Parque Hotel, testemunha da história alagoana

Edifício foi lugar privilegiado para assistir movimentos que derrubaram governadores

Parque Hotel na Praça D. Pedro II, anos 60

SANDRA PEREIRA – Repórter
(Reportagem publicada na Tribuna da Alagoas de 11 de janeiro de 2004)

Nascido numa das famílias que ajudou a escrever a história dos hotéis em Maceió, Geraldo Gonçalves Júnior, 61, é um profundo conhecedor do tema. Ele cresceu no Parque Hotel, o primeiro do Estado a ser construído especificamente para atuar no ramo de hotelaria. O local já foi um dos principais hotéis da cidade onde se hospedavam as famílias mais tradicionais, os políticos, enfim a chamada nata da sociedade alagoana.

O Parque Hotel iniciou sua construção em 1957. O projeto foi da arquiteta Zélia Maia Nobre

Situado no Centro de Maceió, na Praça D. Pedro II, ao lado da Biblioteca Pública Estadual, o Parque Hotel testemunhou alguns dos mais intensos momentos políticos de Alagoas, como o impeachment de dois ex-governadores alagoanos. Foi também camarote ideal para acompanhar a movimentação na Praça da Assembleia.

Geraldo Mendonça Júnior, o Geraldinho

Geraldo Mendonça Júnior, o Geraldinho

“O Parque Hotel era na realidade uma grande casa de família”, relata Geraldinho com certa nostalgia, salientando que lá era o quartel general de todos os políticos de Alagoas em especial daqueles que vinham do interior do Estado. “Fazendeiros, comerciantes, caixeiros viajantes, todos se concentravam lá.

Entre as décadas de 50, 60 e 70, no mês de fevereiro, o hotel ficava lotado de moças e rapazes enquanto os pais providenciavam enxoval e a compra de livros para aqueles que ficariam em internatos“, afirma, lembrando que normalmente essas tarefas se estendiam até o dia 15 de fevereiro quando os pais retornavam para suas casas.

Ele conta que os ex-governadores como José Tavares e Geraldo Bulhões, por exemplo, eram frequentadores assíduos do local e assegura que entre os hóspedes era possível encontrar seguidores das mais diversas correntes políticas. “Meu avô era um homem bem quisto. Inimigos se hospedavam simultaneamente sem que nenhum fato fosse registrado”, sintetiza.

Em seu auge o Parque Hotel chegou a ter 110 apartamentos, tornando-se símbolo de pioneirismo de “seu” Pedro Gonçalves, avô de Geraldinho.

Restaurante do Parque Hotel nos anos 70

Antes de dar início à construção do hotel, ele foi proprietário de outros estabelecimentos. O primeiro deles foi o Hotel Central, hoje um estacionamento ao lado do Arcebispado. Adquiriu o Hotel Avenida (onde atualmente funciona o Bingo Central), e daí seguiu para o Hotel Maceió, na rua Pontes de Miranda. Em 1952, dava início à construção do Parque Hotel referendando seu pioneirismo e a paixão pelo ramo da hotelaria.

“A obra demorou bastante já que meu avô não fez financiamento e nem comprou nada a prazo. A construção começou paralelamente com a do edifício Brêda, mas só foi finalizada muito tempo depois. Quando a obra chegou ao fim o prédio era o segundo mais alto do Estado e chegou a ser capa de catálogo telefónico“, relembra em tom de orgulho, acrescentando que apesar das dificuldades o local pertence à família há três gerações.

Atualmente Geraldinho se dedica as atividades do buffet de sua propriedade, continua auxiliando os familiares que administram o Parque Hotel e um dos maiores defensores da revitalização do centro de Maceió.

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Nota da Editoria do História de Alagoas

O Parque Hotel, quando foi inaugurado em 11 de maio de 1933, era um pequeno hotel pertencente a J. Cordeiro.

Um anúncio no Diário de Pernambuco de 15 de maio de 1934, divulgava as “diárias módicas” do Parque-Hotel, “o único que mantém água corrente em todos os quartos — Prédio novo — Instalações moderníssimas. Praça D. Pedro II, 73 e Rua do Comércio, 30” (duas entradas).

A partir de 1935, Euclides Gonçalves, um experiente administrador de hotéis, alugou o prédio e assumiu o hotel. Anos depois, adquiriu o imóvel e o reformou, ampliando para 33 quartos. Depois construiu mais 21 quartos.

Em 1952 surgiu a ideia de ampliar mais ainda o prédio, construindo um edifício de seis andares voltado para a Praça D. Pedro II e ofertando mais 56 apartamentos. Com isso, o hotel chegava a 110 unidades de hospedagem.

Esse projeto foi apresentado em abril de 1953 ao IAPC. A parte do hotel voltada para a Praça dos Palmares seria bancada com recursos do proprietário, mas o prédio cuja fachada ficaria para a Praça D. Pedro II, precisaria de apoio do IAPC. (Diário de Pernambuco de 12 de abril de 1953).

Sem recursos, Euclides Gonçalves teve que esperar vários anos para ver seu sonho concluído. O edifício começou a ser erguido em 1957. O projeto arquitetônico foi da arquiteta Zélia Maia Nobre.

4 Comments on Parque Hotel, testemunha da história alagoana

  1. Chorei bastante lembrei do quadro – pai levava sempre pra tomar guaraná e comer coxinha e empada que vinha sempre uma azeitona grande! Amississimo de pai Seu Geraldo lembro que me chamava de Raimundinho e meu Irmão Carlinhos saudades de mais, conseguiram tirar rios de lagrimas. Alem de Seu geraldo tinha o dono do Bompreço, De uma loja de roupas que nao lembro o nome e um dono da boboniere em um desses becos, tambem tinha o bar a Toca não sei se ainda existe? mas saudades eternas!!

  2. Um estado do nordeste que ainda terei o privilégio de desfrutar.

  3. Msuro Jorge // 21 de maio de 2021 em 09:41 //

    Tenho muitas saudades onde trabalhei no hotel por dez anos. Fiquei muito triste com o fechamento do hotel
    Onde neste hotel foi o meu primeiro emprego em hotelaria e gigo de passagem uma escola.
    Parabens a esta familia que foram uns bobs patrões e amigos.
    Saudades da sra. Jaguaracy ou mulher de garras.

  4. Ramos Pereira // 9 de maio de 2023 em 13:20 //

    Sem palavras,tudo foi dito . Não vamos esquecer do nosso Durval, barbeiro de linha do Fantástico que era o predileto de Divaldo Suruagy , Guilherme Palmeira e tantos outros. Abraços amigos !

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