Os ingleses e o Jaraguá Tênis Clube

Antiga fachada do Jaraguá Tênis Clube

Com o banco fechado naquele final de tarde em Jaraguá, Edward Guy Paton, gerente da nova agência em Maceió do The London & River Plate Bank Limited, reuniu os colegas de trabalho, mais alguns amigos e propôs a fundação de um clube de tênis.

Os presentes à reunião daquele dia 6 de março de 1922, realizada no segundo pavimento do prédio nº 608 da Rua Sá e Albuquerque, concordaram com a ideia e o Jaraguá Lawn Tennis Club foi formalmente instalado naquela mesma tarde.

Edward Guy Paton, fundador do Jaraguá Tênis Clube

Edward Guy Paton, que tinha sido transferido da agência do banco inglês em Recife, onde era o subgerente, já vinha trabalhando esse projeto há algum tempo e não teve dificuldade em envolver na empreitada os colegas de banco Cláudio Broad, Edgar Monteiro, Sydney Fellowows e Walter Cox, além de alguns amigos mais próximos, como Arthur Goulart, Einar H. Joharsen, Kenneth Coutage Macray, Philip Nicholls e Robert W.B. Paterson.

Entre os fundadores, Kenneth Macray era um dos que já tinha experiência na direção de clubes sociais. Ele foi um dos primeiros presidentes do Clube Fênix Alagoana, como registrou Maya Pedrosa no seu livro Histórias do Velho Jaraguá.

Equipe de Futebol de Salão do Jaraguá Tênis Clube em 1955: em pé Zequito Porto (técnico). Murilo. Tadeu e Santa Rita. Agachados João Beltrão, Lailton e Cedrim

Equipe de Futebol de Salão do Jaraguá Tênis Clube em 1955. Em pé: Zequito Porto (técnico), Murilo Mendes, Tadeu e Santa Rita. Agachados: João Beltrão, Lailton e Cedrim. Acervo Museu do Esporte

Ainda na reunião de fundação, Paton anunciou que já estava em negociação para a compra de um terreno na Estrada Nova, atual Av. Comendador Leão, onde funcionaria a sede do clube. Informou também que os recursos estavam sendo levantados com doações de algumas firmas locais.

Como o clube ao ser fundado já tinha praticamente uma sede graças ao trabalho do seu idealizador, foi natural a sua aclamação como primeiro presidente.

Em 1927, sua diretoria era composta por Kenneth Macray, presidente; Plinius C. Costa, secretário; e James Swan, tesoureiro. Dois anos depois era comandado por Edward Guy Paton, Oswaldo Florêncio e Cláudio Broad.

Segundo pesquisa de Marcos Uchôa, o inglês Edward Guy Paton foi gerente do Banco de Londres em Maceió e era casado com Isobel Nicholls. A filha única do casal, Helen Mary Nicholls (Lennie Nicholls), casou-se com Philip George Fitzgerald Nicholls e foram morar na Pajuçara, num imóvel presenteado pelo pai da noiva, onde hoje se situa o edifício cujo nome lhe homenageia. Helen e Philip tiveram os seguintes filhos: Rosemary, Patrick, Susan, Dennis e Caroline.

Brasileiro na presidência

Arlindo Fiães Elbe, Edgard Monteiro e Cláudio Ramos no Campeonato Nacional de Tennis, no Rio em 1931. Foto de O Jornal de 16 de setembro de 1931

O primeiro brasileiro a comandar o clube foi o paraibano Gustavo Paiva, que assumiu a presidência em 1930. Sua diretoria foi assim formada: Kenneth Macray, vice-presidente; Ernani Marinho, 1º secretário; Oswaldo Florêncio, 2º secretário; Edgard Monteiro, tesoureiro; Cláudio Broad, vice-tesoureiro. A comissão Fiscal tinha Edward Guy Paton, Frederico Cardoso e José Gama Malcher.

Em setembro de 1931, o Jaraguá Lawn Tennis Club participou no Rio de Janeiro do Campeonato Nacional de Tennis. A delegação do clube alagoano foi formada por três atletas: Arlindo Fiães Elbe, Edgard Monteiro e Cláudio Ramos.

O repórter de O Jornal esteve no terceiro andar do Hotel da Galeria Cruzeiro para conhecer a delegação e encontrou nos aposentos “raquetes espalhadas, embrulhos e pacotes de presentes para os amigos do norte”.

“Esses esportistas moços — continuou o jornalista —, que são, ao mesmo tempo, homens de negócios, funcionários de banco, abrindo, com essa permanência no Rio, um parêntesis de férias no barulho da vida comercial que os absorve”.

Cláudio Ramos comentou que haviam sido derrotados pela falta de treino em quadras de terra batida, argumentando que estavam mais habituados com as quadras de cimento. Revelou ainda que a equipe não contava com os dois melhores atletas, Oswaldo Florêncio e Cláudio Broad.

Carmen Tereza Mascarenhas Leite, miss Alagoas de 1961, representante do Jaraguá Tênis Clube no concurso Miss Brasil. Foto da revista O Cruzeiro

No início da década de 1940, o clube aportuguesou o nome para Jaraguá Tênis Clube e passou a realizar várias atividades sociais e esportivas além do tênis. Os bailes de carnaval da agremiação fizeram e ainda fazem história nas festas populares alagoanas.

Carlito Lima, nascido e criado em Jaraguá, recorda dos grandes bailes de sábado de Zé Pereira no Jaraguá Tênis Clube, abrindo o carnaval de clubes de Maceió.

“O carnaval iniciava à noite do sábado de Zé Pereira, primeiro eu brincava no corso em jipe, vestido de macacão e Maizena na mão, meladeira herdada dos entrudos – primeiros carnavais no Brasil”.

“Em toda esquina da Rua do Comércio uma orquestra de frevo animava o povão, dançando, cantando, amores surgindo, amores fugindo, é carnaval, tudo valia, amor de carnaval desaparece na fumaça”.

“Quase meia-noite ao chegar em casa tomava um banho reativante rumo ao baile do Zé Pereira no Tênis Clube. A orquestra tocava marchinhas românticas, sambas e frevos até o dia amanhecer”.

As atividades esportivas no Jaraguá Tênis Clube também permanecem na memória do “Duque de Jaraguá”:

“Se jogava também um bom basquete, voleibol, entretanto, predominava o tênis, o mais charmoso dos esportes. Dei minhas raquetadas nas quadras do clube. Assisti gente boa jogar, Zé Elias, Daniel Berard, Maria Esther de saiote branco”, lembra Carlito.

Futebol de Salão do Jaraguá Tênis Clube em 1956. Em pé Zequito Porto (técnico). Gilson. Santa Rita. Francisco. Bira. Louvai Ayres e Daniel Benard (diretor). Agachados Deda. Napoleão. Toro. Acervo Museu do Esporte

Futebol de Salão do Jaraguá Tênis Clube em 1956. Em pé: Zequito Porto (técnico), Gilson, Santa Rita, Francisco Melo (Chipaca), Bira, Louvai Ayres e Daniel Benard (diretor). Agachados: Deda, Napoleão, Toroca, Zito Sarmento e João Moura. Acervo Museu do Esporte

Eurico Uchoa é outro morador da Avenida da Paz que tem recordações dos carnavais no Jaraguá Tênis Clube.

“Minha avó, mãe de meu pai, morreu numa quarta-feira e no sábado era o dia da Festa Macabra no Clube Tênis. Pedi para Tia Bel fazer uma fantasia de “Alma Penada” dizendo que seria usada pelo Ricardo Peixoto. No sábado, disse para família que iria dormir fora de casa, mas fui mesmo para festa.

Na volta, traído pelo álcool, esqueci do que tinha inventado e ao voltar em casa, meu pai se deparou com a cena. Seu Ribemont, meu pai, ficou irado com o desrespeito pelo luto. Tentei explicar que de qualquer forma, era uma FESTA MACABRA, com caixões e velas por todos os lados, mas não escapei de 30 dias de castigo sem sair de casa”.

O clube continua em atividade na Av. Comendador Leão, seu primeiro e único endereço.

Fonte:
– Efemérides Alagoanas, de Moacir Medeiros de Santana.
– Jornais da década de 1920.
– Fotos e informações do Museu do Esporte de Alagoas, de Lauthenay Perdigão.
– site http://www.fernandomachado.blog.br
– site http://meninosdaavenida.blogspot.com.br

6 Comments on Os ingleses e o Jaraguá Tênis Clube

  1. Delma Conceição de Lima // 4 de outubro de 2015 em 19:59 //

    Adoro histórias de Alagoas!

  2. José Aldo Buarque de Mendonça // 7 de dezembro de 2016 em 20:46 //

    Faltou publicar a foto com o casarão, sede do clube, tipo chalé que ficava dentro do terreno, frente para a Av. Comendador Leão, antiga Estrada Nova. Esta casa permaneceu até o início da década de 60. PAZ e BEM.

  3. Leonardo Pinto Junior // 21 de junho de 2020 em 17:32 //

    Parabéns pela publicação da história do nosso querido Jaraguá Tênis Clube. Clube de tradição em Alagoas por seus eventos esportivos e sociais.

  4. Susan Mary Nicholls // 29 de junho de 2020 em 19:50 //

    Isso mesmo. No que diz respeito ao meu pai, Philip George Nicholls, ele também participava ativamente, só não me lembro com que.(kkkk). Talvez as obrigações de cônsul da Gra Bretanha não tenham lhe deixado participar mais ativamente. Mas, quero agradecer a quem publicou esse texto, a história de Jaragua Tênis Clube

  5. Nasci e fui criada na Av Comendador Leão, bem próximo ao Jaraguá tênis clube. Minha infância tem muitas lembranças. Inclusive,meu avô trabalhou na tesouraria do clube.
    São muitas histórias e lembranças boas.
    Parabéns pela iniciativa de publicar a história do clube

  6. Toquei muitas boates e bailes, além de carnavais com a Orquestra do Maestro Jovelino Lima neste clube maravilhoso. Clicando no linque a seguir, você pode escutar um frevo do compositor Dedé Melo, que retrata o nosso Jaraguá Tênis Clube.
    https://www.composal.zebrandao.com/musica/77/vermelho-e-preto-arr-jg-brandao

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