O largo da Levada e suas praças históricas

Praça Emílio de Maya nos anos 40

O espaço urbano que veio a receber muitos anos depois duas importantes praças de Maceió, surgiu como resultado do assoreamento do curso inicial da águas do Canal da Levada, quando este se estendia até à Praia do Sobral. Esse largo foi preservado sem ocupação urbana por receber no período invernoso às águas que desciam do Alto do Jacutinga ou que afloravam no pé da sua encosta na Rua do Sol.

Para se ter uma ideia desse fenômeno, a atual Av. Moreira Lima foi conhecida por muito tempo como Rua da Vala. Era por ela que as águas de uma fonte localizada onde atualmente está a Igreja do Rosário dos Pretos escorriam em direção à Levada.

O primeiro uso desse espaço ocorreu em 1882, quando recebeu a Estrada de Ferro da Alagoas Railway e as melhoras necessárias para a instalação dos trilhos, com a construção de uma vala ao seu lado.

No final do século XIX, o trecho desse largo entre o final da Rua Augusta e o fim do Canal da Levada passou a ser tratado como Praça da Levada e recebeu seu primeiro projeto urbanístico em 12 de junho de 1914, quando foi denominado como Praça Pedro Paulino.

Praça Emílio de Maya nos anos 40

O governador de Alagoas era o coronel Clodoaldo da Fonseca, filho de Pedro Paulino, e a Intendência tinha à frente o farmacêutico Firmino de Aquino Vasconcelos, que foi o orador do ato inaugural da reforma da área.

Foi durante o governo de Pedro Paulino que se planejou os melhoramentos para a Levada, transformando “os pântanos em parques, à beira de uma praça arborizada e defronte de uma escola nova, a que a voz do Povo agradecida deu os nomes de Praça Pedro Paulino, Escola Pedro Paulino”, publicou a Revista Comercial e Agrícola das Alagoas em sua edição de 31 de outubro de 1914.

O trecho mais próximo da praia ficou conhecido como Parque do Bom Conselho por ter no seu final, perto do portão de entrada para a Estação Ferroviária, a Rua do Bom Conselho. No outro extremo, anos depois, foi erguido o Mercado Público de Maceió.

Ainda nos anos da década de 1920, a Praça Pedro Paulino e toda a área próxima passou ser denominada Parque Rio Branco. Nesta época foi arborizado com muitos eucaliptos com a intenção de ajudar na drenagem do terreno.

Em 1939, quando Maceió era administrada pelo prefeito Eustáquio Gomes de Melo, foi concluído o Mercado Público , que utilizou a maior parte da Praça Pedro Paulino. A parte remanescente, recebeu novo paisagismo, já era mais conhecida como Praça do Ideal.

Era uma referência ao Cinema Ideal, que tinha duas fachadas, uma para a Rua 16 de Setembro, nº 39, e a principal para a Praça. A primeira casa de espetáculos da Levada foi inaugurada em 23 de dezembro de 1928. Anos depois a sua entrada foi deslocada para a Rua 16 de Setembro.

Largo do Bom Conselho no Dia da Árvore, 21 de setembro de 1943, atual Praça do Pirulito. Foi plantada uma mangabeira

Em janeiro de 1953, quando o prefeito de Maceió era Abelardo Pontes Lima, foi inaugurada a urbanização o antigo Parque do Bom Conselho, com uma área de 3.500 m2 e rebatizado como Parque Rodolfo Lins. Somente foi oficializada esta nominação em 23 de abril de 1957, quando o prefeito Reinaldo Carlos de Carvalho Gama publicou o Decreto nº 642.

Por seu formato, o Parque Rodolfo Lins aos poucos passou a ser conhecido como Praça do Pirulito, denominação que foi oficializada pelo vereador Enio Lins, que conseguiu aprovar a Lei nº 3.988, de 7 de agosto de 1990.

A outra praça, a Pedro Paulino, após reforma realizada pelo prefeito Eustáquio Gomes de Melo em 1939 para as comemorações do centenário de Maceió, foi renominada logo após o falecimento do atalaiense dr. Emílio Elizeu de Maya, que aconteceu em 13 de março daquele ano (mais informações AQUI).

No dia 22 de outubro foi lançada no local a pedra fundamental para a construção de uma herma em homenagem ao jornalista, escritor e advogado. A proposta foi apresentada em 24 de abril pelo Sindicato dos Trabalhadores da Tramways, Força e Luz e Telefones de Maceió.

Além do Mercado e do Cinema, um dos equipamentos mais importantes a se instalar no entorno desta Praça foi o Restaurante Gracy. Frequentado pela elite da cidade, permaneceu em atividade até os anos 70.

Com o crescimento da população e como consequência das atividades do Mercado Público, a área foi gradativamente sendo ocupada pelo comércio e serviços próprios deste uso urbano.

No início da década de 1960, a Praça Emilio de Maya começou a ser invadida. Primeiro teve suas calçadas ocupadas por vendedores ambulantes, que expunham seus produtos usados sobre lonas estendidas no chão.

Mas a verdadeira invasão ocorreu numa noite ainda na década de 1960, quando dezenas de ambulantes ocuparam a área, que já estava sem urbanização alguma, e iniciaram a construção de algumas estruturas físicas.

Praça Emílio Maya em 1986. após ser ocupada

Essas instalações precárias utilizavam eletricidade improvisando gambiarras, colocando em risco o lugar. Essa improvisação, além da falta de condições sanitárias, motivou várias denúncias aos órgãos públicos, partindo principalmente dos comerciantes estabelecidos proximidades.

Assim, quando numa madrugada de fevereiro de 1973 um gigantesco incêndio destruiu todas as barracas, logo surgiu a suspeita de que tinha sido um ato criminoso dos descontentes.

Passou-se então a discutir a proposta de não mais ocupar o local. Depois de várias reuniões, os pequenos comerciantes conseguiram o apoio da Prefeitura, que os ajudou a construir novos quiosques, mas de forma padronizada e com o acompanhamento de técnicos.

Faltava resolver o problema criado com o dr. Emilio de Maya, que ficou sem praça e sem homenagem. Foi resolvido em 27 de dezembro de 1978 com a publicação da Lei nº 2.558, que transferiu a homenagem para outra praça em Maceió. Esta, numa área muito mais valorizada da cidade, fica na confluência da Rua Durval Guimarães com a Av. Álvaro Otacílio, na Ponta Verde.

Praça Emílio de Maya logo após a construção

Praça Emílio de Maya logo após a construção

Praça Emílio de Maya nos anos 40

Praça Emílio de Maya nos anos 40

Praça Emílio de Maya nos anos 40

13 Comments on O largo da Levada e suas praças históricas

  1. Antonio Ezequiel Cordeiro de Lima // 23 de maio de 2015 em 20:38 //

    As fotos me fazem sentir saudade de um tempo em que não vivi; a sensação de que enfeiaram nossa cidade, destruindo o que deveria ter sido preservado,sem interromper seu crescimento; ter a ideia do quanto o atraso,descaso administrativo, prejudicam nosso patrimônio físico e cultural.

  2. Vanessa B. Maya de Omena // 25 de maio de 2015 em 19:57 //

    Gostei muito de ver como era essa praça, que homenageia uma pessoa muito querida em nossa família. Uma pena que esses patrimônios do passado sejam destruídos e tão descaracterizados no presente. Parabéns por essa bela página da nossa história.

  3. Ehrlich Falcão // 15 de junho de 2015 em 23:31 //

    Tive o prazer de ver essa praça quando criança, em minhas idas ao Cine Ideal, nos dias de domingo pela manhã, bonita e bem cuidada. Lamentável o estado em que hoje se encontra, espaço público de lazer totalmente ocupado por ambulantes, com a complacência do poder público.

  4. Fernando Ferreira da Silva // 4 de agosto de 2015 em 17:20 //

    A sensação de felicidade e emoção é imensa ao ver estas belas imagens. Obrigado Ticianeli

  5. Tudo que foi belo e turístico foram destruídos pela ganância e arrogância de nossos políticos. Infelizmente o que se tem hj em dia é o abandono e o descaso do nosso governo, q fecham os olhos pra violência em nosso Estado e abrem o bolso com altos impostos n se importando com a segurança do povo. Maceió era pra ser uma das mais belas cidades turísticas do Nordeste, quem sabe a mais de todas da Região, mas devido a pobre cultura política q foi vinda de seus descendentes hj se encontra na mais triste e pobre cidade do nosso tempo.

  6. Umberto Melo // 17 de outubro de 2015 em 23:39 //

    QUANTA DIFERENÇA, MEU CARO. É DE DAR PENA. EU CHEGUEI A FREQUENTAR O BAR GRACY. LAMENTAVEL, SOB TODOS OS ASPECTOS. ABRAÇÃO ! ! !

  7. ManoelTenorio // 12 de dezembro de 2015 em 17:02 //

    Almocei com pai, varias vezes no Bar Gracy, a epoca, a proprietaria era Dona Iraci. Hoje o local nao lembra o passado glorioso, em nada. Infelizmente! Fico triste com tanta destruicao. Manoel Tenorio, l2.l2.l5

  8. Ferreira Macedo // 2 de setembro de 2017 em 02:41 //

    Não tem fotos do antigo cine ideal? Procurei bastante mas não encontrei. Aguardando resposta.

  9. Caro Ferreira, não conseguimos fotos antigas do Cine Ideal. Mas continuamos a procurar.

  10. Marcio antonio // 20 de novembro de 2019 em 08:16 //

    Infelizmente quando vim conhecer esta praça já estava ocupada, não tive o prazer de conhece-la deste jeito, uma pena… Mas recordo do incêndio que ocorreu, muito triste, minha mãe era vendedora de cartela de bingo, que era sorteado onde hoje é o rei Pelé.

  11. José Laércio Alves de Araújo // 12 de outubro de 2020 em 18:09 //

    Sinto muitas saudades dessa praça, já conheci, quando estava ocupada pelos camelôs, inclusive meu pai Sr. Araujo, lembro-me também dos seus amigos, Hernandes vieira, Sr. Flávio, Sr.Cicero, Sr. Elias, Sr. Enóc, Sr. Amáro, Sr. Sebastião e o seu filho Mário, Sr. Crispim. E muitos que não lembro dos nomes, nesse momento.

  12. Nilda Rosa Leão // 29 de abril de 2021 em 07:01 //

    Quanta riqueza de historia …, Triste pela devastação da mesma ao longo do tempo …

  13. A destruição dessa região, o chamado Parque Rio Branco, que inclusive deu o seu nome a uma padaria que anda existe nessa região, deve-se a falta de visão dos políticos que destruíram a região em troca de votos. Conheci a região, era muito bonita. Mercado público, Cine Ideal, Pça. Emílio Maia e o restaurante Gracy ( de saudosa macarronada) formavam um belo conjunto.
    PS. Com vontade política a área pode ser revitalizada

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