Surpresas opostas: do fim do “Henricão” ao começo do João

Nilton Oliveira analisa o processo político que culminou com a indicação do agrônomo João Sampaio prefeito da capital em 1971

Divaldo Suruagy e Guilherme Palmeira em campanha eleitoral em Maceió
Henrique Equelman

Henrique Equelman

Nilton Oliveira

Em capítulos anteriores omitimos, por desordenação e pela qual nos penitenciamos, dois fatos importantes. No último artigo, de número XVI, focalizamos ocorrências das eleições de 1974. Então, para não deixarmos conscientemente qualquer omissão no ar, retrocedemos no tempo e no espaço para análise dos citados fatos, registrados em 1970 e relacionados com a Prefeitura de Maceió.

No primeiro caso, ficou na “berlinda” a decisão do governador Lamenha Filho em indicar o nome de Henrique Equelman para ser o primeiro prefeito nomeado, pois a 31 de janeiro de 1970 terminava o mandato de Divaldo Suruagy. Ora, sendo Equelman deputado estadual e estando prevista uma eleição naquele ano, a indicação surpreendeu. Por que, voltando ele a ser candidato teria de largar o cargo seis meses antes da eleição. E, assumindo no último dia de janeiro, seria prefeito por apenas quatro meses, pois ninguém acreditava fosse ele sacrificar sua carreira vitoriosa na política com três mandatos na Assembleia Legislativa, por um ano de sacrifício na Prefeitura de Maceió. E isso aconteceu, porque Henrique Equelman ficou na administração municipal por todo o resto de período de governo do senhor Lamenha Filho.

Há, sobre o fato, duas versões que podem ser consideradas por opção ou juntas. Na primeira hipótese, o deputado teria se desestimulado em continuar disputando o lugar, em decorrência da reforma eleitoral que aumentou consideravelmente a legenda. Outra a de que teria ele corrido um risco calculado e decisivo na sua vida: saísse sucessor de Lamenha Filho um elemento do seu grupo, e esta era a otimista perspectiva oficial, Henrique ficaria mais quatro anos na Prefeitura. E olhe que um político exercendo cinco anos de mandato executivo pode tranquilamente dormir eleito no pleito seguinte. Só que a escolha caiu num nome absolutamente imprevisto. E um ano foi o bastante para botar por terra uma longa e efetiva vida política. Neste jogo prevaleceu, sobretudo, a velha amizade entre dois grandes amigos: Lamenha Filho e Henrique Equelman.

O outro episódio foi, justamente, uma decorrência do primeiro. Se ninguém admitia que o novo governador, Afrânio Lages, mantivesse o deputado Henrique Equelman na Prefeitura de Maceió, muito menos considerava qual fosse a decisão para escolha do substituto. Até que, depois de “suspense” prolongado, saía a informação do escritório da rua do Comércio: o novo Prefeito de Maceió, escolhido pelo governador Afrânio Salgado Lages, seria o senhor João Rodrigues Sampaio. Nome praticamente desconhecido e que, pela profissão configurada em seu curriculum deu maior margem de exploração negativa nos meios políticos: a Prefeitura de Maceió seria administrada por um agrônomo. Houve até quem admitisse que na PMM iria ser instituída uma Secretaria de Agricultura.

João Sampaio em 1991. Foto de Dárcio Monteiro

João Sampaio em 1991. Foto de Dárcio Monteiro

O incrível — que o novo prefeito, de aparência simpática e gestos moderados, com experiência empresarial vivida no setor da agroindústria açucareira, como técnico, foi aos poucos ganhando as graças da comunidade. Como administrador começou a impressionar pelo dinamismo. Levou obras a todos os bairros e, com inteligência, criou o “slogan” que reforçaria a popularidade do seu nome: “Equipe João Sampaio“. Ao fim da administração era, talvez, o mais festejado ex-prefeito. Principalmente a partir de quando entregou ao povo maceioense o novo cartão de visita da cidade, a praia de Pajuçara urbanizada e iluminada — embora sem esgotos. Tanto que, o governador Divaldo Suruagy se decidiu aproveitá-lo, colocando-o no lugar certo: Secretaria de Agricultura.

Como Sampaio conseguiu formar uma pequena, mas unida e solidária equipe de promoção que funcionou como nunca, a ponto de colocá-lo na disputa do Governo do Estado, concorrendo com Divaldo Suruagy, muitos adeptos deste resistiram a sua decisão de prestigiá-lo. Mas, como sempre, o governador agiu com sagacidade política: deixá-lo na Prefeitura poderia ser interpretado como “um acordo”, “pedido” ou cousa que o valha. Deslocando-o, era uma jogada certa, sobretudo a partir da tese do convencimento às pretensões futuras de Sampaio: ele já havia ganho o eleitorado da Capital e era preciso penetrar no interior. Nada melhor para quem tem aspirações políticas. Muito melhor para Suruagy: eliminou um possível concorrente e ganhou um forte aliado.

* Extraído do livro “Eu fui testemunha”, Maceió, 1979.

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