O Tiro Alagoano

Quartel do Batalhão Policial no início do século XX

Félix Lima Júnior
(Publicado no Almanaque de Alagoas, nº 1, de 1952).

Quando regressou da Alemanha o Marechal Hermes Rodrigues da Fonseca, Ministro da Guerra do governo Afonso Pena, que fora àquele país a convite do Imperador Guilherme 2° assistir grandes manobras militares, em 1908, trouxe o plano, que executaria depois, de reorganizar o nosso Exército.

Foram então organizados os tiros de guerra, para constituir a reserva do Exército, como o tiro naval constituiria a da marinha de combate.

Reservistas da 1ª Cia do 28º de Caçadores, O Tiro Alagoano. Foto de Linden

O Tiro Alagoano, de Maceió, teve o número 28 da Confederação. Foi organizado em 7 de setembro de 1908, tendo sido a ata da instalação remetida ao Instituto Histórico de Alagoas, onde deve estar. [Foi criado no dia 2 de agosto de 1908 e instalado no dia 7 de setembro de 1908].

A reunião preparatória, em fins de agosto daquele ano, foi realizada na redação do “Jornal de Alagoas“, à rua da Boa Vista, sendo promotores os drs. Orlando Valeriano de Araújo e José Guedes Ribeiro Lins.

Quem orientou os primeiros trabalhos e muito ajudou a rapaziada com o seu entusiasmo foi o capitão Cabral, de destacada família de Atalaia, neste Estado, então comandando a 5ª Companhia Isolada do Exército, aquartelada no prédio da praça Calabar, onde vai funcionar em breve [1952] a nossa Escola de Medicina.

Comandante do Tiro, que era um batalhão de caçadores, com o posto de tenente coronel, foi o tenente Virgulo Sampaio, de distinta família conterrânea, e que servia na mesma unidade comandada pelo capitão Cabral.

A Praça Deodoro era muito utilizada para eventos e desfiles militares. Comemoração de 7 de setembro de 1940

Major fiscal era Bonifácio Magalhães da Silveira.

1ª companhia: capitão Francisco Cesar Pinto; 1° tenente Manoel de Oliveira Castro; 2º tenentes Francisco Joviniano de Oliveira e bacharel Severino de Albuquerque Filho.

As duas outras companhias eram comandadas, respectivamente, pelos capitães Luiz Amorim e Luiz Lavenère.

Capitão ajudante — Bacharel José Moreira da Silva Lima. Médicos: Eraldo Passos, major, e Virgilio Braga, capitão.

Enfermeiro: Severiano Porciúncula, prático da Farmácia Braga, à rua do Comércio. Faleceu há mais de 20 anos.

Comissão fiscal: dr. José Valente de Lima, Francisco Cesar Pinto, dr. José Moreira da Silva Lima e tenente (da marinha) Bogado de Oliveira.

O armamento para exercícios, velhos fuzis Mauser descalibrados, foram cedidos, a título de empréstimo, pela 5ª Companhia.

Soldados: Nelson Jucá, Eurico Cabral, recentemente falecido em S. Paulo, Francisco Silveira Junior, dr. Gilberto Auto de Andrade e muitos outros moços das mais destacadas famílias maceioenses.

Tiro de Guerra na Praça da Cadeia

Serviu de sede ao Tiro o velho casarão da praça da Cadeia, construído por Floriano Peixoto, ainda no Império, para servir de depósito de materiais bélicos e que ruiu há alguns anos passados. Nele também aquartelou, muito tempo depois, o Tiro de Guerra 637, no qual eu e muitos da minha geração conseguiram cadernetas de reservistas do Exército Nacional.

O primeiro exercício, com os atiradores ainda à paisana, teve lugar no areial em frente ao antigo cemitério dos coléricos, mais ou menos onde se realizou, há alguns anos, a exposição de pecuária, no caminho do Trapiche da Barra. Fardados os atiradores, à sua custa, é claro, formou o Tiro, pela primeira vez, na praça da Cadeia, cheia de curiosos. Os exercícios se faziam diariamente, à noite, e aos domingos e feriados, na praça Deodoro.

Em exercício de marcha foi o Tiro, certo dia, domingo ou feriado nacional, a Bebedouro, onde houve combate simulado. Depois foram os rapazes acolhidos carinhosamente pelas famílias residentes no bairro, servindo-se café, bolos, gengibirra e caldo ele cana, por gentileza de distintas senhoritas.

Para exercícios de tiro ao alvo escolheram o local onde está presentemente o stand da guarnição federal. Puseram um calunga nas dunas de areia e o governador Euclides Malta fez o primeiro disparo.

Dos que compunham o Tiro Alagoano restam poucos, muito poucos mesmo. Entre eles Francisco Cesar Pinto, antigo despachante estadual e comerciante, que me forneceu muitas destas notas e de quem o “Almanaque do Bacuráo“, de 1927, publicou o retrato, fardado de capitão. Disse-me ele, amargurado, que sendo capitão desde 1909, não foi ainda promovido a major… E pior ainda: nunca lhe pagaram um real de soldo

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