Por que Arnon não queria Suruagy como governador em 1974

Divaldo Suruagy foi indicado governador de alagoas em 1974 pelo General Geisel
Vinicius Cansanção foi o prefeito de Maceió com o afastamento de Sandoval Caju

Vinicius Cansanção foi o prefeito de Maceió com o afastamento de Sandoval Caju

Nilton Oliveira*

Quando o deputado Vinicius Cansanção administrava a Prefeitura de Maceió, tendo assumido o cargo em decorrência da cassação do prefeito Sandoval Caju, ao lado do qual tinha sido eleito em 1961 na condição de vice, mantinha cordiais relações com o funcionário municipal Divaldo Suruagy, que estava licenciado à serviço do Governo do Estado, no exercício do cargo de secretário da Fazenda.

Ao término do seu mandato o prefeito tinha suas restrições do Governo Luiz Cavalcante e, por extensão, do seu secretário da Fazenda.

Problemas de finanças, habitação popular, central de abastecimento, etc, dependiam do relacionamento dos dois Poderes, o que resultou em muitos desentendimentos. Tanto que, deflagrada a campanha que elegeria Suruagy como seu sucessor, o prefeito Vinicius Cansanção ficou totalmente omisso, apesar do seu partido, o PSD, apoiá-lo em coligação com a UDN.

Theobaldo Barbosa era o nome indicado por Arnon de Mello para o governo de Alagoas

Theobaldo Barbosa era o nome indicado por Arnon de Mello para o governo de Alagoas

Ali os dois jovens homens públicos romperam relações definitivamente. Antipatia mútua que, em contraste com o comportamento individual polido e gentil de ambos, derivou para uma rivalidade extrema. Razão porque o já deputado federal Vinicius Cansanção não admitia Divaldo Suruagy como Governador. E quando seu nome começou a “pintar” como favorito, Cansanção armou-se da única arma disponível numa vã tentativa de entornar o caldo do adversário.

Ia à tribuna fazer um violento pronunciamento contra Suruagy, recheado de inúmeras acusações que, numa semana decisiva, fatalmente influiria negativamente e, verdadeiras ou não as denúncias poderiam lançar por terra todo um trabalho. Consequentemente, Suruagy ia ficar mal. Mas, a força de amigos de ambos — e como existem! — pesou mais. Vinicius refletiu e recuou, numa sábia decisão.

Depois daquele episódio e justamente no dia em que seu nome seria anunciado — com prévio conhecimento de todos, um novo imprevisto: o senador Arnon de Mello não se contentava com a escolha do Governo Federal. Sua decisão incontrolável era ainda lutar pelo nome do deputado Theobaldo Barbosa.

No sábado, quando a patota política alagoana embarcava para Brasília, também estava como passageiro em trânsito o homem do “consenso”, o Portela. Lá para as tantas ele sem qualquer cerimônia se dirigiu a Suruagy e lhe disse em voz alta: “Suruagy, segunda-feira pela manhã dê uma passadinha no meu gabinete“. Era preciso dizer mais nada?

O senador Arnon de Mello terminou por aceitar a indicação de Suruagy

O senador Arnon de Mello terminou por aceitar a indicação de Suruagy

Em Brasília, o senador alagoano, que ouviu o papo de Petrônio Portela redobrou suas articulações, numa última e desesperada tentativa.

Quando “o parto ocorreu”, na tarde da segunda-feira, Arnon estava mais calmo, tanto que, revivendo seus tempos de repórter, pessoalmente, deu o “furo”, via Embratel para os ouvintes da “sintonia que virou mania“. E, além da informação a sua opinião como político: era uma escolha feliz do Presidente Geisel, do agrado de todos os alagoanos etc. e tal.

Como o deputado Divaldo Suruagy mantinha cordiais relações com o senador Arnon de Mello, a ponto de, após ter sido prefeito, receber e aceitar convite para cargo de comando na sua Organização — onde esteve por alguns meses, sem qualquer remuneração, a oposição inoportuna causou estranheza.

D. Leda Collor de Melo

No entanto o próprio Suruagy sabia que o senador como político, estava no exercício lícito de um pleito, por razões lógicas. Theobaldo Barbosa fôra cria de Arnon e seu Oficial de Gabinete quando governador. Maior parte da vida pública de ambos foi num pacto de alinhamento político, desde os tempos da velha UDN, pela qual Theobaldo foi vereador e deputado.

Portanto com Theobaldo no governo do Estado o “senador do povo” teria mais condições de influir. E, sobretudo, quando já estava definida a candidatura de sua esposa, sra. Leda Collor, à deputação federal. Como Theobaldo também seria candidato caso fosse preterido para a governança, lógico que tais candidaturas se conflitariam, principalmente em municípios como Paulo Jacinto.

Assim aconteceu, para a contrariedade [sic] do senador. É que, Theobaldo no Palácio dos Martírios o caminho de votos para d. Leda estaria aberto além, evidentemente, de um apoio maior do governador. A colocação daquela ilustre dama, filha de uma das mais brilhantes figuras do País a partir da década de 40, serviu para comprovar o quanto estava certo o senhor Arnon de Mello em mais esta jogada política.

Divaldo ficou governador; Theobaldo Barbosa o mais votado deputado federal arenista e d. Leda teve de amargar na sua primeira experiência eleitoral, uma segunda suplência. Derrota meramente circunstancial, para a qual concorreu, ironicamente, a eleição de Suruagy para o Governo do Estado. Situação que a experiência do senador compreendeu, tanto que Suruagy e Arnon aí estão [1979] de mão dadas.

* Publicado originalmente no livro “Eu fui testemunha, vinte anos de política”, Maceió, 1979.

1 Comentário on Por que Arnon não queria Suruagy como governador em 1974

  1. Radí Rocha // 14 de abril de 2017 em 13:51 //

    Parabéns… Muito interessante essa matéria… Está me ajudando bastante num projeto…

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