Teotônio Vilela deixa a Arena e filia-se ao MDB em 1979

Entrevistas históricas do senador Teotônio Vilela, do deputado federal José Costa (MDB) e do deputado federal Divaldo Suruagy (Arena) ao programa Manhãs Brasileiras de Edécio Lopes

Teotônio Vilela, já no MDB, durante a votação da Anista no dia 28 de agosto de 1979

O afastamento do senador Teotônio Vilela da Arena, partido de sustentação da Ditadura Militar, teve enorme significado político. Simbolizava a desagregação do poder dos militares e o surgimento de uma personagem política que iria mobilizar setores importantes da sociedade na luta por democracia.

Edécio Lopes no Manhãs Brasileiras. Foto de Plínio Nicácio

Edécio Lopes no Manhãs Brasileiras. Foto de Plínio Nicácio

Esta entrevista de Teotônio Vilela ao programa Manhãs Brasileiras, de Edécio Lopes, em abril de 1979, no mesmo dia em que Teotônio Vilela iria comunicar aos dirigentes da Arena que estava rompendo com o partido, é um marco no jornalismo alagoano.

Edécio Lopes, que então comandava o programa Manhãs Brasileiras na Rádio Gazeta de Alagoas, conseguiu a primeira entrevista com o senador.

Teotônio Vilela filiou-se ao MDB no dia 25 de abril de 1979 e no final do mesmo ano era uma das lideranças políticas do país que assinou a ata de fundação do PMDB.

Neste mesmo programa, Edécio Lopes ainda entrevista o deputado federal José Costa (MDB) e o deputado federal Divaldo Suruagy (Arena).

A degravação da entrevista só foi possível graças a Edmilson Vasconcelos, filho de Edécio Lopes, que nos cedeu a gravação original.

TEOTÔNIO VILELA – Eu necessito prosseguir a minha viagem, que é sobretudo uma viagem institucional em busca do estado de direito democrático. Não mudo de ideias, muito ao contrário: eu devo estar mudando, no máximo, de locomotiva, de meio para desenvolver os princípios que esposei a tantos e tantos anos.

Não tenho contra os meus companheiros de Arena de Alagoas a menor restrição. Sou um homem que costuma falar, tanto quanto possível, claro, e devo também deixar claras as minhas proposições e disposições.

A todos eles eu dou o meu abraço, não um abraço predatório, mas um abraço, inclusive, de agradecimento ao apoio que sempre me deram em grandes momentos.

Ainda na Arena, Teotônio Vilela, Divaldo Suruagy e Guilherme Palmeira participam de um palestra na Confederação Nacional da Indústria no Rio de Janeiro em 22 de novembro 1977

Ainda na Arena, Teotônio Vilela, com Divaldo Suruagy e Guilherme Palmeira, participa de um palestra na Confederação Nacional da Indústria no Rio de Janeiro em 22 de novembro 1977

Se, esse instante, que considero histórico para minha vida — tenho que me desligar de tantos amigos —, nada disso impele que haja o rompimento sentimental. De maneira alguma.

No plano das ideias os homens podem pessoalmente se entender, já dizia o grande mestre Joaquim Nabuco, que a importância na política era concordar em discordar. Somente assim é que se pode praticar a democracia, que na verdade ela está imbuída de princípios.

Dentro deste estilo de raciocínio, eu me dirijo ao povo alagoano dizendo que não há nenhuma modificação nas minhas ideias, na minha maneira de proceder, na minha maneira de julgar a coisa pública.

A representatividade parlamentar, seja na Câmara, seja no Senado, não significa de maneira alguma um comprometimento irrecusável as determinações oficiais. Da mesma maneira que a representatividade não implica, de maneira alguma, em obediência cega ao partido. A representatividade significa sobretudo o espelho do pensamento de parcelas da população que cada um de nós representa. A representatividade é atitude, a representatividade é decisão, a representatividade é conviver com obstáculos, é conviver com a adversidade a fim de que os obstáculos e tudo mais que se segue dentro da transformação da sociedade, possam, na verdade, ter uma convergência no bom sentido.

Portanto, viver politicamente é, como diria o grande escritor Guimarães Rosas, é viver também perigosamente. Eu não tenho nenhum receio em tomar atitudes. Não tenho nenhum receio, porque tenho com o que dar satisfações ao meu povo das Alagoas e ao meu povo dentro do Brasil.

Velo, de maneira especial, a ética política. Uma ética que está sendo agora evocada para que eu saia da Arena, segundo expressão do líder Passarinho [senador Jarbas Passarinho]. Mas há ética e éticas. A minha tem sido coerente. Tem sido coerente porque jamais modifiquei a maneira de pensar e de julgar a coisa pública.

Dentro desse roteiro eu espero seguir. Dentro desse roteiro eu espero servir às Alagoas. Dentro desse roteiro, brevemente estarei fazendo um grande movimento em torno de um projeto para o Nordeste, que cada vez mais se distancia, por determinações oficiais, da realidade global do Brasil, ficando atrasado em cada dia, cem dias no processo de desenvolvimento.

Irei me dedicar nesses próximos quatro anos aos problemas e as questões nordestinas, onde o nosso estado, estado de Alagoas, está encravado, em situação difícil e precisamos, para ele, abrir perspectivas. Por mais que sejam os obstáculos, por mais que seja a adversidade, nós precisamos lutar por Alagoas, nós precisamos lutar pelo Nordeste.

E essa minha determinação está tomada e brevemente darei início a uma campanha de verdadeira integração do Nordeste, integração de Alagoas ao processo de desenvolvimento. Claro que para isso nós precisamos de uma diretriz nacional, e por isso, durante tantos anos, trabalhei nessa diretriz nacional, para através dela, que já foi formulada dentro do Projeto Brasil, descer as suas projeções regionais e a sua projeção estadual.

Esta é a palavra que rapidamente deveria dizer nesse instante, atendendo ao seu oportuno apelo a mim.

EDÉCIO LOPES – Senador Teotônio Vilela, o senhor falou sobre um detalhe interessante sobre a sua saída da Arena. O senhor disse que a cúpula partidária precipitou os acontecimentos. O que foi que houve entre a cúpula partidária, no caso a cúpula arenista, e o senador Teotônio Vilela precipitante da sua saída do partido para ingresso no MDB?

TEOTÔNIO VILELA – Porque foi feito um apelo nacional através do líder Jarbas Passarinho no sentido que eu saísse da Arena. Os jornais, a televisão, o rádio etc, divulgaram essa declaração do Passarinho. Isso foi o que se chama de contragolpe.

Senador Jarbas Passarinho, líder da Arena em 1979

Senador Jarbas Passarinho, líder da Arena em 1979

A decisão de sair da Arena eu tinha tomado há muito tempo, não é de hoje. Apenas, claro que eu julguei que o processo, se tratando de um ato de liberdade individual, assegurado pela Constituição, assegurado pela lei, ele iria se fazer normalmente.

Eu nunca disse que ia ficar. Ao contrário: disse que ia sair. Mas o fato de dizer que ia sair, não dá o direito a ninguém de proceder da maneira que ele procedeu.

Ele tolheu, inclusive, os caminhos que calmamente eu estava tomando de pleno acordo, inclusive, com a própria cúpula… que era do conhecimento da própria cúpula da Arena e com conhecimento da cúpula do MDB, ou seja: dos dirigentes máximos no plano nacional.

Mas ele precipitou, até em tom de ameaça, e evidentemente, se eu não tomar as providências tão logo, poderia ficar sujeito ao ato discricionário do partido. Essa é a razão de ser da expressão que eu utilizei antes.

EDÉCIO LOPES – Eu gostaria de saber, também, do senador Teotônio Vilela, e isso talvez venha a ser uma pergunta um tanto quanto íntima, mas pediria permissão para fazê-lo: os arenistas de Alagoas, eu digo os políticos militantes na Arena alagoana, não lhe procuraram, não lhe levaram uma palavra de solidariedade, não tentaram mudar a sua opinião em deixar o partido, não nenhum contato de nenhum elemento integrante da Aliança Renovadora Nacional com o senador Teotônio Vilela para mudar a opinião do senador?

TEOTÔNIO VILELA – Os arenistas alagoanos estiveram comigo. Os deputados federais, alguns deputados estaduais, o próprio governador, o vice-governador Teobaldo Barbosa, que deve merecer nessa citação uma palavra toda especial, porque ele na verdade é um homem muitíssimo ligado a mim, desde o tempo da UDN.

Deputado Macelo Cerqueira (MDB-RJ) e o senador Teotonio Vilela saindo de visita a presos políticos no Rio de Janeiro em 1979

Deputado Marcelo Cerqueira (MDB-RJ) e o senador Teotônio Vilela saindo de visita a presos políticos no Rio de Janeiro em 1979

Mas não tinham nada a fazer, porque o processo vem de cima para baixo, e apesar dos apelos que eles me fizeram, e na verdade me fizeram, para que não saísse da Arena, eu não tinha mais condições de permanecer na Arena, afinal de contas, o núcleo de ideias que venho defendendo, não sendo adotado pela cúpula nacional do partido, não tinha porque ser defendido exclusivamente no âmbito nacional, de maneira que a posição dos arenistas alagoanos teria que ser consequente com as decisões do plano nacional.

Quanto a isso, eu não tenho nada a dizer e não tenho nada contra nenhum dos meus companheiros da Arena. Em Alagoas, não tenho nada. Apenas sabemos que não há nenhuma força mais no plano estadual para modificar as decisões de plano nacional. Essa é que é a verdade.

EDÉCIO LOPES – O senador falou que essa declaração do senador Jarbas Passarinho foi um tanto quanto fora de lógica, porque já era o seu pensamento deixar a Aliança Renovadora Nacional, e o fato era público. E eu lembraria, inclusive, que isso foi dito em nossas Manhãs Brasileiras pelo próprio senador Teotônio Vilela, não de forma muito declarada, não dizendo assim: “Vou sair da Arena”, mas o senador chegou a usar uma expressão como “Nada mais me prende à Aliança Renovadora Nacional”.

Lembro até um ângulo que fez sentir no programa, de uma pessoa que chegava à casa de outra e o dono da casa se retirasse quase como sinal de protesto. Ele se sentiria assim na Arena, pelas formas desagradáveis como eram recebidos seus pronunciamentos, pela retirada de grande parte da bancada, ou quase toda bancada da Arena no Senado sempre que o senador ia falar…

TEOTÔNIO VILELA – E isso ocorria sistematicamente, a saída dos senadores da Arena, à exceção de três ou quatro. Eu quero aqui deixar bem claro que o senador Luiz Cavalcante nunca se retirou. À exceção dele e de mais alguns, os demais se retiravam, sistematicamente, ostensivamente até.

Luiz Cavacante

Luiz Cavalcante

EDÉCIO LOPES – Tudo isso já foi debatido pelo senador em um programa, de forma que a sua saída para o MDB, como o senador frisou, foi precipitada pela declaração do senador Jarbas Passarinho. Mas não foi assim surpreendente, de vez que o próprio de há muito vinha preparando o terreno, e até a reação psicológica do povo para esse fato que se tornou realmente inevitável.

Eu gostaria de perguntar ao senador Teotônio Vilela o seguinte: se dentro da Aliança Renovadora Nacional, pregando, como ele vinha pregando essas ideias com respeito ao Projeto Brasil, a melhoria de muitas coisas dentro da pátria brasileira, ele não teve, digamos assim, força, ressonância para suas pregações, alcançaria isso através do Movimento Democrático Brasileiro, sendo o MDB um partido minoritário?

TEOTÔNIO VILELA – Eu devo dizer o seguinte: a minha proposta alternativa, que foi o Projeto Brasil, não recebeu nem sequer aquilo que o escritor Oswald de Andrade dizia de um outro escritor que lhe mandou um livro: “Eu li e não gostei”. Eu não recebi sequer essa resposta descortês, mas afinal de contas acusando recebimento.

O Projeto Brasil não mereceu da Arena uma única palavra. No entretanto, o MDB no Senado se pronunciou a respeito do Projeto Brasil, se propôs, inclusive, a estudar o Projeto Brasil, e os vários convites que tenho recebido para os diversos estados brasileiros, tem sido para debater o Projeto Brasil dentro da área, quase que exclusiva do MDB.

Na verdade, durante esses anos todos eu não recebi convite nenhum, a não ser um da Arena Jovem de Alagoas há três anos passados, para… aliás, da Arena Jovem não, promovido pelo senador Luiz Cavalcante, para participar de algum simpósio, de algum debate.

Teotônio Vilela assina a ficha de filiação ao MDB

Teotônio Vilela assina a ficha de filiação ao MDB

Os meus contatos durante esse tempo foram feitos no interior do Brasil, ou nos estados do Brasil, através de convites promovidos pelo MDB, o que dá prova de apreço às minhas ideias e de forma concreta, ao Projeto Brasil.

Eu não posso assegurar, e nem estou… isso não está em jogo no momento, e nem eu condicionei a minha ida à aprovação integral do MDB ao Projeto Brasil. Não está em jogo de maneira nenhuma isso. E nem tão pouco eu sei que o MDB vai adotar o Projeto Brasil como modelo. Isso um tanto petulante de minha parte, que não está dentro do meu feitio.

O que eu desejo afirmar é que as minhas ideias sempre encontraram grande ressonância, não somente no Senado, como na Câmara Federal e nas Assembleias Legislativas dos estados, minhas ideias sempre encontraram ressonância, sempre encontraram apoio.

De maneira que eu vi que existe aquilo que eu chamei de convergência. Depois, eu não devo, de maneira alguma, julgar o que se trata em um partido político nitidamente ideológico, porque, conforme a própria declaração do deputado Ulysses Guimarães, presidente do MDB, o Movimento Democrático Brasileiro é uma espécie de federação de oposições, e na conversa longa que tive com ele há um mês atrás, eu manifestava a ele que a minha liberdade de expressão teria que ser mantida, porque uma ocasião eu declarei que não ia trocar uma canga por outra, e essa disposição continua de pé.

Senadores Paulo Brossard, Teotônio Vilela, Ulysses Guimarães e o deputado estadual Renan Calheiros

Senadores Paulo Brossard, Teotônio Vilela, Ulysses Guimarães e o deputado estadual Renan Calheiros

Portanto, eu não estou indo para o MDB sujeito a uma canga, nem o MDB me impôs qualquer canga. Muito ao contrário. Tanto o deputado Ulysses Guimarães, quanto o deputado José Costa me asseguram plena liberdade que eu necessito para desenvolver as minhas ideias, até que um dia possamos ter um partido de feição nitidamente ideológica, com um desenho de sociedade que se possa executar através de uma pregação contínua.

EDÉCIO LOPES – Senador, qual será a sua próxima visita a Maceió, agora na qualidade de senador emedebista?

TEOTÔNIO VILELA – Eu devo chegar a Maceió sábado e estarei, se você desejar, a sua disposição.

EDÉCIO LOPES – É exatamente isso. Eu gostaria de acertar, já agora com o senador, uma entrevista nos estúdios da nossa emissora, uma entrevista, evidentemente mais longa e que o senador, mais à vontade em nossos estúdios, iria abordar os vários aspectos dessa sua transferência, que é, sem dúvida, o assunto mais comentado na política alagoana no dia de hoje, e, sem dúvida, muita gente vai querer ouvir do senador Teotônio Vilela um pronunciamento mais extenso, mais longo, mais profundo sobre as implicações que esta transferência pode trazer para ele, pessoalmente, para os seus eleitores, para Alagoas, enfim, para a política alagoana de uma forma geral. Eu gostaria de saber se na próxima segunda-feira, no caso, se nós contaríamos com a presença do senador Teotônio Vilela no nosso programa?

TEOTÔNIO VILELA – Sem dúvida. Poderemos na segunda-feira conversar largamente a respeito de tudo. Eu estarei à disposição das suas perguntas e dos seus ouvintes. Não tenho nada a encobrir, de maneira que o meu encontro nas Manhãs Brasileiras com o povo alagoano será de grande utilidade para mim e sobretudo… para mim pessoalmente, não. Mas para as ideias que defendo. Portanto, eu estou à sua disposição, Edécio. E já, antecipadamente lhe agradeço esse convite.

EDÉCIO LOPES – Então, senador, nós lhe esperamos segunda-feira nas Manhãs Brasileiras. Eu tenho a impressão que o deputado José Costa deve estar aí perto do senador Teotônio Vilela, porque desde ontem que o deputado José Costa, pelas informações que tenho recebido, tem dado toda a assistência ao novo senador do MDB e primeiro senador emedebista de Alagoas. Por acaso o deputado José Costa está aí perto do senador Teotônio Vilela no momento?

TEOTÔNIO VILELA – Pois não. Está sim aqui.

José Costa candidato a governador em 1982

José Costa candidato a governador em 1982

EDÉCIO LOPES – Eu gostaria de conversar com ele, senador, dizendo para o senhor o nosso agradecimento pela maneira gentil como atendeu a nossa reportagem, como atendeu esse nosso contato telefônico para entrevista através do nosso programa, desejando boa sorte na sua vida política, agora sob nova legenda partidária, e dizendo que na próxima segunda-feira nós teremos muitas e muitas perguntas a fazer ao senador Teotônio Vilela, do Movimento Democrático Brasileiro.

TEOTÔNIO VILELA – Edécio, antes de me retirar do seu programa, eu desejo dar uma palavrinha final, e esta palavra é dirigida especialmente a aqueles que vêm fazendo o MDB em Alagoas, a todos.

Não houve até hoje, em momento nenhum na minha atividade política dentro da Arena, qualquer momento de ruptura e ou de incompatibilidade fundamental com o MDB. Eu quero dizer a todos os emedebistas de Alagoas, que sou um homem simples, mas sou um homem firme nas minhas ideias.

Eu espero que tenham nas minhas ideias um núcleo de princípios capaz, na verdade, de servir de alento, servir de conduto a uma campanha como sempre tenho promovido tanto no plano estadual, quanto no plano federal.

A todos os emedebistas de Alagoas, os meus cumprimentos, o meu respeito e o meu desejo de uma convivência, a mais dedicada possível as causas de Alagoas e as causas do Brasil. Muito obrigado a você, Edécio.

EDÉCIO LOPES – Senador, me permita uma pergunta que eu ia esquecendo, o senhor já formalizou junto à direção local da Arena o seu desligamento do partido?

TEOTÔNIO VILELA – Estou formalizando nesse momento.

EDÉCIO LOPES – Muito obrigado, senador. Muito obrigado, mesmo, e um grande abraço.

TEOTÔNIO VILELA – Pois não, Edécio. Um grande abraço para você. Vou passar o telefone aqui para o deputado José Costa.

EDÉCIO LOPES – Deputado José Costa, em um contato especial com os ouvintes da Rádio Gazeta de Alagoas, diretamente de Brasília. Deputado, como recebe o senador Teotônio Vilela seu partido?

JOSÉ COSTA – Muito bom dia, Edécio. Acho que hoje é um dia de muita significação para o MDB nacional e em particular para o MDB de Alagoas. O ano passado, fustigado pela pregação democrática de Teotônio Vilela, o senador Dinarte Mariz chegou a falar de sua expulsão do partido do governo.

Eu tive a oportunidade de ser entrevistado por uma jornalista do Jornal do Brasil, e àquela época eu dizia: se a cúpula arenista deseja expulsar o senador Teotônio Vilela pela sua pregação democrática, devo afirmar que nós do MDB, que o conhecemos e que o acompanhamos nesta caminhada, o receberemos de braços abertos. E se a Arena barganhar, nós ainda daremos alguma coisa em troca. Receberemos o Teotônio e ainda daremos alguma coisa em troca.

De modo que, Edécio, o Teotônio, na sua trajetória política, sobretudo a partir de 74, o Teotônio tem se manifestado a favor da implantação no Brasil de um estado de direito democrático, tem se manifestado a favor de eleições direta em todos os níveis. Teotônio tem pregado a anistia por este Brasil afora, a necessidade da pacificação nacional para que o Brasil realmente possa encontrar com o seu destino, para que as reformas estruturais da sua economia, para que as reformas que a sociedade reclama possam ser feitas em profundidade e de modo a tornar esse país mais justo e mais igual.

O Teotônio tem pregado teses que estão no programa do MDB, Teotônio alinhou-se com a candidatura do general Euler Bentes, que era a candidatura do MDB à presidência da República, de modo que é natural que, com tantos encontros, com tantas afinidades, o Teotônio viesse para a sua própria tribuna, viesse para o prolongamento da sua casa que é, realmente, o Movimento Democrático Brasileiro.

General Euler Bentes Monteiro

General Euler Bentes Monteiro

Com a vinda de Teotônio fica claro o nosso propósito de mantermos o partido como uma frente democrática, cujo objetivo maior é restabelecer a democracia no Brasil, porque se o povo já não mais aguenta 15 anos de arbítrio, o Teotônio vem como o companheiro devotado à causa da liberdade, à causa da justiça social. Só pode ser recebido de braços abertos.

O meu partido emprestara uma solenidade especial à formalização dessa transferência de Teotônio para os nossos quadros. Nós estamos saindo da residência do Teotônio, Teotônio e eu, iremos agora para um encontro com o deputado Ulysses Guimarães, onde acertaremos detalhes desse ato formal que será praticado na tarde de hoje na presença, inclusive, de um novo emedebista e ex-arenista, o ex-vice-governador do estado da Guanabara, o Raphael de Almeida Magalhães, com quem almocei ontem o Rio de Janeiro, tratando exatamente da vinda do Teotônio para os quadros da oposição.

Eu quero, ao finalizar, dizer alguma coisa especial para os meus companheiros de partido: ontem, eu tentei um contato pessoal, telefônico, com o deputado Manoel Afonso de Melo e com o deputado Francisco Pimentel, lastimavelmente eu não consegui o contato com o deputado Francisco Pimentel, porque o seu telefone estava ininterruptamente dando sinal de ocupado, mas, hoje ainda, terei um contato com ele, assim como com todos os deputados estaduais do meu partido e as suas principais lideranças.

Eu quero ter um contato com os emedebistas do estado de Alagoas para lhes dizer que o Teotônio deve ser recebido como um dos nossos, um dos nossos melhores e mais fiéis combatentes, um bom soldado da causa da liberdade e da democracia neste país.

De modo que, pela sua tradição de luta, pelo seu passado, que abona seu presente, o Teotônio, sem dúvida alguma, é recebido de braços abertos pelo MDB de Alagoas, como está sendo recebido festejadamente pelo MDB nacional, por suas lideranças, pelo senador Paulo Brossard, pelo deputado Ulysses Guimarães, pelo líder Freitas Nobre, pelo senador Saturnino, pelo senador Marcos Freire, enfim, por todos esses homens que têm, realmente uma larga folha de serviços prestados à democracia no país.

EDÉCIO LOPES – O deputado José Costa usou uma expressão aí de bravo soldado. Hoje, na abertura das nossas Manhãs Brasileiras, nós usamos esse mesmo termo com respeito a Teotônio Vilela, dizendo, entre outras coisas, que realmente o Teotônio sempre foi um grande senador, mas não poderia ser chamado, não poderia se dizer que a Arena estivesse perdendo hoje um grande soldado da sua causa.

Porque, na verdade, o senador Teotônio Vilela repetida vezes fez-se ausente de assuntos ligados diretamente ao partido do governo, isso de forma pública e notória, até. Então, eu dizia que a Arena não estava perdendo, no dia de hoje, um grande soldado, mas um grande senador, sem nenhuma sombra de dúvida.

Achei interessante a colocação da expressão soldado, a combatividade de um grande soldado, usado aí pelo deputado José Costa, a coincidência da imagem. Eu não sei se o deputado concordaria com esse problema de Teotônio já mais foi, pelo menos desde de que estamos acompanhando mais de perto a sua atuação política, ou a atuação dos políticos alagoanos, ele jamais foi assim um grande soldado da Arena, ou o deputado José Costa