Sopa de Estrelinhas no carnaval de 1917

Flagrante do carnaval de 1930 em São José da Laje, com foliões em frente a Igreja de São Carlos

Banda para o carnaval de 1929 em Maceió

A poesia abaixo foi publicada na revista carioca O Malho de 29 de setembro de 1917, página 11. Tráz, com bom humor, informações sobre as novidades nos carnavais daquela época.

Sopa de Estrelinhas

Das festas grandes e boas,
Uma de glória mais forte,
Era, outrora, em todo o norte,
O Carnaval de Alagoas

Festejo de gente fina
Da que tem fama e dinheiro,
Voava o “limão de cheiro”
Via-se em tudo a anilina.

De todos fugia a mágoa,
Andava tudo em carreira
Aos guinchos do “Zé Pereira”
Fugindo dos barris d’água.

Se acaso numa janela
Qualquer moça punha o rosto,
Recolhia-o com desgosto
Como um fundo de panela.

Carnaval Pão de Açúcar em 1960

Verniz grosso era uma praga
Que levava a roupa ao lixo;
E por tudo andava o esguicho
Que é o bisavô da bisnaga.

E os mascarados? Em urros,
Carambolavam nas praças,
Pulando, fazendo graças,
Macacos, vacas e burros.

É o reinado soberano
Da pilhéria e da folia;
Os risos d’aquele dia
Pagavam prantos de um ano!

Ora, é em tempo assim maluco
Que um rico parente manda
O Raymundo de Miranda
Estudar em Pernambuco.

Raymundo partiu saudoso
Por deixar a maluquice;
Não havia no Recife
Tanto prazer, tanto goso.

Que festa merece lôas
E enche um peito de alegrias
Como aquela dos três dias
Do Carnaval de Alagoas?

Quem é da terra que vence
Com valsa, polka ou dobrado
Um “Zé Pereira” roncado
Na “Lyra Maceioense”?

É firme nessa lembrança
Que o gordo moço Raymundo
Parte um dia a correr mundo
Num cinto apertando a pança.

Chega ao Recife, e aí sente,
Com tristeza e com saudade,
Que se brinca na cidade
Um carnaval diferente.

Que miséria! Um dia inteiro
Andou ao sol como um bicho,
E não viu Jato de esguicho
Nem som de limão de cheiro!

O Carnaval que se paga,
Que diverte a gente fina,
E feito sem serpentina,
Língua de sogra e bisnaga!

Há entretanto, entre essa gente,
Um lindo brinquedo novo,
Que se propaga entre o povo
E o diverte imensamente.

São redondos papelitos
De várias cores berrantes
Que as senhoras elegantes
Jogam nos moços bonitos.

A esse brinquedo se mete
Num saco posto de lado;
E o papel assim cortado
Tem o nome de – confetti.

Raymundo, de alma exaltada,
No outro dia, logo cedo,
Compra um saco do “brinquedo”
Para enviar à namorada.

Compra, e em pacote singelo,
Remete pelo Correio
Um saco de Kilo, cheio
De bom confetti amarelo.

Que diria a honrada gente
Do mimo que aquilo encerra
Ao receber lá na terra
Tão oportuno presente?

Escola de Samba Circulistas no carnaval de 1953 em Maceió

Que Maceió não diria
Com as suas praxes modestas
Quando voejassem nas festas
Os confettis da Sophia?

Dias depois, alma em chama,
Vêm notícias do Sucesso:
Pede-lhe a noiva o regresso
Neste logo telegrama:

“Dico. Embora teu pai gaste
“Cem mil réis, vem. Alarmada.
“Mamãe à morte, embuchada
“Com o presente que mandaste.

“No quintal, oito galinhas
“Das mais gordas e escolhidas
“Morreram hoje entupidas
“Com a tal sopa de estrelinhas.

“Eu mesmo sinto asfixia
“Que me faz romper a roupa
“Depois que tomei a sopa.
“Embarca urgente. – Sophia”.

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É por estas, e outras boas,
Nas quais o povo reflete,
Que ainda hoje não há confetti
Na Capital de Alagoas.

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