O poeta e escritor Antônio Saturnino de Mendonça Júnior

Carangola em Minas Gerais, onde Mendonça Júnior morou por 11 anos

Antônio Saturnino de Mendonça Junior nasceu no Engenho Maranhão, em Matriz de Camaragibe, em 8 de março de 1908. Filho de Antônio Saturnino de Mendonça e Estefânia Braga de Mendonça.

Estudou primeiras letras na escola pública de Matriz de Camaragibe, no Colégio Camaragibano, e concluiu o curso secundário nos Colégio 15 de Março, do professor Agnelo Marques Barbosa, e no Ginásio de Maceió.

Foi como aluno do Ginásio de Maceió que fundou o Grêmio Literário Cônego Machado e o Instituto José de Alencar.

Escrito Antônio Saturnino de Mendonça Júnior

Ainda era um estudante secundarista, em 1926, quando participa da fundação do Cenáculo Alagoano de Letras, que em 17 de junho 1928 realizaria, em parceria com o Instituto Rosalvo Ribeiro, a histórica Festa da Arte Nova.

Também foi jornalista do Jornal de Alagoas, onde mantinha uma seção diária sob o pseudônimo de Mênio de Altamira.

Iniciou o cursou de Direito em 1927 na Faculdade de Direito de Recife. Nesse período chegou a fazer parte da Academia Recifense de Letras, tendo como patrono Vicente de Carvalho.

Ainda cursava o 2º ano da Faculdade quando foi nomeado juiz substituto no município de Água Branca. Seu primo Dr. José Caralâmpio de Mendonça Braga era o Promotor da Comarca e conseguiu que ele assumisse esse cargo.

Em Água Branca fundou o Colégio Barão de Água Branca. Sua relação com o Barão não parou por aí: Mendonça Júnior ficou noivo de Joana D’Arc Fernandes Torres, neta do nobre sertanejo, relação que só teria fim com o seu casamento em Minas Gerais com Cloripes Matos Mendonça.

Em 1929 foi nomeado adjunto de promotor em Porto Calvo e no ano seguinte já estava exercendo o mesmo cargo em Passo de Camaragibe. Mesmo trabalhando na região norte de Alagoas e estudando em Recife, em 1930 seria eleito sócio efetivo do Grêmio Literário Guimarães Passos, com sede em Maceió.

O Crime de Passo de Camaragibe

No dia 18 de janeiro de 1931, em Passo de Camaragibe, seria realizada a tradicional procissão religiosa. Entretanto, o jovem interventor, indicado pelo poder revolucionário, e adjunto de promotor Mendonça Júnior proibiu o evento sob o argumento que o vigário da cidade, padre Durval Silva, estava ausente, na Fazenda Urucu.

A população da cidade decidiu que não acataria a proibição e realizaria a procissão. Um dos que conduzia a charola era o jovem advogado Olavo de Sousa Moura, filho do proprietário do Engenho Lucena.

Após a procissão, houve uma discussão entre os seus realizadores e o interventor Mendonça Júnior, que atirou e matou Olavo Moura, identificado por ele como o instigador da desobediência às orientações do Poder Judiciário e do Poder Executivo.

A população ficou indignada e tentou linchar Mendonça Júnior, que escapou graças à intervenção de um indivíduo que o defendeu da ira popular. Poucas horas depois foi preso e encarcerado na Casa de Detenção de Maceió.

Nesta época já era um contista e poeta respeitado e, mesmo preso, passou a escrever regularmente para o Semanário Novidade, que foi lançado em 11 de abril de 1931. O jornal era dirigido por Alberto Passos Guimarães e Valdemar Cavalcanti.

Casa de Detençao de Maceió, a Cadeia Velha, onde Mendonça Júnior ficou preso enquanto aguaardava julgamento. Foto do acervo de Audir Marinho de Carvalho

Casa de Detençao de Maceió, a Cadeia Velha, onde Mendonça Júnior ficou preso enquanto aguardava julgamento. Foto do acervo de Audir Marinho de Carvalho

Graças a sua projeção como escritor, teve início uma campanha nos jornais que pretendia mostrá-lo também como uma vítima de um momento em que agiu por impulso. Alagoas se dividiu nesse debate e o julgamento se transformou no principal evento jurídico daquela época, com repercussão nos principais jornais do país.

No dia 31 de janeiro de 1931, por exemplo, o Jornal do Recife publicou uma nota sobre o episódio: “Telegrama de Maceió diz que o Tribunal de Justiça dali indeferiu o pedido de ‘habeas-corpus‘ do promotor de Camaragibe, sr. Mendonça Junior, que assassinou o advogado Olavo Moura. O assassino é apreciado prosador e poeta e está preso naquela capital, cuja imprensa, ao noticiar o crime, disse que ele fora vítima de tramas da politicagem de aldeia“.

No início de fevereiro, como resultado imediato do crime, Mendonça Júnior foi exonerado do cargo de promotor adjunto de Camaragibe.

Julgado nos dias 22 e 23 de junho de 1931 por um júri presidido pelo juiz de Direito Manoel Xavier Accioly, Mendonça Júnior foi acusado pelo promotor Rodrigues de Mello, auxiliado pelo advogado Leão Marinho Tavares Bastos.

Na defesa estavam Ignácio Brandão Gracindo, Guedes de Miranda e Manoel Onofre. Participaram ainda o poetas Armando Wucherer e Mendonça Braga, o médico Alfredo Uchôa e o advogado mais famoso da cidade, Mário de Mendonça e Silva. O interventor estadual, Freitas Melro, esteve no salão do júri acompanhando o julgamento.

Mendonça Júnior foi absolvido por cinco votos contra dois. O promotor apelou da sentença, o que impediu a liberdade do réu.

O novo julgamento aconteceu nos dias 25 e 26 de setembro do mesmo ano, presidido pelo juiz Edgar Valente de Lima. Rodrigues de Mello continuava na promotoria, auxiliado por Leão Tavares Bastos. Receberam o apoio de Carlos Rios, renomado advogado pernambucano.

Na defesa atuaram Manoel Onofre de Andrade e Osman Loureiro, além dos psiquiatras Álvaro Dória e Sebastião da Hora. De Recife veio uma caravana da solidariedade formada por acadêmicos e jornalistas colegas do réu.

Mendonça Júnior foi novamente absolvido, desta feita por seis votos a um.

Exílio

Em função desse episódio, Mendonça Júnior pediu transferência para a Faculdade de Direito de Niterói, onde concluiu o curso em 12 de março de 1932. Nesse mesmo período trabalhou como jornalista profissional no Diário da Noite, no Rio de Janeiro.

Iniciou o exercício da advocacia em Pelotas, no Rio Grande do Sul, onde colaborou com os jornais Opinião Pública, Diário Popular, O Libertador e outros.

Não demorou muito em terras gaúchas. Voltou ao Rio de Janeiro para trabalhar na imprensa, agora como redator do Diário da Noite.

Aos 27 anos, em 1933, desembarcou em Minas Gerais designado como promotor público para o município de Rio Novo, onde casou-se com Cloripes Matos Mendonça e deu aulas de história e geografia na Escola Normal, além de contribuir na imprensa local.

Em outubro de 1935 foi transferido para Carangola, município vizinho, onde encontrou como juiz de Direito o alagoano de Pão de Açúcar, João Francisco de Novais Paes Barreto, e, como juiz Municipal, o também alagoano de Maceió, Luiz Barreto Correia de Menezes. Em Carangola, fundou o Centro Carangolense de Letras e o Rotary Club de Carangola.

A volta

Em 1944, voltou à Maceió logo após o falecimento do seu pai, Antônio Saturnino de Mendonça, o Catonho. Meses depois chegaram a mulher e seus dois filhos mineiros, Maria Luisa de Mendonça Sarmento Lins e Maria Lúcia de Mendonça Figueiredo. Antônio Saturnino de Mendonça Neto, recém-nascido veio nos braços da mãe. Bernardo Antônio de Mendonça Castelo Branco, o caçula, nasceria em Maceió no ano de 1950.

Em Alagoas, dirigiu o Departamento de Imprensa e Propagada (DIP) do governo federal e depois assumiu a direção da Cultura. Entrou para a Academia Alagoana de Letras em 1946 na vaga de Tito de Barros.

Participou da fundação do Partido Social Democrático (PSD) e foi seu representante na Câmara dos Deputados entre 1950 e 1958, apoiando os governos de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek.

Em 1954, foi nomeado como Procurador da Prefeitura do Rio de Janeiro, mas não assumiu, continuando como deputado. Em 1958, após o fim do mandato, foi nomeado presidente da Caixa Econômica em Alagoas e eleito presidente do Centro de Estudos Econômicos e Sociais de Alagoas. Dirigiu também o Conselho Regional de Desportos.

Presidiu ainda a Academia Alagoana de Letras, sendo eleito em 1958 e reeleito nos três anos seguintes, até 1961, quando foi sucedido por Jaime de Altavila. Também foi professor de Teoria Geral do Estado na Faculdade de Direito de Alagoas. Aposentou-se como Procurador de 1ª Categoria pelo Estado do Rio de Janeiro.

Faleceu no dia 23 de outubro de 1985, no Rio de Janeiro. Seu corpo foi enterrado no Cemitério São Batista.

A Obra

Mendonça Júnior notabilizou-se na literatura por sua lírica amorosa e por poemas e crônicas dedicados à paisagem e à humanidade da terra natal: lagoas, praias, rios, figuras populares, engenhos de fogo morto do Vale do Camaragibe.

O que eu queria dizer ao seu ouvido (Maceió, 1946) – soneto musicado por Hekel Tavares, que mereceu gravações de Hebe Camargo e Jorge Fernandes, no Rio de Janeiro, e, em Lisboa, integra o CD “Xodó: canções brasileiras para não esquecer”. Hebe Camargo gravou pela Odeon em 26 de abril de 1955. O disco foi lançado em julho desse mesmo ano.

O que eu queria dizer ao seu ouvido
Era que gosto muito de seus olhos,
E que não posso tirar do meu sentido
Tudo quanto me fala de você…

O que eu queria dizer ao seu ouvido
Você lê e todo o mundo também lê,
Por não poder dizer ao seu ouvido
Fiz do olhar uma carta pra você.

O que eu queria dizer ao seu ouvido,
Eram coisas inúteis meu amor…
Porque você já deve ter compreendido
O que eu queria dizer ao seu ouvido
Era que gosto muito… muito… de você.

Hebe Camargo canta O que eu queria dizer ao seu ouvido, de Mendonça Júnior e Heckel Tavares.

Jornal da província (Maceió, 1948)

– Jornal de Alagoas (Maceió, 1949)

– Discursos parlamentares (Maceió, 1959)

Planície (Maceió, 1961)

Dinheiro e mulher bonita (Maceió, 1964)

Poemas fora da moda (Rio de Janeiro, 1971)

Marcha Nupcial (Rio de Janeiro, 1977)

O anel de brilhante e outras histórias (Brasília, 1979)

Tempo de falar (Maceió, 1983)

O último senhor de engenho ( Maceió, 1987, edição póstuma da editora da Universidade Federal de Alagoas)

De rerus pluribus (Maceió, 1995, edição póstuma da editora da Universidade Federal de Alagoas, reunindo crônicas publicadas no Gazeta de Alagoas e escritas também por Carlos Moliterno, Teotônio Vilela e Théo Brandão, sob a assinatura coletiva de Juvenal)

Fonte: Wikipédia; livro Mendonça Júnior, de Georgette Medonça, Editora Comunicarte, 1996; e Resumo Histórico Antropogeográfico do Estado de Alagoas, de Tancredo Moraes, Impresna Oficial, 1960.

1 Comentário on O poeta e escritor Antônio Saturnino de Mendonça Júnior

  1. Vanusa Braga Soares // 20 de maio de 2023 em 18:41 //

    Nossa ! Historia para os meus ouvidos..Parabéns..

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