Pilar do Engenho Velho

Feira do Pilar e Mercado da Farinha

Os primeiros moradores da região onde hoje se localiza o município do Pilar foram os índios cariris, ainda no início do século XVII. O núcleo urbano inicial foi uma vila de pescadores que evoluiu a partir da instalação do Engenho de São Gabriel, propriedade de Gabriel Soares da Cunha, alcaide-mor de Santa Maria Magdalena da Alagoa do Sul.

O engenho também foi conhecido como de N. S. da Conceição e depois como Engenho Velho, quando Gabriel Soares assumiu o Engenho Novo, antigo N. S. do Rosário, que herdou do seu sogro Henrique de Carvalho.

Foram esses dois engenhos que deram origem ao município.

Pilar e o Largo da Matriz antes da construção da Praça no início do século XX

Quando da invasão holandesa, o primeiro engenho de Gabriel Soares já estava nas mãos de Domingos Rodrigues de Azevedo. As terras dos dois engenhos pioneiros foram sendo divididas e novos empreendimentos foram surgindo. Nas terras do Engenho Velho surgiram os engenhos Pilar, Pilarzinho, Grajaú de Baixo, Grajaú de Cima e Lamarão.

Nos antigos domínios do Engenho Novo, além deste foram erguidos os engenhos Paraíba, Oriente, Mumbaça, Brejo, Terra Nova e outros situados à margem do Rio Paraíba.

Em 1750, o Engenho Pilar já existia e em sua capela se consagrava N. S. do Pilar. O seu proprietário era o português coronel Mateus Casado de Lima que também era proprietário do Engenho Campinas, em Santa Luzia do Norte.

Aos poucos, o porto do Engenho Pilar foi se transformando em parada obrigatória para os comerciantes que transitavam entre o Porto do Francês, o de Jaraguá em Maceió e Atalaia, fazendo prosperar o comércio. A abundância do pescado foi outro fator que contribuiu para o desenvolvimento do local.

Com o crescimento do povoado, o Engenho Pilar foi sendo engolido pela malha urbana que se formava no seu entorno. Seu último proprietário, Antônio de Carvalho Raposo, cedeu as terras para a cidade nascente, que também herdou o nome do seu engenho.

O Engenho Pilar ficava localizado nas proximidades da Igreja do Rosário, inaugurada em 1º de novembro de 1800, onde existia a Capela de São Matheus, que foi o 1º padroeiro do lugar.

Em 1831, quando o espanhol José de Mendonça de Alarcão Ayala, ancestral do Barão de Mundaú, adquiriu o Engenho Velho, trouxe da Espanha a imagem de Nossa Senhora do Pilar, que passou a ser a padroeira do lugar.

Praça da Matriz no Pilar, atual Praça Floriano Peixoto

Praça da Matriz no Pilar, atual Praça Floriano Peixoto

A presença da imagem de Nossa Senhora do Pilar deu origem à lenda de que o seu aparecimento se deu em um pilar, nos arredores do povoado. Segundo a tradição oral, a santa foi retirada e colocada em uma capela, ressurgindo, tempos depois, no local primitivo, história comum a dezenas de igrejas espalhadas pelo Brasil.

Em meados do século XIX, o local ainda era uma pequena povoação situada à margem setentrional da lagoa Manguaba. Um aglomerado de residências de pescadores.

De lá embarcavam os viajantes e os produtos vindos, principalmente, das povoados situados no vale do Paraíba, como Atalaia e Capela, e que tinham como destino Maceió e Marechal Deodoro.

No Pilar, registrou-se a última pena de morte no Brasil. O escravo Prudêncio, pertencente a João Lima e outros dois escravos Vicente e Francisco se uniram e resolveram matar os patrões. Prudêncio matou João Lima e sua mulher, mas os outros escravos não conseguiram atrair seus patrões para a emboscada. Descobertos os corpos, os negros fugiram, mas foram capturados. O Imperador D. Pedro II, então, autorizou o enforcamento de Francisco, após competente inquérito. Quem presidiu o julgamento foi o juiz de Direito Francisco da Silva Porto.

Prudêncio morreu em Cimbres, Pernambuco, na madrugada de 12 de maio, após enfrentar os praças que tentavam lhe prender.

O município guarda como acontecimento de importância na sua história a visita do imperador D. Pedro II, no dia em 10 de janeiro de 1860, que foi conduzido até a cidade pelo navio Pirajá, tendo sido hospedado num prédio assobradado, que ficou conhecido como Sobrado do Barão. Foi demolido para a construção de um ginásio. Ao imperador foi oferecido um vaso de ouro maciço.

Feira do Pilar e o Mercado da Farinha

Feira do Pilar e o Mercado da Farinha

Em 8 de maio de 1854, a Lei nº 250 criou a freguesia do Pilar, sob o orago de Nossa Senhora do Pilar. Seu primeiro vigário foi o padre Jacinto Cândido de Mendonça, indicado em 2 de abril de 1855. Natural da cidade de Alagoas e filiado ao Partido Conservador, foi eleito para vários mandatos na assembleia Provincial. Faleceu em 19 de julho de 1870.

Com o rápido progresso, o presidente Inácio José de Mendonça Uchôa fez aprovar a Lei nº 321, de 1º de maio de 1857, elevando Pilar à categoria de vila. Dois anos depois foi desmembrada da comarca de Alagoas, passando a integrar a de Atalaia. Somente foi elevada à categoria de comarca em 16 de março de 1872, pela Lei nº 624. Nessa mesma data, a Lei nº 626 lhe elevou à cidade.

Outro acontecimento que trouxe enormes benefícios ao comércio de Pilar foi a entrada em funcionamento da Companhia de Navegação a Vapor das Lagoas Norte e Manguaba no dia 21 de setembro de 1868. Conectava-se com o Porto de Jaraguá por meio de um ramal da estrada de ferro que se estendia até o Porto do Trapiche.

No dia 5 de março de 1870, circulou o Pilarense, o primeiro jornal da vila. Utilizava um pequeno prelo cedido pela União Liberal. Propriedade de M. de Farias Maia.

Em 11 de março deste mesmo ano entrou em circulação o Mercantil do Pilar, dirigido pelo advogado Themistocles Soares, que representava uma sociedade proprietária de um prelo adquirido ao Diário de Alagoas e que tinha sido utilizado no Jornal Alagoano. Meses depois, o Mercantil foi substituído pelo jornal Sete de Setembro, que circulou a partir de 2 de setembro.

Pilar foi promovida à categoria de Cidade em 16 de março de 1872, pela Lei nº 626. Essa autonomia administrativa equivalia a de um município e somente era ostentada naquela período por Maceió, Alagoas (Marechal Deodoro), São Miguel e Penedo.

A partir de março de 1874, o Juiz de Direito do Pilar, então uma comarca de 2ª entrância, era o bacharel Francisco da Silva Porto. Há registros da sua permanência neste cargo até pelo menos 1876. O promotor público era Antônio Elias do Aguiar.

Francisco da Silva Porto foi substituído por Pedro Antônio da Costa Moreira.

O Juiz Municipal do Termo do Pilar era Antônio Pereira Camello.

Cadeia do Pilar, antigo Teatro

Em 1873 o vigário encomendado (pago pelo governo) era o padre João Cardoso da Silva. No ano seguinte, o padre da paróquia era José Henrique de Amorim, que também respondia como agente dos Correios.

Quando da elevação a município, Pilar tinha três núcleos urbanos: Pilar (cidade e sede), com 4.185 indivíduos habitando 837 domicílios; Aldeia de Santo Amaro, com 646 habitantes e 158 domicílios; e o Povoado de Pedro da Cruz, com 150 habitantes e 30 unidades residenciais.

Em 1873, a Guarda Nacional estava organizada no município com o 5º Batalhão de Infantaria, formado por oito Companhias e comandado pelo tenente-coronel José Gomes de M. Motta. Foi criado pelo Decreto nº 988, de 14 de junho de 1852. Tinha originalmente seis companhias, mas passaram a oito pelo Decreto nº 3.365, de 20 de dezembro de 1864.

Neste mesmo ano, começou a circular o Jornal do Pilar, que tinha como redator o jornalista Antônio Duarte Leite da Silva.

Em 1874, a cidade do Pilar tinha 14 ruas, 5 travessas e 2 praças.

As ruas eram: do Engenho Velho, Trapiche, Praia, Paz, Rosário, Boa Vista, Comércio, Ladeira, Alegria, Cravo, Nova, Bomfim, Viração e Paraíba.

As travessas eram as seguintes: da Matriz, Rosário, Boa Vista, São Benedito e Farias. Praça da Matriz e Praça do Rosário completavam a malha urbana da cidade.

A Matriz de Nossa Senhora do Pilar estava em construção (foi inaugurada em 31 de agosto de 1879). Atendiam aos fiéis a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, como Matriz, e a Capela de São Benedito.

Em 1875, Pilar era atendido semanalmente pelos vapores que navegavam do seu porto até o Trapiche da Barra em Maceió. As embarcações saiam do Trapiche nas terças-feiras, quartas, sextas e sábados. Faziam o percurso inverso nas segundas-feiras, quartas, quintas e sábados. Todos faziam escala em Alagoas (Marechal Deodoro).

Dois médicos residiam no Pilar em 1877: dr. João Pedro Aguiar e dr. Joaquim Telesphoro Ferreira Lopes Vianna. Se alguém precisasse comprar medicamentos, ia até as farmácias de José Francisco Taboca Filho ou de Joaquim das Virgens Lima.

Mercado da Farinha no Pilar

O Jornal do Pilar é citado neste ano como sendo de propriedade de Casemiro José da Silva e de Antônio Duarte Leite da Silva. O Sete de Setembro continuava como sendo patrimônio de uma sociedade.

Duas sociedades dramáticas particulares existiam em 1877. A Vianna, de Joaquim Telesphoro Ferreira Lopes Vianna, a N. S. do Pilar, de uma associação, e a Dramática, do Teatro de Nossa Senhora do Pilar.

Uma empresa que fez história no Pilar foi a Companhia Pilarense de Fiação e Tecidos. Foi fundada em 13 de março de 1892 e o capital inicial era de 200 contos de réis. Somente entrou em funcionamento no ano seguinte, quando o capital foi dobrado.

Sua primeira diretoria era formada por Antônio Casado Lima Jatobá, Pedro de Araújo Lima e dr. Manoel Ramos A. Pereira.

Em sua última fase de funcionamento, esteve sob o controle do empresário Tércio Wanderley. Em setembro de 1957 a Pilarense fechou suas portas.

A Fábrica de Rendas do Pilar, da firma Ramos & Cia., também trouxe dividendos importantes para o município.

***

A denominação do Pilar foi alterada, em 1944, para Manguaba pelo fato da lagoa de mesmo nome ser o principal acidente geográfico do município. Em 1949, voltou a se denominar Pilar.

A beleza natural da Lagoa Manguaba é o principal encantamento do município, que possui casarios coloniais do início do século passado, além fontes de água de boa qualidade, inclusive mineral.

Formação administrativa

Distrito (Freguesia) criado com a denominação de Pilar, pela Lei Provincial nº 250, de 8 de maio de 1854. A Freguesia recebeu a denominação de Nossa Senhora do Rosário.

Elevado à categoria de vila com denominação de Pilar, pela lei provincial nº 321, de 1º de maio de 1857, desmembrado de Alagoas (atual Marechal Deodoro). Sede na antiga povoação de Pilar. Constituído do distrito sede. Instalado 12 de setembro de 1857.

A primeira sessão da Câmara Municipal ocorreu no dia 21 de setembro de 1857.

Mesmo como vila, Pilar continuou judiciariamente como termo de Alagoas (Marechal Deodoro). A Lei nº 359, de 11 de julho de 1859, transferiu esse vínculo para Atalaia e assim permaneceu até Pilar ser elevado a comarca em 16 de março de 1872.

Cine Pilarense em 1973

Cine Pilarense em 1973

A sede foi elevada à condição de cidade com a denominação de Pilar, pela Lei provincial nº 626, de 16 de março de 1872, sancionada pelo presidente Silvino Elvídio Carneiro da Cunha.

Em divisão administrativa referente ao ano de 1911, o município é constituído do distrito sede. Assim permanecendo em divisões territoriais datadas de 31 de dezembro de 1936 e 31 de dezembro de 1937.

Pelo decreto lei estadual nº 2909, de 30 de dezembro de 1943, o município de Pilar passou a denominar-se Manguaba.

No quadro fixado para vigorar no período de 1944-1948, o município já denominado Manguaba é constituído de distrito sede.

Pela lei municipal nº 1473, de 17 de setembro de 1949, o município de Manguaba voltou a chamar-se Pilar.

Em divisão territorial datada de 1º de julho de 1960, o município é constituído do distrito sede.

Assim permanecendo em divisão territorial datada de 2007.

13 Comments on Pilar do Engenho Velho

  1. Ma.Nasidi da Silva // 18 de janeiro de 2016 em 07:04 //

    Amei o a história do Pilar. Me fez lembrar minha falecida mãe. As histórias q ela contava do lugar onde ela nasceu. Faltou vc falar dos carnavais, q segundo ela eram muito animados. Valeu!!!

  2. Wellington gomes dos santos // 1 de junho de 2018 em 20:33 //

    Gosto muito de ver os registros antigos de minha cidade querida me vejo pactuando por essa época.

  3. Aos organizadores da página, por favor me tirem uma dúvida cruel…! Os primeiros habitantes da região onde hoje é o Pilar, os índios, eram os cariris, ou os CAETÉS? Pois, salvo engano, Adriano Jorge lista os indígenas deste período, nessa região das lagoas como sendo os caetés. Sendo que os cariris ficavam nas proximidades do rio São Francisco, em Propriá ou São Brás. Além de ter povos indígenas cariris também no Ceará. Obrigado. Estou no aguardo!

  4. Dou a palavra a Dirceu Lindoso: “A minha preocupação, hoje, é uma parte mais dos componentes. Quais são os componentes essenciais de Alagoas, a partir de 1817 para cá? Esses componentes são sociais; são as etnias existentes, o negro, o índio o problema do índio em Alagoas, com o seu massacre.

    Porque em Alagoas, primeiro teve um massacre oficial, que foi aquilo no Sul: inventaram uma história de que comeram um bispo [o bispo Dom Pero Fernandes Sardinha; Évora, 1496/ Brasil, 1556). Aquilo não está provado coisa nenhuma; documentos nem do Vaticano, que tem lá no Museu do Vaticano, não provam aquele negócio. Aquilo foi uma luta de poder entre o bispo e o governador geral do Brasil.

    Então, deu-se o massacre dos caetés. E não só fizeram o massacre como passaram a criar um povo caeté em Alagoas que nunca existiu. Porque os caetés são os tupinambás, que foram degolados num levante do Rio de Janeiro. Eles fugiram para cá, passaram por aqui e foram bater no Maranhão; fundaram São Luís. Quem fundou São Luís do Maranhão foram os franceses e os tupinambás. É uma cidade fundada por índio e por franceses.

    É a primeira capital fundada por franceses, ora, tem até a estátua lá do general Ravardière, que foi quem fundou Maranhão. Então eram grupos tupinambás; caeté significa… “ca” é mato e “eté”, verdadeiro, quer dizer, é parte de um nome; podia ser assim, “tupinamba-caete”, uma coisa assim. Porque os índios do sertão de Alagoas eram todos tapuias-cariris; não eram dos grupos de tupi-guarani, como os caetés, como os tupinambás”.

    Veja aqui: https://www.historiadealagoas.com.br/uma-cultura-em-questao-a-alagoana.html

  5. Sr. Ticianeli, muito obrigado pela resposta, como também pelo link.

  6. Sérgio Noraes // 17 de março de 2021 em 14:42 //

    Excelente caro Edberto Ticianeli. Sou seu admirador pela biblioteca VIVA que és para todos nós. Ricas informações, umas que não sabia e outras que quero tecer algumas considerações:

    ✅ Dr. Francisco José da Silva Porto continuou como juiz de Pilar em 1874, 1875, 1876… Presidindo o inquérito da ÚLTIMA PENA DE MORTE DO BRASIL como tão bem relator. Não lembro até que ano ficou. Tenho um Livro Original de Compra e Venda de Escravos de 1875 assinado por ele.
    ✅ Há um equívoco no nome do Escravo Enforcado, pois não foi o PRUDÊNCIO (Esse morreu em luta com a polícia em Cimbres-PE) e o Enforcado foi FRANCISCO, cativo do Dr. Joaquim Telesphoro, como consta no processo. Esse equívoco de troca de nomes foi por conta de uma publicação do livro do IBGE em 1959.
    ✅ A lei da Emancipação política foi 626 que concedeu a Autonomia Administrativa. Tenho a Cópia dessa Lei.
    ✅ Quanto ao nome Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário do Pilar acho que pode ter havido uma junção nominal das duas, ou seja, Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar (que estava em construção em 1874) e só foi inaugurada em 31.08.1879 e nesse tempo a Matriz ficou sendo a IGREJA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO, talvez por isso a denominação “NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO DO PILAR”, essa fundada em 1°/11/1800.

    Gratidão por esse trabalho lindo em Alagoas.

    Sérgio Moraes
    Pilar-AL

  7. Sérgio, farei as correções imediatamente. Grato pelas observações.

  8. E bom ter essas publicações para os mais jovem ficarem conhecendo um pouco sobre acontecimentos passado no Brasil, tenho 67 anos e não conhecia essa história do Pilar.

  9. Boa tarde eu também,sou paulista,
    Mas meus pais eram alagoanos
    Obrigado por contar um pouco da história deles

  10. Amei a história de Pilar, não conheço ,mas meu pai era de Pilar, essa rua do engenho velho ainda existe!

  11. Olá, gostaria de saber informações sobre meus antepassados: Maurice Maux e Alexandrina Maux. Residiram no Pilar entre 1875-1878.

  12. Miqueias Costa // 29 de janeiro de 2023 em 00:35 //

    @Alex Maux, se pesquisar a edição 108 de 1876 do Jornal “O Pilar” no site vai encontrar uma referência a Maurício Maus (grafia da época), o cito antepassado.

  13. Adorei! Sou do RJ, mas meu pai nasceu em Pilar e acabei de pedir ao cartório a certidão de nascimento. Começarei a buscar informações.

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