Praça de Nossa Senhora das Graças na Levada

Praça das Graças nos anos 60

A Praça de Nossa Senhora das Graças, no bairro da Levada, está localizada numa região outrora conhecida como Brejo da Água Negra. Esta área fazia parte do entorno do Canal da Levada e era entrecortada por alagadiços.

A partir do final do século XIX a expansão urbana da capital cobrou novos espaços e os brejos foram sendo aterrados e se tornaram áreas habitáveis.

Félix Lima Júnior, em Maceió de Outrora, descreveu assim o surgimento do bairro: “o adensamento da área da Levada cresceu tão rapidamente que em 1848 já havia se consolidado uma feira livre as margens do canal e uma forte ocupação residencial, confirmando a formação de um novo bairro, que assim como o canal e o porto, se chamava Levada”.

Em 1º de novembro de 1867 ficou definido que nesse largo da Levada seria construída a Capela das Graças e a existência somente foi registrada em 1877

O povoamento da Levada também se dava pela Rua da Ponta Grossa, assim denominada em 1873. É a atual Rua 16 de Setembro e se estendia até a Ponte da Água Negra.

É possível que a sua continuação, a hoje Rua Santo Antônio, também tenha recebido essa denominação de Rua da Ponta Grossa por algum tempo.

No final da Rua 16 de Setembro, que assim foi denominada por Resolução do Conselho Municipal de 23 de julho de 1870, existia um largo, pouco antes da Ponte da Água Negra. Foi nesse espaço que surgiu a Praça das Graças e em frente a ele se ergueu a Igreja Matriz.

Era o primeiro espaço de convivência social do nascente bairro de Maceió.

A igreja

Matriz de N. S. das Graças e a Praça das Graças em 1960

Não se sabe quando e quem teve a iniciativa de construir uma templo no largo da Levada, próximo a área conhecida como Água Negra. Entretanto, há uma ata que registrou que no dia 1º de novembro de 1867 o o pároco da Matriz de N. Senhora Dos Prazeres, padre Francisco Peixoto Duarte, lançou a pedra fundamental da Igreja de N. Senhora da Graça.

Próximo ao antigo Cruzeiro, havia um espaço “Que seria o local mais ideal por ser em terreno alto e terra massapê, com uma inclinação larga desembocando na Ponte da água negra”, anotou a ata.

Segundo o Almanak da Província das Alagoas de 1877, este templo dedicado a Nossa Senhora das Graças era “uma pequena capela na Levada”.

A partir de 1894, por iniciativa do comerciante português Domingos Nunes Leite, a Capela foi reformada, recebendo uma ampliação. No dia 9 de novembro de 1895, poucos dias após ser concluída a reforma, a capela foi abençoada. No dia seguinte a imagem de Nossa Senhora das Graças foi retirada da capela do Cemitério de Nossa Senhora da Conceição e devolvida ao seu templo na Levada.

Não se tem informações sobre a dinâmica da capela, mas havia inúmeras atividades organizadas a partir dela, como a comissão constituída para ordenar as celebrações de fim de ano de 1908. Eram seus membros: Norberto Braga, Feliciano Gatto, Agostinho Oliveira, Antônio Cassimiro, João França e Jeronymo Carrapato. O celebrante foi o cônego Manoel Vieira.

Anos depois, teve início outra reforma, que foi inaugurada em 13 de dezembro de 1912. Entretanto, em 1914 estavam de pé somente a Capela Mor e partes laterais. Foi então iniciada uma campanha de recolhimento de fundos para a construção de uma nova igreja. A pedra fundamental do novo templo foi lançada em 1915. No dia 23 de Setembro de 1917 houve a benção solene da Capela e do altar-mor e a entronização das imagens de São José e São Vicente.

Em 13 de dezembro de 1913, tornou-se Paróquia, desmembrada da Paróquia de Nossa Senhora dos Prazeres. Nesta mesma data também ascenderam a condição de paróquias as igrejas de São José no Trapiche da Barra e de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro no Vergel do Lago.

Seu primeiro pároco foi o monsenhor Antônio Tobias Costa. Partiu dele a iniciativa de arrecadar recursos para iniciar a construção da Capela-Mor em 1917.

Outras importantes iniciativas foram tomadas quando, a partir de 1927, o pároco passou a ser o padre Pedro Cavalcanti de Oliveira, que criou a Liga Católica Beneficente São José e fundou a Pia União das Filhas de Maria Rosaristas.

Coube a ele também a retomada da obra da nave da Matriz das Graças em 27 de janeiro de 1929.

Padre Oliveira foi também um grande difusor político e com isso trouxe para a Levada alguns benefícios, valorizando principalmente a Praça das Graças.

Em 1950 uma tragédia atingiu a Matriz das Graças, cujo teto desabou completamente. Uma campanha de arrecadação de fundos foi iniciada para realizar as obras de recuperação.

Praça Guimarães Passos

Largo da Levada em 1940, com a descida para as Águas Negras, hoje é o início da Rua Santo Antônio. No local destas casas será construído o 1º Centro de Saúde

A morte do poeta alagoano Sebastião Cícero dos Guimarães Passos, em 9 de setembro de 1909, trouxe mudanças importantes para a Praça das Graças.

Comovidos com o trágico desaparecimento em Paris de um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, um grupo de intelectuais solicitou por meio de um abaixo-assinado que o Conselho Municipal de Maceió alterasse a denominação de Praça das Graças para Praça Guimarães Passos.

Reunido no dia 27 de setembro de 1909, o Conselho aprovou por unanimidade o Projeto nº 29 e a praça passou a ser oficialmente Guimarães Passos.

Um mês depois da aprovação, no dia 10 de outubro, houve uma série de homenagens ao poeta e entre elas uma caminhada no final da tarde entre a Igreja da Catedral e à praça Guimarães Passos onde foi afixada a placa comemorativa pintada por João Carvalho.

O ato contou com a participação dos alunos de várias unidades de ensino, associações de classe, imprensa e o governador do Estado, Euclides Malta. O préstito caminhou acompanhado pela banda da Polícia Militar.

O orador do evento foi o acadêmico de Direito Virgílio Guedes. As homenagens a Guimarães Passos continuaram à noite na Sociedade Perseverança, onde Paulino Santiago usou da palavra para elogiar a obra do falecido.

Praça das Graças e prédio da Saúde Pública nos anos 40

No início de maio de 1911, um grupo de moradores liderados por um professor público organizou um abaixo-assinado pleiteando que a praça voltasse a ser denominada como Nossa Senhora das Graças.

A pendenga continuou por anos e mesmo oficialmente denominada como Praça Guimarães Passos, muitos continuaram a se referir a ela como Praça das Graças, que terminou por ser aceito até os nossos dias.

Esta pesquisa encontrou a citação da existência de um grupo escolar na Praça das Graças em abril de 1906.

O amplo espaço da praça permitia que naturalmente fosse ocupado para os eventos festivos do bairro e da própria igreja.

Um registro de 15 de janeiro de 1910 no Gutenberg revela a presença de folguedos populares no local ao anunciar que no dia seguinte à tarde haveria um Quilombo na Praça Guimarães Passos.

Além dos eventos festivos de fim de ano e ano novo, as festividades de Nossa Senhora das Graças atraiam muita gente, principalmente os moradores dos bairros vizinhos.

Mas nem tudo era alegria nestes encontros populares como demonstrou em 30 de setembro de 1917 o Diário do Povo, que elogiou o secretário do Interior (hoje Segurança) por proibir os jogos de azar na Praça Guimarães Passos durante as festividades de Nossa Senhora das Graças.

“Nossos aplausos à digna autoridade que soube moralizar as festas religiosas que ali se estão realizando, mesmo porque já não estamos nos ricos tempos em que lá para aquelas bandas o sr. Manoel Luiz da Paz cobrava impostos e enchia os bolsos nas festas populares”.

“A coisa agora muda de figura, porque temos um governo que não permite absurdos nem espertezas arruaceiras como as que se repimpavam na marujada da ‘Flor do Mar’”, denunciou o jornal.

Cinema Ideal

Cine Ideal no Parque Rio Branco exibindo o filme de 1927 O Perigo das Selvas. O Restaurante Gracy ainda não havia se instalado ao seu lado

O primeiro cinema a funcionar nas proximidades da Praça das Graças foi o Cinema Popular da Empresa Conte, mesma proprietária do Cinema Floriano na Rua do Comércio.

Foi inaugurado no dia 14 de janeiro de 1917, como registrou o Diário do Povo de 16 de janeiro de 1917. “Inaugurou-se, anteontem, no princípio da Rua 16 de Setembro, o Cinema Popular, pertencente à Empresa Conte. A função inaugural teve animadora concorrência”.

Não se sabe por quanto tempo funcionou esta casa de espetáculos, mas nos últimos anos da década de 1920 outro empreendimento cinematográfico surgiu na Praça das Graças, quando José Cavalcanti Filho exibiu algumas películas para o público durante os festejos de Nossa Senhora das Graças, depois de uma Missa da Véspera de Natal.

A partir de então surgiu o projeto de se construir um cinema à altura do bairro. A ideia recebeu o apoio e o incentivo do padre Pedro Cavalcanti de Oliveira.

José Cavalcanti Filho associou-se a Iago Coelho e assim foi construído o Cinema Ideal.

O Jornal de Alagoas de 23 de dezembro de 1928, assim noticiava o surgimento do cinema: “Anexo aos festejos do Natal, no Parque Rio Branco, será inaugurado hoje o Cinema Ideal que proporcionará ás exmas. famílias e ao publico em geral, durante as festas de Natal, Ano Bom e Reis, atraentes sessões cinematográficas, com fina e escolhida programação e a preços populares.”

Centro de Saúde

Praça das Graças nos anos 50

Outro equipamento importante para o desenvolvimento da Levada foi inaugurado na Praça das Graças no dia 22 de outubro de 1942.

O 1º Centro de Saúde de Maceió foi recebido com festa e foi entregue à população pelo interventor major Ismar de Góis Monteiro, prefeito Abdon Arroxelas, arcebispo metropolitano d. Ranulfo da Silva Farias, diretor geral do Departamento Nacional de Saúde dr. Barros Barreto, além de jornalistas, membros da comunidade e outras autoridades.

Após a Segunda Grande Guerra, no entorno da Praça das Graças, o antigo casario colonial passou a conviver com outras edificações de linhas modernas.

Na década de 1960 a Praça recebeu melhorias, arborização, passeios e área de lazer, graças a investimentos do governador Muniz Falcão, aliado político do padre Oliveira e devoto fidelíssimo da Santa Virgem.

Em 2010 a Praça das Graças foi revitalizada pela Prefeitura e logo em seguida foi erguido no local um monumento em honra da Santa Senhora.

Esta pesquisa contou com a participação do jornalista João Victor Lemos.

7 Comments on Praça de Nossa Senhora das Graças na Levada

  1. Benedito Jr. // 30 de agosto de 2017 em 18:52 //

    Parabéns senhor por este grande trabalho histórico sobre nossa Alagoas.

  2. Edson Bezerra // 3 de julho de 2019 em 07:20 //

    …..raridade Galego, coisa de garimpeiro…..

  3. Marta Arruda // 5 de julho de 2019 em 00:06 //

    Obrigada pela grande contribuição para nós moradores do bairro. Tenho muito orgulho de ter nascido na Rua 16 de Setembro, e hoje, trabalhando e residindo. Parabéns!!

  4. Edson Almeida Júnior // 18 de fevereiro de 2021 em 07:09 //

    Morei por muitos anos na casa de meu avó Jonas Almeida na rua 15 de março, aonde tinha a fábrica do refrigerante Guarina, o qual pipilou toda a minha infância e conheço muito bem toda a região da levada, estudei toda a minha formação no colégio sagrada família e frequentei muito a praça das graças, a praça Santo Antônio. Saudades. Hoje moro no Rio de Janeiro, mas sempre que posso volto a minha terra.

  5. Petrúcio Guedes. // 15 de abril de 2021 em 22:52 //

    Que legal poder ver a história do bairro da Levada, da Igreja Nossa Senhora das Graças, aonde fiz primeira comunhão, e em seguida nasceu o Bairro de Ponta Grossa, Vergel do Lago, aonde na Igeja dos Pobres fui batizado, bairro da Ponta Grossa local aonde nasci, e morei a vivi à infância, adolescência, até ficar adulto, enfim muito boa reviver essa história.

  6. Maria das Graças // 13 de fevereiro de 2022 em 22:57 //

    Casei na Igreja das Graças pelo Padre Cavalcante em 1965. No órgão estava uma amiga de minha família Isaura. Teria alguns dados dessa organista????

  7. Fui abrigado no Abrigo Dom Bosco, administrado pelo padre OLIVEIRA. Depois fui estudar em Satuba, onde fiz dois anos de iniciação agrícola. Ainda adolescente ajudava o padre a rezar a missa, errava muito pois não conhecia a liturgia da missa. Depois vim para São Paulo em 1955. Por ventura, o abrigo ainda existe? Ficava localizado em frente do cemitério.

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