Trapichão, o estádio que já foi Rei Pelé

Com sua construção financiada por bingos, a principal praça de esportes de Alagoas vai completar 45 anos no dia 25 de outubro próximo

Fachada Sul do Trapichão com o mural de Hércules Mendes
Primeiros trabalhos para a construção do Trapichão

Primeiros trabalhos para a construção do Trapichão. Foto acervo Museu dos Esportes

A partir de 1964, com os militares no poder, os investimentos nos esportes tomaram uma nova dimensão. O Brasil deveria aparecer para o mundo como um país desenvolvido, moderno, integrado nacionalmente. A materialização desse projeto de deu com as grandes obras e com a realização de eventos esportivos para multidões.

O reflexo desta política no futebol foi a criação do Campeonato Nacional — iniciado em 1971 — e a construção de estádios. Para se ter uma ideia destes investimentos, até 1972 já tinham sido inaugurados no Brasil mais de 30 estádios de futebol, a maioria no Nordeste.

Em Alagoas, o governador Luiz Cavalcanti foi quem ficou encarregado de construir o estádio em Maceió. Depois de formar quatro comissões para cuidar do projeto e nada ter acontecido, o “major” Luiz Cavalcanti procurou o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Alagoas, Napoleão Barbosa, expôs a ele que não tinha recursos e o convidou para assumir a coordenação do empreendimento.

A solução encontrada por Napoleão Barbosa envolvia a realização de bingos para a arrecadação de recursos. O governador não concordou sob o argumento que iniciativas semelhantes tinham suscitado dúvidas, mas disse que podia ser outro tipo de sorteio.

Quota de Participação da FAPE

Assim, no dia 9 de outubro de 1964 foi criada a Fundação Alagoana de Promoção Esportiva – FAPE e os sorteios começaram, mas atrelados aos resultados da Loteria Federal. Em entrevista à Gazeta de Alagoas em 1975, Napoleão Barbosa lembrava que o arrecadado mal dava para pagar os prêmios. Reabriu-se a discussão e os bingos foram autorizados.

Os prêmios eram atrativos. Caminhões, carros, geladeiras e casas prontas eram disputadas em bingos semanais realizados no descampado onde seria erguido o estádio. Multidões se dirigiam ao local. Muitos vinham do interior do Estado.

No dia 31 de janeiro de 1966, assumiu o governo do Estado o interventor general João José Batista Tubino, que imediatamente suspendeu os festivais de prêmios alegando existir por parte do Governo Federal uma determinação proibindo sorteios, mas prometeu dar continuidade ao projeto do Estádio, o que não aconteceu, enquanto se aguardava uma autorização de Brasília.

Quem substituiu no governo o general Tubino, em 15 de agosto de 1966, foi o então deputado estadual Lamenha Filho. Para regularizar a situação da FAPE, criou, em fevereiro de 1967, um grupo de trabalho com a participação de Milton Pitta (presidente), Carlos Guido Lobo, Murilo Mendes, José Sebastião Bastos e o coronel Nilo Floriano Peixoto.

Em novembro de 1966, os militares resolveram normatizar os bingos em todo o país, mas na prática acabaram com eles ao instituírem o Decreto-Lei nº 204, de 27 de fevereiro de 1967.

Após essas determinações, Napoleão Barbosa procurou Lamenha Filho e entregou o cargo de superintendente da FAPE, ponderando que sem bingo não tinha condições de levar o projeto adiante. O governador solicitou que ele permanecesse, argumentando que daria um jeito para conseguir os recursos e que tentaria a autorização para a volta dos sorteios.

Bingo no terreno onde seria construído o Trapichão

Em 1967, depois de muita articulação política, o ministro da Justiça, Gama e Silva abriu exceção para que os bingos da FAPE voltassem a acontecer. Entretanto, no dia do primeiro bingo a ser realizado após esta autorização ministerial, o Delegado Regional do Departamento da Polícia Federal, Júlio Freire de Rivoredo, resolveu impedir a promoção.

Segundo Napoleão Barbosa, “ele disse que não deixava de jeito nenhum o bingo ser realizado e foi mais adiante ameaçando me prender se insistisse em realizá-lo. Corri, então, para contar isso ao coronel Jurandir Acioli, comandante do 20º BC, que mandou chamar o Dr. Rivoredo, mostrou que o bingo tinha autorização do ministro da Justiça e inverteu os papéis: ameaçou descer com uma companhia para garantir a promoção”.

Mesmo com estas dificuldades, foram realizados mais 10 bingos. Os dois últimos foram autorizados em janeiro de 1969 pelo ministro Delfim Neto, após tecer muitas críticas a Lamenha Filho, argumentando que não tinha sentido que o Estado de Alagoas gastasse quase que todos os seus recursos para construir um campo de futebol. Ao final do projeto foram realizados 36 festivais promocionais com sorteios.

Lauthenay Perdigão na construcão do Trapichão em 1969. Foto de José Ronaldo. Acervo Museu do Esporte

Lauthenay Perdigão na construção do Trapichão em 1969. Foto de José Ronaldo. Acervo Museu dos Esportes

A crítica à construção do estádio também veio da imprensa nacional. A nascente revista Veja, no seu nº 3, de 25 de setembro de 1968, afirmava ironicamente: “Trapichão: há lugar para um quarto da população“. Pelas contas da revista, Maceió teria 221 mil habitantes e o estádio receberia 55.400 torcedores. Veja também argumentava que o recorde de público em Alagoas era de 8 mil pessoas, que era a capacidade máxima do campo do CRB. O Mutange, campo do CSA, teve a sua capacidade de público estimada em 6 mil pessoas. A reportagem revelava ainda que os dirigentes do CSA e CRB tinha uma expectativa de que somente 25 mil pessoas estariam no jogo inaugural.

A obra

O jornalista Lauthenay Perdigão, que fez parte da comissão instituída pela FAPE para a escolha do local de construção do estádio, lembra as opções que foram analisadas. “Somente depois de se observar alguns locais no Tabuleiro do Martins e até no Mercado, ali onde hoje funciona o Mercado da Produção, foi que a escolha ficou para o bairro do Trapiche da Barra”.

Construção do Trapichão em 1969. Foto acervo Museu do Esporte

Construção do Trapichão em 1969. Foto acervo Museu dos Esportes

A primeira parte do projeto a ser executada foi a aquisição dos terrenos para o futuro Estádio Estadual de Alagoas. A parte da frente do imóvel foi comprada por 40 mil cruzeiros. Sendo que os herdeiros da família Santa Maria receberam 15 mil e os herdeiros de “seu” Fonte, 25 mil. No terreno existiam duas vacarias pertencentes a estas duas famílias, que foram desapropriadas para fins de utilidade pública pelo Estado no início de 1968.

A parte de trás, segundo Napoleão Barbosa, foi comprada a um cidadão conhecido como Moraisinho, que pediu 120 mil cruzeiros, mas deixou por 40 mil, convencido que outro terreno dele, que ficava bem perto, ia valorizar.

O projeto do estádio foi de autoria do arquiteto João Khair e custou Cr$ 150.000,00, já com parte arquitetônica, hidráulica e elétrica. João Khair faleceu em julho de 1966 e seu sobrinho, Marco Antonio Khair, também arquiteto, foi quem acompanhou a construção.

A pedra fundamental da obra foi lançada no dia 15 de março de 1968 com a presença do vice-governador em exercício, Sampaio Luz, e do calculista da estrutura do estádio, Artur Eugênio Jermanne.

Maquete estádio do Flamengo na Gávea. Projeto do arquiteto João Khair em 1962

Maquete estádio do Flamengo na Gávea. Projeto do arquiteto João Khair em 1962 e que nunca foi executado

Durante a execução do projeto, as dificuldades com recursos eram permanentes. Napoleão Barbosa lembrava que em muitas quartas-feiras, quando tinha que fechar a folha para os pagamentos do sábado, só tinha Cr$ 10.000,00 dos Cr$ 150.000,00 necessários. “O jeito era sair para arranjar dinheiro emprestado em meu nome ou com o meu aval até sair a liberação da verba”. Ao final, a contabilidade do Trapichão registrou que o empreendimento custou 15 milhões de cruzeiros.

A construção não foi simples e exigiu muita precisão técnica. As dimensões de algumas partes do estádio eram expressivas. A cobertura, por exemplo, tem 42 metros e na época era uma das maiores do Brasil. O vão livre em balanço era o segundo do país no gênero com 26 metros. Foram usados nas obras cerca de 250 mil sacos de cimento, 30 mil metros cúbicos de concreto, 3.500 toneladas de aço e milhares de metros de tábuas.

Uma das particularidades deste projeto eram as duas rampas para automóveis, que deixavam as autoridades na porta da tribuna de honra ou nas cadeiras especiais. Para a imprensa foram construídas inicialmente 22 cabines de rádio e 4 para televisão.

A cabine de som tinha 16 amplificadores transistorizados de 200 watts cada um, enviando sinal para 284 alto-falantes da Philips distribuídos em 83 colunas. Para o acesso do torcedor, foram construídas 54 bilheterias e 42 “borboletas” para controle da entrada.

Engenheiro Vinicius Maia Nobre

Para conservar o gramado, foram instalados dois canhões-aspersores com raio de 30 metros e consumindo 14 mil litros de d’água por hora. Era o segundo do país a adotar tal tecnologia. A drenagem também era moderna, adotando o sistema indireto em linhas paralelas e com declive de 2% do centro para as laterais. Foram utilizados 3.500 metros de tubos.

Essas tubulações captadoras de água eram envolvidas com pequenas pedras para evitar o entupimento das perfurações. O material era recolhido da margem da Lagoa Mundaú, como lembra Jânio Marcelo dos Santos, então um jovem canoeiro de Coqueiro Seco e estudante do Colégio Élio Lemos na Ponta Grossa.

Eu transportei muitos seixos de Coqueiro Seco para o Trapichão. Essas pedrinhas foram utilizadas na drenagem do gramado. Por isso o Trapichão tem uma das melhores drenagens dos campos de futebol do Brasil. Lembro-me que parávamos com as canoas bem próximo à construção do estádio. Eram muitas canoas vindas de toda a redondeza da Lagoa Mundaú”, recorda Jânio, que hoje é economista e empresário.

A primeira grande alteração no projeto aconteceu ainda em 1968, com a inclusão da arquibancada reta, que fechava a ferradura e receberia os vestiários no subsolo. Com essa ampliação, se tinha a expectativa que a capacidade do estádio iria para 50 mil espectadores.

A equipe técnica que garantiu a construção do Trapichão era totalmente alagoana e trabalhou sob o comando do engenheiro Vinicius Maia Nobre. Tinha um grupo formado pelos engenheiros Marcelo Barros (eletricista), Márcio Calado (sanitarista) e mais os engenheiros civis Nayron Barbosa, Marcos Mesquita, Roberto de Paiva Torres e Marcos Cotrim.

Carlos Barbosa cuidava da administração da obra. Vinicius Maia Nobre recorda que o empenho da equipe era tão grande, que até algumas casas utilizadas nos sorteios da FAPE foram construídas por eles.

O superintendente da Fundação Alagoana de Promoção Esportiva (FAPE), Napoleão Barbosa, e o chefe de gabinete da Secretaria de Educação e Desporto, José Damasceno Lima, atuavam para garantir a continuidade do projeto e os aportes de recursos.

Inauguração

Desfile estudantil em 16 de setembro de 1970, primeiro evento no Trapichão

Na verdade, o primeiro grande acontecimento ocorrido no Trapichão não foi o jogo de futebol do dia 25 de outubro de 1970. Dias antes, no 16 de setembro, data da Emancipação Política de Alagoas, o estádio foi utilizado para os desfiles escolares comemorativos da data. A ideia foi do secretário Estadual de Educação, José de Melo Gomes. Vinicius Maia Nobre não concordou diante dos riscos para o público, que lotaria um estádio em fase de acabamento. O governador Lamenha Filho insistiu e o desfile foi realizado sem grandes problemas, a não ser o dano a um portão de ferro que foi derrubado pela multidão.

De certa forma, esse desfile escolar serviu de teste para o jogo inaugural do estádio, que aconteceu no dia 25 de outubro de 1970, um domingo ensolarado. Segundo o testemunho de Nelson Costa, os portões foram abertos no começo do dia. “Eu juntamente com meu irmão mais velho e minhas irmãs chegamos lá às 7 horas da manhã para garantir lugar. Levamos bastante lanches para passar o dia todo esperando a hora do tão esperado jogo da seleção alagoana conta o Santos”.

Outro fato sobre esse desfile foi a contagem do público feita pelas catracas de acesso ao Estádio. Os organizadores não perceberam imediatamente que na saída das pessoas do Trapichão, a catraca continuava a contar. O resultado é foi divulgada uma lotação de mais de 100 mil pessoas para esse evento.

O time do Santos de Pelé era considerado, na época, um dos melhores times do mundo. A badalação sobre a equipe paulista era tão grande que no dia anterior à inauguração, as autoridades alagoanas ofereceram um jantar aos jogadores do time paulista no Clube Fênix Alagoana.

Segundo dados divulgados após a partida, o público foi de 45.865 espectadores, entretanto, Vinicius Maia Nobre afirma que foi de 53.000. A polêmica sobre a capacidade do Trapichão ocupou a imprensa local por muitos anos. Em 26 de maio de 1976, o então governador Divaldo Suruagy chegou a baixar portaria criando uma comissão para saber a real capacidade do estádio.

Pelé descerrando a placa na inauguração do Trapichão

O primeiro gol no estádio aconteceu aos 20 minutos do primeiro tempo e foi do meia Douglas, do Santos. Por este gol, o atacante santista ganhou uma medalha de ouro pesando 100 gramas e valendo 2 mil cruzeiros.

Ainda no primeiro tempo o Santos construiu o placar da partida, 5×0. Pelé marcou dois gols (30 e ao 42 minutos) e Nenem mais dois (38 e 40 minutos).

A Seleção de Alagoas jogou com Cocorote, Ciro, Dida, Lourival e Aranha; Rinaldo e Zito; Canavieira, Adeildo, Zezinho e Canhoteiro. O Santos formou com Cejas, Carlos Alberto Torres, Djalma Dias, Marçal (Ramos Delgado) e Rildo; Clodoaldo (Lima) e Nenê; Davi, Douglas, Pelé (Luz Carlos Feijão) e Abel. O juiz da partida foi Armando Marques.

Para inaugurar os refletores, três dias (28 de outubro de 1970) depois foi realizada uma partida amistosa entre o Cruzeiro de Belo Horizonte e o Botafogo do Rio de Janeiro. O Cruzeiro venceu por 1×0. O Botafogo recebeu Cr$ 58 mil e o Cruzeiro, Cr$ 60 mil.

Na preliminar, o ASA de Arapiraca derrotou o CSA por 1×0, gol de Adeilton Pereira dos Anjos, em uma partida que serviu para consagrar Rubens Cerqueira (Caximbau), como o primeiro árbitro alagoano a apitar no Trapichão. Ele apitou o jogo ASA, de Arapiraca, 1 x 0 CSA, gol marcado pelo jogador Adeilton Pereira dos Anjos.

Duas semanas após a inauguração, no dia 8 de novembro, os festejos continuaram com o Trapichão recebendo novamente a seleção alagoana para uma partida amistosa contra a equipe do Porto, de Portugal. O resultado foi um empate em 1 a 1, com Brás marcando para os alagoanos e Abel para os portugueses. A Seleção de Alagoas teve Cocorote; Ciro, Dida, Lourival e Ednelson; Aranha e Tadeu; Zezinho, Jailson, Brás e Canhoteiro. O Porto jogou com Armando; Gualter, Manhica, Vieira e Rolando; Pavão e Benê; Lemos, Abel, Pinto e Nóbrega.

Santos e Seleção Alagoana na inauguração do Estádio Rei Pelé. Foto acervo Museu dos Esportes

Outro serviço que o Trapichão trouxe para os alagoanos foi o da churrascaria instalada embaixo da grande arquibancada, que durante muitos anos foi uma referência na vida social da cidade. No andar inferior também foram instalados alojamentos para atletas. Essa estrutura depois foi utilizada como um hotel.

A camisa do Rei Pelé

Um fato pouco conhecido envolvendo a camisa de Pelé e o jogo inaugural do Trapichão está sendo revelado aqui em seus detalhes pelo dr. Vinicius Maia Nobre, o engenheiro responsável pela construção do principal estádio de Alagoas.

Assim que a delegação do Santos desembarcou em Alagoas, no dia anterior ao jogo contra a seleção alagoana, o Major Mata [major PM Milton da Mata Carnaúba] procurou os dirigentes da equipe santista e pediu que ao final do evento a camisa utilizada por Pelé fosse doada para ser leiloada em benefício da Cidade de Menores Humberto Mendes, que vivia momentos difíceis. Recebeu a promessa que assim seria feito.

Como coordenador do evento de inauguração, Vinicius Maia Nobre, articulou com Walter Guimarães, que ficou encarregado de gerenciar o vestiário do Santos, para receber a camisa prometida ao Major Mata.

Terminado o jogo, o time do Santos se retirou para o vestiário sob aplausos da imensa torcida, após golear a seleção alagoana por 5 a 0, com dois gols de Pelé.

Já nos corredores do vestiário, Walter Guimarães se aproximou de Pelé, cercado por repórteres, e pediu:

— Cadê a camisa do Coronel Maia?

Pelé, que havia sido avisado para entregar a 10 mais famosa do mundo ao Major Mata, pensou tratar-se da mesma pessoa e passou a camisa para o gerente do vestiário, que se referia, como muita gente, ao seu amigo Vinicius Maia Nobre como “Coronel Maia”.

Sem saber que a camisa utilizada por Pelé e destinada a ele já tinha sido entregue ao “Coronel Maia”, o Major Mata entrou no vestiário e se dirigiu ao ex-jogador Toninho, roupeiro do clube paulista, e lhe disse que estava ali para receber a camisa como acertado.

Foi quando descobriram que ela já tinha sido entregue por Pelé a outra pessoa e não ao responsável pela Cidade de Menores Humberto Mendes. A solução encontrada para cumprir o prometido foi a de retirar de uma sacola a camisa suada e amarotada que Pelé havia utilizado no primeiro tempo.

No dia seguinte, segunda-feira, Vinicius Maia Nobre foi procurado pelo Major Mata, que já sabendo do mal-entendido propôs a troca das camisas, considerando que a que ficou com ele não estava nas melhores condições. “Aceitei de bom grado pois além de atender ao Major, ficaria com a camisa que efetivamente inaugurou o tão sonhado Estádio”, avaliou o engenheiro.

Camisa utilizada por Pelé no primeiro tempo da inauguração do Trapichão. Foto Estéfane Padilha

Anos depois, vendo seus filhos e sobrinhos brincando, de quando em vez, com a camisa famosa, dr. Vinicius resolveu doá-la ao Museu dos Esportes e a entregou ao criador daquele importante equipamento, Lauthenay Perdigão.

A camisa usada por Pelé no jogo da inauguração voltou a ser alvo de interesse público em junho de 2010, quando Alagoas comemorou os 40 anos da inauguração do Estádio entregando ao público o Trapichão reformado, com a presença do próprio Pelé.

Vinicius Maia Nobre foi homenageado e lá mesmo, no local em que recebeu uma placa das mãos de Pelé, soube por amigos que a famosa camisa doada por ele ao Museu seria presenteada ao governador do Estado como reconhecimento pela atenção que deu ao Trapichão.

Dr. Vinicius Maia Nobre sendo homenageado na reinauguração do estádio Rei Pelé em 2010

Mas não passou de um mal-entendido e o próprio governador Teotônio Vilela Filho tratou de explicar que a camisa continuaria como patrimônio público.

Assim, Alagoas ganhou as duas camisas utilizadas por Pelé na inauguração do Trapichão. Não se conhece o destino da que foi leiloada, mas a que o Rei do Futebol suou para fazer seus dois gols está em exposição e pode ser vista por quem visita o Museu do Esporte.

O nome do estádio

Segundo Lauthenay Perdigão — o maior conhecedor da história do nosso futebol —, a definição do nome do estádio como Rei Pelé foi uma escolha do governador Lamenha Filho, que seria o homenageado, como comprovam os ingressos que foram cancelados para o jogo de abertura e a foto da maquete do estádio.

Maquete original do Trapichão, com o nome de Estádio Lamenha Filho

Maquete original do Trapichão, com o nome de Estádio Lamenha Filho

A mudança ocorreu em julho de 1970, quando vários torcedores de Maceió comemoravam a conquista do tricampeonato mundial na Praça dos Martírios, em frente ao Palácio do Governo. O governador Lamenha Filho também entusiasmado com a vitória e com as comemorações populares, resolveu retirar o seu nome e colocar o do jogador que mais tinha se destacado na copa do mundo daquele ano.

Esta homenagem a Pelé provocou muita discussão e a polêmica se arrastou por alguns anos até que a vontade popular resolveu a questão. Nem Pelé e nem autoridade nenhuma: o estádio passou a ser o Trapichão.

Vinicius Maia Nobre recorda que antes mesmo do estádio ser inaugurado já se referiam a ele como Trapichão. “Após um jogo recreio entre uma equipe formada por jornalistas que faziam a crônica esportiva e a de construção, num campo improvisado, onde hoje se ergue o Ginásio Presidente Fernando Collor, conjeturando o nome pelo qual se deveria chamar o estádio, um deles exclamou, ‘Trapichão!’. Era uma alusão ao nome do bairro, no aumentativo, muito em moda, como o Batistão (Lourival Batista, em Aracajú), Mineirão e outros. Estava realizado o batismo: a partir de então, o nome se espalhou e pegou”.

As reformas

Em abril de 1979, quando o governador era Guilherme Palmeira, o Jornal de Alagoas denunciou o estado de abandono do estádio, que apresentava rachaduras e ameaçava a integridade dos torcedores. Em reportagem do dia 31 de maio do mesmo ano, o jornal voltava à carga cobrando uma ação do governo para resolver os problemas do Trapichão, que não recebia manutenção desde a sua inauguração em 1970.

Construção do Trapichão em 1969. Foto acervo Museu do Esporte

Construção do Trapichão em 1969. Foto acervo Museu do Esporte

Somente em 1992 é que houve uma reforma expressiva no Trapichão, quando o governador Geraldo Bulhões contratou a firma Queiroz Galvão.

Foram quase dois anos de obras e a principal mudança foi a colocação de vinte mil cadeiras. Mais duas torres de iluminação foram acrescentadas, ampliando a iluminação para mil lux, uma das melhores do Brasil naquela época. Foi nessa reforma que abriram espaço para o Museu de Esportes e para um auditório. Novas cabines de rádio e televisão foram instaladas nas grandes arquibancadas do estádio.

Vinicius Maia Nobre, um dos engenheiros construtores do estádio, estranhou que ninguém da equipe inicial foi chamado a opinar sobre a reforma. “A execução da obra foi contratada com a firma Queiroz Galvão, que, segundo informações colhidas com alguns engenheiros da firma, na véspera da chamada reinauguração, havia faturado mais de dez milhões de dólares“.

Fachada original do Trapichão ainda com o mural de Hércules Mendes

Fachada original do Trapichão ainda com o mural de Hércules Mendes

A reabertura do Trapichão aconteceu no dia 8 de agosto de 1993, com um jogo amistoso entre a seleção brasileira e a seleção mexicana de futebol. O empate em 1 a 1 não foi a principal notícia da reinauguração do estádio, mas sim a sua capacidade de público, que foi reduzida para 26.000 lugares sentados. Os assentos eram fixados sobre a antiga arquibancada. Anos depois, as cadeiras foram retiradas. Estavam enferrujadas e tinham uma manutenção muito cara. Sem as cadeiras, o estádio ampliou sua capacidade para 32.000 pessoas.

Em 2010 tem início outro período de reformas que se estendeu até 2012. São recuperadas marquises, serviços de som e iluminação. Após essa reforma, a capacidade do estádio passa a ser de aproximadamente 18.000 pessoas. Quando se ventilou a possibilidade de Alagoas receber jogos da Copa do Mundo de 2014, algumas obras foram realizadas no Trapichão. Assim, em 2013, foram reformados bares, vestiários e banheiros, e construído o espaço denominado “Rainha Marta“.

Fontes:
– Jornal Gazeta de Alagoas (várias edições).
– Revista Veja, nº 3, de 25 de setembro de 1968.
– Jornal de Alagoas de 31 de março de 1979.
– Fascículo: Napoleão Barbosa, um construtor do progresso.

8 Comments on Trapichão, o estádio que já foi Rei Pelé

  1. SANDRO MAURICIO ALMEIDA SILVA // 26 de outubro de 2017 em 17:47 //

    EU FUI PRA INAUGURACAO DO TRAPICHAO EM 1979

  2. Jorge Barros // 21 de março de 2018 em 00:53 //

    Tinha 7 anos de idade, entrei como mascote no jogo de inauguração. Não lembro se da seleção alagoana ou do santos.

  3. CACILDA COSTA // 1 de maio de 2019 em 10:35 //

    Fui pra inauguração e desfilei nos anos 70. muito orgulho, mas não concordo que com nome dado

  4. Marco Aurélio Valois // 3 de maio de 2020 em 10:39 //

    Tive um primo que não lembro o nome que foi engenheiro do Rei Pelé. Visitei junto com o meu pai toda as dependências da construção. Acho que tinha uns 12 anos

  5. Essa inaugurado foi fotografado pelo fotógrafo genesio carnaúba já falecidoj

  6. Andréa Carvalho // 26 de outubro de 2020 em 12:26 //

    Acho que essa reportagem deveria mostrar que as fotos de inauguração foram do Se. Genesio Carnaúba, e vocês não fizeram nenhuma menção a isso.

  7. O Fotógrafo Genésio Barbosa Carnaúba (in memoriam) fotografou esse Evento Histórico.

  8. Tenho fotos de meu pai trabalhando nesta construção

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