Pioneirismo na telefonia alagoana

Central Telefônica em 1927. Ficava na esquina da Rua da Alegria, 320, com a Rua Augusta, junto ao Externato São Luiz de Gonzaga

O engenheiro Marcelo Guimarães Barros trabalhou por décadas na telefonia alagoana, contribuindo decisivamente para o desenvolvimento do setor. Faleceu no ano passado, no dia 16 de setembro

Marcelo Guimarães Barros

Segundo o Guia Urbano e Suburbano de Maceió editado em 15 de outubro de 1920, por Navito Domingos da Silva, existiam em Maceió, à época, cerca de 300 telefones funcionando interligados a uma central telefônica manual, que estava localizada na rua 15 de Novembro (hoje Rua do Sol), nº 258, em frente ao Hotel Nova Cintra.

O serviço telefônico de Maceió em 1920 era explorado pela firma Gutierriez e Botelho e se chamava Empreza Telephonica de Alagoas. Seus assinantes, entre outros, identificados pelo número do telefone, nome e complementação de localidade e/ou especificação de atividade eram: (245) Dr. Afrânio Jorge, na rua Barão de Penedo; (41) Cia. Alagoana de Fiação e Tecidos; (58) Alcindo Casado, Mercearia; (51) Alfredo Wucherer, na Barão de Atalaia; (195) Antônio Florêncio Júnior e Cia, Commercio; (97) Arsênio Fortes, Escriptório; (74) Ezequiel Pereira, Villa Natal; (100) Estação Telephonica; (127) Fabrica Alexandria, Mário Lobo; (265) Feira Franca, Medeiros e Irmãos; (205) Governador Dr. José Fernandes Lima, Villa Nicanha, Riacho Doce; (24) Guimarães Irmãos, Armazém de Ferragens; (349) Helvética, Confeitaria; (248) Hospital São Vicente; (108) Hotel Nova Cintra, Rua 15 de Novembro; (112) José Lages, Loja América; (30) João Nogueira, Armazém; (270) José Simões e Sobrinho; (310) José Soares e Cia., Commercio; (22) Juvenal Maia Comes e Cia. Escriptorio Jaraguá; (76) Villa Lilota, Mutange; (273) L Patury e Cia.; (639) Maia Nobre e Irmãos, Rua dos Comércio, 665; (189) Dr. Oswaldo Sarmento; (340) Satyro Marques, Casa Sincera; (38) Tércio Wanderley, Escriptorio; (118) Usina Leão, Utinga.

Segundo o General Mário de Carvalho Lima em suas anotações sobre a formação básica das comunicações alagoanas: “A primeira linha telefônica de Alagoas foi inaugurada pelo Barão de Capanema e interligava as Estações Telegráficas do centro de Maceió ao bairro de Jaraguá.”

A afirmativa do General Mário Lima coincide com as do escritor e historiador Félix Lima Júnior em seu livro Maceió de Outrora – volume 1: “Tínhamos telefones, serviço inaugurado em 1885”.

O historiador Moacir Medeiros de Sant’ana, ao escrever Efemérides Alagoanas, atesta: “Posteriormente, ainda em princípio de 1885 estabeleceu-se outra linha telefônica da estação telegráfica para a Tesouraria da Fazenda, que passou, então, a comunicar-se com a Alfândega, localizada no mencionado bairro de Maceió”.

Pelos locais onde os aparelhos estavam instalados no Estado, fica bem claro que o sistema adotado era o do telefone a magneto, que funcionava com apenas um fio aéreo, fechando o circuito pela terra, desde que houvesse boa condutibilidade, como é o caso do litoral alagoano. Esse serviço de telefone a magneto funcionava paralelamente ao serviço automático, até a década de sessenta.

O telefone a magneto tinha suas limitações, mas era uma comunicação confiável, audível e o que é melhor, segura. Era muito fácil detectar qualquer “grampo” que porventura se “pendurasse” na linha. Pelo cálculo da resistência do condutor identificava-se facilmente a “carga” de um novo aparelho e, até mesmo, a distância da base em que ele eventualmente se encontrasse.

O Guia Telefônico (hoje chamado de Catálogo Telefônico) de 1920, em suas páginas iniciais ensinava como usar o “telefone a magneto”, em sua linguagem da época, também chamado de “telefone à manivela” ou ” telefone a veio”:

  1. Girar a manivela, retirando-se o receptor da forqueta. Ao ser atendido, solicitar o assinante desejado;
  2. Falar em voz natural e afastar a boca do aparelho uns vinte centímetros aproximadamente;
  3. Ao terminar a conversação, o usuário do telefone a magneto deve colocar novamente o receptor na forqueta e em seguida dar meia rotação na manivela para confirmar o fim da conversação.

O telefone a magneto, de saudosa memória, funcionou bravamente durante décadas, no século passado, e foi através dele que Alagoas entrou na Era das Comunicações.

*Texto extraído do livro Os Quatro Momentos, Maceió, 2015. O título original do texto é Pioneirismo.

3 Comments on Pioneirismo na telefonia alagoana

  1. Robson Araujo // 10 de março de 2017 em 22:55 //

    Eu trabalhei na CTA-Companhia Telefonica de Alagoas, em 1966.
    O presidente da companhia era o general Mário Lima, o chefe do Departamento Técnico era o doutor Marcelo Barros, o engenheiros técnico era o doutor Nairon Barbosa, o chefe da Central Telefônica era o holandês Cepillo e o técnico chefe era o senhor Silva.
    Ainda me lembro da maioria dos nomes de todos os colegas que trabalhamos juntos, se for falar vai ser uma página inteira.

  2. Conheci Dr. Marcelo quando ele presidente da Telasa. Eu trabalhava na Varig e sempre o atendia em suas inúmeras viagens e um certo dia, cansado de esperar pela instalação de uma linha telefônica na minha casa, pois naquele tempo só conseguia isso quem tinha QI, recorri ao Dr. Marcelo e para minha suprema felicidade em pouco tempo tinha finalmente meu telefone devidamente funcionando. Naquela época isso era um luxo.

  3. Antonio Cirilo Silva // 24 de agosto de 2017 em 22:24 //

    entrei na companhia telefônica de alagoas em março de 1966, comecei como operador de telefonia em santa amelia, depois fui transferido para recife, onde todas as ligações interurbana entre alagoas e pernambuco eram completadas por nós, depois trabalhei na fase experimental de arapiraca e palmeira dos índios, e quase em todo interior alagoano acompanhei toda evolução da telecomunicação no estado, bem, vou parar porque a historia é longa.

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