Primeira missa em português nas Alagoas

Catedral de Maceió nos anos 60

Foi num sábado, 15 de agosto de 1964, na Catedral de Maceió, que a Igreja Católica em Alagoas adotou as novas regras do Concílio Vaticano II sobre a liturgia.

JA 15-8-64 (2) editadoA alteração era tão importante que o Jornal de Alagoas estampou a informação em manchete na primeira página, destacando que o oficiante seria D. Adelmo Machado.

As novas regras estavam descritas na Constituição Conciliar Sobre a Sagrada Liturgia, que foi publicada em Roma no dia 4 de dezembro de 1963.

Esse movimento modernizador da Igreja Católica teve início com o papa João XXIII, que mobilizou os católicos entre 1962 e 1965 para reaproximar a Igreja dos cristãos afastados da religião.

D. Adelmo Machado

D. Adelmo Machado

Segundo o Frei Beto, além de abolir a missa em latim, o Concílio Vaticano II também acabou “com a confissão auricular, o celebrante de costas para os fiéis, a ideia de que os judeus foram responsáveis pela morte de Jesus, e também de que só a Igreja Católica é via de salvação em Jesus Cristo. O Concílio introduziu o conceito de Igreja como ‘povo de Deus’, e não mais como ‘sociedade perfeita’, e estabeleceu diálogo com o mundo moderno, as ciências e as religiões não cristãs”.

Frei Beto avalia que algumas dessas alterações “entraram em retrocesso nos pontificados de João Paulo II e Bento XVI. Este celebrou missa em latim, revalorizou a confissão auricular, voltou a afirmar que a Igreja Católica é o único meio de salvação em Jesus Cristo e não incrementou o diálogo inter-religioso”.

Repercussões

Em entrevista para o Jornal do Brasil de 18 de agosto de 1964, Dom Hildebrando Martins, que integrava a Comissão Arquidiocesana de Liturgia do Rio de Janeiro, declarou que “o público carioca aceitou com entusiasmo as inovações introduzidas nas missas” e que “o fato delas agora serem rezadas em português possibilitou uma participação mais ativa dos fiéis”.

O jornal informava ainda que as normas estabelecidas, além de preverem que aproximadamente 80% da missa fosse celebrada em língua nacional, recomendava que antes da entrada do celebrante, o comentador (ou leitor) prepare a abertura da cerimônia, expondo um pensamento que proporcione boa receptividade espiritual “para a ação sagrada por excelência, em que o sacerdote e a assembleia formam um só corpo com o sumo Sacerdote, o Cristo, Nosso Senhor”, ressaltou Dom Hildebrando Martins.

A norma orientava que à entrada, onde fosse possível, se organizasse uma procissãopor longiorem viam”, pelo menos com os componentes da equipe de liturgia da paróquia (leitores, porteiros, cantores, acólitos etc).

Na hora da Epístola, o celebrante deveria se voltar para os fiéis, dando as costas ao altar e proclamar “com voz clara e compassada, a palavra de Deus ao seu povo” e que anunciasse o Evangelho “com a maior dignidade e solenidade possíveis, pois esta leitura é o ponto culminante da Liturgia da Palavra”.

A homilia deveria estar estreitamente ligada ao Evangelho e aos textos da missa e aos textos da missa do dia, “pois sua principal finalidade era esclarecer a mensagem de Deus, e deveria aparecer em toda a sua pureza, majestade e perene atualidade, como luz que há de iluminar cada dia da semana que o domingo inicia”.

Logo após o Credo, o celebrante deveria beijar o altar e saudar a assembleia, como de costume. Em seguida, diria “Oremos” e, permanecendo no meio do altar, voltado para os fiéis, anunciaria as intenções (orações) pela Santa Igreja, pelos Governantes, pelos que sofrem privações várias, por todos os homens e pelo bem-estar da humanidade.

As diretivas da Comissão de Liturgia também propunham modificações no Ofertório. A mais importante foi na Ação, ou seja, na apresentação dos dons. Dom Hildebrando explicou então que tal participação teria sua expressão na entrega da matéria para o sacrifício, isto é, o cibório contendo as partículas a serem consagradas, o vinho e a água, incluindo igualmente outras ofertas.

Estas deveriam ser levadas ao altar pelos representantes da assembleia ou por toda ela em procissão. O celebrante receberia o cibório das mãos de um leigo, previamente escolhido pelo pároco, enquanto as galhetas seriam entregues ao acólito por um casal.

Nessa parte da missa poderia ser ofertados dons in natura, como por exemplo lã para agasalhar os pobres no inverno, gêneros alimentícios, velas, óleo, flores para o culto e presentes de Natal para crianças pobres.

Para a homilia, segundo explicou Dom Hildebrando Martins, foram elaboradas “normas elucidativas dentro do espírito da Constituição sobre a Liturgia e da recente Encíclica do Papa Paulo VI, Ecclesiam Suam”.

A homilia deveria ter como tema geral o anúncio das maravilhas divinas na história da salvação ou no mistério do Cristo, “que está sempre presente em nós e opera sobretudo nas celebrações litúrgicas” e, como fonte, a Sagrada Escritura e a Liturgia.

O frade beneditino esclareceu ainda que a homilia era parte da própria Liturgia e obrigatória, sobretudo nas missas dominicais e nos dias santificados, celebradas com frequência de povo. “Situa-se a homilia no curso do ato litúrgico, pois ela integra a celebração do mistério da salvação”.

Nesta mesma entrevista, Dom Hildebrando anunciou outras inovações seriam introduzidas nas missas “em futuro não muito remoto”. Citou, entre elas, a adaptação da música sacra à índole do povo e também a colocação do altar em posição que melhor possa indicar “que é nele que se perpetua o sacrifício da Cruz e se renova a última Ceia”.

6 Comments on Primeira missa em português nas Alagoas

  1. Luís Fernando Pimentel de Alencar // 21 de dezembro de 2015 em 18:50 //

    Boa noite, só queria advertir quem escreveu o texto que nenhum documento do Vaticano II, nem de nenhum outro Concílio, aboliu a confissão auricular e o celebrante não estava ” de costas” para os fiéis mas na mesma posição deles, de frente para o altar.Para se escrever sobre um assunto deve-se procurar as fontes, com todo respeito, competente para tal.

  2. Caro Luís Fernando Pimentel de Alencar, quem escreveu essa informação e que você não considera “fonte competente” foi o Frei Beto. Aqui: http://www.a12.com/formacao/detalhes/teologos-debatem-convergencias-e-divergencias-do-concilio-vaticano-ii.

  3. Frei Beto, que nos é muito conhecido pelas vezes que não apresentou certa comunhão com a Doutrina Católica, foi muito infeliz em suas informações. Faltou-lhe uma boa interpretação do concílio, que nunca aboliu tais coisas…

  4. então escreveu errado, porque a Igreja nunca aboliu confissão auricular… e é desinformação bruta, porque o sacerdote não celebrava de costas para o povo- esse não é o sentido, mas na posição do povo, indicando que agindo na Pessoa de Cristo, ele vai à frente do Povo, porque Cristo vai à frente apresentando o povo, sua Esposa Dileta, a Igreja, a Deus…

  5. Pe Marcio Roberto // 22 de dezembro de 2015 em 01:26 //

    Vi hoje este artigo e gostaria que escrever para Ticianeli que o artigo falha pela falta de um verdadeira pesquisa sobre o Concilio e particularmente sobre as celebrações litúrgicas do sacramentos. Aconselho a reler os documentos conciliares do Concílio Ecumênico Vaticano II. E gostaria também de corrigi alguns erros apresentados no artigo: 1. A missa em Latim, no texto original, não foi abolida em nenhum momento. A novidade do Concílio foi a opção de celebrar a Santa Missa em língua vernácula, isto é, em língua local. Tanto que após o Concílio no Vaticano, e em muitos lugares, rezava a missa na língua local e em grandes celebrações, em Latim. No contexto latino americano foi que ocorreu uma má interpretação do texto conciliar da parte de alguns; 2. A confissão auricular também não foi em nenhum momento abolida; 3. Afirmar que o então Papa Joao Paulo II, hoje Santo da Igreja, não se empenhou em dialogar com as outras religiões, é absurdo. Bem como dizer que Papa Bento XVI era fechado a tal dialogo ( peço aqui desculpa antecipada pela expressão que vou colocar … “subtende uma pessoa que além de não acompanha a vida da Igreja, não leu os documentos conciliares e não acompanhou as visitas pastorais dos últimos Romanos Pontífices. Portanto, não fez uma pesquisa seria “. Acredito na boa intenção, mas lamentos as “afirmações” que não correspondem com a verdade histórica e com os textos Conciliares. Por fim, frei Beto apresentava a visão dele do que foi o Concílio e expos o ponto de vista dele, mas não é a posição da Igreja.
    Que este espaço continue sendo um meio de buscar sempre da verdade e de esclarecimentos, colaborando com isso, num convivência entre pontos de vistas diferentes, mas “preciso”, no sendo acadêmico e histórico.

  6. Frei Beto é uma mala sem alça.

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