Piaçabuçu, a grande palmeira do Rio São Francisco

Fazenda Parazinho em Piaçabuçu, AL, nos anos 50
Rua João Pessoa em Piaçabuçu, Alagoas

Rua João Pessoa em Piaçabuçu, Alagoas

Ocupada inicialmente pelos índios caetés, o início da formação do povoado data dos primeiros tempos da exploração do baixo São Francisco pelos donatários da capitania de Pernambuco. Era o local o ponto preferido pelos que atravessavam o Rio São Francisco quando viajavam por terra para Pernambuco e Bahia.

A área foi escolhido por permitir a travessia mais segura do rio, que era realizada em canoas e jangadas. Duas grandes ilhas no local ajudavam os viajantes a enfrentarem as então caudalosas águas do São Francisco.

Na ocupação da região pelos portugueses, os caetés foram expulsos, principalmente após o episódio que envolveu o Bispo Sardinha. A aproximação entre portugueses e os naturais se deu com os índios cariris de origem caraíba.

O historiador João Alberto Ribeiro registra que o português André da Rocha Dantas, da família Lins, tendo um grupo de homens sob as suas ordens, entre 1660 e 1670, penetrou na região em 10 de outubro, dia em que se comemora a conservação de São Francisco de Borja. O Visconde de Sinimbu é um dos descendentes de André Dantas.

Povoado de Bonito Piaçabuçu, Alagoas, nos anos 50

Com palhas de palmeiras construiu-se pequena barraca, dando-lhe a forma de igreja, em honra daquele santo. Segundo o historiador João Alberto, o local da igreja é o mesmo onde hoje está construída a Matriz.

Assim, surgiu o povoado. O nome é antiguíssimo e vem desde o início do povoamento. Tem origem indígena: “piaçava” (palmeira). “guassu“, grande. Foi motivado pela abundância de palmeiras.

Piaçabuçú em 1844

O jornal A Pyrausta, de 30 de maio de 1917, publicou o texto a seguir, cuja autoria Moreno Brandão, proprietário e editor do periódico, atribuiu a Antônio Joaquim de Moura, que governou Alagoas entre 1835 e 1836, e também autor do Opusculo da descripção geographica e topographica, politica e historica do que unicamente respeita á Provincia das Alagôas no imperio do Brazil. Por um brasileiro, impresso no Rio de Janeiro em 1844, na Tipografia de Berthe e Haring. O texto foi retirado deste impresso.

A fagueira povoação de Piaçabuçu entre a Cidade (Penedo) e a Barra, colocada em uma planície á margem do Rio, há aqui uma feira semanal no sábado, posto que menor, da mesma natureza, e utilidade que a do Penedo; abunda em pescado e algumas frutas como sejam uvas moscatéis até para exportar, cocos, cajus, ananás e bananas.

Rio São Francisco em Piaçabuçu, Alagoas

A festa do Natal ali é encantadora pela singeleza e cordialidade que se desfruta; faz recordar o que se diz da antiguidade na reunião dos Pastores… As casas da povoação, que não são poucas, não podem conter a concorrência, e por isso abarracam-se por debaixo das grandes árvores e cajueiros dos arredores; tudo é alegria e confraternidade!

Em melodiosos rojões se passam os serões das belas noites de luar! Uma mesa franca, posto que frugal, cada casa, ou barraca é sempre acessível a qualquer filho de Adão que apareça; quem maltrata a um tem ofendido a todos…

Em parte nenhuma se fabrica melhor licor de cambuim de cujo fruto abundam as suas restingas. Supram, o que aqui se omite, aqueles que já gozaram deste ameno campo de amor fraternal; mais singelo, porém não menos delicioso que o Poço da Panela em Pernambuco, o Paquetá no Rio de Janeiro e a antiga Bacanga no transformado Maranhão.

A horticultura fazia aqui em Piaçabuçu o seu império, e jardim, se a indústria e o gosto desse ramo de agricultura já tivesse chegado a essa Província, por ora emperrada e rotineira.

Pedro II em Piaçabuçu

No dia 14 de outubro de 1859, às 6h30, a esquadrilha que acompanhava o imperador D. Pedro II em visita a Alagoas fundeou em Piaçabuçu. O primeiro gesto do visitante foi se dirigir à capela, que estava arruinada, pôs-se de joelhos e orou.

Ao padre José Rafael doou 200$ para a igreja e mais 300$ para serem distribuídos com os pobres.

As impressões do imperador sobre Piaçabuçu foram deixadas em anotações. Eis alguns trechos: “Receberam-me com laços de diversas cores atados em varas e uma música de rebecas e outros instrumentos vinda de Penedo”.

Igreja Matriz São Francisco de Borja

Igreja Matriz São Francisco de Borja

“Piaçabuçu que, ainda há pouco, foi criada freguesia, tem bastante casas, porém a maior parte de pau a pique e cobertas de sapé”.

Pedro II ainda visitou a escola primária e fez perguntas aos alunos. Sobre esse momento, registrou: “um deles não me respondeu mal parecendo-me pelos livros que vi sobre a mesa incluindo uma gramática italiana que o mestre não desgosta de ler, a de meninas tem 40 matriculadas”.

O imperador também deixou anotado que na margem do rio tinha maior número de mulheres que de homens. Às 7h30 a visita foi encerrada e a comitiva voltou a embarcar no “Apa” para seguir viagem.

Formação Administrativa

Prefeitura Municipal, Escola de Datilografia Dr. Francisco Guedes de Melo e Cine São Francisco em Piaçabuçu

Prefeitura Municipal, Escola de Datilografia Dr. Francisco Guedes de Melo e Cine São Francisco em Piaçabuçu

O Jornal do Commercio de 16 de maio de 1834 informou que uma resolução do Conselho Geral de Alagoas, considerando que Penedo tinha mais de 25 mil habitantes, resolveu:

“Art. 1º Fica criada uma freguesia na Capela de Piaçabuçu, tendo por Matriz a Igreja de S. Francisco com a denominação de S. Francisco de Piaçabuçu, desmembrada da Freguesia do Penedo.
Art. 2º A Freguesia terá por limites o Rio das Laranjeiras com todas as ilhas, que se acharem desde a de Gregório até a Barra do Rio São Francisco, e para o centro pelo dito rio Laranjeiras até Palmeira Alta, e Marituba, até encontrar os limites da Freguesia do Poxim até a costa do mar.
Sala do Conselho Geral & c., em 30 de janeiro de 1833. – Miguel Veloso da Silveira Nobrega e Vasconcellos, Presidente. – Joaquim da Silva Freire, Secretário”.

Foi aprovada na Sessão da Câmara dos Deputados no dia 15 de maio de 1934, como consta nos Anais do Parlamento Brasileiro daquele ano.

Distrito criado com a denominação de Piaçabuçu, pela lei provincial nº 359, de 11 de julho de 1859.

Elevado à categoria de vila com a denominação de Piaçabuçu, pela lei provincial nº 866, de 31 de maio de 1882, desmembrado de Penedo. Sede na antiga povoação de Piaçabuçu. Instalado em 7 de janeiro de 1883.

Em divisão administrativa referente ao ano de 1911, o município é constituído do distrito sede.

Assim permanecendo em divisões territoriais datada de 31 de dezembro de 1936 e 31 de dezembro de 1937.

Em divisão territorial datada de 1º de julho de 1960, o município é constituído do distrito sede.

Assim permanecendo em divisão territorial datada de 2007.

Fonte: IBGE e o livro Dom Pedro II e Dona Teresa Cristina na Alagoas, de Abelardo Duarte.

Vista aérea da Fábrica de Tecido Marituba em Piaçabuçu

Vista aérea da Fábrica de Tecido Marituba em Piaçabuçu

4 Comments on Piaçabuçu, a grande palmeira do Rio São Francisco

  1. Ramilton B. Pereira. // 23 de janeiro de 2016 em 21:09 //

    Belíssima resenha. Os autores merecem elogios pela pesquisa.

  2. Excelente pesquisa. Parabéns aos autores.

  3. vera alcantara // 4 de maio de 2016 em 23:02 //

    Muito bom saber um pouco sobre cantinhos brasileiros que admiramos. Melhor ainda constatar que há uma preocupação em preservar essas histórias. Parabéns.

  4. Mario Ciriaco // 27 de maio de 2020 em 11:33 //

    Mostrem imagens do Povoado de Potengi, sinto imensa falta. Por favor

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