Pontal da Barra, a antiga Vila de São Pedro

Canal da Assembleia no Pontal da Barra

Situada no extremo sudoeste de Maceió, ao lado do Canal da Assembleia ou do Calunga, o Pontal da Barra teve sua existência registrada a partir de 1792, mencionado pelo vigário Manoel José Cabral na Caderneta de desobriga da freguesia do Norte, atual Santa Luzia do Norte. Tinha então 30 edificações.

O Pontal da Barra já foi Vila de São Pedro. Foto de 1945 no local do atual Restaurante Maré

O Dicionário histórico, geográfico, biográfico, chorográfico e industrial da Província de Alagoas de Pedro Paulino da Fonseca, datado de 1880, informa que “os primeiros moradores e possuidores das terras compreendidas do Trapiche da Barra até o Pontal ou Barra da Lagoa [foram] José do Egipto de Jesus, Reginaldo Corrêa de Mello, Bernardo Marinho de Oliveira, D. Rosa de Tal e D. Theodora Maria de Tal”.

Esses proprietários moravam no Trapiche e há anotações sobre eles no “Rol dos Confessados” de 1796. Daquele mesmo ano há registros da existência de 56 pessoas morando no Pontal da Barra. Quando Thomaz do Bomfim Espíndola publicou sua Geografia Alagoana em 1871, a povoação pouco tinha crescido, era “um agregado de 50 cabanas cobertas de palhas e habitadas por pobres pescadores”.

Mesmo com uma população muito pequena, o lugar ganhou em 1880 a capelinha de São Sebastião, cuja construção tinha sido iniciada quatro anos antes. Seis anos depois nada mais existia dela e outra foi erguida com a ajuda dos moradores. Esta sobreviveu por um século, sendo demolida somente em 1979. Em seu lugar foi construída a atual capela, que recebeu da população a denominação de “depósito de coco”.

A instrução primária chegou ao Pontal logo após a primeira capela. Teve início em 1883 com a criação de uma cadeira mista. Sua primeira ocupante foi a professora Maria Ambrozina Teixeira de Moura, que antes estava ocupando uma cadeira em Mangabeiras.

Em 1891, 20 anos após o registro de Thomaz Espíndola, o Pontal atingia cerca de 100 habitações, como mencionou o Almanak do Estado de Alagoas. Com essa população, a povoação recebeu sua primeira autoridade policial. Por força de uma nomeação de 23 de maio de 1896, do governador de Alagoas, Barão de Traipu, ali se estabeleceu Leopoldo Octávio como subcomissário de Polícia. Não se sabe a razão, mas Leopoldo foi exonerada em dezembro do mesmo ano.

Pontal da Barra em foto Stuckert

Por causa do predomínio das casas de taipas cobertas por palhas de coqueiro, que não conviviam bem com iluminação por candeeiros e fogão à lenha, o Pontal sofria com os incêndios. As palhas também não reagiam bem aos fogos de artifícios utilizados nos eventos religiosos.

Foi essa convivência perigosa que provocou no dia 26 de janeiro de 1892, quando se festejava São Sebastião, um incêndio que destruiu cinco casas. Coube ao capitão Carlos Jorge Calheiros de Lima liderar uma subscrição para ajudar as vítimas.

Na noite de 23 de junho de 1897, um outro incêndio destruiu 12 casas do povoado. Não há registros de vítimas, mas várias campanhas foram realizadas em Maceió para ajudar os desabrigados. Naquela data, o Pontal já contava com aproximadamente 600 casas.

Atividade Econômica

Surgindo como uma privilegiada vila pesqueira (mar e lagoa), no Pontal também funcionavam os serviços de apoio a essa atividade econômica. Sabe-se, pelo jornal Gutemberg de 11 de outubro de 1899, que o sal utilizado para preservar os pescados por vários dias até o consumo era extraído numa “salina de fazer sal defronte do Pontal da Barra, ao lado da Ilha do Fogo“, onde também tinha “com depósito de sal e duas casas”. Estava anunciada para venda e o preço não era muito “salgado”: 6:000$000.

As embarcações utilizadas para transporte e pesca, também ali eram fabricadas ou reparadas. Segundo o Diccionario Chorographico do Estado de Alagoas de 1902, de Craveiro Costa, no Pontal também funcionavam alguns estaleiros construindo barcaças.

Pontal da Barra em foto de Stuckert

Outro insumo que também começou a ser utilizado no Pontal da Barra para a ampliar a capacidade pesqueira foi a pólvora. O intendente de Maceió (1905-07), dr. Sampaio Marques, não gostou de saber que bombas estavam sendo detonadas na boca da Barra. Chamou o subcomissário e cobrou dele a suspensão desse tipo predatório de pesca. Quem utilizava esse artefato era o cidadão Manoel Ayres Telles. Lamentavelmente, essa prática foi ainda utilizada até o final do século XX.

Pólvora também foi utilizada no Pontal da Barra em 1914, mas não em peixes. O Jornal de Recife de 3 de junho de 1914 noticia que houve um conflito naquele distrito com mortes. “No arrabalde Pontal da Barra, em Maceió, vários soldados da polícia promoveram um grande conflito com os moradores do local, resultando em várias mortes e ferimentos. Na madrugada de hoje uma força sitiou o Pontal da Barra, fazendo descargas contra os respectivos habitantes, que alarmados se atiraram ao mar, perecendo alguns afogados. No Pontal ficaram apenas mulheres e crianças, tendo fugido todos os homens”.

Marinheiros e Salgema

Uma das obras que mais trouxe benefícios para o bairro nas primeiras décadas do século XX, foi a abertura da estrada interligando o Pontal ao Trapiche da Barra, inaugurada em 11 de junho de 1929, quando o prefeito interino de Maceió era o dr. José Carneiro. Dois anos antes, em 26 de maio de 1927, havia entrado em funcionamento a sede da Colônia de Pescadores do Pontal da Barra.

A estrada foi refeita em 1949 pelo prefeito João Teixeira de Vasconcelos e pelo governador Silvestre Péricles. Foram retiradas as areias soltas e aterrada a faixa de rolamento. Essa melhoria e o Grupo Escolar Silvestre Péricles foram inaugurados no dia 15 de novembro daquele ano.

Duplicação da Avenida Assis Chateaubriand, principal acesso ao Pontal da Barra, em 1981

O bairro somente passou a receber  energia elétrica em 31 de janeiro de 1954, no governo de Arnon de Mello. Nesse mesmo ano a antiga comunidade da “Prainha”, provável local do começo da povoação, foi transferida para outra área do bairro. Era um arruamento de casas humildes, que já tinha perdido a igrejinha e o pequeno cemitério de São Pedro para o avanço do mar. Tinha início a construção da Escola Aprendizes Marinheiros.

O Pontal ganhou um ambulatório para os pescadores em 1955. Mas a Escola de Aprendizes Marinheiros de Alagoas, cuja construção foi iniciada no ano anterior somente começou a funcionar em novembro de 1965, permanecendo em atividade até 1971, quando seu prédio foi cedido à Universidade Federal de Alagoas.

A UFAL não permaneceu no Pontal da Barra. O início, em 1974, das instalações da fábrica de cloro-soda, do campo de salmoura e do terminal marítimo da Salgema Indústrias Químicas S/A anunciavam que o Campus Tamandaré estava com os dias contados naquele bairro. As obras da Cidade Universitária foram ampliadas e em 1977 a Área de Humanas foi transferida definitivamente para o Tabuleiro do Pinto. Em fevereiro desse mesmo ano a fábrica de clorossoda da Salgema entrou em produção.

A unidade produtora de eteno passou a funcionar em meados de 1982

A unidade produtora de eteno passou a funcionar em meados de 1982. Acervo APA

Para o Pontal da Barra, a Salgema Indústrias Químicas Ltda trouxe alterações importantes, principalmente por se transformar em área de risco permanente. A empresa, para compensar essa permanente ameaça, realizou alguns investimentos no local.

A partir de 4 de março de 1979, quando foi inaugurada a Ponte Divaldo Suruagy sobre a Lagoa Mundaú e entregue ao tráfego a AL-101 Sul, o Pontal tornou-se um dos mais importantes destinos turísticos da capital, elevando o seu artesanato à condição de principal fonte de renda das famílias estabelecidas na antiga vila pesqueira, destacando o papel das mulheres, principalmente.

Em 4 de julho de 2011, sete diferentes Cooperativas e Associações de Bordadeiras do Estado de Alagoas encaminharam à Secretaria de Estado da Cultura o pedido de registro do Filé como Bem Imaterial de Alagoas. O estudo que sustentou essa necessidade foi apresentado foi elaborado pelo Laboratório da Cidade e do Contemporâneo (LACC), núcleo de pesquisa do Instituto de Ciências Sociais (ICS) coordenado pelo antropólogo e pesquisador Bruno César Cavalcanti.

Com a aprovação do Conselho Estadual de Cultura, em 27 de março de 2014 o Bordado Filé foi registrado como “Patrimônio Cultural Imaterial de Alagoas”.

Fontes: Diversos jornais e o texto O Pontal através de um parecer, de Moacir Medeiros de Sant’Ana, de 21 de setembro de 1987, publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, Volume 41, 1986/88, de 1989.

4 Comments on Pontal da Barra, a antiga Vila de São Pedro

  1. André Soares // 9 de fevereiro de 2018 em 23:06 //

    Maravilha! Só faltou uma foto da igreja antiga.

  2. Adalberto José Oliveira Vianna // 7 de janeiro de 2020 em 20:03 //

    Linda história do mais lindo bairro de Maceió

  3. O Pontal é um patrimônio Cultural do povo alagoano. Possui uma linda história, vale a pena conferir.

  4. Paulo C Accioly // 21 de outubro de 2023 em 15:16 //

    Indispensável, recebi de um amigo zap sobre bairro onde moro e me tornei fã.
    Parabéns vcs registram e resgatam nossas origens.

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