O Cinema de Arte de Maceió

Cine São Luiz, Maceió, 1971. Lançamento de A Volta pela Estrada da Violência

O Cinema de Arte de Maceió surgiu no final dos anos 60 a partir de um núcleo de críticos da sétima arte que se formara anos antes. Segundo Elinaldo Barros em Panorama do Cinema Alagoano, o primeiro a escrever em jornais sobre cinema foi Regis do Amaral.

Imanoel Caldas, um dos primeiros críticos de cinema de Alagoas

Imanoel Caldas e Gildo Marçal Brandão iniciaram, nesse mesmo período, o programa No Mundo da Sétima Arte pela Rádio Progresso, que ia ao ar às 18 horas do domingo. Os filmes eram discutidos pelos dois, havia as informações sobre a programação dos cinemas e se ouvia as músicas temas dos filmes.

Gildo Marçal Brandão, outro pioneiro na crítica cinematográfica

Gildo Marçal Brandão, outro pioneiro na crítica cinematográfica

Em abril de 1967, Imanoel, Gildo e Bezerra Neto procuram o presidente do DCE da Ufal, Radjalma Cavalcante, para juntos proporem a Empresa Severiano Ribeiro a criação de sessões especiais com filmes de arte.

Segundo pesquisa do historiador Geraldo de Majella, essa ideia foi apresentada por Imanoel Caldas, possivelmente refletindo as experiências que vinham acontecendo no Brasil e no Mundo.

Esse movimento era tão expressivo que no ano anterior havia sido realizada no Rio de Janeiro a Iª Conferência de Cinema de Arte e fundada a Associação dos Cinemas de Arte do Brasil.

A partir de então, todas as manhãs de sábado, às 10 horas, tinha um bom filme programado para Maceió. Foram dez anos de exibições na principal sala de cinema de Maceió, o Cine São Luiz.

Em Recife, onde o Cinema de Arte existia há mais tempo, as sessões também aconteciam aos sábados. Eram duas: uma às 8h e a outra às 10h.

Em meados dos anos 70, as sessões de arte no São Luiz passaram a ser exibidas às sextas-feiras, após às 22h30.

O jornalista Bezerra Neto também participou da criação do Cinema de Arte de Maceió

O jornalista Bezerra Neto também participou da criação do Cinema de Arte de Maceió

Majella, em artigo para o seu Blog, esclarece que “a parceria firmada entre o DCE e a empresa definiu algumas responsabilidades: a empresa, em conjunto com a comissão do cinema de arte, escolhia os filmes e custeava a publicação semanal da folhetaria distribuída na entrada, com uma resenha crítica escrita por Imanoel Caldas e Gildo Marçal, sobre o filme a ser exibido. O jornalista Bezerra Neto, no Jornal de Alagoas, onde trabalhava, realizava os comentários semanais”.

Após as exibições, ocorriam os debates sobre o filme. A presença do público cresceu tanto que foram criadas mais duas sessões no Cine Rex, que também era de propriedade da mesma empresa e ficava na Pajuçara.

Radjalma Cavalcante revelou, muitos anos depois, que em 1969 chegou a depor numa Comissão do Exército sobre várias acusações contra ele e que uma delas foi a de patrocinar a criação do cinema de arte com o objetivo de exibir filmes subversivos.

Radjalma Cavalcante era o presidente do DCE e também teve participação decisiva no Cinema de Arte

Radjalma Cavalcante era o presidente do DCE (66/67) e também teve participação decisiva no Cinema de Arte

O engenheiro Aloisio Guimarães, em seu Blog Terra dos Xucurus, lembra um episódio sobre o Cinema de Arte de Maceió.

“Certa sexta-feira ia passar, na tal “Sessão de Arte”, um filme muito esperado: “Um estranho no ninho“, com Jack Nicholson (um filmaço!).

Era muita gente, principalmente estudantes, querendo assistir o filme. As filas eram enormes e eu, como sempre, sendo o primeiro, esperando a bilheteria abrir… De repente, senti alguém bater no meu ombro e pedir:

Jack Nicholson em Um Estranho no Ninho, filme lançado em 1975 e que fez muito sucesso No Cinema de Arte de Maceió

Jack Nicholson em Um Estranho no Ninho, filme lançado em 1975 e que fez muito sucesso No Cinema de Arte de Maceió

— Aloisio, dá para você comprar o meu ingresso e o do meu namorado?

Olho para trás e quem é que eu vejo? Vejo a Priscila, colega de classe da Faculdade de Engenharia, que, até então, nunca tinha, nem ao menos, me dado um bom dia, apesar de já estarmos no 4° período!

Apesar da surpresa de descobrir que ela sabia o meu nome, a sua falta de cordialidade nos corredores e salas da universidade, somada ao ódio que tenho por quem se mete a furar filas, fez com que “eu juntasse a fome com a vontade de comer” e, vingativamente, além de não comprar os ingressos pedidos, aproveitei para dar o troco, em voz alta:

— Moça, o final da fila é lá atrás…

Não tenho certeza se nesse dia ela conseguiu entrar no cinema!”

Fontes: Blog do Majella, Blog Terra dos Xucurus, livro Panorama do Cinema Alagoano, de Elinaldo Barros, 2010.

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