Oliveira e Silva, jornalista e pregador católico

Rua Oliveira e Silva na década de 40, no Centro de Maceió

Antônio José de Oliveira e Silva nasceu no município alagoano de Pilar no dia 1º de agosto de 1864. Era filho do capitão Francisco José de Oliveira e Silva, mais conhecido como Chico Nonô, e Francisca Belarmina de Viveiros Silva.

Quem cuidou da sua educação foi seu tio, o coronel Cândido José de Oliveira e Silva, que o levou para Maceió, onde estudou no Colégio Bom Jesus. Os preparatórios, concluiu em Recife, após se desentender com um lente do Liceu Alagoano.

Em 7 de setembro de 1882, foi eleito um dos diretores do Clube Literário José de Alencar, fundado naquela data por alunos do Liceu Alagoano, em Maceió. Era o vice orador.

Após cursar Humanidades, permaneceu no Pilar, onde exerceu as modestas funções de promotor interino.

Ainda em sua terra natal dirigiu o jornal O Atheneu Pilarense e conseguiu publicar nos jornais do Rio de Janeiro suas primeiras poesias.

Ainda jovem, em 1886, foi morar na então capital federal do país, onde rapidamente fez carreira de jornalista no Gazeta de Notícias.

Poeta, cronista, jornalista e orador fluente, fez parte da geração de Paula Ney, Alberto de Oliveira, Valentim Magalhães e Olavo Bilac.

Um dos seus sonetos mais conhecido foi Dor Bendita. A Academia Alagoana de Letras, fundada em 1919, em homenagem post mortem o escolheu como Patrono da Cadeira nº 27.

Colaborou em vários jornais e foi redator dos seguintes periódicos: Diário do Comércio, União, Jornal do Brasil e Gazeta de Notícias.

Era funcionário público da Recebedoria de Minas Gerais e foi vice-presidente do Centro Alagoano, agremiação que atuava no Rio de Janeiro agregando os filhos de Alagoas que moravam ou trabalhavam na então capital federal.

Pedro da Costa Rego, sobrinho de Oliveira e Silva

Oliveira e Silva foi responsável pela criação e educação de dois sobrinhos órfãos que, como ele, deixaram o Pilar muito cedo: Pedro da Costa Rego, que também se tornaria um jornalista reconhecido nacionalmente, e de seu irmão Rosalvo da Costa Rego, que foi bispo auxiliar da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro.

Pedro da Costa Rego enveredou pela política e alcançou mandatos de deputado federal, senador e governador de Alagoas.

Outro sobrinho de Oliveira e Silva, o pilarense Zadir Índio, também foi recebido no Rio de Janeiro e conduzido ao jornalismo profissional pelas mãos experientes do tio.

Católico fervoroso, notabilizou-se ao fazer conferências em resposta as ideias de Ferri e Clémenceau. Fazia parte dos paladinos da imprensa católica ao lado de Carlos de Laet, Felício dos Santos e Afonso Celso.

No Diário de Pernambuco de 20 de janeiro de 1923, o correspondente em Maceió atribui a “um grande infortúnio” a causa que o levou ao “misticismo religioso”, antes de adotar a orientação católica.

Costa Rego se referia a ele como “um homem notável, que não era para ser esquecido, um benemérito da religião e da pátria”.

Escola Estadual Oliveira e Silva no Pilar

Suas conferências eram concorridas e algumas delas contavam a participação da cúpula da Igreja Católica.

Uma delas, no Círculo Operário, foi anunciada no dia 8 de maio de 1907 pelo jornal Correio da Manhã: “No salão do Museu Comercial, à Avenida Central ns, 151 e 153 (esquina da rua da Assembleia), realiza hoje o Círculo Católico, às 8 horas da noite, a sua 55ª conferência, que será honrada com a presença do cardeal arcebispo, d. Alexandre Bavona, núncio apostólico, e de d. Cláudio José Ponce de Leão, bispo do Rio Grande do Sul. Acautelemo-nos — é o título da conferência que será feita pelo conhecido jornalista sr. Oliveira e Silva”.

Uma mostra da sua atuação na defesa dos ideais católicos pode ser vista ainda na crônica que publicou na Gazeta de Notícias em maio de 1906, respondendo a Olavo Bilac, que andava publicando “blasfêmias contra a Providência” após uma série de catástrofes naturais e acidentes com muitas mortes.

Rabiscos

A OLAVO BILAC

Meu caro poeta. — Tenho-o lido com mágoa na Gazeta e na Notícia, em frases de indignação e de revolta, contra o Omnipotente que não nos evitou as grandes calamidades do desastre do Aquidaban e das inundações de Minas Gerais e do Rio de Janeiro.

E vejo-o negar a Misericórdia Divina, porque não correu a apagar a pólvora inflamada do couraçado que se afundou na baia do Jacuacanga e porque não diminuiu ou não desviou as águas que invadiram Campos e Juiz de Fora.

Porque o Omnipotente não evitou a explosão do Aquidaban?

Porque, neste caso, para ser justo, Ele deveria evitar igualmente, em todos os tempos e em todos os lugares, todo mal proveniente do erro, dos descuidos ou da ignorância do homem; mas nestas condições o homem ficaria também dispensado de aprender, de ser previdente, de trabalhar, do tomar o menor cuidado e qualquer coisa do seu interesse, o que daria em resultado a sua degradação, a sua inatividade, a sua morte moral, muito pior que a física.

Vista parcial do Pilar, terra de Oliveira e Silva, Costa Rego e Zadir Índio.

Porque o Omnipotente não evitou as inundações de Campos e Juiz de Fora?

Imagine o poeta que a natureza deixa de ser ingrata para conosco; que, em vez temporais, só temos brisas suaves; em vez de chuvas torrenciais, apenas o delicado orvalho da noite; em vez de espinhos, rosas por toda a parte; que se colhesse sempre na medida do que se plantasse; que nunca houvesse sementeiras estragadas, searas perdidas…

Mas assim, Deus, dando-nos um mundo tão bom, não nos faria sentir a necessidade de outra vida, necessidade que Ele procura incutir em nosso espirito por todos os meios, obrigando-nos a refletir diariamente sobre as misérias deste planeta que habitamos, temporariamente, misérias que ele permite para que aborreçamos a terra e cobicemos o céu.

Além disso, se a natureza não fosso ingrata, o homem não teria que lutar contra ela e quem não luta vence sem gloria.

Demais, como se cumpriria a sentença da Bíblia: Tu comerás o pão com o suor do teu rosto?

Meu caro Bilac, sem o mal, o mundo seria muito pior do que é.

Nós estamos condenados conhecer e amar as coisas, pelos seus contrários.

Só admiramos a luz, graças ao horror das trevas; só estimamos a saúde, graças à moléstia; só somos bons, graças aos maus; só praticamos a caridade, graças à miséria; só temos ocasiões de perdoar, graças às ocasiões de sermos ofendidos; só somos dignos de admiração, graças aos sacrifícios de que somos capazes; só compreendemos que é necessária a união, graças às dificuldades que temos de vencer, ou ao inimigo que é preciso repelir.

Sem o mal, não haveria o bem.

Que quer você?

Isso foi, é e será sempre assim, porque o primeiro homem, desobedecendo a Deus, perturbou a harmonia do universo”.

Oliveira e Silva faleceu no dia 15 de janeiro de 1911, quando era redator da Gazeta de Notícias. Seu túmulo recebeu várias homenagens e a Igreja Católica realizou missas com a presença da cúpula eclesiástica da capital federal.

Deixou expressivo acervo de poesias, traduções, contos, crônicas, artigos de polêmicas, etc. Seu drama “Os laços do crime” não foi publicado.

Em Alagoas, uma escola estadual no Pilar leva o seu nome. Em Maceió, a Rua Oliveira e Silva (antigo Beco do Ferreira) é uma das principais do Centro da cidade. Foram homenagens prestadas por indicação do seu sobrinho político, Costa Rego.

7 Comments on Oliveira e Silva, jornalista e pregador católico

  1. Ticianeli, parabéns por mais este artigo. Gostaria de sugerir a alteração da frase “Costa Rego enveredou” para “Pedro Costa Rego enveredou”. Do jeito que está fica parecendo que você se refere ao Rosalvo, último a ser citado. Abraço!

  2. Alexandre, muito grato pela observação. Fiz a correção proposta.

  3. André Soares // 13 de fevereiro de 2017 em 08:33 //

    Prezado Ticianeli, uma humilde correção, Dom Rosalvo Costa Rego foi bispo auxiliar da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, e não arcebispo da mesma.

  4. Faremos os reparos. Grato pela contribuição.

  5. JOSÉ CLAILTON FERNANDES // 13 de outubro de 2017 em 11:44 //

    QUAL O NOME ATUAL DA RUA OLIVEIRA E SILVA ?

  6. José Clailton, continua sendo Rua Oliveira e Silva.

  7. Amei a pesquisa 😁 muito conteúdo e história 😸

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