conservemos na berlinda.

Anteontem, terça-feira de Carnaval, s. s. foi, no bonde das quatorze horas ao Trapiche da Barra, para examinar o serviço, começado na segunda-feira, de reparação do calçamento da ponte ali existente, serviço cuja necessidade havíamos demonstrado em “nota” da edição anterior.

O sr. Firmino, no bonde, ia assobiando, baixinho, uma ária.

Parece ser isso um cacoete de s. s., que, estamos certos, desculpará que citemos…

Ao passar em frente ao Cemitério o bonde, s. s. o coronel intendente, interrompendo a ária, voltou-se para o professor Loureiro, que ia no banco posterior, e disse:

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— Estou estudando uma maneira de melhorar este Cemitério, professor.

— Ah! É uma ideia magnifica.

Eu alcancei, disse o velho Loureiro, este Cemitério muito belo, muito bem tratado.

— Também eu, era menino…

Palanque na Praça Pingo D´água em 1952

Palanque na Praça Pingo D’água em 1952

O professor citou uma administração, uma data, de que não nos recordamos. E o sr. Intendente.

— Quero começar pela estrada mesmo. Já mandei arrancar umas plantas velhas que estavam ali. E começou o assobiozinho da ária predileta. Perdão…

Estimamos que s. s. emitiu uma boa ideia.

Adiante s. s. voltou-se novamente para o professor, falando sobre o alinhamento das casas existentes entre o Cemitério e o Prado, Depois declarou que ia fazer o aterro da estrada entre o Cemitério e o Prado.

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— Porque não faz o aterro até o Trapiche? É um beneficio…

— Mas onde vou achar barro?…

É, ao nosso ver, uma razão.

Chegando ao Trapiche s. s. correu á ponte. O bonde demorava pouco: dois minutos apenas.

— Ah, o calçamento deve começar daqui, do contrario o serviço será inútil.

E, chegando no outro extremo da ponte: — E terminar ali, naquele alicerce.

E logo, ao mestre do serviço:

— As pedras não chegam?

— Não, senhor.

— Vou mandar mais. É preciso que o serviço fique completo.

Mas o condutor do bonde tocou na sineta. O sr. Intendente correu, foi tomar lugar. E partiu.

Teria s. s. de volta, reparado que passeio esplêndido é aquela estrada do Trapiche? Que avenida excelente vai ser aquilo, ampla, recebendo uma ventilação excelente, vinda direta do oceano, por entre cajueiros em flor?

Festa de N. S. da Guia na Praça Pingo Dágua em 1954

Festa de N. S. da Guia na Praça Pingo D’água em 1954

Já está, em grande parte, do Cemitério ao Prado, construída, embora com pobreza de arquitetura. E com pobreza de arquitetura será concluída.

Uma providência, porem, impõe-se desde já: aquelas construções se prolongaram, fatalmente, até o Trapiche, e é necessário que a Municipalidade não consinta a construção, ali, de casas, embora pobres e por isso mesmo, ligadas umas às outras.

Deve a Intendência, a exemplo do que é feito em capitais mais adiantadas, exigir que um espaço fique entre uma e outra construção, vazio, para facilidade de ventilação. É mesmo isso uma exigência que diz respeito à higiene.

Assim, mais tarde, quando a avenida estiver construída com pobreza e for necessário reconstrui-la com opulência, o negocio será feito mais facilmente.

Não tem o sr. Intendente a intensão de trabalhar também para o futuro?

Estamos quase a responder que sim.

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