Porto Calvo, a Santo Antônio dos Quatro Rios

Centro comercial de Porto Calvo nos anos 50
Mapa de Porto Calvo desenhado pelos Holandeses durante a ocupação no século XVII

Mapa de Porto Calvo desenhado pelos Holandeses durante a ocupação no século XVII

Notável por sua antiguidade e por ter sido teatro de batalhas sangrentas durante a ocupação holandesa, foi também um dos primeiros lugares a ser habitado por colonos portugueses trazidos a Pernambuco pelos donatários iniciais da antiga Capitania.

Afirma Diégues Júnior ter sido Duarte Coelho I o descobridor de Porto Calvo quando percorreu a costa abaixo, “entrando nos portos todos de sua capitania”. Para Alberto Rego Lins, o povoamento data de 1575, ano em que Jerônimo de Albuquerque substituiu no governo sua irmã, que havia falecido.

Talvez a fundação do povoado venha de alguns anos antes, o que parece mais certo, pois, ao assumir o Governo, o segundo donatário, em 1560, organizou uma bandeira com esse rumo, chefiada por Cristóvão Lins, que seria depois considerado o fundador do povoado.

Igreja Matriz de Nossa Senhora da Apresentação em Porto Calvo, na década de 50

Igreja Matriz de Nossa Senhora da Apresentação em Porto Calvo, na década de 50

Cristóvão Lins percorreu então o litoral até ao cabo de Santo Agostinho expulsando os indígenas que aí viviam e assenhorando-se de suas terras. Coube-lhe como prêmio, toda a vasta extensão de terras da foz do Manguaba ao cabo de Santo Agostinho. Foi a sua sesmaria. Aí fundou uma igreja consagrada ao culto da Santa Virgem e levantou sete engenhos de açúcar. Por seus serviços, conferiu-lhe o Rei de Portugal o posto de Alcaide-mor de Porto Calvo.

O povoado era um posto intermediário onde estacionavam em suas jornadas de exploração por terra os que de Pernambuco se encaminhavam para a região austral da Capitania, em demanda das povoações da Lagoa do Sul e do rio São Francisco.

Alguns destes viajantes ali fixaram residência e nos últimos decênios do século XVI, Porto Calvo já era um pequeno povoado, que crescendo durante os primeiros 30 anos do século XVII.

Mercado público Porto Calvo

Mercado público Porto Calvo

Quanto à origem do nome, conta a lenda que às margens do rio Manguaba morava um velho que era calvo, sendo comum visitar-se o porto do calvo. Acredita-se ter vindo daí a denominação da localidade.

Com a criação da vila, teve o nome de Bom Sucesso, como regozijo ao êxito alcançado pelas forças de Matias de Albuquerque contra os holandeses. Em algumas crônicas encontra-se a denominação Santo Antônio dos Quatro Rios, nome alusivo à invocação que teve a primeira capela que ali existiu e ao fato de achar-se o local circundado por quatro mananciais de água doce. Entretanto, essas denominações não conseguiram destruir a tradição, permanecendo Porto Calvo.

Em todas as épocas coube sempre a Porto Calvo papel destacado nos diversos acontecimentos sociais e políticos que se desenrolaram na região. No dia 11 de outubro de 1633, as naus holandesas ferravam velas em Barra Grande, comandadas por Lichtard. Os sucessos militares dos holandeses no sul da Capitania estenderam-se com alternativas de vitórias e derrotas, de 1633 a 1645, quando se deu a restauração de Porto Calvo e Penedo.

Os flamengos, levando à prisão Rodrigo de Barros Pimentel – senhor de engenho e dono de muitas terras, gado e escravos, e casado com D. Jerônima de Almeida, da família nobilíssima -, precipitaram os acontecimentos para a luta final. Porto Calvo transforma-se em praça de guerra. Cristóvão Lins de Vasconcelos (neto de Cristóvão Lins, que foi alcaide-mor de Porto Calvo) chefe do movimento, alia-se com Vasco Marinho Falcão, seu parente. Vem gente dos lugares vizinhos.

Praça Santa Luzia em Porto Calvo

Praça Santa Luzia em Porto Calvo, nos anos 50. Hoje não existe mais. Foi removida para dar ao alargamento da rua

Com dardos, espadas ferrugentas, paus tostados, facões, foices, arcos e flechas, 4 mosquetes oxidados e 12 espingardas, diz Moreno Brandão, iniciou-se a luta. Assaltando um navio holandês que subia o rio Manguaba apreenderam munições e víveres. Põem cerco à praça militar que capitula após 42 dias. “Era o fim. Calram Florins, comandante holandês, vê, impando de ódio, arriar-se da adriça a bandeira de sua pátria e subir o pavilhão das quinas. Era o fim melancólico do poderio holandês na terra porto-calvense. Foi assim em 17 de setembro de 1645″.

Vários vultos aí se imortalizaram, destacando-se entre outros Dom Antônio Felipe Camarão; sua esposa D. Clara Camarão; Henrique Dias; Matias de Albuquerque; e Domingos Fernandes Calabar, figura muito discutida e cuja atitude divide os historiadores em duas correntes.

Por alguns é considerado traidor da pátria por ter se aliado aos holandeses para combater espanhóis e portugueses. Outros, porém, avaliam que ele teria sido na verdade um herói, que acreditava que os holandeses eram os mais indicados para desenvolver o Brasil, que vivia miseravelmente sob o jugo de portugueses e espanhóis. O fato é que Calabar deixou o acampamento de Matias de Albuquerque pelo de Alexandre Picard.

No século XVII, durante o período da destruição do Quilombo dos Palmares, Porto Calvo era o centro das forças expedicionárias contra os negros. Figurou igualmente nos acontecimentos da Independência, na Sedição de 1824, na guerra dos Cabanos, de 1831 a 1834, na revolução Praieira de Pernambuco, em 1848 e 1849.

Hospital municipal de Porto Calvo

Hospital municipal de Porto Calvo

Quando da restauração de Pernambuco, Cristóvão Lins de Vasconcelos tomou a frente do movimento, concitando seus parentes e amigos contra os intrusos. Sua valentia foi descrita no poema “O Valoroso Lucidemo”, de Frei Manoel do Salvador, do qual se transcreve a seguinte estrofe:

“Não me posso escusar de dar louvor
A um mancebo de tão tenra idade,
Com quem o esfôrço, o brio e o valor
Confirmam da nobreza a qualidade.
Foi desta povoação descobridor
Cristóvão Lins, exemplo de bondade.
Porém se pelo avô foi conquistada,
Também foi pelo neto restaurada”.

É a freguesia mais antiga do Estado de Alagoas; no século XVI já existia. Foi referida na “Fôlha Geral” que acompanha o Alvará de 10 de junho de 1617 (“Anais da Biblioteca Nacional”, vol. XXVII, pág. 365). Está sob a invocação de Nossa Senhora da Apresentação e é subordinada eclesiasticamente à Arquidiocese de Maceió.

Formação Administrativa

Distrito criado com a denominação de Bom Sucesso, em fins do século XVI.

Elevado à condição de vila com a denominação de Bom Sucesso. Sede na antiga povoação de Bom Sucesso em 23 de abril de 1636. Compreendia os atuais municípios de Porto de Pedra, Passo de Camaragibe, Maragogi e parte de São Luiz do Quitunde. Instalada em 20 de abril de 1855.

Porto de Pedra ganha autonomia em 1815 e Maragogi é desmembrado em 1875.

Pela lei nº 1054, de 27 de junho de 1889, é criado o distrito de Leopoldina e anexado a vila de Porto Calvo.

Elevado à condição de cidade com a denominação de Porto Calvo, pela resolução provincial nº 1115, de 14 de novembro de 1889.

Pela lei estadual nº 321, de 12 de junho de 1901, desmembra do Porto Calvo o distrito de Leopoldina. Elevado à categoria de município.

Em divisão administrativa referente ao ano de 1911, o município aparece constituído de três distritos: Porto Calvo, Jacuípe e Jundiá.

Pelo decreto lei estadual nº 2909, de 30 de dezembro de 1943, o distrito de Jacuípe passou a denominar-se Jacutinga.

Em divisão territorial datada de 1º de dezembro de 1950, o município é constituído de três distritos: Porto Calvo, Jacutinga ex-Jacuipe e Jundiá.

Pela lei estadual nº 2099, de 15 de julho de 1958, desmembra do município de Porto Calvo o distrito de Jacutinga. Elevado à categoria de município com a denominação anterior de Jacuípe.

Em divisão territorial datada de 1º de dezembro de 1960, o município é constituído de dois distritos: Porto Calvo e Jundiá.

Pela lei estadual nº 2292, de 26 de agosto de 1960, desmembra do município de Porto Calvo o distrito de Jundiá. Elevado à categoria de município.

Em divisão territorial datada de 31 de dezembro de 1963, o município é constituído do distrito sede. Assim permanecendo em divisão territorial datada de 2007.

Fonte: IBGE

6 Comments on Porto Calvo, a Santo Antônio dos Quatro Rios

  1. Edson rocha // 6 de outubro de 2017 em 10:27 //

    Porto calvo cidade muito bonita e de muitas historias lindo por isso adoro minha cidade

  2. Marcos Monte // 22 de janeiro de 2018 em 09:22 //

    Vasco Marinho Falcão, citado como um dos combatentes na expulsão dos holandeses, vem a ser o tronco da família Marinho Falcão em Alagoas e Pernambuco. Dele descendem Sebastião Marinho Muniz Falcão (ex-governador), Ib Gato Marinho Falcão (médico e escritor), o ex-vereador por Maceió Guilherme Falcão, entre outros.

  3. Graça Barbosa Vasconcelos // 27 de março de 2019 em 13:59 //

    A família da munha mãe é Barbosa de Porto Calvo mas não sei nada sobre sua origem. Tenho Lins e Vasconcelos por parte do meu pai, família do engenho Ouro Preto.

  4. Severino da silva // 29 de agosto de 2020 em 14:06 //

    Severinoeangela@hotmail.com Maravilha saber notícia da minha cidade amo de paixão essa cidade de Porto calvo

  5. Joabe Corato Santos // 13 de maio de 2021 em 19:45 //

    Muito bonita mesmo

  6. Marcus Lins // 9 de novembro de 2022 em 15:33 //

    saudades de Porto Calvo, Minha infância e muitas recordações. Lembro da casa paroquial, do eterno PADRE ESPEDITO.

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