Theatro Polytheama, a casa de espetáculo da Praça Euclides Malta

Theatro Polytheama, inaugurado em 1905 na hoje Praça Sinimbu. Foto APA

O jornal Gutemberg da terça-feira, 20 de junho de 1905, divulgava em suas NOTAS DIÁRIAS, na primeira página, que “Amanhã a Sociedade Dramática Jaraguaense dará um espetáculo, levando á cena o emocionante drama Filha Maldita e a chistosa comédia em 1 ato denominada — Os dois mudos“.

Não havia a indicação do local e da hora, revelando que eram poucos os eventos como esse e que todos já sabiam onde iria acontecer. Essa prática na divulgação viria a dificultar as pesquisas sobre os locais onde funcionavam estes casas de espetáculos.

Peça A Mascote apresentada no Polytheama em 1905

Na mesma edição outra nota trouxe uma informação importante para as artes e o entretenimento em Maceió: tinha sido inaugurado no sábado anterior, 17 de junho, o Theatro Polytheama, de propriedade da empresa Pereira & Cia, de José Pereira de Barros. Novamente não havia referência ao local.

“O buffet esteve bom, tanto que agradou perfeitamente aos espectadores. Os artistas Rossi, Demoulin, Jorge, Dormas e Horminies saíram-se perfeitamente bem, conquistando gerais aplausos“, detalhava a nota.

Anúncio do Polytheama no Gutemberg de julho de 1905

Anúncio do Polytheama no Gutemberg de julho de 1905

Mas não só a festa de inauguração agradou ao crítico do Gutemberg.

No dia 21 de junho o jornal voltou a fazer referências elogiosas ao Polytheama, aplaudindo o trabalho artístico de João Pereira de Carvalho no Pano de Boca do teatro, pintado com “anúncios reclames de casas comerciais e industriais desta capital”.

Foi inaugurado oficialmente no dia 17 de junho de 1905, mas há indícios que antes desta data o Polytheama já tinha sido utilizado.

O Gutemberg de 9 de maio — um mês antes — noticiava que havia recebido no dia anterior (8) a visita dos “duetistas Rossi que sábado próximo [13 de maio] se exibirão na estreia do Polytheama.”

Como que antecipando os problemas financeiros que marcariam a breve vida daquela casa de espetáculos, a primeira informação sobre o Polytheama publicada nos jornais da época, quando ainda estava em construção, foi a de um pedido de isenção de impostos municipais apresentado na sessão do Conselho Municipal de 23 de março de 1905.

A petição foi analisada na sessão de 27 de março e rejeitada. Na votação houve empate e o presidente decidiu contrariamente utilizando o Voto de Minerva, alegando que o projeto não trazia interesse algum para o município.

Segundo Abelardo Duarte, em seu livro Autores Alagoanos & Peças Teatrais, o Polytheama “não preenchia nem as condições de um mau teatro, porque era péssimo. Não possuía camarotes”.

Primeiros espetáculos

Uma semana após a inauguração, uma nota publicada no Gutemberg (24 de junho) dava a entender que o Polytheama não recebera o público esperado no espetáculo de inauguração.

O jornal também anunciava a presença no “domingo vindouro” da Companhia Lyrica & Zarzuelas que tinha como destaque “o célebre tenor Barella“.

“É de se esperar que o Polytheama, domingo, tenha uma enchente compensadora dos esforços de seu proprietário, Sr. José Pereira“, conclamava o jornal.

Essa preocupação em atrair público para o Polythema fez com que o Gutemberg de 22 de junho publicasse um texto opinativo demonstrando que a cidade tinha ganho um “ponto de recreio” e que agora a população não podia reclamar da falta de um centro de diversão.

O jornalista ilustrava o argumento dizendo “serem muito monótonos os poucos logradouros que possuem a cidade para estes passeios”. Citava a Praia do Sobral, a Praça da Catedral, o Alto do Jacutinga e os passeios em Bebedouro, que “além de muito vistos, não tem certo conforto; falta-lhes a vida, animação e atrativo que lhes empresta alguma diversão”.

Anúncio da reabertura do Polytheama em 25 de agosto de 1908

Anúncio da reabertura do Polytheama em 25 de agosto de 1908

Ainda na nota, o jornal fazia referências à crescente utilização da praça em frente ao teatro, tratada como Parque Club (atual Praça Sinimbu), como um local que vinha sendo muito frequentado pelas famílias vindas de todos os pontos da cidade.

No domingo 2 de julho, surgiu anúncio de 1/6 de página no Gutemberg divulgando mais uma Zarzuela — gênero lírico-dramático espanhol em que se alternam cenas faladas, outras cantadas e danças — para o primeiro ato do espetáculo daquele domingo. No rodapé do anúncio, uma nota ao público esclarecia que “podem comparecer todas as pessoas decentemente vestidas…”.

Fechou as portas

Após exatamente 160 dias da sua inauguração, no dia 23 de novembro de 1905, o Gutemberg publicou a informação que o Theatro Polytheama estaria fechando as portas. A causa era a “deficiência de receita“.

O jornal tratava de explicar os motivos: “Parece-nos que semelhante fracasso resulta tão somente de serem muito frequentes os espetáculos numa semana”. Segundo o jornalista, em algumas semanas aconteciam de quatro a cinco funções.

“O recurso pecuniários da população não lhe permitem excessos nas despesas. Daí o retraimento e inevitável prejuízo, porque parece de primeira intuição que antes duas casas boas, cheias, á cunha, do que 10 casas vazias“, ensinava o jornal, alertando ainda que havia uma “crise agudíssima” nos “tempos correntes”.

A próxima notícia publicada sobre o teatro estava em um jornal de 11 de julho de 1906, onde uma pequena nota informava que “será arrematado amanhã o prédio em que esteve o Teatro Politeama, para pagamento de impostos estaduais“.

No dia 11 de abril de 1907, o Gutemberg revelou que o terreno onde foi construído o Polytheama era alvo de alguma disputa na Justiça. A nota parabeniza o advogado Demócrito Gracindo pela vitória na causa em que defendeu Joaquim da Silva Costa, conseguindo para este um “mandato de manutenção nos terrenos ocupados pela atual fábrica Reino de Flora, antigo Polytheama“.

Reabertura como cinema

Praça Euclides Malta, atual Praça Sinimbu, com o Polytheama, último prédio à direita, antes da Ponte dos Fonsecas

Praça Euclides Malta, atual Praça Sinimbu, com o Polytheama, último prédio à direita, antes da Ponte dos Fonsecas

Não se tem informações sobre que destino teve tal fábrica Reino de Flora, mas o teatro voltou a funcionar no dia 8 de setembro de 1907 sob a direção do major Américo Rego.

No Gutemberg, pela primeira vez uma nota informava a localização do Polythema: “essa casa, como se sabe, fica situada na praça Euclides Malta“.

Para reabrir, o Polythema passou por reforma, “achando-se a área destinada aos camarotes e cadeiras assoalhada e completamente coberta“. O primeiro espetáculo dessa nova fase aconteceu no dia 25 de setembro de 1907.

A próxima informação sobre o teatro surge em 17 de janeiro de 1908, quando a casa de espetáculos passou a ser cada vez mais utilizada como cinema.

O Gutemberg divulgou que no dia 15 de janeiro tinha acontecido a estreia do “cynematographo” da empresa Juca Carvalho.

A exibição recebeu criticas negativas. O aparelho não era de qualidade e as fitas eram estragadas e velhas, além da trepidação que “era não pequena”.

Sobre os filmes, a crítica foi essa: “Das quinze peças constantes das três partes em que se dividia o programa salientamos os — Velhos marchantes — a Pulga mordedora — o Geitinho no olho — e o Chapéu intrigante — cômicas; e o — Crime de outrem — e Terrível augusta —, dramáticas, revestindo-se esta última de um desfecho que suavizasse a comovedora impressão produzida nos ânimos pela expectação da tragédia, queremos dizer, a fita como que estava incompleta, terminando bruscamente, sem a captura e punição do criminoso”.

No dia 21 de fevereiro de 1908, foi a vez do Cinematographo Joulie fazer sua apresentação no Polytheama.

No carnaval daquele ano, o teatro foi “transformado em um Poleiro ou Caverna, como se diz em fraseologia carnavalesca” e anunciou que faria três bailes “abrilhantados” pela banda marcial do 33º Batalhão de Infantaria. “Semelhantes aos dos clubes carnavalescos e dos teatros do Rio de Janeiro e outras capitais, os bailes do Polytheama atrairão os Foliões e a população da cidade”, conclamava a nota publicada no Gutemberg.

Em abril, passada a folia momesca, o Polytheama voltou a exibir filmes. No sábado, 25, foi a vez do cinematografo da empresa Star, representada por João M. Pecantet. Este agradou à crítica.

O sucesso foi alcançado graças a exibição dos filmes “Pobre Mão“, “Os Moedeiros Falsos” e “Amor de Escrava“. O aparelho foi considerado o melhor que já esteve em Maceió, tanto que no dia 10 de maio ele ainda se encontrava no teatro fazendo apresentações.

Neste mesmo dia 10 de maio de 1908, o advogado Demócrito Gracindo fez publicar no Gutemberg um texto ocupando 2/3 de página, explicando a pendenga judicial envolvendo o Polytheama.

Havia uma disputa entre a empresa Pereira & Cia e Joaquim da Silva Costa sobre quem tinha realmente construído o prédio do teatro da Rua Floriano Peixoto (atual Rua do Imperador).

Essa publicação permitiu a exata localização do Polythema.

Demócrito Gracindo argumentava que “Joaquim da Silva Costa requereu e obteve cordeação em vinte metros de terreno a Rua Floriano Peixoto para uma construção ‘entre o chalet de sua residência e a Ponte dos Fonsecas‘…”.

Nova reabertura

Praça Sinimbu e o Polytheama em 1908

Em nota publicada no dia 21 de agosto de 1908, o Gutemberg informou que o prédio foi arrendado pelo Coronel Américo Maia, que era também proprietário do Café Colombo e High-Life, e que seria reinaugurado em breve com algumas novidades. “Serão instalados vários e importantes jogos esportivos, trabalhando também no gracioso teatro uma companhia de variedades“.

De fato, no dia 23 de agosto, um domingo, aconteceu a reinauguração com um espetáculo da companhia de Negri Appiani. Houve danças e cantos das irmãs Bonals, exibição de cinematografo e do artista cômico Guido Appiani, que “deixou de cantar suas belas cançonetas por não ter comparecido a pianista, por motivo plenamente justificado, a moléstia de um filho”.

O sucesso só não foi maior porque naquele dia choveu muito.

Outro problema foi provocado pelos “garotos e desocupados” que se agruparam na entrada do teatro, “apesar de nosso pedido á policia“. Os proprietários denunciavam que ao ficarem na porta do Polytheama, dificultam “a entrada das famílias e facilita a passagem de bigús“.

Em setembro de 1908, o cinematografo voltou a dominar a programação do Polytheama com a estreia do aparelho e as fitas de Henrique Esbé, que recebeu elogios por ser um dos melhores que tinham se exibido em Maceió. O pano de boca do teatro foi criticado por suas pequenas dimensões, mas foi anunciado que esse problema seria resolvido em breve.

No início de outubro, surgiram os primeiros sinais de que o teatro não estava rendendo o esperado pelo proprietário. Américo Maia divulgou que estava aceitando “Anúncios e reclames” para as paredes internas do Café Colombo e para a fachada exterior do Polytheama, tudo por preços módicos.

Em fevereiro de 1909, em anúncio da estreia do Cinema Veneza, que tinha filmes que agradaram “pela sua nitidez e valor cômico“, novamente surgem sinais de que o Polytheama não estava recebendo o público esperado. “É pena que estes espetáculos tenham sido pouco concorridos“, comentou um jornalista.

No final do ano seguinte, 1910, a programação do Polytheama estava resumida a apresentação de filmes.

Em outubro daquele ano, ao anunciar que no dia 23 seria a última apresentação da empresa Munier & Cia, responsável pelo Cinema Ideal, informava-se que o teatro passaria novamente por reformas e seria reaberto em dezembro como um centro de diversão. O Cinema Ideal estava em cartaz desde 24 de setembro.

Polytheama em O Malho de 1º de maio de 1914, durante a Festa da Árvore de Maio

Em 1914, a revista O Malho (RJ) publicou fotos de 1º de maio daquele ano informando que o governador Clodoaldo da Fonseca havia plantado árvores naquele dia no Aterro de Jaraguá, futura Av. da Paz. O ato político aconteceu na Praça Sinimbu, onde várias pessoas viram um corso se dirigir ao aterro.

Uma das fotos de O Malho exibe ainda o prédio do Polytheama. Este foi o último registro da existência daquela casa de espetáculos de Maceió.

Não se tem, também, informações sobre o que aconteceu com o seu prédio. É provável que o teatro não tenha voltado a funcionar e que o prédio tenha sido demolido.

No final de ano de 1910, duas casas de diversões entraram em funcionamento na capital. A primeira foi o Cinema Helvetica, que ficava na Rua do Comércio, sobreloja da Farmácia Fidelidade. Era um empreendimento da firma pernambucana A. Girott & Cia, representada em Alagoas pelo sócio Coronel Manoel de Araújo Pinheiro. Foi inaugurado no dia 22 de outubro de 1910.

A outra inauguração, de muito maior porte e importância, foi o Teatro Deodoro.

Foi entregue ao público no dia 15 de novembro de 1910 com a apresentação do drama “Um Beijo”, de autoria do alagoano J. Britto, representado por Lucilla Péres e Antônio Ramos.

Assim, além do Teatro Maceioense com o Cinema Delícia, o teatro e o cinema maceioenses ganharam duas casas de porte. Tinham a vantagem de estarem situadas no centro da cidade.

Não deve ter sobrado público para o já combalido Polytheama, que fechou o pano com apenas cinco anos de existência.

Fonte: Maceió de Outrora, de Félix Lima Júnior; Jornal Gutemberg, edições de 1905 a 1910.

1 Comentário on Theatro Polytheama, a casa de espetáculo da Praça Euclides Malta

  1. Um registro importante no resgate de nossa história. Parabéns pela matéria

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