Palácio dos Martírios e de Floriano Peixoto

Palácio do Governo na década de 1910

O português Francisco José da Graça, natural da Vila de Chaves, chegou a Maceió entre 1812 e 1814. Vinha de Goiana, Pernambuco, onde era comerciante e tinha casado com Maria da Assunção Ferreira da Graça. Poucos anos depois (1819), foi escolhido em eleições municipais como Procurador da Vila de Maceió.

Tendo recursos, construiu um sobrado de três faces na esquina da Rua do Comércio com a Rua da Rosa (depois Rua do Livramento e Rua Senador Mendonça), o ponto mais central da vila.

Sobrado de Francisco José da Graça, o Velho Graça, que foi a primeira sede do governo de Alagoas, entre 1818 e 1855. A foto é de 1910

Quando o primeiro governante da nova capitania das Alagoas, Sebastião Francisco de Mello e Povoas, desembarcou em Jaraguá no dia 27 de dezembro de 1818, não existia ainda em Maceió a estrutura necessária para a instalação do governo, considerando que a capital oficial era Alagoas (Marechal Deodoro).

Mesmo assim, Mello e Póvoas optou por se estabelecer em Maceió por causa do porto de Jaraguá e escolheu como palácio governamental o sobrado do “Velho Graça”. Foi este o primeiro palácio governamental em Alagoas.

A partir de 1849, o governo alagoano se instalou no prédio construído naquele mesmo ano na subida da Praça dos Palmares para a Rua do Comércio. Veio a ser conhecido como Palácio Provincial. Foi alugado a José Antônio de Mendonça, o futuro Barão de Jaraguá.

Prédio do Barão de Jaraguá onde funcionou o governo entre 1855 e 1902

Prédio do Barão de Jaraguá onde funcionou o governo entre 1855 e 1902

A sede do governo funcionou neste local até 1902, quando foi inaugurado o Palácio do Governo no Largo dos Martírios. Este prédio, antes de ser demolido em 1940, recebeu o Instituto Comercial e o Colégio Dias Cabral.

Em 5 de setembro de 1887, tomou posse como presidente da Província o paulista Antônio Caio da Silva Prado. O advogado Caio Prado, como era mais conhecido, era filho da aristocracia cafeeira e não se sentiu à vontade em se hospedar no velho Palácio Provincial.

Para o Orbe de 7 de setembro ele tinha razão: “O palácio do governo está de tal ordem imundo que não se presta a uma habitação para gente que está acostumada à decência, falta tudo: e para fazer-se ideia aproximada da imundície o exm. snr. Presidente da província não pôde com sua família pernoitar no palácio; e consta-nos que está resolvido a fixar residência no chalé do snr. Cardoso Sobral, onde permanece”.

Assim, a primeira residência oficial do governo a se instalar em Alagoas passou a ser o palacete do deputado Antônio Cardoso Sobral na Rua Barão de Anadia, 14. Ficava em frente à Estação Ferroviária e mais tarde passou a ser a residência do bispo.

Para o palácio, onde faltava tudo, foram comprados “um aparelho de chá e um terno completo de bandejas, terno de bandejas que existiam novas quando o snr. dr. Amphilophio deixou a administração”, denunciou o O Orbe. Anfilófio Freire de Carvalho governou Alagoas de 7 de outubro de 1885 a 26 de março de 1886.

Palácio do Governo

Inauguração do Palácio do Governo em 16 de setembro de 1902

Esse palácio também não estava agradando ao governador Gabino Besouro (governou de 24 de março de 1892 a 16 de julho de 1894), como deixou claro na mensagem dirigida ao Congresso Alagoano em 15 de abril de 1893: “Sentimos grande falta de prédios para nossas repartições públicas. A casa que serve atualmente de palácio do Governo e onde também funcionam a secretaria do Interior, o Senado e o Tribunal Superior de Justiça, é um edifício antigo, já estragado, sem cômodos, de más condições higiênicas, alugado à razão de 3 contos de réis anuais, tendo sido esse aluguel anteriormente a 1º de julho do ano passado de 4:800$000”.

Gabino Besouro indicava como solução a construção ou aquisição de prédios apropriados a servir de palácio do Governo e para as repartições. Seguindo este objetivo, e com a aprovação das Leis nº 30, de 26 de maio de 1893, autorizou a construção do novo palácio do governo, na Praça dos Martírios.

Após a desapropriação e demolição do sobrado de propriedade de Antônio Ferreira Pinto e de D. Maria Felícia Ferreira, a pedra fundamental foi lançada no dia 14 de setembro de 1893, obedecendo a projeto arquitetônico e execução do engenheiro militar alagoano Carlos Jorge Calheiros de Lima.

Menos de um ano depois, com a deposição do governador Gabino Besouro, no dia 16 de julho de 1894, o ritmo da obra foi reduzido. Somente foi retomada a construção quando Manoel Gomes Ribeiro Júnior, o Barão de Traipú, assumiu o governo em 17 de outubro de 1894.

Os novos engenheiros que assumiram a obra neste período — Adolpho Lins, Firmino Theotônio Morada, Francisco Severiano Braga Torres e Luiz Manoel Gonçalves — fizeram modificações no projeto original, a ponto de descaracterizá-lo completamente.

As obras foram paralisadas novamente com a saída do Barão de Traipu do governo, em 12 de junho de 1897, só retornando no governo de Euclides Vieira Malta, desta feita sob a responsabilidade do arquiteto Luiz Lucariny, autorizado pelo governador no dia 12 de junho de 1900.

Euclides Malta pediu a Lucariny para alterar a planta da fachada, segundo ele “dando ao edifício uma melhor perspectiva”.

Em 1906, visita do presidente da República Affonso Penna. Foto de Luiz Lavenère

Em 1906, visita do presidente da República Affonso Penna. Foto de Luiz Lavenère

As obras orçadas em 125 contos de réis, após concorrência pública, foram entregues a João Soares de Goes, que orçou seus serviços em 110 contos de réis.

O arquiteto italiano Luiz Lucariny, que por esta época residia em Maceió, também foi responsável pela construção do Teatro Deodoro, em Maceió, e do Teatro Sete de Setembro, em Penedo, entre outras construções.

A inauguração do Palácio do Governo ocorreu no dia 16 de setembro de 1902.

Euclides Malta apresentou relatório detalhando os gastos com a obra. Além dos 110:000$000 pagos ao construtor por contrato, gastou mais 29:564$580 em obras complementares, 42:000$000 com a mobília e outros objetos indispensáveis, e 9:329$110 com a inauguração. Mesmo sem ter contabilizado as despesas anteriores, o governador calculou que toda a construção utilizou 575:000$00.

Em 1905, o saguão do palácio foi entijolado novamente em razão dos mosaicos estarem soltos, com risco de se partirem. Quatro anos depois, novas reformas gastaram 9:403$524.

Palácio dos Martírios em 1908

O governador Costa Rego, em 1926, avaliava o palácio como “de construção mal acabada e, em muitos detalhes, refletindo a falta de gosto com que foi edificado”. Indicava a necessidade de reformas que melhorasse o seu aspecto externo e que proporcionasse mais conforto.

Explicou que o Estado não tinha recursos para essas modificações, mas que tinha contratado ou já realizado as seguintes obras: “construção de fossas sépticas e de esgotos, consertos e melhoramentos em diversas dependências, substituição de soalho, travejamento e pavimentação a mosaico, construção e reparos em gabinetes sanitários, com as respectivas instalações de adução e esgotos, adaptação dos porões para torna-los habitáveis, reforma do salão de despachos do Governador, com a substituição do soalho, a construção de um teto de madeira do Paraná e a compra de mobílias e estantes adequadas à biblioteca”.

Em 1926, o Palácio do Governo estava avaliado em 729:572$049 réis.

O detalhamento das reformas de 1926 foram publicados no ano seguinte: “retelhamento completo, substituição do madeiramento da cobertura que se achava estragada, conserto de parte mestra e amarração em cimento armado de um cunhal que apresentava fendilhamento completo e afastamento de prumo, conserto em uma pequena parte do forro, construção de escada de serviço que dá acesso ao mirante, com aparelhagem para erguer a tampa do alçapão, construção do soalho do gabinete do Governador, conserto na canalização d’água, instalação de um tanque para água, consertos nos algerozes, consertos diversos em portas e janelas”.

O valor do Palácio em 1929 era de 1.000:000$000 de réis.

Palácio Floriano Peixoto

Durante três décadas a sede do poder executivo em Alagoas foi conhecida simplesmente como Palácio do Governo. No início dos anos da década de 1930 surgiram nos jornais os primeiros registros dele como Palácio dos Martírios e assim permaneceu até 1947, quando o Decreto Estadual n° 417, de 17 de outubro, resolveu denominá-lo oficialmente de Palácio Floriano Peixoto.

O governador era Silvestre Péricles de Góis Monteiro e propôs a mudança ao ouvir argumentos do então deputado federal Medeiros Neto. Segundo Antônio Saturnino de Mendonça Jr, em seu livro “Jornal de Alagoas“, o deputado disse a Silvestre que o palácio do Governo de Alagoas era o único do país “que não mereceu estar ligado à história por característico de qualquer evocação de nome de vulto nacional ou de virtudes cívicas e morais”.

Mendonça Júnior não concordou e citou palácios com nomes que não eram de vultos históricos: Palácio do Ingá, em Niterói; dos Campos Elísios, em São Paulo; do Catete e o Guanabara; no Rio de Janeiro; das Princesas, em Recife; da Aclamação, na Bahia (pode ter sido por evocação a aclamação a D. João IV); e o da Liberdade, em Belo Horizonte (esse lembra os libertários mineiros).

Palácio República dos Palmares

Às 9h da sexta-feira, 10 de março de 2006, o governador Ronaldo Lessa inaugurou a nova sede do governo estadual. O Palácio República dos Palmares teve sua construção orçada em R$ 6 milhões e tinha o objetivo de atrair para o entorno do Palácio Floriano Peixoto os diversos órgãos da administração estadual.

Com a transferência da sede do governo para a nova e moderna construção, o palácio antigo tornou-se o Museu Histórico de Alagoas – Palácio Marechal Floriano Peixoto, decisão formalizada pelo Decreto de 27 de março de 2006, assinado pelo governador Ronaldo Lessa.

Mesmo sendo oficialmente denominado Palácio Floriano Peixoto, em 1947, sempre foi reconhecido pelos alagoanos como Palácio dos Martírios, da mesma forma a praça, que oficialmente é Praça Floriano Peixoto, mas todos se referem a ela como Praça dos Martírios.

Palácio dos Martírios em 1908

Palácio dos Martírios em 1908

Palácio do Governo em 1908

Palácio do Governo em 1908

Palácio do Governo em 1911

Palácio do Governo em 1911

Palácio do Governo em 1920

Palácio do Governo em 1920

Palácio dos Martírios em 1955

Palácio dos Martírios em 1955

Palácio dos Martírios nos anos 60

Palácio dos Martírios nos anos 60

Praça dos Martírios na década de 80

Praça dos Martírios na década de 80

1 Comentário on Palácio dos Martírios e de Floriano Peixoto

  1. jorgeleoncio // 15 de julho de 2016 em 20:21 //

    sou ex cabo do BPTran-Jorge Leôncio RG 5121/85-desejo receber notícias dos meus companheiros principalmente do tenente pedro porfírio e do tenente sobrinho (carioca )lotado no palácio do governo á época em 1986

Deixe um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*