Padre Teófanes Augusto de Barros, educando para elevar

O padre Teófanes Augusto de Araújo Barros nasceu no Sítio Ipiranga, São José da Lage, Alagoas, em 13 de julho de 1912. Era filho de Teófilo de Araújo Barros, nascido em 5 de março de 1867, e Otília de Souza Barbosa. Era ainda neto do capitão José Correia de Araújo Barros, por parte de pai, e de Francisco Barbosa Sobrinho e D. Lica, por parte de mãe.

São seus irmãos: Talvanes Augusto de Barros, Maria Teolinda de Barros, Teófilo Filho, Maria Teonila, Maria Teônia, Teobaldo, Maria Teodalva, Maria Teonice, Maria Teonor, Teodério, Teógenes Augusto, Téocles Augusto, Teodir Augusto e Maria Teomirtes.

Teófilo Barros, Otília Barros e filhos

Por motivos de doença, foi acolhido pelos avós que assumiram o seu tratamento e, depois de curado, passaram a cuidar dele.

Ainda criança, acompanhou os avós quando estes foram morar em Maceió, na casa de seu tio monsenhor Luiz Barbosa, na Rua João Pessoa, onde pouco tempo depois também seus pais e irmãos estabeleceram residência.

Iniciou os estudos no Colégio Diocesano, na Rua Cincinato Pinto. Segundo sua avó, aprendeu a ler rapidamente e passava horas deitado no chão lendo jornais e revistas.

Segundo sua irmã Teomirtes de Barros Malta, (Padre Teófanes, caminhos de uma vida), destacava-se como o melhor aluno da classe, mesmo tendo um caligrafia difícil de ser decifrada.

Essa dificuldade com a escrita lhe trouxe prejuízo ainda cedo, quando foi reprovado em Geografia no exame de Admissão ao Ginásio do Liceu Alagoano. O examinador, prof. Demócrito Gracindo, não entendeu sua caligrafia e o reprovou numa matéria em que Teófanes era um excelente aluno.

A família e seus professores ainda pensaram em recorrer ao Liceu solicitando uma nova prova, mas foi o próprio Teófanes que impediu argumentando que sua vocação era mesmo o sacerdócio e que queria entrar para o Seminário, o que fez na tarde do dia 9 de maio de 1925, com 13 anos de idade.

Monsenhor Luiz Barbosa, tio do Padre Teófanes

Aos 16 anos de idade, ainda seminarista em Maceió, foi convidado para dar aulas na cadeira de Psicologia no mesmo Seminário onde estudava.

Após concluir os cursos de Humanidade, Filosofia e Teologia em Maceió, foi ordenado presbítero no dia 5 de maio de 1934, na Catedral de Maceió pelo arcebispo Dom Santino Maria da Silva Coutinho. Celebrou sua primeira missa no dia 8 de maio de 1935 em São José da Lage, mas voltou a morar em Maceió com seus avós e tio.

Sob a orientação do tio Cônego Luiz Barbosa, ajudava na realização dos eventos na Igreja do Rosário, participando das festas de Primeira Comunhão, confissões e nas outras atividades que ocorriam naquele templo, além de celebrar algumas missas.

Não ficou somente nisso. Pensando em num futuro próximo criar um colégio para dar vazão ao seu ideal de ensinar, organizou para pessoas sem recursos uma escola para adultos num pequeno espaço existente atrás da igreja.

Sua irmã Teomirtes de Barros Lima avaliou em seu livro que esse desejo de ensinar estava no sangue e a mãe deles havia criado a Escola Joana D’Arc na Lage com a ajuda de amigas, e que suas irmãs foram as responsáveis pela instalação do Colégio Santa Inês, também em sua terra natal.

Em 6 fevereiro de 1939 colocou em funcionamento o Colégio Guido de Fontgalland, ainda em uma pequena casa na Rua Boa Vista. Para dividir o magistério, convidou suas irmãs Teolinda e Teônia, que já tinham experiência no Colégio Santa Inês, na Lage. As carteiras escolares foram emprestadas pelo Colégio São José e a Igreja do Rosário.

Com o rápido crescimento da instituição, Padre Teófanes decidiu que o ensino deveria ser ampliado para o curso ginasial e que a casa da Rua Boa Vista era muito pequena para receber novas turmas. Foi o sacristão da Catedral de Maceió, Teodomiro Deodato, quem o informou que um casarão situado no Alto do Jacutinga, bem próximo ao Farol, estava para ser desocupado.

Em fevereiro de 1940, 40 candidatos prestaram exame de admissão para o Ginásio Guido de Fontgalland, já na Rua Ângelo Neto, nº 56. Também foram abertas as matrículas para o então curso secundário. As aulas tiveram início no dia 15 de março, mas a autorização para o funcionamento só foi emitida em 10 de abril de 1940, quando passou a funcionar no sistema de internato e semi-internato para rapazes. A primeira turma do ginasial se formou no dia 18 de dezembro de 1943.

Nesse mesmo período, em plena Segunda Grande Guerra Mundial, foi o capelão da Base Aérea Norte Americana instalada em Maceió.

Outra participação importante do Padre Teófanes se deu na constituição da Campanha Nacional de Educandários Gratuitos, fundada em Maceió no dia em 15 de outubro de 1943. Essa instituição tinha sido criada em Recife a partir da iniciativa de um grupo de estudantes liderados por Felipe Tiago Gomes.

Em Alagoas, o Padre Teófanes foi seu primeiro presidente e permaneceu neste cargo até 1962, quando já era a Campanha de Educandários da Comunidade. Assumiu também a coordenação das ações no Norte e Nordeste do país.

Padre Teófanes foi o criador do Colégio Guido e do Cesmac

Em Alagoas e Sergipe, a Campanha instituiu mais de 60 unidades escolares ginasiais e colegiais na capital e no interior do Estado. Uma verdadeira revolução na educação de Alagoas.

São desta safra, em Maceió, os colégios Élio Lemos, Brandão Lima e o Ginásio Crispiniano Portal.

Ensino Superior

Foi a partir da Sociedade Colégio Guido de Fontgalland que surgiu a Faculdade de Filosofia de Alagoas em 17 de junho de 1950.

Esta unidade de ensino foi uma das convidadas a participar da criação da Universidade Federal de Alagoas, que ocorreu em 26 de janeiro de 1961.

Pouco tempo depois, com a autorização dos cursos de Pedagogia e Didática (Licenciatura),  a Faculdade passou a ser de Filosofia, Ciências e Letras da Ufal.

Com a Lei nº 53/66, a Faculdade deixou de existir, dividida em dois Institutos: o de Ciências Humanas e o de Letras, este, tratado como Faculdade de Educação, passou a ser dirigido pelo Padre Teófanes.

Certo dia, enquanto aguardava ser recebido pelo então secretário de Educação, professor Sávio de Almeida, conversava como o deputado Tarcísio de Jesus, que lhe falou sobre a necessidade de uma Faculdade de Direito que funcionasse no período noturno, permitindo aos trabalhadores o acesso ao ensino superior.

Como já andava pensando na reorganização da sua Faculdade de Filosofia, Padre Teófanes juntou as duas ideias e assim surgiu o projeto da Universidade Autônoma de Maceió, que resultou na criação do Centro de Estudos Superiores de MaceióCESMAC, sonho concretizado em 1973, após a constituição da Fundação Educacional Jayme de Altavila. Foi Presidente desta instituição e Diretor Geral do CESMAC.

Padre Teófanes Barros foi também um dos fundadores, em 1962, do Conselho Estadual de Educação. De sua iniciativa surgiu ainda o Sindicato dos Professores, o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino de Alagoas em 1955, a Associação das Escolas Católicas de Alagoas; o Centro de Estudos Jacques Maritain; da Revista Mocidade.

Foi também o compositor do Hino de Maceió, do Hino do CESMAC e do Hino de Nossa Senhora dos Prazeres, padroeira de Maceió.

Ocupou a Cadeira nº 16 do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas a partir de 1º de dezembro de 1969. Na Academia Alagoana de Letras foi detentor da Cadeira nº 3, assumindo em 30 de outubro de 1986.

Com o professor Douglas Apratto Tenório, atual vic-reitor do Centro Universitário Cesmac

Com o professor Douglas Apratto Tenório, atual vice-reitor do Centro Universitário Cesmac

Foi ainda professor do Seminário Metropolitano de Maceió, Cônego do Cabido Metropolitanos de Maceió, Capelão do Colégio Santíssimo Sacramento e Representante do Conselho Estadual de Educação junto ao Conselho Federal de Educação.

A sua busca pelo saber o levou a participar de cursos por todo o mundo. Esse conhecimento e experiência de vida o levou a ser escritor, poeta, filosofo e poliglota. Escreveu três livros: Na missão de educar, Na missão de afirmar e Alocuções.

Dedicou toda a sua vida a um só ideal, “educar para elevar”.

Faleceu no dia 21 junho de 2001.

Em 2012, a Assembleia Legislativa de Alagoas, por proposição do deputado Judson Cabral (PT), lhe fez uma justa homenagem instituindo a Medalha do Mérito Educacional Padre Teófanes Augusto de Barros.

Com o padre Manoel Henrique

Com o padre Manoel Henrique

 

Recebendo homenagem de professores e ex-alunos do Colégio Guido de Fontgalland

Recebendo homenagem de professores e ex-alunos do Colégio Guido de Fontgalland

 

Padre Teófanes em umaatividade religiosa

Padre Teófanes em uma atividade religiosa

10 Comments on Padre Teófanes Augusto de Barros, educando para elevar

  1. Hélio de Araújo Fontes // 4 de abril de 2017 em 14:46 //

    Fui aluno do Colégio Guido, entre os anos de 1957 a 1960. Fiz lá 0 4º ano ginasial e os 3 do Científico. Tenho saudade de alguns professores: Teobaldo de Barros, Teônia de Barros, Aloísio Galvão, Mario Lima.

  2. ADEMIR BARBOSA DOS SANTOS // 12 de abril de 2018 em 23:42 //

    Padre Teófanes com seu espírito empreendedor levou para todos os alagoanos um ensino de qualidade, que fazia a diferença em seus alunos. Seu ideal era “Educar para elevar”. Transformando gente simples em grandes lideres. Deus conceda o seu eterno descanso com convívio dos eleitos.

  3. Marco Aurélio Montenegro Pino // 5 de setembro de 2019 em 10:43 //

    Como ex-aluno do Colégio Guido de Fontgalland, nos anos de 1958/59 e 1964, guardo eternas lembranças dos grandes e imemoráveis professores Maria Teônia, (de quem sou afilhado), Theobaldo de Barros, Alysio Galvão, Theocles de Barros, Tercila e tantos outros anjos sagrados que me instruíram e a quem devo, em parte, o que sou. Que o Pai Celestial os abençoe e acolha no reino celeste.

  4. Ademir B. dos Santos // 6 de setembro de 2019 em 18:02 //

    Padre Teófanes é considerado o maior educador de Alagoas, um homem que se dedicou a sua vida pela excelência da educação alagoana, um educador visionário que tinha como meta alcançar a melhoria da educação. Não tive oportunidade de estuda no Colégio Guido de Fontgalland, três dos meus irmãos estudaram com bolsas ofertadas pelo Padre. O Colégio tinha os melhores professores como mencionados acima pelo Marcos Aurélio, apenas faltando uma, a professora e minha tia Teonice de Barros. Que Deus receba o Padre Teófanes seus irmãos e irmãs que se dedicaram a educação dos alagoanos no Paraíso Celestial.

  5. Pâmela Brainer // 19 de agosto de 2021 em 16:27 //

    Estudei no Guido em 1990, 1991, 1992, 1993, 1994.
    Lembro do prazer que era estudar lá. Lembro do Adeiton. Muitas das meninas da minha época, perdi contato. Duas moram fora, sendo uma no EUA e outra no Canadá. Eu saí de Maceió fazem anos. Sinto falta do uniforme e das cadernetas.

  6. Jacineide Maia // 20 de janeiro de 2022 em 14:51 //

    ORGULHO de ser LAJENSE.

    Cônego Teófanes Augusto de Barros,grande lajense,a maior referência em Educação do Estado de Alagoas.
    Uma vida dedecada ao sacerdócio e a educação .
    Uma grandiosa Biografia.
    Um exemplo de homem público a ser seguido .
    Um ser humano Incrível.

  7. Fui aluno do Colégio Guido, funcionário e professor. Minha profissional, então, iniciou naquele memorável Colégio. Tenho boas lembranças daquele tempo, e imensa gratidão ao padre Teofanes, e sua Família, notadamente os professores Maria Teônia Barros, Teobaldo Augusto de Barros, Maria Teomistes de Barros Malta. Houve um equívoco na matéria histórica acima. O sobrenome da Professora Teomirtes é Barros Malta, não Lima
    Uma observação final: O padre Teófanes foi também autor do Hino de Nossa Senhora dos Prazeres, padroeira de Maceió.

  8. Cláudio Francisco, somos gratos por suas pertinentes colaborações. As correções propostas já foram efetivadas.

  9. vanildo Avelino da Silva // 3 de junho de 2022 em 23:47 //

    estudei no colégio Guido ‘bem como trabalhei na tesouraria e em outras atividades de 1948 a 1958’ devo minha formação a família do padre teofanes e sou testemunha do que o padre teofanes ajudou muitas outras pessoas ‘minha eterna gratidão a família Teófilo e Otília .

  10. Conheci o velho casarão do sitio Ypiranga em São José da Laje. Já se encontrava no perímetro urbano. Ele sediava o Ginásio São José. Morávamos em frente a casa de Seu Chico Canuto, avô do Marcio Canuto. Neste trecho da rua Ypiranga as casa seguiam o mesmo estilo. Os telhados eram adornados por “lambrequis”, (escrevo como pronuncio) em suas biqueiras. Meu avô, nessa época, era o dono do Sitio Ypiranga. Brinquei muito por ali. Depois convivi com sobrinhos netos e sobrinhas netas do Pe. Teofanes. Pelos quais nutro grande apreco. Viva Pe. Teofanes um exemplo de vida. Orgulho de São José da Laje.

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